domingo, 13 de junho de 2010

Um livro que não termina

Para a família - Lembrando, pensando e escrevendo


Sumário

Introdução 5

Eclesiastes 14

O meu pai 16

A esposa 19

Família 21

Os filhos – uma responsabilidade com prioridade 27

Os netos – a confirmação 30

Amigos 32

Política 38

Cidadania 46

Religião 51

Fanatismo 56

Meus heróis 59

Giordano Bruno – um exemplo raro 59

Bertrand Russell 61

Hermann Hesse 64

Profissão 66

Engenharia 74

Pensar antes de trabalhar pesado 77

Abolição do trabalho – uma fantasia 84

Educação 86

Casamento 92

Sexo 98

Amor 102

Fidelidade sexual 106

Deus e Vida 110

Inteligência 113

Ecologia e ambientalismo 119

Sociologia 124

Jardinagem 127

Música 129

Literatura 132

Esportes 135

Belas artes 138

Moda 141

História 144

História da Tecnologia 155

Psicologia e Sociologia 162

Egoísmo e altruísmo 166

Ideologias 170

O Poder 176

Direito e Justiça 183

Crime e castigo 187

Felicidade 192

Responsabilidade 195

Vencer ou perder 198

Gallaudet History 201

Mediocridade 207

Originalidade, garra, coragem 210

Humildade, simplicidade 214

Filosofia e as nossas dúvidas 217

Ética 220

Paciência 225

Determinação, disciplina 228

Coragem 231

Verdade , realidade 234

Liberdade 238

Sucesso 242

Sonhos 245

Honra, dignidade 250

Conclusões 253

Novas tecnologias e a liberdade 255

Epílogo 258

Introdução ao futuro com palavras de velho 259

Opiniões Pertinentes 259

Disciplina e sucesso 259

A cultura do surdo 260

Ócio remunerado 263

Minha rua, minha cidade e as bicicletas 264

Bibliografia 266









Introdução









Escrever e registrar conhecimentos que adquirimos durante a vida é mais do que fazer um diário, uma autobiografia, é expor e documentar com a própria existência aprendizados que tiveram significado, tanto assim que eles se fixaram na memória e ainda martelam a nossa consciência, ainda nos dizem, valeu a pena viver, erramos, acertamos, mas, acima de tudo, fizemos algo de muito valioso: filhos, esposa e amigos (parentes ou não) que merecem registros.

Esse trabalho tem a preocupação de mostrar detalhes e títulos de livros que foram importantes para mim. De modo algum eu os considero obras perfeitas, ainda que de alguns seria pretensão pessoal querer apontar defeitos. Eles mostram os vícios e as virtudes dos momentos em que seus autores os escreveram, em alguns casos a inteligência admirável de alguns seres humanos. Uma releitura deverá ser submetida à tolerância da época, ao conhecimento adquirido nesses tempos.

Quando escrevi meu primeiro livro (Conversando Com Meus Filhos, 1996) estava me ajustando a uma vida completamente diferente, após quase 27 anos de vida profissional dedicados à Copel, com alguns períodos lecionando, atividade paralela interrompida diversas vezes por absoluta falta de tempo extra.

Já se passaram quase 13 anos (agora, 2009) desde aquele dia (27 de novembro) em que minha esposa entrou em minha saleta, base de meu trabalho de consultor em 1996, com o primeiro volume do livro dedicado ao meu pai, pessoa extraordinária que não canso de lembrar, mais ainda comparando-o a tantas que conheci ao longo de minha existência.

Um momento marcante nessa preocupação literária foi perceber, quando a Tânia (minha esposa) entrou em meu escritório para me mostrar o primeiro volume impresso e encadernado do livro “Conversando Com Meus Filhos”, naquele instante eu tinha o número de anos, meses, dias e talvez horas de vida que meu pai viveu até falecer... E em sua última noite com vida por 3 vezes, ao longo daquela terrível noite, abraçou-me, beijou-me e me perguntou o que estava fazendo ali, porque não estava em Itajubá, estudando, fazendo o curso de Engenharia que tanto o preocupava. Se espíritos existem, e tenho razões de sobra para acreditar nisso, meu pai me acompanhou durante toda a minha vida.

Acredito que temos missões, que existimos para cumprir tarefas que o Criador nos determinou. Minha vida, apesar das imensas limitações que tinha, foi rica demais, cheia de situações extraordinárias. Isso, acima de tudo, intriga-me, pois competi com gente saudável, bem preparada e em certos momentos praticamente imbatíveis.

O parto (natural) que me colocou no mundo foi traumático. Pesado demais, primeiro filho, tudo levou minha mãe a sofrer muito durante três dias na maternidade. Meus primeiros anos de vida foram cheios de situações ruins, simplesmente não conseguia dormir direito, pesadelos, dificuldade de concentração, saúde abalada por uma bronquite terrível (a famosa tosse de cachorro) que simplesmente me proibia de fazer excessos físicos, sob pena de cair de cama com tosse e febre. Essas e outras barreiras criaram em mim um espírito teimoso, vontade de vencer, de superar dificuldades. Vale a pena lembrar essa fase da minha vida para que outros, em situação semelhante, lembrem-se que as barreiras existem para que aprendamos a superá-las.

Imagens especiais marcam a vida de qualquer um.

Vivendo em local sujeito a enchentes; tive a oportunidade de presenciar momentos de extrema coragem de minha mãe, Chiquinha. Ela era uma pessoa acima de tudo guerreira, valente. Isso ficou muito claro para mim nas enchentes de 1954 e 1957. Meu pai, nessas duas enchentes, foi cuidar da loja (Instaladora de Blumenau) e ela ficou em casa, zelando por nós e por tudo o que existia naquele imóvel de três pavimentos.

Morávamos em local baixo, assim era no quintal de nossa casa que a água aparecia primeiro, inundando o querido jardim, que ela cuidava com tanto carinho. Sem chorar, rezar, sem qualquer demonstração de medo ou insegurança ela começava a mudança para cima. Galinhas, passarinhos, móveis, até as janelas que ela tirava dos caixilhos, tudo ia subindo. Olhávamos os degraus e contávamos o tempo para saber se a cheia estaria parando, subindo ou descendo. Energia elétrica cortada, não existia rádio de pilha em nossa terra ainda, a comunicação vinha de barqueiros eventuais.

Aliás, os blumenauenses daquela época não esperavam a desgraça, reagiam silenciosamente, operosamente, procurando salvar tudo o que estivesse ao seu alcance. Essa era uma característica daquela gente, muitas delas sobreviventes européias das guerras entre seus países.

Principalmente na enchente de 1957, a maior daquele período. Depois aconteceram piores, mas eu já vivia em Curitiba. Sei de muito do que aconteceu pelos meus irmãos.

No ápice da última grande enchente que acompanhei na casa inundável, acordávamos com o galo e os passarinhos cantando em cima dos armários dos nossos quartos, cheios de coisas trazidas dos andares de baixo.

A enchente baixando, minha mãe, nossa mãe, mui digna progenitora do João Carlos, da Sônia Maria e mais tarde do Pedrinho, entrava na água e de roldão, com vassouras e panos ia lavando e limpando as paredes para não ficarem excessivamente manchadas. Depois era replantar, refazer a casa e dizer para os filhos que estava na hora de voltar para a escola...

E tive a sorte de freqüentar um bom colégio.

Algo que simplesmente não devo deixar de registrar foi a participação na Academia Mont’Alverne, criada pelo Frei Odorico Durieux. Ser obrigado a, uma vez por semestre, a fazer um discurso para as três séries do científico reunidas no salão do Colégio Santo Antônio e a “cometer”, pelo menos, uma crítica de alguma apresentação, foi algo decisivo na minha vida. Não esqueço quanto tremia na primeira vez que subi ao palco para ler meu trabalho, com o tempo soltei a língua. Resultado: consegui ser alguém com algum destaque entre meus colegas de universidade e depois na Copel e nos lugares que passei a freqüentar. Aprendi a dominar a timidez, a acreditar um pouco em mim, algo que era precário até sentir que não era tão ruim. Obviamente valeu muito a paciência do meu pai, que sempre me tratou com dignidade, tendo paciência para conversar comigo sobre temas elevados, acima de tudo em torno de filosofia de vida, algo muito diferente do simplesmente “Filosofia”.

Os anos passaram e chegou o momento de ir embora, vestibular em Minas Gerais, Itajubá... Naquela época não existia internet, o telefone era um luxo difícil e caríssimo de usar, as estradas ruins, as distâncias eram maiores. Depois de perder tolamente um vestibular fui para São Paulo fazer cursinho, voltei e no ano seguinte ingressei no Instituto Eletrotécnico de Itajubá1, começando por aí uma carreira que só terminou com as limitações da idade há pouco tempo.

Os desafios não foram pequenos.

A vida cria situações que, quanto mais difíceis, mais ricas em lições poderão ser. Precisamos, contudo, saber aproveitá-las de forma positiva, sabendo que temos missões que, se cumpridas de forma adequada, darão imensas satisfações, serão motivo de orgulho permanente.

Casei-me cedo. Logo vieram os filhos. Sustentá-los tornou-se meu grande desafio. Educá-los? Minha esposa sempre junto deles foi a professora e a grande amiga. Viajando sempre, tive muito menos tempo com eles do que desejaria ter para uma convivência plena.

Hoje aposentado, com 4 netos, sobra a questão: transmiti aos meus filhos o que seria justo, correto, minha mensagem de pai?

Tive sucesso profissional. De certa forma isto ajudou muito. Sinto que meu time orgulha-se do pai e avô. Serve-lhes também de suporte moral nas lutas da vida. Preocupo-me, contudo, em criar expectativas exageradas em relação ao futuro deles. Com certeza uma existência mais simples será tão ou mais gratificante se souberem aproveitá-la com dignidade e ousadia até onde puderem alcançar.

Ousadia, sim, pois nada pior do que a mediocridade, a sensação do tempo perdido. A “opção zero” é ruim. Vejo com tristeza pessoas, empresas e governos decidirem fazer o mínimo, serem menos quando poderiam ser muito mais, coitados deles e de nós quando somos subordinados a eles.

O mundo é fantástico e merece ser explorado; e na vida o que soma, o que vale é a somatória das lembranças dos dias difíceis ou especialmente gostosos, bonitos. Boas lutas, vitórias e derrotas, se bem entendidas, a boa disputa, o bom combate, tudo o que fazemos fora da rotina e que leva a resultados especiais é motivo de orgulho, de prazer, mesmo em derrotas, se elas aconteceram em lutas por boas causas.

Seria suficiente, contudo, mostrar-lhes meu “curriculum vitae”? Não seria prudente relatar meticulosamente os meus erros, o prontuário que todos possuem e escondem envergonhados ou orgulhosos, dependendo do conteúdo? Quem sabe valha a pena simplesmente falar daquilo que acredito, podendo, assim, deixar relatos que talvez os ajudem de alguma forma no futuro?

O Mundo se transforma. Minha geração começou na Segunda Guerra Mundial, viveu a Guerra Fria e todas as suas lutas. Saímos de um padrão clássico para a revolta de um James Dean, a revolução Elvis, Beatles, Hippies e outras. Agora estamos em uma fase sem grandes bandeiras, não menos desafiadora que outras, contudo. O atentado de 11 de setembro nos EUA e a maneira como os norteamericanos reagiram foram um tremendo desastre para a humanidade. No mundo “civilizado”, algumas das nações mais desenvolvidas mais uma vez deram mostras de serem tão ou mais selvagens quanto o são aquelas nações que consideram primitivas.

Lógicas capitalistas radicais afetaram drasticamente o Brasil. Os livros de Hannah Arendt (1) e de Hobsbawn (2) entre tantos que podemos encontrar por aí assim como, talvez mais do que eles o de Jorge Caldeira com a biografia de Mauá, “Empresário do Império” (3), expliquem bem as razões de nosso Brasil ter ficado tão atrasado industrialmente, culturalmente. Demoramos a substituir o trabalho escravo pelo do cidadão livre.

A opção zero era nossa rotina e os esforços para emergir dela sempre esbarraram em interesses de uma política café com leite, após a proclamação da República, política ciosa da preservação de direitos especiais, tanto assim que nosso país implementou leis de restrição à imigração duríssimas após os movimentos revolucionários promovidos pelos “anarquistas italianos” em São Paulo, 1917, consolidadas com a Lei de Cotas de 19332. O medo e o racismo geraram critérios de aceitação de imigrantes que gostamos de esquecer.

A crise econômica de 1929 desmontou nossa economia, voltada para a exportação de produtos primários. O período Vargas girou principalmente nas conveniências deste caudilho em se manter no poder, levando-nos a oscilações conceituais e leis pouco eficazes.

Nossas elites viviam bem demais explorando gente e gado, produzindo açúcar e café. Situação que só no período, que chamamos de ditadura militar, resolveu mudar, principalmente durante o governo de Ernesto Geisel. Infelizmente a censura, a corrupção e a má avaliação das crises do petróleo derrubaram os projetos daquele último (1964 a 1984) período de ditadura, mergulhando o Brasil numa situação desesperadora, viabilizando, contudo, a redemocratização radical.

Vimos de tudo nesses anos pós período militar: Brasil quebrado, reserva “burra” de mercado, inflação galopante, correção monetária (erro máximo de nossos “economistas”), planos e mais planos econômicos. O Plano Real (finalmente um plano eficaz mal aplicado), ajuste econômico, milagrinho e agora mais uma crise que nem Nostradamus3 poderá, se ainda vivesse, prever o seu desfecho são as etapas mais recentes de nossa visão Brasil.

A mídia, a peso de ouro se encarrega de promover o que interessa às elites do dinheiro e ao governo, especialmente o federal, capaz de muita coisa. Agora, mergulhados na crise que dizem ser de crédito, melhor seria se dissessem que estamos entrando na recessão mundial por efeito da esperteza e inteligência dos banqueiros e especuladores, grandes vilões desse desastre por ação, omissão ou incompetência de nossas autoridades. De qualquer jeito o povo pagará a conta com o dinheiro dos seus impostos, a perda de expectativas e postos de trabalho, tudo no altar da sacanagem monetária...

Voltemos a nós.

A dinâmica da luta mudou muito dos anos sessenta para hoje.

Uma dúvida: será que a nova crise afetará o comportamento de jovens e adultos que se afastavam das questões sociais e políticas?

Estamos numa fase de revoltas institucionalizadas, conduzidas por ONGs e entidades oficiais. Algo bem diferente dos tempos de minha juventude.

A guerra do Vietnam freqüentava nossas aulas. Brasileiros, nascidos na década de quarenta do século passado, viemos do Estado Novo4, passamos pela Democracia, ditadura e agora outra vez a democracia. Eta fôlego !

Tudo isso confundiu e criou modas, épocas.

O que ensinar? Política? Sociologia? Religião? E Deus, como ficou nossa compreensão neste carnaval de idéias, filosofias?

É tentando explicar alguma coisa aos filhos já adultos, na perspectiva dos meus 64 anos (2009) e com a preocupação de pai e avô que escrevi este livro. Espero ajudá-los a serem felizes e suficientemente bem sucedidos.

Quero que tenham sucesso como pais e cidadãos.

Em minha vida profissional tive muitos alunos, companheiros de luta e bares, centenas ou milhares de jovens que de uma forma ou de outra viram e ouviram meus discursos. Esses filhos adotivos também me preocupam. Aprendi a amá-los e respeitá-los. Sei que muitas vezes falhei como educador. Nem sempre a imagem material correspondeu ao que sentia. Muitas mensagens ficaram prejudicadas pela necessidade operacional, pela luta do dia a dia. Registrar essas opiniões é, pois, uma preocupação de quase desespero diante da hipótese de incompreensão do que foi pretendido ensinar. Eles foram minha grande família, pela qual também me sinto responsável. Espero aqui corrigir falhas de comunicação, dar-lhes mais uma vez propostas, idéias, visões de um ser humano que, antes de tudo, lutou, riu, chorou, sofreu muito em muitas decisões tomadas e por outras deixadas de lado.

Acima de tudo quero que a minha pequena e a grande família sejam harmônicas, amorosas e felizes.

Este livro procura timidamente fazer com letras o que meu pai me deu com intermináveis conversas. Tive a grande felicidade de ouvi-lo durante anos. À mesa do almoço, durante a janta, em sua loja ou andando ao seu lado vivi a grande sorte de aprender lições maduras, inteligentes. Conversávamos sobre política, religião, história, comportamento. Eu menino e ele, meu pai, adulto e com toda a paciência e tolerância que lhe era peculiar, discutíamos durante horas os problemas do Mundo. Algo que também me foi dado na convivência eventual com meu avô materno, o lagunense João Baião. Personalidade forte e visões diferentes tinham histórias extremamente interessantes, o único cuidado era acompanhar seus personagens, muitas vezes deslocados em décadas do tempo em que vivíamos. O aspecto genial dessas oportunidades estava na visão simultânea e pessoal de gerações separadas por dezenas de anos. Nossa história, principalmente dos catarinenses, tinha poucos registros. A transmissão verbal era, pois importantíssima. Isso só se reforçou no Colégio Santo Antônio onde excelentes professores de história, geografia, português, entre eles o Frei Fulgêncio Haup (professor no colégio Santo Antônio e biólogo, costumava receitar ervas para curar enfermidades, faleceu em 1968) que, de uma maneira especial, marcaram minha vida, mostrando como bons mestres são significativos para quem tem sede de aprender. Aqui vale um registro, como eram atentos ao ensino de nossa língua aqueles professores de português nascidos na Alemanha...

Minha querida mãe foi o exemplo de pessoa guerreira, corajosa e incrivelmente laboriosa. Em sua simplicidade tinha consciência de seus desejos, pacientemente subordinados a uma personalidade muito forte, a de meu pai. Ela me mostrou toda a força e coragem que uma mulher pode ter. Longe da imagem cândida e frágil estabelecida para as mulheres, ela brigava, trabalhava duro, enfrentava qualquer situação sem medo e com uma garra de fazer inveja à maioria dos grandes homens que conheci.

Os meus pais foram um exemplo de seriedade, trabalho e responsabilidade muito raro.

Vale a pena aqui reproduzir um trecho da Bíblia cristã, algo que poderia ser tirado de outras, lembrando que aos pais compete a responsabilidade de educar e aos filhos o respeito e atenção ao que ensinam.

Quase no final deste livro coloco “Opiniões Pertinentes” registrando artigos que publiquei em blogs e jornais sobre atinentes ao tema deste livro. Espero assim contribuir para a compreensão de meus pensamentos, por mais inúteis que possam ter sido.





Eclesiastes


Do Eclesiastes5 temos


1. Os filhos da sabedoria formam a assembléia dos justos, e o novo que compõem é, todo ele, obediência e amor.
2. Ouvi, meus filhos, os conselhos de vosso pai, segui-os de tal modo que sejais salvos.
3. Pois Deus quis honrar os pais pelos filhos, e cuidadosamente fortaleceu a autoridade da mãe sobre eles.
4. Aquele que ama a Deus o roga pelos seus pecados, acautela-se para não cometê-los no porvir. Ele é ouvido em sua prece cotidiana.
5. Quem honra sua mãe é semelhante àquele que acumula um tesouro.
6. Quem honra seu pai achará alegria em seus filhos, será ouvido no dia da oração.
7. Quem honra seu pai gozará de vida longa; quem lhe obedece dará consolo à sua mãe.
8. Quem teme ao Senhor honra pai e mãe. Servirá aqueles que lhe deram a vida como a seus senhores.
9. Honra teu pai por teus atos, tuas palavras, tua paciência,
10. a fim de que ele te dê sua bênção, e que esta permaneça em ti até o teu último dia.
11. A bênção paterna fortalece a casa de seus filhos, a maldição de uma mãe a arrasa até os alicerces.
12. Não te glories do que desonra teu pai, pois a vergonha dele não poderia ser glória para ti,
13. pois um homem adquire glória com a honra de seu pai, e um pai sem honra é a vergonha do filho.
14. Meu filho, ajuda a velhice de teu pai, não o desgostes durante a sua vida.
15. Se seu espírito desfalecer, sê indulgente, não o desprezes porque te sentes forte, pois tua caridade para com teu pai não será esquecida,
16. e, por teres suportado os defeitos de tua mãe, ser-te-á dada uma recompensa;
17. tua casa tornar-se-á próspera na justiça. Lembrar-se-ão de ti no dia da aflição, e teus pecados dissolver-se-ão como o gelo ao sol forte.
18. Como é infame aquele que abandona seu pai, como é amaldiçoado por Deus aquele que irrita sua mãe!
19. Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que a estima dos homens, ganharás o afeto deles.
20. Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus acharás misericórdia;
21. porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.
22. Não procures o que é elevado demais para ti; não procures penetrar o que está acima de ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
23. pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
24. Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
25. pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
26. Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.
27. O coração empedernido acabará por ser infeliz. Quem ama o perigo nele perecerá.
28. O coração de caminhos tortuosos não triunfará, e a alma corrompida neles achará ocasião de queda.
29. O coração perverso ficará acabrunhado de tristeza, e o pecador ajuntará pecado sobre pecado.
30. Não há nenhuma cura para a assembléia dos soberbos, pois, sem que o saibam, o caule do pecado se enraíza neles.
31. O coração do sábio se manifesta pela sua sabedoria; o bom ouvido ouve a sabedoria com ardente avidez.
32. O coração sábio e inteligente abstém-se do pecado. Ele triunfará nas obras de justiça.
33. A água apaga o fogo ardente, a esmola enfrenta o pecado.
34. Deus olha para aquele que pratica a misericórdia; dele se lembrará no porvir, no dia de sua infelicidade este achará apoio.







O meu pai
Com certeza a pessoa mais importante em minha formação foi o meu pai, Pedro. Calmo, paciente, metódico e muito inteligente, tinha uma personalidade forte e uma capacidade de comandar discretamente e com muita competência. Comerciante, mantinha uma rotina violenta entre a casa, o café Pingüim e a sua loja, onde inclusive durante a noite ficava fazendo seus projetos elétricos.

Desde garoto tive com meu pai discussões intermináveis sobre religião e política internacional, raramente sobre políticos locais, que ele não comentava talvez por força de sua profissão, quem sabe, por desprezo... Aos poucos fui descobrindo seus livros, uma coleção que perdi nas mudanças da vida, a maioria sobre a política francesa, dando-me assim a oportunidade de conhecer alguma coisa sobre a história daquele país antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje entendo as dúvidas que o assombravam. Como é difícil acreditar em políticos. A vida dessas pessoas destrói seus discursos. O poder empolga. O líder apaixonado pelo povo aos poucos se transforma em arrimo de família, em monarquista, dono da verdade e, pior, senhor das leis.

Dele tive indicações de leitura e exemplo de dignidade sem professar qualquer religião. Aprendi que a dúvida é a única certeza, sem impedir, de modo algum, a procura pela verdade. Fazia questão de não se qualificar como militante de coisa alguma. Até futebol desprezava, exceto em Copa do Mundo quando, pela primeira vez na vida, chegando em casa eu o vi com o ouvido colado num rádio, escutando a transmissão da final da Copa de 1958.

Seu desprezo talvez possa ser entendido imaginando seus sonhos de juventude e o que acabou sentindo ao longo da vida, período em que muito se perdeu. Valeu, contudo, uma passagem interessante quando, eu já com 14 ou 15 anos ele me mostrou um livro pesado, grosso, “Os grandes Sonhos da Humanidade” (4), dizendo-me que poderia lê-lo quando fosse adulto. Esse livro, com um final tremendamente equivocado, tinha a virtude de historiar o comportamento e os efeitos de lideranças políticas e religiosas de muitas personalidades significativas da humanidade, tratava, contudo, da lógica do medo, algo tão comum entre os líderes religiosos.

Com certeza esse livro foi um grande estímulo a leituras semelhantes. O mais interessante para mim foi o desafio ou a imposição “quando for adulto poderá ler”. Não há necessidade de dizer que comecei de imediato a leitura daquele livro misterioso. Não foi diferente com Bertrand Russell, quando o professor de religião, Frei Odorico, respondendo a uma pergunta minha nos tempos de Colégio Santo Antônio disse que era um mau filósofo, ruim. Procurei, gostei e li tudo o que pude encontrar desse tremendo filósofo.

Pedro Cascaes, meu pai, foi um tremendo exemplo de desprendimento e dignidade. Acompanhei sua vida, o carinho que tinha pelos irmãos e irmãs e pela mãe viúva, as viagens mensais a Florianópolis para cuidar de todos que lá viviam, o trabalho discreto, silencioso, sem propaganda pessoal, firme, contudo. Aliás, não foi difícil compreender a personalidade do meu pai. Minha avó Angelina, que chamávamos de “vó China”, era um exemplo real de pessoa corajosa, caridosa, inteligente e capaz de muito amor. As férias que passávamos na casa enorme que tinham à Praça Getúlio Vargas eram uma excelente oportunidade de observar o comportamento dela. A casa vivia aberta a todos, a cozinha não parava, era gente entrando, saindo, tomando café, almoçando ou jantando sem que entendêssemos direito quem se atrevia a tanto. Vó China não tinha luxo visível. Seu enorme quarto tinha tudo o que ela precisava e meu pai trabalhava para que não lhe faltasse nada, essa era uma orientação aos seus irmãos (um homem e oito mulheres) atendida sem discussão, afinal o Pedrinho, como tratavam papai, era cinco anos mais velho que o segundo filho (vivo) do casal João e Angelina Cascaes.

Meu pai, homem agnóstico, desprezava as religiões. Dizia e repetia que a batina não fazia o padre. Insistia na tese de que o fundamental é o comportamento e o exemplo pelo qual se afirmam as verdadeiras convicções; a seriedade era base de sua existência.

Paixão?

Criar passarinhos e ver briga de canários era o hobby que tomava seu tempo. Felizmente a legislação radical e pouco inteligente sobre animais silvestres ainda não existia, assim ele podia criar passarinhos de toda espécie e conviver com seus amigos discutindo que tipo de canário cantava melhor, se o casal x ou y era melhor reprodutor, onde e como alimentá-los etc.

Infelizmente fumava, e muito. Isso certamente foi decisivo para a doença que o matou aos 51 anos. Na agonia de sua morte mais uma vez me mostrou o que é um pai. Naquela última noite de sua vida, repetindo aqui o que já disse no capítulo anterior, agonizando, com intervalo de algumas horas, abraçou-me e me perguntou o que eu fazia ali, porque não estava estudando (devia estar em Itajubá).

Aliás, devo ter causado muitas dúvidas ao meu pai. Com certeza não sabia que profissão desejava. Fui descobri-la cursando o terceiro ano de Engenharia, ainda assim sem muita convicção. Aproveitava minha participação no Diretório (faltas abonadas) para visitar minha namorada (futura esposa) em Blumenau. A pergunta era inevitável: você não está estudando?

De qualquer forma os 18 anos em que vivi na companhia dos meus pais foram muito importantes, acima de tudo pela experiência de conversar metodicamente, regularmente e intensamente com o Sr. Pedro Cascaes. Isso também acabou criando problemas adiante, afinal, acostumado a discutir religião, política, economia e filosofia com o pai, como se ajustar a conversas típicas da gurizada? Até hoje procuro a companhia de pessoas que me parecem mais maduras, capazes de conversar sem atavismos religiosos, sem as visões ingênuas das religiões e ideologias que assolam a humanidade...





A esposa


È interessante sentir o que significa viver juntos tantos anos. O casamento vive etapas muito distintas alterando aos poucos as motivações da união. Seres humanos, temos uma programação que se justifica à medida que compreendemos a grande missão que é viver e fazer viver, ser e criar, ter e doar, ser e estar, acima de tudo poder se integrar a um projeto divino que é participar desse imenso universo, maravilhoso quando olhamos para as estrelas, fantástico quando enxergamos a complexidade de qualquer ser vivo.

Tânia foi uma pessoa determinada e que soube enfrentar situações extremamente difíceis. Juntos nós passamos por desafios enormes, violências e sucessos, tragédias e momentos de imensa felicidade, orgulhamo-nos do resultado conquistado, pois lutamos muito para vencer. Começamos enfrentando nossos pais, casando em situação de conflito, sob o ceticismo de todos. Meus pais receando a fragilidade do casal e a mudança de planos escolares do filho que estudava em Itajubá, os meus sogros certamente preocupados com o futuro da filha que entregavam para um magricela que nem emprego tinha.

Conseguimos viver em Itajubá. Naturalmente sempre recebendo de pessoas amigas ajuda inestimável, mais ainda em Minas Gerais, terra de gente tremendamente hospitaleira. Tatiana nasceu lá num momento de penúria, onde íamos à feira no dilema se comprávamos alface ou tomate, o dinheiro nem sempre dava para as duas coisas. A simplicidade não era impedimento, contudo, do amor que só aumentou quando nossa primeira filha nasceu. A partir daí sentimos um compromisso com os filhos que nunca esmoreceu, apesar da certeza de que a super-proteção é tão ruim quando o abandono.

Razões especiais fizeram com que a Tânia deixasse de lecionar (1985) e se dedicasse ao Caio Lúcio, nosso terceiro filho. Foi uma decisão madura e que deu resultados. Tudo o que fizemos poderia ter sido mais eficaz, mas, quem é dono da verdade? Aliás, vale registrar que fazemos concurso até para ser ascensorista, para casar e ter filhos basta querer...

Minha admiração pela minha esposa só aumentou quando ela, já avó, foi lecionar na cidade da Lapa, saindo de Curitiba numa van às 17 horas e retornando daquela cidade à meia noite, de segunda a sexta feira (2001/2), num momento de extrema dificuldade financeira que passávamos. Aliás, minha maneira de agir foi sempre um jogo que expôs violentamente a nossa família, algo que muitos desconhecem por se negarem a enfrentar os poderosos...

Em 2003 começou a luta pelo mestrado, defendendo sua dissertação em 2005, agora vivendo orgulhosamente seu status de Mestre (Master of Science). Conquistou seu título na UTFPR, Universidade Tecnológica do Paraná, o que valoriza sua conquista. Continua em atividade, agora integrada a projetos de educação de seu querido GETEC - GRUPO DE ESTUDOS EM GÊNERO E TECNOLOGIA- na UTFPR.

Resumindo, Tânia sempre enfrentou imensas dificuldades para a viabilização da família que formamos, venceu.





Família


Nada é mais sagrado para qualquer indivíduo sem maiores traumas que a família, a pequena tribo. Afinal, pessoas afortunadas por uma vida normal conviverão durante anos com pais e filhos, unidade social básica a qualquer comunidade. Talvez por isso os estados totalitários tenham se esforçado tanto para excluir filhos dos pais, de Esparta (há dois e meio milênios atrás) às ditaduras modernas o grande pai é o chefe de estado de plantão, com cartazes, espiões e internatos para jovens a serem castrados politicamente.

Por mais que se lute, por maiores que forem as conquistas, é nela que encontraremos nossa base de apoio, nossa razão de ser.

Ninguém nasceu para viver só. Pertencer a um grupo é condição de afirmação, felicidade e segurança.

O jovem, quando instintivamente foge de seu ninho, em seu íntimo procura outro, o de sua futura família.

A consciência da necessidade de construí-la vem com o amor, com a descoberta de quem irá acompanhá-lo, formar seu par.

Na sociedade moderna, bombardeada dia e noite por mensagens negativas em torno do casamento, com tantos apelos à infidelidade, ao consumismo, o jovem com facilidade poderá desorientar-se. É interessante notar, entretanto, que dentro de cada pessoa, e isto se reforça com o tempo, a preocupação na formação de sua família é base de seu comportamento. Nota-se com mais evidência nas mulheres. Elas têm na maternidade uma forma de afirmação, de realização sublime. Não atender este chamado da natureza será um fator de frustração emocional, mais cedo ou tarde.

A verdade é que a família é nossa base. Os filhos nossa razão de ser. O amor pela companheira(o) a base do equilíbrio emocional.

Ao iniciar a vida longe do lar paterno, o jovem deve se lembrar que o resultado de todas as suas experiências será formar uma família. Mais cedo ou tarde sentirá falta de um ninho, do aconchego de um lar, do ruído de crianças. Precisará de pessoas que lhe amem, que dele esperem apoio, para quem seja importante.

O grande desafio será escolher alguém para esta parceria com a vida. O amor será o principal fator de aproximação, mas algumas questões poderão atrapalhar muito. Religião, profissão, saúde e cultura pesarão no sucesso do casal.

A harmonia em um lar depende bastante do mútuo respeito e admiração. Como obtê-lo? Um casal sem coerência filosófica viverá em conflito. Sobreviverá?

É muito difícil o apoio recíproco quando não existe aceitação de princípios religiosos, éticos e morais comuns aos dois. São bases culturais que se manifestam em todos os detalhes da vida. Da manhã à noite mostramos o que pensamos a respeito de religião, trabalho, sexo e relações humanas.

Fatalmente visões diferentes levarão a constrangimentos pesados.

Muitas religiões estabelecem para os não crentes o inferno e os piores adjetivos. Torna-se difícil para o casal conviver com a perspectiva do inferno. A diversidade religiosa gera orientações diferentes, critérios divergentes. As dúvidas e dogmas fermentam agressões. Como suportá-los sem revolta? Um casal em clima de beligerância transmitirá insegurança e indisciplina. As crianças não compreendem as abstrações dos pais e muito menos terão como tratá-las com frieza, objetividade, equilíbrio.

E a saúde? Antes do casamento muitas doenças poderão ser evitadas. Por pior que seja, deve-se fazer o pré-natal. O casal poderá ter filhos? Como serão? A mídia, sempre dependente de dinheiro para existir e, portanto, dando ênfase a instintos mais compensadores monetariamente, grande responsável pela nossa cultura, supervaloriza a liberdade irresponsável. Raramente veremos em teatros, cinemas ou televisões o apelo à responsabilidade. O casamento naturalmente leva aos filhos. Eles serão herdeiros genéticos e culturais dos pais. E os pais poderão ser portadores de problemas graves, doenças degradantes, vícios perigosos, comportamentos degenerados. Nosso planeta está superpovoado, a união sem filhos próprios pode ser compensada pela adoção. Se o casal realmente se ama, o casamento deve se basear, existindo restrições para a geração de filhos próprios, na esperança da adoção. Com certeza farão a felicidade e contribuirão para o sucesso de pessoas que, de outra forma, seriam condenadas aos piores dos mundos.

Temos o direito de gerar filhos doentes? Há muitas maneiras de se evitar problemas maiores. A medicina está muito adiantada. A prevenção é o melhor caminho. De qualquer modo é bom lembrar que a perfeição é uma abstração. Todo ser humano carrega alguns problemas que se manifestarão ao longo da vida. A questão é avaliar o que pretendemos e podemos oferecer, sempre lembrando que seremos responsáveis pelo que criarmos.

Ter filhos, por outro lado, nem sempre é possível por motivos clínicos. Nos casos extremos, repetindo, a adoção de crianças é uma bela e justa saída. Nesse sentido a lógica poderá ser mais altruísta. Criança adotada é um adulto a menos sem família (geneticamente) de origem. Isso é tremendamente importante e nossa sociedade cartorial, legislando em cima da exceção, criou tantas barreiras à adoção que amplificam tremendamente o suplício de inúmeras crianças em orfanatos.

A formação de uma família é um ato de grandes conseqüências pessoais e sociais. Não há como negar a responsabilidade e o compromisso que o casal tem com a vida. Felizmente a Medicina oferece cada vez mais recursos para prevenção de doenças. Consultando-se especialistas haverá grandes chances de unir-se o amor à saúde.

E o dinheiro? O que significa na vida familiar?

Quantos casais começam felizes, imersos em um mar de carinhos num espaço de grande amor e, após alguns anos, diante da impossibilidade de se sustentarem, acabam se separando em meio a acusações as mais cruéis. Quando a separação vem sem filhos, tudo bem. Mas quando deixam crianças “órfãs” prematuras? O drama para esses pequenos seres humanos estará apenas começando. Filmes e novelas mostram quadros, romances, aventuras fogosas. Não dá ibope explicar detalhes, causas, efeitos sutis desses dramas nas cabeças das crianças e dos adultos. Não atrai platéias mostrar que somos culpados de tantas tristezas, de tantos problemas.

Vale imitar os passarinhos, que primeiro constroem seus ninhos para depois porem seus ovinhos e o fazerem na época em que a natureza lhes oferece alimento, calor.

A família não deve ser o instrumento de fuga da casa paterna, uma forma de afirmar-se. Não é raro perceber-se casamentos de jovens que, no desespero de encontrar um melhor ambiente, acabam se unindo prematuramente. Em suas mentes nada impedirá que tenham uma vida melhor casando-se. Logo vêm os filhos, as exigências materiais e, paralelamente, o sentimento de que realmente amariam outras pessoas, que a liberdade pretendida transformara-se em prisão.

Por tudo isso é prudente casar-se tarde. O amadurecimento físico e mental é importante. Os primeiros 25 anos de vida devem ser dedicados ao aprendizado, à formação profissional, moral e física. O casamento entre adultos tem muito mais chances de ser bem sucedido.

O casamento precoce tolhe o jovem em uma fase de sua vida em que é aventureiro, em que procura descobrir o mundo.

Religiões, empresários, sociedades belicistas poderão desejar a união prematura. Afinal ela produzirá soldados, crentes, operários... Para as “vítimas” a união precipitada poderá tornar-se um pesadelo gigantesco.

Doenças venéreas, em especial a AIDS, recomendariam o casamento mais cedo. Aí encontraremos a justificativa para a união informal e sem filhos. Permitindo-se aos jovens uma vida sexual saudável e responsável evitaremos os encontros clandestinos, promíscuos, sem controle.

Os conceitos e preceitos antigos aplicam-se a uma sociedade dominada pela superstição e preconceitos. Felizmente, no mundo ocidental, podemos viver um clima de relativa liberdade em muitos países. Devemos aproveitá-la para experiências que possibilitem maior felicidade e responsabilidade. Em especial maior segurança na hora de assinar o livro no Cartório, onde assumiremos o compromisso legal de formar uma família.

É bom insistir que o casamento gera filhos e estes não podem ser responsabilizados ou penalizados pelas loucuras dos pais. Para eles a presença dos pais é vital, essencial a um desenvolvimento físico e mental equilibrado.

O casal perde autonomia quando gera filhos. A partir deles ganha um compromisso com a sociedade, a natureza e a vida. A harmonia passa a ser um desafio permanente, o compromisso com o sucesso da união ganha prioridade. Se antes os caprichos poderiam determinar separações, agora, se isto acontecer, poderá tranqüilamente ser classificado como um grave crime contra os filhos. Eles são produto do amor e não do ódio. Não poderão pagar por desentendimentos que seriam superados o casal tivesse mais inteligência e seriedade.

A propósito é bom lembrar que o mais capaz é justamente quem deverá mostrar maior diplomacia, habilidade e tolerância. Um par de pessoas certamente mostrará alguém mais inteligente. Se esse a tiver suficientemente deverá aplicá-la na negociação, na busca de soluções para conflitos eventuais. Tudo isso leva à necessidade de um contrato de tolerância e de grande esforço de mútua compreensão.

Temos tradicionalmente o padrão machista de existência. É uma lógica simples. Um manda, o outro obedece.

À medida que a humanidade evolui, contudo, a mulher conquista sua independência material e cultural. Nos países mais desenvolvidos já é perfeitamente claro a igualdade de direitos e deveres. Se biologicamente as diferenças são enormes e maravilhosas, juridicamente, politicamente e economicamente a esposa acompanha o marido em muitos caminhos.

Isso está mudando rapidamente. É sensível até certa superioridade da mãe sobre o pai. Ela, na consciência de suas responsabilidades, tendo gerado em seu ventre os filhos que lhe acompanharão o resto da vida, sente-se responsável e solidária àqueles filhos que gerou. Naturalmente é mais sensível, melhor preparada para a vida em sociedades civilizadas, harmonizadas. Os homens, que nunca tiveram este sentimento muito forte, agora o têm menos ainda.

A realidade da sociedade futura talvez seja a de crianças sem pai, vivendo um ambiente em que a mãe fará o papel que hoje compete ao casal. Um resultado disso tudo será o crescimento de questões comportamentais e menor fertilidade. As mulheres, sentindo o risco da maternidade, tenderão a optar pela esterilidade. Educando seus filhos o farão com a visão feminina, aos meninos faltará o modelo masculino. Neste quadro teremos um novo padrão masculino. Os psicólogos deverão rever modelos... Talvez esta seja uma resposta da natureza ao excesso de população.

A família tem diversos limites, amplitudes.

O primeiro é constituído pelos pais e filhos, em um segundo círculo teremos também os avós e tios, em um terceiro outros parentes e assim por diante. Este conjunto, que no passado era a base de tribos errantes nos desertos e florestas, possui elementos de grande resistência e capacidade de mobilização. Assim como eventualmente cria problemas ao interferir negativamente na vida de um casal, é também o espaço em que poderemos cobrar solidariedade. Muitos acidentes, fracassos profissionais e materiais poderão ser fatais se não existir a família onde encontrar apoio. Saber valorizá-la e aprender seus limites e compromissos é uma arte a ser desenvolvida pelos jovens que levantam vôo.

Vivemos em uma cultura extremamente competitiva. Disputamos espaços permanentemente. A própria visão da sociedade é egocêntrica. Somos desafiados como indivíduos, procuramos nos defender unidos a parceiros de bandeiras. Nascemos egoístas e frágeis, crescemos,, tornamo-nos adultos, cobram-nos altruísmo, admiram os vitoriosos.

Na família, perto daqueles que nos amam, teremos espaço para treinar a vida. Junto ao carinho dos pais, as disputas infantis serão exercícios culturais para a luta pela sobrevivência. Sendo pais não poderemos esquecer nossas responsabilidades pela educação dos filhos. Elas não se limitam à escolha de escolas. Em casa as palavras e o exemplo valerão, e muito, na formação de caráter. Gerar uma família é um desafio enorme. Em momento algum os pais poderão desprezar a sorte dos filhos. Eles serão aquilo que a família estabelecer.

Ninguém é mais responsável que os pais pelo sucesso dos filhos.

No Brasil temos o hábito de responsabilizar o governo pelas nossas falhas. Herança do clima escravocrata que tivemos durante séculos, habituados a responsabilizar os donos do poder como culpados pelas nossas falhas, temos (coletivamente) defeitos graves que precisam ser corrigidos. Essa atitude ridícula, muito também conseqüência de ideologias utópicas, facilita a falta de atenção pelos compromissos que assumimos ao gerar descendentes.

Ter família, criar família e viver em família é algo sério, sublime e um compromisso com a vida, o prêmio que esses pedaços de matéria tiveram do Grande Arquiteto do Universo.






Os filhos – uma responsabilidade com prioridade


A partir do momento em que sente estar grávida, a mãe precisa ser foco de atenção especial. Todo cuidado é pouco diante das inúmeras e significativas hipóteses de acidente. Qualquer casal deve estar consciente de que a gravidez modifica gradativamente a mulher, física e psicologicamente, e nesse período ela se fragiliza, precisando de máxima atenção do marido e de todos aqueles que a cercam.

Evoluímos muito a partir dos tempos da selva onde as mulheres que se cuidassem, pois os homens viviam em torno sem saber o que significava a paternidade.

Muita coisa mudou a partir dos tempos das savanas e cavernas. A ciência, agora suficientemente rica em informações, teorias, e recursos dominados pode ajudar muito. Não faltam os meios de estudo e domínio do que é preciso fazer. Médicos, psicólogos, mestres em muitas habilidades poderão orientar o casal em sua tarefa pessoal e social de se reproduzir.

Nós, eu e minha esposa, tivemos que superar muitas dificuldades, pois estávamos longe de nossos familiares nos três períodos em que ganhamos nossos filhos. Aprendemos intuitivamente, sob conselho de amigos, lendo o que podíamos. Isso não foi bom, com certeza a família maior fez falta.

Vivemos desde 1968 (dezembro) em Curitiba e aqui e agora podemos acompanhar melhor os nossos filhos, adultos e casados, que finalmente estão todos vivendo na mesma cidade. Nossos netos podem contar conosco e para os filhos fazemos o papel de suporte em momentos que não são sempre agradáveis. Isto é extremamente importante, esperamos que este seja um espírito de fraternidade familiar a ser mantido pelos nossos descendentes. O maior cuidado é, contudo, não exagerar. Experiências próprias, sem tutela, são importantíssimas na formação do caráter dos filhos. Excesso de atenção é tão ruim quanto a falta de cuidados...

As crianças, principalmente, precisam de muita competência familiar, se quisermos que tenham o melhor que pudermos oferecer. Naturalmente nascem totalmente egoístas, vivem para si até, aos poucos, se socializarem e ganharem sentimentos altruístas. Aliás, o livro “O Senhor das Moscas” (5) mostra bem essa situação onde, de forma romanceada, o autor (Golding) relata a transformação comportamental de um grupo de garotos vivendo isolados em uma ilha. A visão romântica das crianças não ajuda em nada, são seres humanos que precisam ser preparados para a vida adulta.

Queremos dizer que uma criança quando nasce é um papel em branco; a qualidade do papel pode ser de imprensa, de seda, papelão ou papiro, em qualquer um poderemos escrever uma poesia ou palavrões, quem decide é o educador, os pais, os amigos, a vida.

A educação naturalmente procura gerar adultos, disciplinar ou estimular a liderança, apaziguar ou tornar violentos, tudo é possível, dentro de certos limites. Qualquer ser humano traz uma herança genética diferenciada, algo que o personaliza. Saber disso e procurar métodos de educação compatíveis com a personalidade e os potenciais da criança serão decisivos ao sucesso dessa pessoa.

Na história da humanidade os exemplos se sucedem ilustrando a organização das escolas e o relacionamento com as famílias para diversos objetivos. Sociedades com ranços aristocráticos, feudais, escravocratas, priorizam na educação para o povo a disciplina e a alienação, exceto para as elites que a dominam, a quem servem. Nações mais cultas e altruístas criam padrões de educação completamente diferentes, democráticos, livres e a esperança é de que em algum tempo futuro tenhamos o pensar, raciocinar, conhecer, saber usar a cultura em benefício geral como objetivo básico de nossas escolas e famílias.

O efeito político da educação é importantíssimo. Os ditadores, por exemplo, começam seus mandatos intervindo nas escolas, criando processos de idolatria ao grande líder, construindo processos autoritários de educação, censura, terror...

Felizmente gerações de filósofos recentes estimulam o pensamento, a liberdade.

Um livro excepcional sobre Filosofia (em maiúsculo) é “A História do Pensamento Ocidental” (6); lendo-o com atenção veremos como grandes filósofos incomodaram muita gente quando não se deixaram cooptar pelas grandes religiões e políticos. Pensando, ensinando, muitos transmitiram sentimentos de liberdade, de amor ao próximo, de senso social e felicidade.

Bertrand Russell6, por sinal, tinha preocupações especiais com a Educação. Nascendo e vivendo numa sociedade conservadora, vivenciando guerras e revoluções, sendo extremamente inteligente, procurou na prática e na teoria (diversos livros) transmitir sua visão sobre educação.

O que precisamos entender, na condição de pais, é a necessidade de preparar os filhos para a vida prática, para os desafios que irão enfrentar. Com certeza o padrão de educação no início do século vinte e um deve ser diferente do que o aplicado no século 20.

O que fazer?

Qualquer família, antes de tudo, precisa se conscientizar de que, se não tiver competência para educar, estará deixando essa responsabilidade para terceiros. É prudente?








Os netos – a confirmação


Talvez a experiência mais rica e proveitosa seja ter, ver, ouvir, acompanhar o nascimento e crescimento dos netos e netas. Nessa fase da vida, quando nos tornamos avós, conseguimos observar e analisar com maturidade comportamentos que antes não percebíamos ou simplesmente faltava-nos conhecimentos para entender.

O mais impressionante é sentir a fragilidade quando crianças. Não precisamos de diploma nem cursos especiais para descobrir o valor que dão aos pais. Os traumas nessa fase da vida criarão cicatrizes enormes pelo resto da vida dessas crianças.

Agora aposentado, sem condições de trabalhar como antes, posso acompanhar minha netinha Luíza. Tenho aprendido muito com ela. Gosto tanto das lições que reservo pelo menos meio dia da semana para “cuidar” da gatinha. O velho aqui é obrigado então a fazer acampamento na sala, cuidar de bonecas, contar histórias, cantar e até apostar corridas pela rua. Comprar um brigadeiro era um momento sagrado até ela aprender a jogar com o computador, o brigadeiro foi esquecido. Visitar uma “pet shop” também fazia parte do roteiro e lá a Pipita entrou para a família, apontada pela Lulu e batizada por ela. Por enquanto é assim, logo ela encontrará outros amigos, novas preocupações. Já descobriu o computador; os jogos eletrônicos são a paixão dessa garota que tem um grande parceiro, seu primo João Pedro quando estão juntos.

Com ela, lembrando o drama vivido pela Isabela e a Juliana com a separação da minha filha mais velha, ganho convicção sobre a necessidade dos casais, que têm filhos, de pensarem muito antes de qualquer conflito e da importância de mostrarem afeto, carinho entre si. Uma criança, como é o caso da Lulu, tendo pais que se relacionam bem, é feliz, desenvolve-se melhor, irradia alegria. Por outro lado, deve ser um imenso sofrimento para qualquer criança perceber a animosidade entre pai e mãe.

Pessoalmente tive pais que se amavam intensamente. Isso era tão natural para mim, tanto que demorei em entender e avaliar corretamente outras situações. Parecia-me mais do que comum e justo o amor, o respeito entre pais. A vida, entretanto, prepara surpresas e agora, mais velho, sei e valorizo o casamento mais do que responsável.

Ninguém é obrigado a casar. Felizmente estamos num período de nossa civilização brasileira em que a liberdade sexual é muito grande. A tolerância já faz parte da cultura de nosso povo. Ótimo! Isso leva a aceitar sem grandes restrições as opções sexuais, a vida independente etc. Tudo muito justo, mas nada disso justificará a falta de máxima atenção para os filhos, para a família que decidirmos construir. Tendo-os, a vida muda, a liberdade se transforma em responsabilidade mútua, compromisso, determinação e capacidade de atenção para os filhotes.

As crianças não pediram para nascer, não têm culpa de suas manias, de seus desejos. Devemos criá-las com disciplina, sim, mas também com momentos de descontração, paixão, deixando-as livres para desenvolverem sua criatividade, em condições de serem realmente infantis.

Os netos ainda ensinam muito para quem tem condições de aprender. Infelizmente muitos idosos se fecham egoisticamente em suas mazelas. Não sabem o que perdem...




Amigos


O ser humano é um animal socializante. O isolamento não é seu comportamento natural. A necessidade de ter ao lado companheiros e amigos é uma condição atávica. Viver sem possuí-los é condenar-se à infelicidade.

Critérios? Como conquistá-los? Com que objetivo? Sob que condições?

Desde a infância procuramos companhia. Ela surge no seio da família, nas praças, escolas, praias, nas ruas... E como influi em nossa cultura, formação. Por acidente ou deliberadamente construímos nossa vida ao escolhermos nossos amigos. Os modismos, vícios, artes, o exercício da liderança ou da subserviência, tudo é treinado, desenvolvido nos “bandos”, nas “gangues”. Essas micro tribos muitas vezes antepõem-se à família, criando conflitos que exigirão muita habilidade dos pais e educadores.

O jovem deve se perguntar: quem está de seu lado? O que pretende? Pode efetivamente confiar em seus companheiros? Poderá ajudá-los? Qual o futuro de todos?

Diz-se há muito tempo: antes só do que mal acompanhado. Lendo o livro “Memórias sonhos reflexões” de C.G. Jung (7) vemos uma declaração interessante: “meus colegas de escola rural: eles me alienavam de mim mesmo”. Quantos já não sentiram o mesmo? Os amigos entorpecem percepções pessoais. A preocupação de se identificar com o bando leva muitos a se ignorarem, a assumirem posturas contraditórias com suas próprias crenças. Na insegurança de suas idéias assumem figurinos estranhos. Ter consciência de que se é diferente e querer sê-lo é a base para grandes vitórias ou derrotas. Nessa diretriz valeu muito para mim a leitura de alguns livros de Hermann Hesse, de quem destaco com muita honra Demian (8). Obviamente o livro já sumiu das minhas estantes, pois, sendo o que era, foi de empréstimo a empréstimo até desaparecer. Livros de papel, convencionais, têm essa característica...

Para ilustrar vale transcrever o texto da Wikipédia7 sobre o livro Demian que diz, de forma resumida, felizmente em ambiente eletrônico, onde podemos encontrá-lo rapidamente:

O livro conta a história de um jovem - Emil Sinclair - criado por pais muito piedosos que, de repente, se vê em um mundo bem diferente daquele pregado por seus pais e avós e entre suas várias fases da vida, acaba tornando-se um jovem boêmio. Atormentado pela falta de respostas às perguntas que faz sobre sua existência. Dividido entre o mundo ideal e o real(o mundo claro e paternal e o mundo sombrio e frio), ele tem que experimentar um pouco dos dois para tentar encontrar sua verdadeira personalidade. Percorrendo este caminho perigoso, influenciado por Max Demian, um colega de classe precoce e envolvente, ele prova do crime, da amizade e das incertezas surpresas que engendram as descobertas na vida adolescente. Sinclair, então, se rebela contra as convenções sociais e descobre não apenas o doce sabor da independência mas também seu poder de praticar o bem ou o mal. A obra tem muitas referencias bíblicas, como o Sinal de Caim e o Gólgota, tornando dificil a leitura a quem não sabe muito sobre a religião cristã, mas também trata de misticismo e autoconhecimento, da busca da essência do Eu. A obra mostra as dificuldades que todos os jovens sentem até chegar à fase adulta.


Bons livros, boa base.

Apenas sendo diferente é que poderemos ter o orgulho de, algum dia, mostrar que descobrimos um caminho especial. Lutar pelo respeito à individualidade é preservar valores especiais. As florestas tropicais são um bom exemplo da riqueza de formas de vida. Quem já passou alguns dias viajando por ambientes quase glaciais sabe da monotonia das florestas homogêneas, das árvores que não mudam. As florestas tropicais podem ser perigosas, violentas, não serão nunca monótonas. Podemos ser a grande experiência, a base de um mundo novo. Tudo depende de acreditarmos em nossos instintos, nas mensagens que trazemos em nosso inconsciente. A amizade, o prazer da convivência com amigos não deve inibir ideais, posturas e lutas que acreditarmos serem necessárias.

O mundo poderá parecer pequeno. A sensação de que “se não pertencer àquele time estará abandonado” é comum. Principalmente para o jovem existe todo o espaço do universo. Optar pelos melhores amigos é fundamental. Ter coragem de dizer não quando não concordarmos com alguma proposta ou companhia poderá ser decisivo em nossas vidas... Não amamos o físico e sim espírito e corpo. Quando uma pessoa mostra não corresponder à imagem que dela fazíamos devemos nos afastar dela. Amizades eternas apenas por pessoas que apresentarem sintonia conosco e motivos reais de afeição. Em nossa primeira fase da vida estaremos formando personalidade. Poderemos caminhar para rumos decentes ou não. Infelizmente para permanecer nos melhores caminhos deveremos selecionar nossas amizades. Somos sensíveis. Não há como conviver sem envolvimentos, mudanças.

Saber conversar com os pais, professores e orientadores espirituais é muito importante na juventude. Dos pais teremos a certeza de estarem preocupados com o nosso sucesso. Certos ou errados em suas propostas terão, com certeza, a intenção de nos darem bons conselhos. Professores e orientadores espirituais, mais profissionais, terão enfoques diferentes. Todos juntos mostrarão uma coleção de alternativas importantes. O aspecto fundamental é que a decisão será nossa. Por mais frágeis que sejamos estará em nossa vontade aceitar ou não o que ouvirmos. Aprendendo a andar, a falar e ouvir ganhamos a independência que exercitaremos na conquista de nossa identidade. Conversando, vendo, sentindo aqueles que pretendem nos transmitir idéias, comportamentos, sentimentos, projetos e filosofias criamos nossa personalidade e cultura. A qualidade do resultado deste processo dependerá das oportunidades que tivermos e conquistarmos.

Quando escolhemos amigos, companheiros e inimigos decidimos a nossa sorte.

Os amigos são parte de nossas vitórias e derrotas. Um companheiro falso, mau caráter, mais cedo ou tarde será motivo de grandes tristezas, no mínimo.

Precisamos lembrar que teremos o tamanho dos adversários eleitos se com eles pudermos lutar, não vale a pena gastar energia com pessoas insignificantes.

Eventualmente valerá a pena mudar de escola, bairro, clube, freqüentar outros ambientes. À medida que as cidades crescem multiplicam-se lugares alternativos. E se todos forem insuficientes, resta o canto do próprio quarto, o banco solitário de uma igreja, aquele espaço às margens de um rio ou de uma praia onde só com Deus poderemos conversar e ouvir lições importantes.

Os mitos fazem parte de nossa vida. As imagens dos super heróis, os grandes atletas e artistas povoam a cabeça da garotada. Escolher paradigmas é algo que fazemos sem perceber, intuitivamente. Os ideais estabelecidos na juventude irão acompanhar o adulto, fazendo-o mais feliz ou frustrado.

Entre amigos exercita-se a liderança. Aí se pode desenvolver a auto-estima, a capacidade de envolvimento, o espírito de camaradagem. Ao se ter a convicção de ser o melhor, ditamos regras, modelos e ações. Outros aprenderão a obedecer, a seguir o chefe. O ideal, contudo, é treinar a convivência, o senso de equipe.

É comum alguém, sendo mais forte, liderar pela violência. Infelizmente muitos jovens sentem a necessidade deste tipo de comando para juntos agredirem, lutarem em ambientes hostis. Em cenários de poucos recursos materiais gera-se solidariedade e conflitos pesados. As crianças e os jovens precisam sobreviver. Se não receberem dos pais o necessário para se vestirem, alimentarem-se, irão à luta. O resultado acaba sendo a delinqüência juvenil, precursora da marginalidade definitiva, das penitenciárias.

Talvez nossos jovens tivessem mais cautela se desde cedo fossem informados nos mínimos detalhes sobre o que significa viver enjaulado, pior ainda, nas cadeias brasileiras. Pelo pouco que tive oportunidade de conhecer em visitas esporádicas, posso dizer que são piores do que muitas descrições de infernos bíblicos.

Tendo-se boas idéias, propostas e bons princípios não se deve deixar levar por aqueles que não os têm, mas nem sempre isto é suficiente para enfrentar a vida. Não conseguimos, no Brasil, solucionar este problema gravíssimo. A má distribuição de renda e a miséria em que vive grande parte de nossa população é um fato social tenebroso em torno do qual vemos pouca objetividade. Nossos governantes, apaixonados pela modernidade satânica do “salve-se quem puder”, não criaram condições de solução para este problema. Matematicamente e friamente as elites brasileiras condenaram milhões de pessoas à marginalidade. Felizmente existem novos instrumentos de comunicação e educação, capazes de furar bloqueios clássicos. A esperança é que o Brasil avance com maior velocidade, necessária para compensar uma existência em compasso lento, atrasado em relação às melhores nações.

Em minha vida junto a líderes políticos ouvi uma vez de um “chefe”, que acreditava ser melhor, dizer que a morte de duas ou três pessoas não significava nada, que sua decisão era agir, fossem quais fossem as conseqüências. Decisões de estadista ou de alguém convencido de que sua vontade estaria acima do bem e do mal? Isso não é muito diferente entre empresários e outros chefes... É interessante observar a pompa e sentimentos que expressam quando alguém de sua classe social morre. Percebemos por aí o instinto de dominação e admiração pessoal...

Não devemos nos envergonhar de nossas boas qualidades morais, éticas e filosóficas. Defender aquilo em que se acredita é uma demonstração de maturidade. No mundo em que vivemos, mais e mais sob o comando do crime organizado, do mau caratismo, isso parece anacrônico.

Parece que o mundo não é muito diferente de quando Rui Barbosa8 (9) disse:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Infelizmente não é raro o jovem sentir-se mal por não ser capaz de seguir os piores. Esta rebeldia nasce geralmente no seio da própria família. Principalmente os filhos de famílias desagregadas tendem a procurar nos amigos os pais que não tiveram. Nesta compulsão acabam ligando-se a grupos pouco recomendáveis.

Os entorpecentes, as drogas, tão comuns em nossos dias (cheios de direitos humanos para os bandidos traficantes) fazem com que a necessidade de vigilância seja maior. Qualquer descuido poderá ser fatal. Afastar-se de amigos viciados, por mais cruel que isto pareça, é necessário ao indivíduo em formação. Naturalmente, se tivermos forças suficientes, talvez tenhamos condições de recuperar esses companheiros, algo pouco provável se não tivermos estabilidade emocional e competência técnica suficientes.

Os amigos bem escolhidos são uma demonstração de maturidade e uma dádiva de Deus.

Ter alguém para conversar, apoiar e ser apoiado, amar e ser amado é vital à nossa existência. Quando vencemos, conquistamos alguma coisa, saboreamos uma imagem, temos uma experiência fascinante, precisamos contar para alguém, partilhá-la, mostrar. Isto não acontecendo é como se não tivesse existido, não terá a mesma graça.

Ter amigos para os bons e maus momentos é importante.

Mesmo depois de formada a própria família será com os amigos que iremos desabafar, contar problemas, procurar conselhos. Neste meio exercitaremos uma pequena sociedade. Entre amigos teremos competições, desafios. Não é raro o sexo ser um destes fatores de afirmação, conquista. Por mais intensas que sejam as disputas, o fundamental será compreender o direito do próximo à felicidade. Aceitar as derrotas com dignidade é o que se espera de uma pessoa sadia. Lembrando a principal lei de Cristo, “ame o seu próximo como a si mesmo”, teremos base para aceitar perdas em favor de um amigo.

Basicamente devemos estar atentos às questões em torno do ambiente em que vivemos. Ele poderá ser saudável, sinérgico, gratificante. Poderá, também, ser degradante, negativo, destruidor. Devemos ter forças e coragem para sair do lado daqueles que não prestam, de lutar pelo que julgamos certo, de fazer amigos para um mundo melhor.

Vivemos nossas vidas comparando-nos, disputando com os amigos e inimigos. Com e contra eles muitas vezes atingimos o ápice da crueldade. Neste espaço estaremos mostrando nosso caráter. Ao errarmos, contudo, veremos como estaremos perdendo. Dentro de nós existem mensagens, modelos, leis que irão nos cobrar os males que fizermos. Talvez muitos ainda não chegaram a um nível de aprimoramento ético que os façam sentir seus erros, suas violências. Quando se atinge um nível moral mais elevado, contudo, aumenta o peso da consciência diante de falhas cometidas.

As agressões serão especialmente doloridas quando atingirem pessoas que amamos. No exercício profissional esse é um dilema brutal. Decisões que atingem amigos poderão doer para sempre. Estaremos vendo suas famílias, a saúde deles, a felicidade prejudicada. A vida tem situações irônicas, difíceis. Entre elas poderemos ter que decidir sobre a existência de pessoas que amamos. A ética profissional será testada com rigor. Conceitos filosóficos serão cobrados. A dúvida entre o coração e o cérebro estará desafiando nossa capacidade de gerenciar, de ser companheiro ou amigo, de ser humano e racional.






Política


Nada é mais complexo do que a vida política. Querê-la é candidatar-se à glória, a realizações fantásticas ou às humilhações das derrotas, da perda material e social, à desmoralização. O clima de intrigas típico dos partidos, palácios e congressos é degradante. As disputas permanentes jogam uns contra os outros, estimulam o narcisismo, a arrogância e a violência. O resultado é que o político autêntico tem um perfil psicológico característico.

O político, de modo geral, é um narcisista sado-masoquista9. Gozação? É só pensar na vida que têm. Meus cursinhos de psicologia em Itajubá e na Copel além da leitura de muitos livros sobre o assunto me permitem imaginar algo assim. (Sadomasoquismo refere-se a relações entre tendências diferentes entre pessoas buscando prazer sexual. O termo sadomasoquismo seria a relação entre tendências opostas, o sadismo e masoquismo. O sadismo é a tendência em uma pessoa que busca sentir prazer em impor o sofrimento físico e moral a outra pessoa. O masoquismo é a tendência oposta ao sadismo, é a tendência em uma pessoa que busca sentir prazer em receber o sofrimento físico e moral de outra pessoa).

Ter como projeto de vida ser político é algo a ser pensado cuidadosamente. Um político renuncia à sua vida própria, passa a viver em um palco, à vista de todos. As amizades são forçadas, a cobrança permanente.

As pessoas são mais freqüentemente que o imaginável, corruptoras e corruptas. Querem vantagens, privilégios no contato com o poder... Ideais? Projetos sociais? Primeiro o da conveniência pessoal.

O egoísmo, o desejo imperativo de não morrer e a necessidade de alimentar-se está na base do sentimento humano, de suas atitudes. A pirâmide de Maslow10 mostra bem isso ( vide capítulo “Psicologia e sociologia”).

Todo ser humano nasce 100% egoísta. A educação é que lhe dará a parte altruísta.

Nesta visão, sabendo que qualquer indivíduo parte de suas necessidades básicas, é que o exercício da política deverá ser encarado. Ter ilusões quanto aos desejos dos cidadãos é fatal. O eleitor cobrará de seus eleitos excessiva atenção para seus problemas pessoais, corporativos, comunitários. A visão ampla é secundária, não interessa à grande maioria da população.

O sucesso na política virá na avaliação fria e correta do eleitorado e da própria capacidade. Sem uma visão precisa do cenário em que se lutará perde-se eficácia, rendimento. A tão falada demagogia nada mais é que a percepção que o político tem das fraquezas e ambições de seu eleitorado. Fala o que seu povo deseja ouvir, faz o possível. É interessante notar como as multidões dão pouca atenção à realidade. Querem milagres, benefícios, não importa quem vá pagar. Esquecem-se de que toda a riqueza é gerada pelo próprio povo e dele sairá o dinheiro necessário às fantasias pretendidas.

Mas a política é instrumento de poder e o poder é necessário para aqueles que sonham mudar a sociedade. Tendo-se características necessárias e suficientes para esta empreitada, ótimo! Todos devem muito a pessoas que se dedicaram a causas populares. Em defesa do direito do cidadão comum muitos perderam tudo, inclusive a vida.

Sem publicidade, discretamente e corajosamente inúmeras pessoas lutam diariamente nos hospitais, nas fábricas, nas ruas e em muitos outros lugares para que a vida de todos continue. A história tem o registro de alguns, mas milhões de soldados batalharam e morreram pela liberdade, por uma vida melhor, para que no futuro talvez todos venham a ter uma existência digna.

O político é um soldado cujas armas são as palavras, o poder de convencimento, o carisma. Muitos merecem o nosso respeito e admiração pelo trabalho e riscos assumidos em defesa do povo.

Não devemos esquecer, entretanto, que a democracia é o império da pequena burguesia. É bom observar como detalhes pequenos tiram grandes líderes do teatro político. O povo observa minúcias de comportamento. Não podendo avaliar o candidato tecnicamente, decide sobre aspectos superficiais. Disso se aproveitam os manipuladores da opinião pública. Quando querem destruir uma liderança exploram questões da vida familiar, pessoal ou os pequenos desvios de comportamento da vítima.

O eleitor posiciona-se em cima de propaganda. Quer ser bajulado, tocado. Em períodos de eleições exige dos candidatos demonstrações de poder. Os comícios transformam-se em festas caríssimas. A euforia dos discursos, o som dos foguetes e das músicas, o ajuntamento de pessoas excita a multidão. O clima de torcida organizada gera compromissos, paixões. O principal objetivo das eleições é esquecido. O que importa é vestir a camisa dos vitoriosos. O voto útil consolida-se. O resultado é que sem dinheiro é praticamente impossível ao candidato eleger-se. O eleitor comum não pergunta quem paga os shows, quem custeia os aviões executivos. Quer festas e promessas a seu favor. Principalmente em países de liberdade recente, o exercício da democracia mostra a fragilidade de uma cultura não adquirida.

Para o idealista bem sucedido na vida pública (isto também acontece, ainda que raramente), o prazer de contribuir para que alguma coisa melhore será um prêmio fantástico. Devidamente provocado, em momentos especiais, o eleitor poderá acertar. Há muito a ser feito.

No Brasil a miséria material e mental mostra que alguém, tendo poder, inteligência e disposição poderá contribuir muito. A humanidade está em transformação permanente. Colaborar para o seu aprimoramento é tornar nossa vida melhor.

E os partidos políticos?

Com o fim do império soviético os ideais socialistas perderam força. Vivemos a euforia do capitalismo puro, das teses individualistas, da rejeição ao distributivismo, do elogio ao egoísmo.

A crise econômica em que a humanidade mergulhou em 2008 A.C. talvez mostre a importância das propostas socialistas.

Entretanto, as imagens tenebrosas do desmoronamento do império soviético e as mazelas de outros países comunistas mataram os ideais de antigamente. Temos agora uma certeza, todo comunista se transforma em monarquista. Ou seja, os líderes, envelhecendo, fazem de tudo para entronizar a própria família, os amigos e companheiros mais próximos e, até onde conseguirem se manter no comando, aproveitando as delícias dos cargos conquistados. Os acontecimentos políticos e os jogos ideológicos do século vinte demonstraram que o ser humano não se desprende de sua natureza egoísta. Diante desta realidade precisamos ver com muita atenção o desenvolvimento político da humanidade para que erros do passado não se repitam. As guerras, genocídios, a violência foi o resultado final dos sonhos de seres humanos que, no início de suas campanhas, acreditavam estar construindo um mundo melhor.

Vivemos sob liberdade relativa, assim precisamos desconfiar de tudo.

A mídia, devidamente censurada, trabalha a favor das propostas dos donos do poder (político e econômico). A comercialização da imprensa tornou-a dependente do poder estabelecido. Os sistemas de comunicação sabem usar os diplomados em qualquer coisa. A popularização de “especialistas”, comentaristas e redatores dá-lhes a áurea da infabilidade. Os responsáveis mais “competentes” por muitos “veículos e comunicação” são pessoas hábeis que percebem o momento de mudar as mensagens de modo a não perderem a credibilidade. Vivemos imersos na informação construída deliberadamente para o atendimento a patrocinadores ou, quando mais independentes, nas análises apaixonadas e apressadas.

A democracia brasileira é relativa, muito relativa. A miséria de nosso povo, a riqueza extravagante de alguns indivíduos e certas sutilezas de nossas instituições e do processo político levam-nos a um padrão norte americano onde o dinheiro manda e o trabalhador limita-se a seguir os poderosos em suas lutas.

As elites, conscientes de suas “qualidades” efetivamente mandam, o que não é privilégio do Brasil, infelizmente ou naturalmente, se entendermos que a natureza nos impõe lógicas darwinistas e a sobrevivência da humanidade depende do exercício eficaz do poder.

A lei do mais forte é universal. Nos países em que as teses marxistas imperaram, esperança de maior poder para as multidões, os burocratas aliados aos militares geraram tiranos e acabaram por impor ao povo, que dominavam, padrões severos de exploração. Em todos os lugares o resultado é o mesmo quando a sociedade não é organizada e educada para inibir a concentração de poder.

O cidadão comum, entorpecido, não pensa, só reage. A idade mental do indivíduo comum é muito baixa. Qualquer comunicador, sabendo disso, poderá usar técnicas do tipo “eu estou OK, você está OK” (10), análise transacional, e não vai se arrepender.

A maioria das pessoas é totalmente absorvida pela rotina, pelo trabalho, pela luta diuturna pela sobrevivência. Muitos não têm tempo nem dinheiro para informar-se corretamente, tornam-se objeto de exploração de quem se dedica a descobrir maneiras de dominar essas formigas operárias.

No Brasil, os salários aviltantes pagos a grande parte da população não deixam margens para outras despesas além das mínimas necessárias à sobrevivência do indivíduo, eventualmente de sua família. Essa condição sócio-econômica fragiliza nosso povo no exercício da democracia.

A política ainda sofre o ataque sistemático de pessoas interessadas em torná-la objeto de rejeição pelos cidadãos. O resultado é que chegam ao dia das eleições sem se preocuparem com seus resultados, tendo repugnância pelo próprio voto. Infelizmente esse processo alienante é favorecido pelo comportamento natural das pessoas. A lei do menor esforço conduz o indivíduo.

O ser humano, em suas fantasias, vê o que quer, faz o que for mais fácil e recebe o que merece.

A inteligência é um dom eventual, raramente utilizada para análise e pesquisa das verdades sociais, menos ainda para sua transformação positiva. A pobreza é entendida como objeto de exercício da caridade, não como conseqüência de ações políticas e administrativas equivocadas e, portanto, corrigíveis.

Para o patriota que pretender dedicar-se à política torna-se vital a compreensão dessa dinâmica, desses vícios mentais.

Neste cenário o político tem a opção fácil de defender os poderosos (versão sádica) ou estar com os fracos (político masoquista). Na luta honesta pelos humildes estará sem apoios importantes para sua promoção. Poderá realizar muito, mas pouco será divulgado. Normalmente desaparecerá por falta de mídia.

Diante de tudo isso, o que fazer? Que bandeiras?

O caráter pesa muito. Qual a sua religião? O que considera importante? Como ser político e viver em harmonia consigo próprio? Com sua família? Amigos e companheiros?

Ter consciência de todos esses fatores é vital para uma vida sadia.

O grande conselho seria: evitem a política, cuidem de si e de seus filhos e companheiros, procurem uma vida sadia, equilibrada.

A política, com certeza, não é o melhor caminho para a felicidade.

Optando pela vida pública, entretanto, é importante ter-se um plano, metas, objetivos. A política é um grande jogo, cheio de sutilezas. A família deverá saber o preço que estará pagando. A esposa não deverá esperar fidelidade conjugal, os filhos terão um pai ausente e todos sofrerão o risco da miséria e da difamação.

No jogo, nos vestibulares das campanhas, nas surpresas das urnas as pessoas se confundem. Idealistas viram bandidos, bandidos saem como heróis. Grandes administradores acabam perdendo suas referências. Desaparecem valores e bases importantes. A poucos é dado o prazer da realização sadia...

Na vida pública saber o que se pretende será vital ao sucesso da empreitada. Procurar notoriedade? Realizar obras? Conquistas sociais? Enriquecimento material?

Ouvi em palácio o seguinte: “a política é para rico bobo e pobre esperto”. Pode também ser o caminho de algum mártir...

Evidentemente a política não é o caminho para o enriquecimento honesto. Principalmente nesta terra americana é fácil fazer fortuna trabalhando. O Brasil é um país com muitas oportunidades. Uma pessoa corajosa, empreendedora, trabalhadora e persistente sempre encontrará um caminho produtivo.

A democracia é o padrão de autogoverno que dignifica o cidadão. Exige uma base mínima. Não funciona em sociedades muito atrasadas. Talvez não seja o nosso caso. O povo brasileiro, ainda que precariamente, já adquiriu cultura suficiente para se governar. Precisa, entretanto, ser conscientizado da responsabilidade do voto...

A liberdade é um bem extremamente valioso. O voto universal é o instrumento que homens e mulheres livres utilizam para se governarem. O poder é legitimado pelas eleições. O caminho das urnas é o daqueles que quiserem exercer o poder político. O eleitor tem ao votar o seu momento de poder. Conquistar votos é condição “sine qua non” para, no comando, mudar a sociedade, torná-la mais justa, séria. A opinião pública é a referência do discurso, mas exige cuidado. O líder precisa agradar para continuar na preferência de seu eleitorado. Nele, contudo, pesará a questão ética.

A consciência social transforma-se, evolui, mas também regride. Após a Segunda Guerra Mundial, muitos países tiveram uma geração de pessoas que havia sentido na carne os horrores das batalhas e da miséria subseqüente. Nesses países tivemos um clima de rejeição à violência. Agora vemos entre eles o renascimento das teses racistas, da xenofobia, das rivalidades religiosas e tribais, o que aconteceu na Iugoslávia11 foi espantoso, criminosamente inacreditável, por exemplo. O desmembramento violento aconteceu sob bandeiras fundamentalistas, racistas, seguindo discursos de caciques em tribos medievais.

Dar bons princípios, forma, consistência ao processo político é o dever de nossos líderes. Se pretenderem seguir este caminho é bom saber que o preço será elevado. Tendo sucesso poderá valer a pena. Na ciência política irão deparar-se com os partidos, as propostas estruturais, de poder e distribuição de forças, riquezas, felicidade etc.

O grande dilema será: egoísmo X altruísmo.

Em torno desta questão teremos as propostas capitalistas, de defesa da propriedade ou das minorias, de melhor distribuição de renda... São questões permanentes que estão na base dos partidos. O egoísmo leva aos partidos de direita, conservadores. Têm o mérito de lutar pelo indivíduo, de protegê-lo da tirania das maiorias. O altruísmo conduz à esquerda. O democratismo à defesa de populações, o império das maiorias é uma conseqüência de suas teses. No Brasil os partidos de esquerda têm em seu seio a defesa das minorias, por enquanto. Nas ditaduras do proletariado as minorias sofreram restrições porque se rebelaram contra decisões que suas culturas condenavam. Apesar disso tudo são os esquerdistas que defendem com mais sinceridade melhor distribuição de renda, maior atenção pelo povo.

Nossa mais recente crise econômica mundial (começando em 2008) está mostrando a importância da cooperação, da solidariedade, do contrário estaríamos sob uma hecatombe social provocada pelo desmoronamento do sistema bancário em nível mundial.

Com certeza o combate a epidemias, a reversão do processo de degradação ambiental, tudo leva a uma visão de solidariedade, base de muitos e importantíssimos documentos da ONU12.

Na política devemos sempre encarar as questões ideológicas sem radicalismos. Em sintonia com a complexidade do ser humano, a tolerância é fundamental. A postura ideológica é uma diretriz, não uma camisa de força.

Bertrand Russel (11) disse em seu livro “Princípios de reconstrução social”:- A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem-. Esta assertiva vale para a política e para as religiões...

A cultura política é necessária para errarmos menos. Ao votar devemos estar conscientes do que fazemos. Através da política administram-se nações. Em um ambiente democrático poderemos construir uma sociedade justa, eficaz, saudável. O exercício da política é essencial a um povo que procura evoluir.

É dever de cada cidadão instruir-se e participar de acordo com suas possibilidades e ideais.








Cidadania


Se a política é uma atividade complexa e própria de pessoas com perfil específico, o exercício da cidadania é uma obrigação de todos.

A Democracia exige participação, a liberdade cobra responsabilidades, deveres. Ninguém tem o direito de se omitir. A participação de cada um é obrigação ética, moral e cívica. Partindo do essencial, contudo, pode-se dizer, minimamente, que (Jaime Pinsky, pg 9 de (12)):

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei; é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar e ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranqüila. Exercer cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais...

Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço.


Entendendo cidadania como disposição para a ação, pró-ativa, imaginamos limitações e disposições.

Obviamente a qualidade da contribuição que podemos oferecer depende de nossa capacidade. Se não a temos, o melhor que podemos fazer é ficar quietos, esperar o momento de ajudar dentro de nossas possibilidades. Algo pode ser dito e repetido é que todos nós somos capazes de fazer algo e o que pudermos oferecer será importante.

Aqui poderíamos dizer que a responsabilidade será proporcional à capacidade e consciência do cidadão. Podemos ser idiotas, uma qualificação criada há dois e meio milênios passados, na antiga Grécia, que tinha esse verbete:

idiótes13. Era considerado como tal o homem privado - em oposição ao homem de Estado, ou público, ou, qualificando, aquele ignorante em algum ofício, homem sem educação, ignorante, merecedor do termo que em Latim virou idiota. Lembrando que a democracia ateniense e de algumas outras cidades gregas era exercida por pessoas livres e interessadas na administração de sua cidade estado, a omissão de cidadãos em condições de votar seria, na acepção vulgar, uma característica da pessoa desprovida de inteligência.


É comum ouvir de pessoas com boa formação críticas as mais diversas ao trabalho dos líderes. Sem piedade cobram resultados e soluções, mas a maioria, infelizmente, não se dispõe a qualquer ação positiva. Apenas tem a preocupação de falar em ambientes estéreis, usando sua capacidade crítica para o prazer da intriga, da conversa inútil. Essa atitude é perceptível na vida dos partidos políticos. O número de filiados e militantes é mínimo. Nosso povo ignora a importância dessa presença. As grandes decisões acontecem já na formação das primeiras equipes. Vereadores, prefeitos e todos os cargos eletivos têm sua origem nas bases políticas, distantes da grande maioria da população por pura omissão, pois nada impediria que todos se filiassem e contribuíssem para as decisões partidárias. E as desculpas são incríveis.

O homem medíocre é especialista em explicar porque não faz.

Em nossa sociedade a desculpa padrão é de existir um compromisso de participar de alguma reunião. A sensação que temos é a de que muitos já programam com antecedência inúmeras reuniões onde poderão tomar café, ouvir novidades que lhes interessam, desenhar no papel de anotações, carregar alguma caneta etc. As santas reuniões acontecem com horário marcado, não atrapalhando o momento de passear, de “descansar”, não perturbam as férias nem estragam as horas de motel, ao contrário, servem de desculpas quando alguém reclama atrasos e nota alguma marca na camisa, aí é só lembrar que algumas amigas costumam abraçar efusivamente...

Toda pessoa bem intencionada e voluntariosa aproveita a liberdade de procurar autoridades e líderes e com eles participar do processo político e administrativo. Isso não significa envolver-se em campanhas ou atividades partidárias, mas, simplesmente, transmitir sugestões, propostas e críticas que contribuam com o aprimoramento da administração pública, as leis e normas que a regem assim como o aperfeiçoamento institucional. O político é um ser humano com as limitações de sua formação e experiências. O assessoramento é muito importante à sua atividade. Tendo o apoio de pessoas honestas e inteligentes poderá crescer, enriquecer sua atividade política. Uma idéia boa bem administrada, não importa de onde venha, é munição para as lutas que o homem público enfrentará em sua carreira.

A cidadania também tem espaços na atividade de associações, clubes e instituições prestadoras de serviços. Qualquer indivíduo encontrará um lugar em que poderá ser útil. No Brasil temos as APAEs, os clubes de serviço, as sociedades protetoras de animais, grupos para prestação de assistência a todas as classes menos favorecidas. Há muito lugar para trabalhar, para devolver um pouco da felicidade de ter tido uma vida melhor.

Quando vemos o tempo que se gasta em futilidades ficamos pensando quanto essas pessoas poderiam fazer de bom pela humanidade. E elas com certeza seriam mais felizes. Precisariam rezar menos. Teriam menos medo da morte. Seriam mais úteis. A simples observação do desperdício em toda sorte de atividades inúteis dá a dimensão da omissão. Ver quanto alguns contribuíram mostra como poderíamos ser úteis. Amar o próximo é proposta divina.

Nossa cultura cristã é muito passiva. Havia no início a visão do fim do mundo próximo. A miséria seria recompensada em breve no outro mundo. O que importava era cantar e rezar esperando o Apocalipse. Passados dois mil anos percebemos que por falta de uma preocupação e ação sadias o inferno está mais próximo do que o céu. A falta de visão humanista, da caridade, da preocupação, do amor pelo próximo gerou uma sociedade egoísta, insensível.

Tudo começa pequeno. A ação de uma pessoa isolada poderá transformar-se em um grande movimento, numa grande transformação. Não devemos nos subestimar. A verdade tem muita força. Usando-a objetivamente poderemos contribuir muito para o progresso de nossa sociedade. Simplesmente usando poucas horas por semana teremos como acrescentar algo, um tempo para conversar com quem tem poder sugerindo-lhe projetos, um pequeno trabalho por alguma criança abandonada, alguma contribuição na administração de uma associação etc.

Principalmente aqueles que estudaram, adquiriram cultura, viajaram pelo mundo carregam um compromisso com a vida. Aqueles que de alguma forma enxergam têm a responsabilidade, a obrigação de contribuir.

Muitos nascem cegos com olhos sadios. Muitos viverão e morrerão sem perceber coisa alguma. Outros sentirão o potencial que possuem, terão até capacidade de criticar, de comentar os erros dos que mandam. Essas pessoas não poderão omitir-se sob pena de merecerem a pecha de irresponsáveis e desumanos.

Sobre o cidadão morno, insosso, avarento, temos um excelente livro, “O Homem Medíocre” (12), de onde tiramos:

Sua generosidade é sempre dinheiro dado em usura. Sua amizade é uma complacência servil, ou adulação proveitosa. Quando cuidam praticar alguma virtude, degradam a própria honestidade, empanando-a ...

Muito se disse sobre a mediocridade, podemos regredir milhares de anos e transcrever a seguinte afirmação de Confúcio14

O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros.

Confúcio15 ou Kung-Fu-Tze (nome em chinês, 571 a 479 a.C.) foi uma pessoa extraordinária com tremenda influência na vida do povo chinês. Deve ter sido uma experiência fantástica ouvir seus ensinamentos.

E o Brasil?

Somos uma nação em desenvolvimento. Nossas leis são consideradas “modernas”, ou seja, ajustadas ao senso comum, internacional, sobre o que a humanidade proclama de melhor qualidade, nossos costumes e sociedade, entretanto, estão longe de um padrão responsável e inteligente. Comparando-nos com a sociedade francesa atual, por exemplo, vemos a distância que nos separa de um povo politizado, consciente de seus direitos e deveres. Infelizmente nosso modelo comportamental é os Estados Unidos Da América do Norte, talvez por efeito da presença massiva de sua produção cultural (cinema, principalmente). Os EUA é um templo do Direito, mas a sociedade norte-americana mais influente mostra a versão moderna da Roma dos Césares. Hedonista, belicosa e imperialista, Roma nunca atingiu o esplendor humanístico da Atenas do tempo de Sócrates e Platão. Os EUA começaram bem, sua primeira constituição, quando da independência da Inglaterra, foi um momento de grande valor na história da Humanidade. Infelizmente as guerras em que se meteram despertaram seus piores instintos. A França de 1789, mais de um quarto de século depois da independência dos EUA, posicionou-se de forma progressista no processo de derrubada da monarquia. Os belos princípios da Revolução Francesa, tão bem descritos na sua “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão”, levaram mais de um século para começar a ter forma real. A França imperialista, colonialista, tinha uma retórica muito diferente da sua realidade, principalmente em relação a outros povos. Sua atuação no Vietnã e na África são exemplos recentes de como um povo pode ter duas imagens e posturas. Uma interna, democrática e civilizada e a outra externa, estúpida, violenta e desumana.

Neste início do século 21, contudo, devemos ambicionar o espírito da política interna francesa. Para fora nunca perderam sua empáfia, sua postura arrogante e discricionária. Internamente os franceses cultivam um espírito democrático consciente, inteligente, responsável e com grande conteúdo socialista, no bom sentido, humano.

Infelizmente até os países mais desenvolvidos mostram que séculos de cultura avançada não impedem o progresso das piores teses. Cada geração é um recomeçar. A experiência e convicções dos mais velhos são rejeitadas dentro do eterno impulso à mudança. E as mudanças nem sempre são no sentido do aprimoramento social. O péssimo hábito de se procurar a modernidade, a última mensagem defendida pelos donos da verdade, têm causado muito sofrimento desnecessário.

Nós, brasileiros, temos muito o que fazer, não podemos descansar enquanto nosso país não se transformar em terra civilizada, justa e bela...




Religião


O que significa ter religião? O que esta palavra nos diz? Do dicionário eletrônico Houaiss (13) temos (substantivo feminino):


culto prestado a uma divindade; crença na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal
conjunto de dogmas e práticas próprias de uma confissão religiosa
a manifestação desse tipo de crença por meio de doutrinas e rituais próprios
crença, devoção, piedade
reverência às coisas sagradas


Nesta descrição do verbete temos a base de decisões tomadas por bilhões de pessoas.

Observando-se a natureza vemos tal complexidade que a visão de Deus torna-se imediata, natural. Encontrar uma forma de aproximação, de compreensão de sua essência e vontade é um impulso espontâneo em qualquer ser humano.

A complexidade, entretanto, é infinitamente maior que nossa capacidade de entendimento. A arrogância e a ignorância de alguns levam a teorias e teses incríveis, pior ainda, a certezas perigosas. As religiões formais acabam sendo uma solução fácil para este dilema. Elas têm a áurea da revelação e da tradição. Em seus rituais criam ambientes de mistério. Envolvem-nos com cerimônias que nos dão a sensação do contato direto, do conhecimento da verdade, da solução tão ansiada. A visão de Deus, contudo, está muito acima de tudo o que se escreveu, falou. Nossa incapacidade de entender deveria colocar-nos em situação de maior humildade e tolerância.

Quantas religiões existem? Quais as desvantagens e vantagens em professar uma delas? O que ganharemos e perderemos? Alguma delas mereceria nosso apoio incondicional? Por quê?

A maioria das religiões pede obediência total às suas leis, normas e orientações. A dúvida é um mau negócio para os sacerdotes. Uma agressão aos fanáticos. Quando esta disciplina atinge o nível do fanatismo, a religiosidade torna-se um perigo ao crente e a todos em sua volta. O fanatismo cego, discrimina, agride, gera infelicidades, mata. A dependência das pessoas em crenças, mitos e rituais tornou-se evidente nos efeitos da propaganda política. Marx16, Engels17, Lenin18, Mao Tse Tung19, Hitler20 e Mussoline21 foram deuses modernos. Muitos deram a vida por esses ídolos... O Nazismo chegou ao requinte de exigir de seus ingênuos seguidores juramento de lealdade ao “Führer”, como se aquele indivíduo denominado Adolf Hitler fosse infalível, justo e merecedor de tantas paixões e amores.

A institucionalização de religiões cria profissões e relações econômicas muito convenientes a seus sacerdotes. O cristianismo consolidou-se à medida que se aproximou do poder secular. Infelizmente neste processo virou arma política e perdeu sua identidade com os mais humildes. Em nome de Cristo exércitos invadiram as Américas exterminando seus povos e culturas originais. Na África e Ásia também se usou a cruz para enfraquecer a resistência à invasão européia.

A indústria, a lavoura e pecuária, o comércio e os exércitos precisam de autômatos, de pessoas disciplinadas (14) ( “A Terceira Onda” de Alvin Tofler).

Dizendo ao povo que os sacrifícios nesta vida seriam recompensados na próxima os sacerdotes viabilizam sua exploração pelas classes dominantes. Assim tivemos e temos sociedades em que a inteligência é inibida, o ascetismo estimulado, a disciplina um paradigma louvado e a disponibilidade para o trabalho a qualquer preço uma regra formal.

Descrições do que muitos pregadores e filósofos deram aos prêmios e castigos divinos podem ser vistas no livro de Domenico De Mais, “Criatividade e Grupos Criativos” (15) e no célebre “A Divina Comédia” (16), Dante Alighieri, respectivamente.

Em “Os Grandes Sonhos da Humanidade” (4) poderemos conhecer com mais detalhes os pesadelos que incutiram nos pobres fiéis ao longo desses últimos séculos.

“A Inquisição” (17) de Michael Baigeni, por exemplo, é bem ilustrada nas palavras de Guilherme de Baskerville, no livro “O Nome da Rosa” (18) de Umberto Eco: “O Inquisidor está fora de qualquer jurisdição regular e não deve seguir as normas do direito comum. Goza de privilégio especial e não é sequer obrigado a escutar advogados”. Quanta semelhança aos porões de qualquer ditadura...

O fanatismo, uma conseqüência da lavagem cerebral a que muitos se submetem, é um problema gravíssimo. Dentro desta condição a agressividade aumenta, podendo tornar as pessoas violentas. Quantas guerras tiveram sua base psicológica na intolerância religiosa? Quantos já morreram pela posse de Jerusalém?

De qualquer modo o ser humano exige explicações. É muito difícil viver sem tê-las. A morte intriga, as diferenças da fortuna agridem, a natureza assusta as pessoas mais sensíveis.

Felizmente existe o lado positivo. As religiões, de modo geral, dão tranqüilidade espiritual e até felicidade. Resolvem questões que poderiam destruir muitos. Há momentos em que acreditar em Deus, ter o conforto espiritual de um sacerdote e a crença em uma vida após a morte ajuda sobremaneira a enfrentar a vida.

Oferecer aos filhos uma religião é saudável, é prudente .

E os aspectos negativos? Como inibi-los?

Deve-se combater o fanatismo, mostrar alternativas e, acima de tudo, que a visão e o respeito a Deus e à sua obra é o mais importante. É interessante notar que teses modernas de sustentabilidade, de preservação da natureza, de respeito ao ser humano e a todos os seres vivos estão em sintonia com esta diretriz, o respeito a Deus e à sua obra.

Em torno do conceito de Deus existe a natureza, a vida, o amor.

O respeito às infinitas formas de vida é uma condição de felicidade e harmonia

Mas a questão permanece: qual religião professar? É importante apoiar alguma? Declarar-se crente, submisso, fiel?

Esta é uma opção de foro íntimo, de convicção pessoal. O ideal seria termos aquela que nos colocaria dentro da sociedade em que vivemos. A harmonia social é saudável se bem que exigindo muitos cuidados. Há limites para esta preocupação.

A família tende a nos governar. A religião é algo que entendem ser responsabilidade deles transmitir. Entenda-se bem, a religião deles. Pais e avós acreditam ter poderes de consciência sobre seus descendentes. São os mitos e rituais aceitos como tradição de família. Não respeitá-los cria rejeições, agressões, desunião.

As cerimônias míticas são parte de nossa vida. Marcam com solenidade ostensiva momentos importantes. Desrespeitá-las poderá pesar na formação da família.

Na falta de maior compreensão dos mistérios da vida, os rituais cumprem uma missão importante, aliviando tensões, balizando mudanças, mostrando caminhos. Um excelente livro a respeito é “O poder do Mito” de Joseph Campbell (19). Desse autor também li e gostei do livro “As Máscaras de Deus” (20). Nele verificamos a íntima relação da civilização e os mitos e também o registro de seus efeitos no comportamento humano. Nesta e em outras obras de Campbell vemos diversas citações do trabalho de Carl Gustav Jung22. Este psiquiatra desenvolveu toda uma teoria mostrando relações entre o comportamento humano e imagens míticas inconscientes, mas ativas.

Quando o menino se torna homem? Quando o namoro se transforma em casamento? Como enterrar um pai, sua mãe? Nesses momentos a religião tem um efeito disciplinador e sedativo gigantesco. Conforta, sugere compensações e dá solenidade e dignidade. Temos aí fases da vida em que a religião é extremamente valiosa. Seus sacerdotes sabem disto. Os templos são feitos também para mostrar e dar suporte a essas solenidades. Templos, igrejas, ambientes reservados e decorados esotericamente servem para meditação e reflexões importantíssimas à saúde mental.

Critérios para uma vida religiosa ou, pelo menos, com o suporte de uma religião? Outra vez, qual a melhor religião?

A prioridade será sempre a da própria família. Com ela teremos pelo menos o conforto da convivência familiar harmoniosa no plano filosófico. O outro fator importante é o da sociedade em que vivemos. Deve ser muito difícil ser católico no Irã ou muçulmano em Roma.

Finalmente o maior argumento, o mais importante é o da fé. Acreditar, aceitar, admirar a religião que se adota é fundamental a uma vida sadia. A hipocrisia não ajuda. Ao contrário, não raramente a religião é uma compensação para sandices inomináveis.

Aqueles que dependem de nós querem-nos heróis, modelos de virtudes. Como o seremos se mentirmos? Se não mostrarmos coerência?

A dedicação integral a uma religião é um caso extremo de fé. É uma opção de vida com muitas restrições e compromissos. Tudo isto deve ser motivo de muita reflexão. A decisão pela vida sacerdotal só deveria ser tomada após a fase adulta. O jovem é inexperiente e decidir pela dedicação plena a uma religião poderá ser motivo de muitos conflitos, perversões e frustrações. Principalmente quando se exige abstinência sexual caminha-se contra a natureza, o preço é alto.

Dizer que todas as seitas, religiões e credos são bons é perigoso, ou melhor, mentiroso. Por isso é saudável conhecer a história dessas receitas de adoração a um ser superior e de comportamento disciplinado aqui na Terra. Assim, por exemplo, merece uma atenção especial conhecer bem a vida e obra de Zoroastro, o grande precursor das grandes religiões ocidentais. Relatos míticos de sua existência podem-se ver, por exemplo, em (21) e, melhor ainda, no livro Zoroastro, Religião e Filosofia (22), mas em obras mais técnicas descobriremos a importância desse líder espiritual que viveu em torno de mil anos antes de Cristo. Meio milênio após teremos Buda, Confúcio e outros, além de sacerdotes e pregadores que davam consistência à religião judaica. Aos poucos os deuses deixaram de ser estátuas para ganharem uma consistência etérea e sublime quando não estavam indispostos com o resultado de seus trabalhos aqui na Terra. Obviamente, para nós brasileiros, Jesus Cristo foi a personalidade maior, enquanto o profeta Maomé, criador do Islamismo, ocupou outros espaços já maiores que o mundo cristão.

Devemos, acima de tudo, procurar a fé que nos contamina, que nos dá a segurança e felicidade suficientes e necessárias às nossas vidas, tendo, contudo, alguns cuidados.

Muitas religiões têm base filosófica e posturas absolutamente anacrônicas. Conduzem seus fiéis à alienação, à ignorância e conflitos sociais. A tolerância é essencial à Humanidade e à civilização. Adotar uma filosofia de vida radical é condenar-se ao obscurantismo, à violência. Cuidado também no relacionamento com pessoas fanatizadas, obcecadas por suas crenças. Com muita facilidade poderemos ofendê-las e vice versa. Isso vale para a política, uma forma de religião em torno de pessoas. A presença delas em qualquer ambiente estranho cria conflitos, desconfortos...

Concluindo devemos admitir que a harmonia mental é saudável. A saúde física depende muito desta tranqüilidade, da fé e sintonia com uma filosofia tão saudável quanto possível, filosofia que se transforma em religião quando acreditamos poder encontrar explicações para tudo, quando desejamos ter convicções.

A complexidade da Natureza, simplesmente, é infinitamente maior do que nossa capacidade de entendê-la e explicá-la. Nada mais arrogante, pretensioso e do que pretender fazer afirmações absolutas, éticas, morais, materiais etc. sobre as origens, razões e até aspectos materiais do Universo. Quem garante que não existe, por exemplo, um universo de universos?



Figura 1 - Crianças francesas assassinadas pelos nazistas

Fanatismo


Guerras, genocídios, violências de toda espécie aconteceram graças à capacidade de alienação mental dos seres humanos. Produto de convicções aliadas e processos de “lavagem cerebral” nações inteiras se entregaram a lutas absurdas, matando e destruindo impiedosamente brandindo bíblias e espadas, fuzis ou clavas. O gênio humano criou obras de arte e cultura fantásticas. O fanatismo religioso e político destruíram mais, contudo.

Talvez o melhor livro para descrever e explicar as origens das guerras do século 20 tenha sido escrito por Hannah Arendt (1), que lembra, por exemplo, que os livros do Marquês de Sade eram sucesso na Europa na década de trinta...

O medo do inferno, do castigo divino, tem sido a forma de instigação de multidões contra pessoas e povos contrários aos gostos e ambições de líderes religiosos. Surpreendentemente essa ainda é uma praga extremamente forte em muitas regiões de nosso planetinha.

Do livro de René Fülöp – Miller, “Os Grandes Sonhos da Humanidade, condutores de povos, sonhadores e rebeldes” (4), encontramos a seguinte descrição dos efeitos de um pregador ensandecido:


Em Florença, todo o fausto da cidade parece sacrificado nas fogueiras pela fúria da penitência, desencadeada pelas imprecações de Savonarola. Durante os dias do carnaval de 1497, levanta-se, na Signoria, uma pirâmide colossal. Em baixo, amontoam-se máscaras e trajes carnavalescos. Em cima, acumulam-se os livros, os pergaminhos e manuscritos mais preciosos. Depois, vêm as jóias e os ornamentos das senhoras. Mais alto, estão atirados os instrumentos de música, os taboleiros de xadrez e os baralhos de cartas. Bem ao alto, acham-se empilhadas as pinturas que representam mulheres famosas. Vibram, então, as trompetas. O magistrado toma lugar na sacada do Palazzo Vecchio. E, aos aplausos frenéticos duma multidão enorme, Savanarola aproxima sua tocha e acende a mais preciosa de todas as fogueiras.


O fanatismo religioso em plena época das grandes navegações, na capital cultural do mundo ocidental à época, mostrava suas forças...

Um milênio antes, em 325, o Primeiro Concílio de Nicéia dava início vigoroso ao combate ao que denominaram heresias, começando a festa dos massacres em nome da fé, ato que se tornou forte graças à “conversão” do império romano ao cristianismo sob o governo de Flavius Valerius Constantinus, Constantino, o Grande (272 – 337)23. O cristianismo oficial, patrocinado pelo império romano só teria um tempo ainda “pagão” sob o governo de Flavius Claudius Julianus, Juliano, o Apóstata, que tentou a reintrodução das religiões clássicas. Desse período vale a pena ler o livro “Juliano” (23) onde vemos o processo de destruição e construção de nossas civilizações.

Se o fanatismo religioso causou sofrimentos incríveis, pior ainda vimos com o fanatismo ideológico, racial, xenófobo demonstrado com extrema violência durante a Segunda Guerra Mundial. Entre 1944 e 1946 a humanidade promoveu uma tremenda carnificina e destruição de tudo o que esteve no caminho dos tanques e bombas dos militares de ambas as partes do conflito. O que simplesmente se mostrou acima de qualquer imaginação perversa foi a ação dos nazi-fascistas e das tropas japonesas na Ásia, Oceania, África e Europa, principalmente por serem atitudes de nações tão cultas e desenvolvidas quanto eram o Japão, Alemanha e Itália e seus aliados. O que aconteceu nesse período merece estudos mais e mais profundos, pois neles encontraremos todas as taras de que o ser humano é capaz. Mais ainda, é um alerta para os riscos de reincidência, de loucura generalizada até porquê observamos naquele período os soldados e a própria população civil se dispondo a morrer, a sofrer até as últimas conseqüências por submissão a rituais pomposos e malucos, a juramentos absurdos, a crenças primárias.

Temos ódios tribais, milenares ainda.

Em Israel, inacreditavelmente, vemos comportamentos semelhantes àqueles que mataram milhões de judeus.

Na África ainda se matam por causa da tribo, o genocídio é rotina.

E na Europa? Incrivelmente o desmonte da Iugoslávia mostrou os piores instintos do ser humano.

Tudo isso é um alerta para nós mesmos. Do que somos capazes?

Podemos e devemos perguntar: algum dia estaremos livres dessa praga?













Meus heróis
Giordano Bruno – um exemplo raro



Em 16 de fevereiro de 1600 morreu queimado na fogueira um grande pensador da Humanidade, conhecido pelo nome de Giordano Bruno24 e referência para todos como pessoa capaz de sustentar suas opiniões apesar das imensas reações das elites dominantes em sua terra. Seu comportamento foi mostrado de forma magistral no filme25 com seu nome (Giordano Bruno), produzido por Giuliano Montaldo com os artistas Gian-Maria Volonté, Charlotte Rampling, Renato Scarpa e Manthieu Carrière. Esse filme de 1973 foi uma obra de arte, capaz de fazer a gente lembrar com paixão a vida e a obra de uma pessoa que mereceria mais destaque na nossa cultura.

Suas contradições começaram cedo, seu nome de batismo era Filipe Bruno. Nasceu em Nola, Itália, em 1548. Adotou o nome Giordano e com ele é conhecido na história do pensamento humano. Ordenado sacerdote, em 1572 deu-se o direito de pensar e falar sobre o que acreditava, pecado capital naqueles tempos de Inquisição e de outras formas de intolerância religiosa, de verdades absolutas. Era tão grande e perigosa para a Igreja Católica a amplitude e o conteúdo da visão de Bruno que em 1576 ele teve de fugir de Nápoles para Roma devido a perseguições de toda espécie e, depois, para a Suíça, onde freqüentou ambientes calvinistas, que logo abandonaria julgando o pensamento teológico dos protestantes tão restrito quanto o dos católicos.

A partir de 1579 Giordano Bruno passa a viver na França, sob a proteção de Henrique III (Henrique III reina de 1574 a 1589. Filho de Henrique II e Catarina de Medici, nasceu em 1551 e faleceu assassinado em 1589). Em meados da década seguinte, vai para a Inglaterra onde não demora a atritar-se com os mestres de Oxford. Volta à França onde permanece por pouco tempo e em seguida muda-se para a Alemanha luterana. Após um período de vivência no meio dos seguidores de Lutero (de onde seria expulso posteriormente), Bruno parte para Frankfurt, onde publica sua trilogia de poemas latinos. Em 1591 retorna à Itália onde é denunciado ao “Santo Ofício”26.

No ano seguinte, ele sofre mais um processo, que se conclui com sua retratação. Em 1593 é transferido para Roma, onde é submetido a novo processo. Depois de inúmeros argumentos típicos da Inquisição para demovê-lo de suas teses, é condenado à morte na fogueira.

Fantasticamente Giordano Bruno morreu sem renegar seus pontos de vista filosófico-religiosos. Sua morte acabou por causar um forte impacto pela liberdade de pensamento em toda a Europa culta. Como diz A. Guzzo: "Assim, morto, ele se apresenta pedindo que sua filosofia viva. E, desse modo, seu pedido foi atendido: o seu julgamento se reabriu, a consciência italiana recorreu do processo e, antes de mais nada, acabou por incriminar aqueles que o haviam matado".

O fundamental nessa personalidade histórica foi seu martírio consciente, sua insistência em defender pacificamente suas idéias. Nunca pegou em armas ou pretendeu explodir alguém, simplesmente resistia à pressão da sociedade e de religiões sempre donas da verdade.

No Brasil poderíamos aprender muito estudando sua personalidade e disposição para a luta pacífica. Aqui vivemos sob o império de verdades absolutas colocadas pela nova religião denominada “Economia”. Vemos nosso povo rastejando sem parar enquanto elites formadas por diversos processos insistem em defender direitos adquiridos, ainda que em prejuízo brutal de grande parte da nação.

Carnaval, praias, igrejas e pastores existem para tranqüilizar um povo que espera ter oportunidade de trabalhar honestamente.

Precisamos introjetar a coragem e determinação de pessoas como Giordano Bruno para mudar essa política econômica, que não cansa de arrecadar mais (por empréstimos e por impostos) para pagamento de juros que estabelecem dentro de equações mórbidas, esdrúxulas. Procuramos conquistar investimentos estrangeiros mandando para fora os dólares que não entram, é algo difícil de entender.
O povo deve ter visto, fascinado, a fogueira que queimou as carnes e ossos de Giordano Bruno, esquecendo que ali se consumia alguma esperança de mudança. Suas teses não eram perfeitas, tinham , contudo, valores que aos poucos redescobrimos.
O pensamento de Bruno era holista, naturalista e espiritualista. Tinha a percepção de uma sabedoria que se exprime na ordem natural, onde todas as coisas, quer tenhamos idéia ou não, estão interligadas e se interrelacionam de maneira mais ou menos sutil (holismo27); a pluralidade dos mundos habitados, sendo a Terra apenas mais um de vários planetas que giram em volta de outros sistemas, etc.
Pela coragem de pensar e falar, Giordano Bruno - que estava séculos adiante de seu tempo - sofreu todo tipo de constrangimento e morreu na fogueira. Sua coragem, contudo, serviu de estopim e incentivo ao progresso científico e filosófico posterior.
Bertrand Russell


A geração que viveu a década dos anos sessenta do século passado, que a saboreou, que tinha condições de ler e discutir obras dos grandes pensadores em destaque àquela época, não poderá esquecer Bertrand Arthur William Russell28 (1872-1970).

Aquele mundo em guerra no Vietnã e com as cinzas fumegando da Guerra da Coréia oferecia escritores, filósofos, teatrólogos, artistas, compositores e, por que não, cientistas extraordinários. Existia o medo do fim do mundo, a idéia do conflito nuclear (crescente à medida que mais países agora dominam a nobre arte de se destruírem) era onipresente, mas entre todos nós também existia a esperança e a convicção de poderíamos mudar tudo isso. O movimento “paz e amor”, hippie, a ruptura com os figurinos engomados dos anos cinqüenta foi a resposta dos jovens aos adultos sérios e incapazes de evitar as violências. Dá saudades imaginar que a juventude já foi isso.

A juventude era diferente ou podíamos enxergar melhor graças ao trabalho de pessoas especiais?

Em qualquer livraria, mesmo em cidades pequenas, podíamos descobrir obras literárias de valor. Ainda não existia a onda dos livros fáceis, ou melhor, sempre estiveram lá, não era moda lê-los. O resultado era a oferta abundante de livros que nos faziam pensar, algo extremamente perigoso, como descobriram os ditadores mais novos, copiando os antigos, os de sempre, todos sempre queimando livrarias e hereges.

E Bertrand Russell? Pessoa polêmica, extremamente inteligente, com uma tremenda capacidade literária, era um de nossos autores preferidos. Sua autobiografia (24) mostra uma vida complexa de um nobre inglês decidido a enfrentar convenções e defender ideais não muito comuns entre os membros dessa elite inglesa.

No meu caso, em especial, a atenção começou no Colégio Santo Antônio, quando o saudoso frei Odorico disse em uma aula de religião que ele era perigoso, ruim. A curiosidade se transformou em idolatria, em vício de leitura e pensamento, algo que não perdi, passados tantos anos.

E nós, jovens è época, podíamos misturar Bertrand Russell com Carl Gustav Jung, Freud com Maquiavel, Marx, Eduardo Galeano, Erich Fromm, Karen Horney, Sartre etc e as bíblias das muitas religiões.

Em Itajubá pudemos formar um grupo de debates, nós chamávamos de Círculo de Debates, onde reuníamos quase duas dúzias de colegas de universidade, padres e amigos diversos para discutir semanalmente filosofia. Era fantástico, a nossa república no Edifício Issa ganhava colorido e turbinava nossos pensamentos. Era possível, pois tínhamos base, uma base que pessoalmente comecei (assim como muitos dos colegas) a adquirir com meu pai e no Colégio Santo Antônio em Blumenau, com padres franciscanos, mais filósofos do que sacerdotes.

No Círculo de Debates cada um usava uma base própria, o fundamental era a tolerância, o respeito ao que o outro dizia, respeito sem concessões, sem aceitação tácita, ao contrário, procurando-se sempre questionar com base em argumentos, na certeza de que a dúvida era fundamental à evolução do raciocínio e do conhecimento. Nessas condições adotei (eu, João Carlos) por lema a afirmação de Bertrand Russell em seu livro “Princípios de Reconstrução Social” (11):

“A certeza absoluta é por si só suficiente para impedir qualquer progresso mental naqueles que a possuem”.

Frase dura e talvez pouco gratificante. Muito mais facilmente lucraremos se abraçarmos as certezas dos chefes, dos poderosos. Não é fácil duvidar. Toda a lógica de cooptação prega a lealdade canina, a disciplina das matilhas. Duvidar, questionar, que coisa chata e perigosa!

Bertrand Russell duvidando oscilou ideologicamente, flutuou na filosofia, variou com apenas uma convicção, não aceitar dogmas, não se submeter a convenções, procurar a verdade, a felicidade, a verdadeira razão de existir. Foi infeliz algumas vezes, teve problemas, esteve preso, errou, mas sempre foi ele, o ser que pensa. Em sua autobiografia diz, último capítulo, finalizando:

“Vivi perseguindo uma visão pessoal e social. Pessoal: zelar pelo que é nobre, pelo que é belo, pelo que é gentil; permitir momentos de reflexão íntima que nos proporcionem a sabedoria necessária para as épocas mais mundanas. Social: ver em imaginação a sociedade que está por criar, onde os indivíduos crescem livremente, onde o ódio, a cobiça e a inveja morrem porque nada existe para alimentá-los. Creio nessas coisas; e o mundo, apesar de todos os seus horrores, não conseguiu abalar em mim tal convicção”.

Temos heróis, cultivamos nossos heróis e os substituímos à medida que evoluímos (ou regredimos). A vida é dura, a rotina pesada e os compromissos de sobrevivência são castradores, imbecilizadores.

É bom demais sentir que após tantos anos continuamos a admirar Bertrand Russel, mais ainda, percebendo a validade e qualidade de suas afirmações, expressas em dezenas de livros, em obras memoráveis que não nos atrevemos a citar com medo de excluir a melhor, por não conhecê-la, ter prazer em saber que escolhemos bem, que valeu a pena.

Recentemente, por exemplo, vimos, compramos, lemos e emprestamos o livro “História do Pensamento Ocidental” (6), (não confundir com “História da Filosofia Ocidental” (25)). Esse livro genial foi a surpresa mais recente, demonstrando a grandiosidade desse gênio da humanidade que entre outras coisas ganhou o Prêmio Nobel da Literatura em 1950; talvez fosse infinitamente mais adequado dar-lhe o Nobel da Paz. Em 1950 ainda não havia a Guerra do Vietnã como a conhecemos e contra a qual Bertrand Russell lutou com todas as suas forças...

Talvez os biógrafos optem por qualificar Bertrand Russell como filósofo. Para nós foi um líder, um herói, um ser humano a se ter como exemplo de dignidade, coragem e amor ao próximo.

Hermann Hesse


É estranho a gente se ligar a pessoas tão distantes. A pergunta poderia ser feita: tão distantes realmente?

Hermann Hesse, escritor alemão que teve a felicidade ou a tragédia de viver na Europa entre 1877 e 1962, construiu uma obra literária maravilhosa, menos pelas letras, mais pelo conteúdo de um pensamento romântico e intrigado com um mundo que se transformava, talvez sempre para pior. Sua autobiografia (26) mostra bem isso quando se espanta com a degradação de Saint Moritz, na Suíça. Melhor ainda lembrando outros de seus livros onde sutilmente demonstrava indignação com os padrões existentes, com a vontade de destruir seus quadros.

Romântico à última instância, falava pouco das mulheres. Conseguia ser apaixonado sem apelações sexuais, simplesmente descrevendo a natureza, dentro e fora do ser humano.

A vida de Hermann Hesse é a epopéia da dúvida. Nascido de família religiosa, estudou em seminário para depois rejeitar a religião, adolescente, determinado a procurar a verdade. Emigrou da Alemanha para a Suíça onde começou a vida como operário e livreiro. Estuda, aprende, produz sua personalidade sobre bases sólidas. Conhece a índia, sofre com as guerras que sua pátria inventa, mais ainda resistindo às lógicas absurdas do nazismo. O resultado final, prêmio Nobel em Literatura e uma coletânea fantástica de livros que merecem ser lidos com extrema atenção.

Demian (8), Lobo da Estepe (27), Knulp (28), Sidarta (29) e tantos outros fizeram de Hermann Hesse um personagem fantástico para a minha geração, sempre extremamente preocupada com livros amarelos, bíblias, manuais de guerrilha etc. ele era um momento de reflexão sobre o ser humano, ele próprio, sem as taras ideológicas nem o fanatismo castrador das religiões.





Profissão


Trabalhar em quê? Qual vestibular fazer? Vale à pena estudar?

Um dos grandes desafios de qualquer jovem é escolher sua profissão. Onde e como trabalhar é uma definição de cidadania e sobrevivência pessoal. Ao optar por uma carreira estará decidindo sobre riscos e benefícios inerentes à profissão exercida. É uma decisão que pesará sobre toda a sua vida.

Ao fazer as muitas opções que culminarão com a consolidação de uma vida profissional definida com total implicação na existência própria, o jovem parte normalmente dos exemplos de família e de suas fantasias juvenis. O que a maioria ignora é o que existirá em torno da profissão eleita, os compromissos sociais e os efeitos na própria saúde física e mental.

Qualquer família deveria dedicar tempo e carinho às questões que seus jovens enfrentam quando chegam ao momento de escolher uma profissão.

O principal é compreender-se a necessidade de sobrevivência. Em torno desta questão a opção profissional e uma auto-análise são fundamentais. A diferença entre o bom e o mal profissional passa pela competência, aptidão e disposição ao trabalho exercido. O sucesso profissional refletir-se-á na saúde mental e física do indivíduo. A decisão justa, correta, será extremamente valiosa.

O ser humano, contudo, é versátil, capaz de muitas atividades, profissões. Por mais simples, por menor que seja a inteligência e mesmo diante de grandes barreiras físicas e sensoriais, normalmente tendo-se motivação adequada poder-se-á conquistar um lugar digno na sociedade. A educação para o trabalho, a capacidade de se submeter a uma disciplina e a perseverança são recursos culturais importantes.

A história dos povos que tiveram sucesso mostra muito bem como essas características são importantes. Pais que desejam a felicidade de seus filhos evitam impor caminhos. Os responsáveis por qualquer estudante devem entender que eles não deverão ser compensações de frustrações paternas antigas e, sim, objeto de um processo educacional calculado, objetivo, consciente ao final do qual o ideal será a existência de adultos felizes e produtivos.

Os erros custarão caro aos futuros adultos.

Não é raro que em famílias excessivamente tolerantes percam a oportunidade de educar seus descendentes de forma adequada. Os desafios são positivos. Criar pressões e preparar os filhos para a luta é fundamental ao sucesso deles. Muitas infâncias gostosas terminarão em vidas perdidas se nessa primeira fase da vida as crianças perderem a oportunidade de criar padrões de comportamento adequados à vida social.

A opção profissional é um ato de vontade de grande responsabilidade.

O que se pretende? Dependendo da profissão décadas serão gastas entre quatro paredes, repetindo-se infindavelmente procedimentos burocráticos. Outros terão que arriscar suas vidas, passar dias e dias longe de suas famílias, sem o convívio e o carinho daqueles que lhes amam. A vida de um atleta profissional é completamente diferente da existência de um advogado, que sua vez estará a milhares de anos luz distante do dia a dia de um arquiteto.

É triste observar-se a frustração de muitos. Uma decisão errada poderá expor deficiências desagradáveis, humilhantes. Em grandes empresas, onde a competição entre companheiros é maior, a seleção acaba sendo dura, cruel. Muitos se aposentam frustrados por não terem atingido posições sonhadas. Preteridos desenvolvem angústias que lhes deixarão infelizes e doentes. Por falta de autocrítica não vêem suas deficiências. Assumem personalidades agressivas. Amargurados e doentes mentalmente terminarão seus dias de mal com a vida.

Qualquer pessoa poderá sentir-se útil, prestigiada, se estiver na profissão correta, ajustada à sua personalidade e potencial. Da profissão mais humilde a mais elevada intelectualmente qualquer pessoa será respeitada se exercê-la de forma competente. Vale a pena uma autocrítica severa. Certas qualidades básicas são essenciais a qualquer atividade. Um bom advogado não pode prescindir de uma memória desenvolvida, precisa ter raciocínio lógico e saber escrever com eficiência. O raciocínio matemático é essencial ao engenheiro. A habilidade manual é condição de sucesso para o cirurgião.

Principalmente os pais têm a responsabilidade de mostrar aos filhos os caminhos possíveis. Há especialistas, existem técnicas de avaliação. Tendo-se dúvidas e lembrando que muitas profissões só serão compreendidas já no seu exercício, o suporte de profissionais para uma decisão vocacional é válido.

Outro ponto a merecer reflexões é o padrão das escolas. Em trinta anos o Brasil multiplicou por dezenas ou centenas o número de faculdades. Poucas, muito poucas, entretanto, conseguiram ter bons padrões de ensino. Escolas mal formadas criam ilusões. Profissionais mal preparados partem para o mercado de trabalho completamente despreparados para o exercício da profissão que escolheram. O resultado é a mediocridade de muitos em prejuízo de uma sociedade que paga serviços e impostos e espera melhores resultados de seus profissionais.

Acreditando em seus valores o ideal será criar sua própria empresa, trabalhar “por conta própria”. Os padrões de competição são mais objetivos, diretos. O indivíduo foge às disputas padrão “agradar o chefe”, afinal o dono manda. Os riscos são maiores, mas o prêmio infinitamente superior, confortador. Nossa sociedade tende a desvalorizar o emprego. Por melhor que seja o profissional, só aqueles à vista de todos e dos quais a felicidade direta depende terão salários mais altos tolerados. Um bom exemplo é o jogador de futebol, o torcedor simplesmente espera que seu “astro” ganhe o máximo possível em seu clube para não ter o dissabor da derrota no gramado...

No Brasil, talvez por efeito da cultura escravagista ainda dominante, qualquer pagamento a funcionários regulares é considerado elevado. Fazendo-se comparações com os milhões de miseráveis, nega-se salários e não se discute riqueza.

Um aspecto importante é criar-se uma base profissional independente para os filhos. Mostra-se como ser empreendedor, como não depender de pessoas que não nos interessam. Gerando-se uma empresa cria-se um espaço de trabalho próprio. O esforço para desenvolvê-la materializa-se em algo pessoal, com qualidades e defeitos à imagem do criador. Nesse ambiente a família poderá aprender a ter independência, ousadia e criatividade.

O emprego exige do trabalhador a submissão a regras não escritas, à cultura da empresa em que exercer sua profissão. As humilhações não são raras. Os grandes chefes e até os mais humildes não raro trazem para as empresas suas frustrações. Os loucos, os tarados, os neuróticos têm nos postos de comando o espaço que precisam para exercitar suas deficiências. Assim, havendo a possibilidade de trabalhar “por conta própria”, essa hipótese deverá ser vista com carinho. Perder oportunidades dessa espécie poderá custar caro.

Antes de mais nada evitar tornar-se um empregado. Preferir ganhar menos. Ser dono de suas decisões. Não se humilhar submetendo-se a um patrão, a um chefe. O Brasil, de uma maneira especial, é um país rico de oportunidades. Não é difícil criar sua empresa. Devemos, desde cedo, aprender a ousar, a inventar, a ser.

Não gaste empregos, gere-os.

O mundo respeita os empreendedores.

Aquele que se submete a um emprego opta pelo conforto da segurança de um salário, aceita ser conduzido, limitado. Empregar-se poderá ser importante para se ter base para, mais tarde, criar sua empresa. Ótimo, mas perigoso. Não se deve perder de vista a necessidade de realização pessoal, de maior independência. A vida passa mais depressa do possamos imaginar no início dela. Caímos na rotina, quando emergimos poderemos sentir que o tempo passou.

Outro aspecto importante é a tendência das grandes empresas à terceirização. A modernização pulveriza postos de serviço tidos como intocáveis. Muitos trabalhadores, super especializados, têm se encontrado de repente desempregados e sem nenhum preparo para uma mudança de vida. A visão antiga de que se obtinha segurança empregando-se acabou. As teorias neoliberais penalizam o empregado. Os defensores dessa cultura política não têm em suas cabeças a necessidade de sobrevivência harmônica. Não lhes preocupa uma sociedade sadia. O desempregado é assunto da caridade, da solidariedade social. O pai de família que parte para a delinqüência para poder sustentar sua família é caso de polícia.

Felizmente o Brasil é um país com grandes oportunidades para o empreendedor. Muitos espaços existem. Uma pequena loja ou fábrica, uma empresa rural ou de prestação de serviços poderá ser o início de uma bela vida profissional. Tudo começa pequeno. Esta primeira fase é importante. Aprende-se. À medida que se domina a arte, aumentam os resultados. Conhecer as artimanhas da legislação trabalhista, os truques do fisco, a psicologia do comprador, a qualidade do produto e os verdadeiros custos levam tempo. Método, organização, liderança e capacidade administrativa adquirem-se na prática, nos erros e acertos do dia a dia.

Com trabalho, disciplina e austeridade formam-se poupanças. Com estes capitais amplia-se a empresa. Reinvestindo e não desperdiçando o que se ganha adquire-se a dimensão sonhada. Recursos de banco? Só em última instância. O Brasil é terra da agiotagem oficial. Sob qualquer desculpa os juros disparam.

Empresa urbana ou rural? De alta ou baixa tecnologia? Comércio? Indústria?

Na definição por uma profissão decide-se pela personalidade que teremos. A profissão cria padrões comportamentais, algoritmos de decisão e diferentes visões políticas. A própria expectativa de vida será afetada pela profissão.

Devemos ver o que acontece em nosso mundo capitalista. A tendência é a regressão em relação aos ideais de riqueza distribuída. Os ideais de mais conforto e segurança para o trabalhador estão sendo abandonados. Essas propostas, tão comuns há pouco mais de trinta anos, deram lugar ao império da produtividade e competitividade. A abertura de fronteiras colocou países em que o trabalho é escravo ou de altíssima tecnologia gerando produtos de baixo custo, entrando em nações mais desenvolvidas politicamente e nelas contendo movimentos de melhoria de vida do trabalhador. Aliado à regressão nos direitos trabalhistas a tecnologia veio com a automação e a informática, implodindo milhões de empregos.

No cenário atual o ideal é aprender a ser versátil e a criar atividades. Deve-se ter coragem e capacidade de sobrevivência independente e para isso não basta um diploma. O jovem atual precisa aprender a criar e conduzir sua própria empresa. Em paralelo ao curso básico pretendido deve-se procurar aprender ciências relativas à administração, legislação, liderança, relações públicas e informática.

O domínio de línguas estrangeiras é de extremo valor.

O inglês é a língua base da comunicação internacional.

Estudando, trabalhando e tendo-se persistência as chances de sucesso são grandes. Note-se a necessidade de homem e mulher e preparem-se para o mercado de trabalho.

Casados, um padrão de vida razoável dependerá da contribuição dos dois. Isso terá implicações no planejamento familiar, na distribuição de tarefas domésticas. O mundo do século 21 pouco terá de semelhança ao do início deste que terminou.

E na opção pelo emprego?

Devemos ter o cuidado de verificar a saúde financeira e moral da empresa. Ela lhe imporá padrões. Que tipo de indivíduo pretende ser? A empresa lhe dirá. Ao conversar com pessoas empregadas há muitos anos pode-se ver em seus traços fisionômicos, nas expressões empregadas e no raciocínio o que fizeram com eles. É impressionante como somos afetados pelo ambiente em que vivemos.

Diga-me com quem andas e lhe direi quem é. Mostre-me sua empresa e lhe direi como será o seu futuro.

Amoldamo-nos. E não poderia ser diferente. Não sobreviveríamos se agíssemos diferentemente.

As mulheres, de uma maneira especial, precisam avaliar bem o que pretendem profissionalmente. A maternidade é um fator tremendamente perturbador. A mulher moderna, cidadã, independente, paga um preço muito alto pelas conquistas feitas. A sociedade foi organizada para um modelo patriarcal, machista. Como ser mãe e empresária? Mãe e operária? Mãe e empregada?

O Brasil, em suas contradições, não inibe a geração de filhos, mas não dá às famílias creches, escolas e assistência médica decentes. A falta de creches e escolas de padrão razoável é um problema grave para qualquer família. Resultado, o privilégio de uma boa formação pertence aos mais ricos. As pessoas humildes, sem dinheiro, submetem seus filhos às escolas mais próximas, menos caras. Felizmente muitos têm a oportunidade de mostrar-se como uma família unida, trabalhadora, decente. Nos ambientes mais ricos as oportunidades de alheamento em relação aos filhos é maior. O resultado é a perda de referências, o abandono dos filhos, as doenças comportamentais. Com dinheiro e longe dos pais acabam sendo alvo fácil de traficantes. A generalização do uso de drogas é um risco permanente. Esta doença social atinge níveis absurdos. Com a omissão de muitas autoridades, pois o vício não tem preconceitos, o traficante instala-se por todos os lugares. O crime organizado tende a comandar nossa vida. Os pais, ignorantes ou imersos na luta pela sobrevivência, acabam descobrindo muito tarde a perda de um filho. A falta da mãe, principalmente, pesa na lógica juvenil. Já nas famílias mais pobres é a ausência pelos desafios da sobrevivência. As crianças, abandonadas nas ruas crescem sofrendo a influência dos bares de esquina, dos malandros e bandidos de toda espécie. A miséria destrói fantasias, cria realidades brutais. Muitos jovens mais inteligentes e voluntariosos serão os líderes de bandos. Belíssimas crianças serão adultos degradados, que terminarão seus dias em penitenciárias, valas ou calçadas, mortos por esquadrões da morte, em conflitos de quadrilhas ou, simplesmente, corroídos por doenças da pior espécie.

Os anos passam e só ouvimos discursos.

Não vemos um programa sério de planejamento familiar.

Infelizmente muitas religiões se opõem radicalmente ao planejamento familiar.

Aqui vale lembrar Bertrand Russell (30):

“A objeção mais comum ao controle da natalidade é a de que é contra a “natureza”... Os modernos oponentes teológicos do controle da natalidade são menos honestos. Pretendem eles que Deus proverá, seja qual for o número de bocas que haja para alimentar. Ignoram o fato de Ele jamais ter feito isso até agora, tendo, ao contrário, deixado a humanidade exposta a fomes periódicas, durante as quais milhões de criaturas morreram por não ter o que comer.”

As altas taxas de crescimento da população geram mão de obra barata e mais anjinhos no céu. Famílias numerosas e ausentes na educação dos filhos são freqüentes no Brasil. Os pais trabalham fora para sustentar seus filhos e ter acesso aos bens de consumo tão bem postos na mente de qualquer cidadão. A mãe e mulher trabalhadora contribuem para o orçamento familiar saindo de casa e submetendo-se a um padrão de serviços idêntico ao do marido. Ao voltar para sua residência nela terá que cumprir as tarefas que sua avó fazia com muitas empregadas e sem outra preocupação que a própria casa. Sem apoio em casa e fora dela a mulher se escraviza, trabalhando em 3 turnos pois nem durante a noite estará livre de tarefas que os filhos impõem. A mocinha charmosa, simpática e elegante facilmente irá transformar-se em uma mulher dura, de formas pouco estéticas e sem a graça tão desejada.

Conciliar família mais trabalho e amor é o grande desafio de qualquer casal. Nesta equação a mulher perde mais. A profissão que abraçar será um ponto a favor ou contra o stress que viverá. Tradicionalmente as mulheres têm optado por atividades ligadas às áreas sociais. O problema será obter salários compensadores. Nada impede que outras atividades sejam absorvidas pelas mulheres. Fugindo aos padrões clássicos todas as profissões estarão, com maior ou menor propriedade, acessíveis. Nelas talvez encontrem formas de serem recompensadas dignamente pelo esforço feito sem perderem qualidades, que desejam na condição feminina. A informática, por exemplo, é uma área em que qualquer “dona de casa” poderá ser muito produtiva. Nessa ciência há a possibilidade de trabalhar em casa, fora de horário e sem os constrangimentos das atividades mais pesadas fisicamente.

Tanto em sua compulsão pelo casamento como no trabalho muitas jovens receberão os conselhos dinossáuricos da família, que ainda não se atualizou. Dificilmente ouvirão algo em seu benefício. Delas se espera o respeito à família e à sociedade, a submissão ao pai e ao marido. Que gerem filhos e cozinhem. O que menos se pensa é na realização como empreendedoras, líderes e cidadãs.

Mas se decidirem empregar-se? Cairão no império dos homens. Com facilidade tornar-se-ão objeto sexual, principalmente se forem atraentes. O chefe rejeitado vingar-se-á. A competição terá outros valores.

De qualquer forma homem e mulher precisam trabalhar, sentirem-se úteis, sustentarem-se. O trabalho dá condições para sobrevivência física e mental. É essencial a uma vida sadia. Os consultórios de psiquiatras vivem cheios de pessoas que não precisam trabalhar, lutar para viver. A sensação de vazio, conseqüência da inutilidade, é mortal. Todos querem subir na escala social. Todo ser humano precisa se respeitar, sentir-se útil, importante. É melhor que o seja de uma forma positiva e não fútil e inútil.

Assim, para sustentar nossos filhos, termos e merecermos a admiração da sociedade, conquistarmos alguém, precisamos ter capacidade de trabalho e aplicarmos esta competência positivamente. Por tudo isto a profissão é uma opção vital. Uma decisão errada poderá custar muito caro.

A escolha do melhor caminho profissional será motivo de satisfação, de realização, de equilíbrio pessoal e social.
Engenharia


Entre as muitas profissões falarei da Engenharia porque sou engenheiro. Assim, com mais propriedade poderei discorrer sobre uma atividade que exerci durante quatro décadas. Muito do que direi a respeito vale para outras profissões. Falo com orgulho desta especialidade que adotei porque pude senti-la em toda a sua potencialidade, percebendo que nela tem-se a oportunidade de uma vida sadia, até ingênua.

Construir, manter, operar e refazer casas, estradas, usinas, computadores, cidades e palácios. Estas são, entre muitas, as atividades de engenheiros com seus companheiros técnicos, artífices e operários. Muitas são as profissões possíveis. Entre tantas a Engenharia é uma das que melhor corresponde ao ideal da utilidade, da produção.

Usando as chamadas ciências exatas o engenheiro projeta, constrói, opera e mantém fábricas, cidades e estados que de outra forma seriam aglomerados selvagens de seres humanos.

A Engenharia também produz armas e venenos. O engenheiro é um profissional que muitas vezes esquece o objetivo de suas obras. Um filme famoso29 mostra bem o comportamento e envolvimento de um profissional em um projeto errado: “A ponte do rio Kwai”. Um oficial inglês e dezenas de prisioneiros em um campo de concentração japonês participam da construção de uma ponte ferroviária sob o comando dos oficiais inimigos. Incomodado com as trapalhadas dos japoneses na construção da ponte, ele e seus comandados feitos prisioneiros decidem colaborar na obra, até para terem uma distração. A ponte é feita com um bom padrão e, pronta, aguarda a passagem do primeiro trem. Surge um comando aliado para destruí-la. Qual a reação inicial do oficial inglês? Lutar contra este comando porque pretendia destruir “sua” ponte. Naquele momento ele esquecia a finalidade daquele projeto, transportar soldados japoneses para frente de batalha onde seus compatriotas seriam mortos. Apenas sua ponte lhe preocupava.

Quantos profissionais não têm comportamento semelhante? O exercício de uma profissão exige consciência de suas finalidades para não fazermos pontes indesejáveis sobre rios estranhos.

O jovem ao escolher sua profissão tem o desafio de procurar um caminho compatível com suas pernas e cultura, ao optar por um trabalho estará mostrando seu caráter. A Engenharia, como exemplo, é uma profissão especialmente alienante ao envolver o profissional em desafios às vezes distantes dos propósitos daquele jovem imberbe, mas cheio de ideais, que procurava uma faculdade para o vestibular.

É uma profissão apaixonante quando se tem a felicidade de trabalhar em bons projetos, terrível quando se cai na mediocridade ou em trabalhos menos dignos.

Mas vale como tema da discussão do projeto de vida de qualquer cidadão.

O que fazer? Por quê? Como?

Assim podemos dizer que a Engenharia serve como modelo para uma proposta de vida. Ao receber seu diploma o recém formado compelido pela necessidade de sustentar-se, casar e manter uma família entende que o mais importante é começar a trabalhar. Onde? Não interessa? O principal é ter o famoso emprego? O tempo mostrará como esta decisão terá sido correta ou não.

Uma bela carreira poderá ser a do engenheiro. Deixará sua marca em muitos blocos de concreto ou mantas de asfalto.

A Engenharia, tendo-se o cuidado de sua aplicação, é uma belíssima profissão. Em torno de equações e leis naturais transformamos a natureza com esta ciência, ajustando-a aos interesses humanos.c

Esta é uma atividade que acrescenta valores. Gera produtos reais. Existe.

Aqui, falando como engenheiro, quero dizer a meus filhos e netos a satisfação que tive optando por esta profissão.

Um grande ensinamento da Engenharia é a disciplina, o respeito às leis da natureza. O engenheiro não consegue enganar as leis da física ou da matemática. Não adianta escrever dez ou mil páginas argumentando a favor ou contra qualquer relação natural. Só funcionará aquela que estiver correta, precisamente fiel ao que a natureza determinou. Evidentemente o engenheiro trabalhará sempre com aproximações. Quem sabe quais são exatamente as leis da física ou da química? A verdade é que a natureza coloca-se na mente do profissional da Engenharia de uma forma severa, dura. A qualidade do profissional poderá ser medida por sua habilidade em conhecer, respeitar e usar o que o Grande Arquiteto do Universo determinou.

A Engenharia permite a seu profissional atravessar fronteiras e expressar sua competência em muitos lugares. Em suas mãos, ou melhor, a partir de seus conhecimentos estará a possibilidade ou não de sobrevivência da humanidade. Como serão as cidades daqui a um século? A Engenharia terá encontrado a forma de alimentar, transportar, aquecer, abrigar e servir água à população então existente?

A qualidade de vida e a própria vida dependerão do trabalho intenso e criativo de nossos engenheiros.






Pensar antes de trabalhar pesado


Parece, talvez seja malandragem. A vida profissional na Copel me ensinou muito, principalmente a pensar antes de simplesmente começar a fazer qualquer coisa. De modo geral, considerando o tipo de funções que exerci, havia muito a estudar antes de “enfiar a cara”, mais ainda quando via a maneira disciplinada e suada de muitos colegas, mais dispostos a mostrar serviço do que simplesmente resolver da melhor maneira os problemas que apareciam.

Para não teorizar, vamos a alguns casos:

Logo que comecei a trabalhar na área de ensaios (1969) acompanhei a equipe de que participava num ajuste de um transformador capacitivo na usina termoelétrica de Figueira. Vi, durante alguns dias, o pessoal armado de transferidor, compasso, régua de cálculo e outras coisas para, com muita insegurança, fazer algo. Alguns meses depois fui encarregado de fazer o mesmo na subestação de Campo Comprido, paralelismo entre e usina de Capivari Cachoeira (gov. Parigot de Souza) e o sistema interligado em Curitiba. Cheguei lá pensando em quantas contas deveria fazer. Olhando melhor, contudo, descobri um truque e em menos de uma hora o serviço estava pronto com o máximo de segurança. Ou seja, tive a inspiração de que existiria uma forma mais ágil de proceder e parei para pensar, ganhei muito tempo.

Certa vez fui enviado à subestação de Irati ajustar um transformador enorme de regulagem de tensão. Mais uma vez a tarefa foi precedida de muitas contas feitas pelo pessoal de estudos. Cheguei lá sem orientação clara, mas com a incumbência de executar os ajustes. Lembrando que o transformador faz barulho, leva tempo para comutar, que podia medir a tensão no local além de ver o Relé Gossen trabalhar, considerando o número máximo de mudanças de tapes, em dois dias ajustei o sistema e voltei para casa. Trabalho feito por simples observação, um voltímetro e muita conversa com aqueles que entendiam de manutenção do equipamento, respondendo a questões do tipo: qual seria um número razoável de comutações? A solução de compromisso exigia mais observação e menos teoria.

Na Usina de Guaíra o pessoal de manutenção havia um mês tentava balancear um gerador. Mais uma vez fui viajando e pensando. Quando cheguei na usina, na convicção de que trilhavam um caminho errado, fiz medições que não costumávamos fazer. Em poucas horas detectamos o problema e voltamos com as indicações precisas para a manutenção (corrigir curto circuito no rotor).

A entrada em operação do conversor eletromecânico da interligação entre a Copel e a Ande foi um desses momentos de assumir uma decisão contrária a todos os doutores que trabalhavam na área. A unanimidade desses “especialistas” era a da impossibilidade de operar (o que seria um tremendo prejuízo para a ANDE e um problema grave para a Copel). Vendo as condições de regulação nos dois lados pedi que passassem o sistema para controle manual. Por cautela gastamos a noite verificando detalhadamente a proteção. No dia seguinte fizemos o paralelo entre ANDE e COPEL e a máquina atingiu sua potência nominal, para felicidade geral de todos e algum constrangimento para quem não mais acreditava em solução. Depois o trabalho foi encontrar os ajustes idéias dos reguladores de tensão.

Um transformador de potência de Londrina poderia ter sido meu recibo de demissão da Copel. Por ensaios eventuais e depois mais cuidadosos concluí que o transformador (interligação entre COPEL, EELSA e São Paulo (não tenho certeza do nome da Concessionária)) estava com defeito. Após muita discussão em Curitiba, resistência e alertas do meu chefe, fomos para Londrina testar o equipamento. Quando lá chegamos dezenas de barris de óleo isolante mostravam que o núcleo estava exposto e que a constatação de ausência de problemas com o transformador seria um pesadelo para o engenheiro “novinho” da Copel. Entramos, eu e o eng, Franz Goldman, e passamos a tarde dentro do transformador procurando indícios de problemas. À noite o jantar foi sem graça. No dia seguinte já cedo estávamos dentro do transformador, terminando a manhã, sem nada descoberto, o eng, Franz sentenciou o fim da inspeção. Inspirado divinamente resolvi me torcer todo para alcançar o fundo do tanque onde, passando a mão, senti grãos metálicos. Catando-os entreguei ao Dr. Goldman que disse: “está queimado”. Saímos de lá com meu emprego garantido e a Copel com a certeza do prejuízo...

Sempre procurei formar boas equipes, muitas vezes preterindo amigos que, infelizmente, eram menos capazes. Sabia que a realização de muitas atividades exigia características especiais, coisa que poucos conseguem avaliar, principalmente em causa própria. Isso me permitiu muita tranqüilidade na luta pela sobrevivência nas minhas funções e a coragem para ousar, inovar, agir.

Esses e outros momentos e padrões de decisão deram à minha vida profissional um colorido muito especial. Tive sorte, muita sorte, talvez a tutela de meu pai, já falecido, a vontade do GADU ou algo parecido, pois qualquer uma das atitudes que tomei durante meu tempo de Copel, antes e depois, poderia ter custado muito caro. Felizmente eu posso, agora, dizer: fui protegido por Deus.

Assim como o trabalho poderá ser algo equivalente a um castigo, eventualmente será um prazer, um desafio gostoso. No meu caso tive a oportunidade de viver em muitas ocasiões a satisfação de fazer o que realmente gostava, tendo, ainda de prêmio, a oportunidade de conhecer pessoas e lugares excepcionais.

Lendo o livro “A Economia do Ócio” (31) creio que descobri uma citação que reflete muito bem meus critérios “trabalhistas”, de lá transcrevo uma máxima zen:

“Quem é mestre na arte de viver distingue pouco entre o trabalho e o tempo livre, entre a própria mente e o próprio corpo, entre sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Com dificuldade sabe o que é uma coisa e outra. Busca simplesmente uma visão de excelência em tudo que faz, deixando que os outros decidam se está trabalhando ou brincando. Ele pensa sempre em fazer ambas as coisas ao mesmo tempo”.

Precisamos refletir profundamente sobre como trabalhar, que profissões exercer, pensar na vida de modo geral, pois a atividade profissional afeta profundamente tudo o que gostamos e podemos fazer. A profissão marca a pessoa. Com o tempo ficamos deformados, adquirimos marcas de personalidade características da atividade profissional, boas e más.

Naturalmente existe uma grande diferença entre querer e poder. Para qualquer atividade existe um perfil adequado. Para isso temos especialistas que podem dar orientações razoáveis. Trágico é pegar caminhos errados, vir a se arrepender mais adiante.

Temos filósofos em torno do ato de trabalhar ou não. Muitos fizeram da elegia à ociosidade missão de existência, outros simplesmente são malandros, a maioria sonha descobrir a pedra filosofal, a lógica suprema. Não podemos esquecer que qualquer sociedade para existir precisa de uma coleção de atividades, algumas essenciais, outras não. Em todas elas será importante a existência de pessoas dedicadas, dispostas a trabalhar. A esses heróis, nossa homenagem perpétua.

Contribuir para o bem geral e a felicidade geral da nação é bom, apelando para uma expressão clássica. Não podemos esquecer os desafios gigantescos da Humanidade. Para todo lado que olharmos descobriremos atividades e produtos esperando quem os faça ou os resolva de forma decente.

A evolução tecnológica deu um nó na cabeça dos filósofos. A visão idílica das pessoas saltitando em belos campos floridos com rios de mel e passarinhos cantando ainda domina a mente de muita gente. O crescimento da população humana, o gigantismo das cidades com toda a magia das luzes e a miríade de oportunidade que oferece, a fuga do campo, lugar de ação política, mas detestado por qualquer jovem ansioso por aventuras sexuais e outras, tudo isso cria situações que os doutores custam a entender, mas lhes dá a oportunidade de produzir muitos livros e teses...

Realmente é estranho ver a forma patética, dramática de nossos estudiosos sobre o trabalho. Se perdemos postos por efeito da tecnologia, ela nos oferece outros, além de libertar o ser humano para mais tempo e espaços de lazer, que por sua vez criam atividades para terceiros. Tudo isso, contudo, depende muito da imposição de leis internacionais que impeçam a competição com nações ainda tolerantes à escravidão em todas as suas formas. As mudanças, entretanto são inevitáveis. Se lembrarmos que no início do século 20 os maiores contingentes de trabalho formal na cidade de São Paulo eram formados por ferreiros, motorneiros, chapeleiros e coisas assim, teremos uma idéia da dimensão das mudanças passadas e possíveis de acontecer mais adiante. Aliás, basta observar as fotografias e crônicas da época para sentirmos as mudanças.

A favor ou contra as mudanças, ler os livros de Domenico de Masi, por exemplo, é uma delícia altamente provocativa e educativa. Para quem não gosta de livros volumosos, o seu livro “Desenvolvimento sem Trabalho” (32) é uma excelente oportunidade de reflexão, ainda que escrito antes da crise econômica que desabou sobre a humanidade em 2008.

Em nossa época percebemos a perda total de senso de prioridades. Vale a mídia, a janelinha na TV onde chefes e líderes eventuais ganham projeção travando tudo e propondo ações menos eficazes à nossa sobrevivência. Afinal, o que é que nos interessa acima de tudo? Dificilmente ouviremos de alguém, se responder sinceramente, que não é o mais importante a preocupação com a própria sobrevivência, de sua família e dos amigos. Devemos, contudo, olhar para dentro de nós mesmos e procurar sentir o que nossos instintos e a própria consciência nos dizem. Nessa diretriz ser útil, contribuir para a nossa defesa e a sobrevivência da humanidade, a que pertencemos obviamente e dela dependemos, é uma boa causa.

Melhor ainda se ao final da vida sentirmos que fomos úteis, que compensamos nossa existência, que não viramos parasitas, cracas nos costados de gente que fez tudo e muito mais para podermos existir.

Devemos tomar cuidado com teóricos, filósofos da vida mansa. Se isso for nossa vocação, vá lá. Afinal as máquinas mais e mais substituem o esforço humano. Chato é sentir que poderíamos ter sido úteis, e existem inúmeras maneiras de fazermos algo, é só querer.

A tecnologia permite-nos sonhar e as questões sociais esperam desesperadamente por voluntários. O mundo está mal feito, carece de tudo. Se em alguns países tem-se a impressão de não faltar nada, em outros constata-se a ausência quase total de infraestrutura. Grandes tragédias acontecem mostrando a importância da ampliação da competência, da vontade de trabalhar, de melhorar a vida da Humanidade assim como de torná-la mais segura. Essa tarefa global poderá ser distribuída entre todos os seres humanos sem a necessidade de submissão a taras e loucuras de ditadores políticos, religiosos ou capitalistas. Não podemos esquecer, também, que a Natureza é dinâmica, muda sempre. Graças a isso somos obrigados a fazer e refazer instalações além da importância de mantê-las funcionando. As lógicas da ociosidade valem para pequenos segmentos da humanidade, se existir a vontade real de sobreviver, de se enfrentar o que puder acontecer e já existiu antes, quase exterminando qualquer vestígio de vida sobre a Terra, sempre haverá o que fazer.

Uma certeza seria possível se a famosa globalização estivesse firmemente subordinada a uma legislação trabalhista internacional. Poderíamos dedicar menos tempo a atividades sob salário, executivas e outras menos atraentes. Infelizmente optamos por abrir as fronteiras comerciais sem se dar importância às condições de produção nos lugares distantes. A escravidão voltou com força, embutida nas “leis de mercado”. Consumidores privilegiados gastam, compram e usam produtos e serviços sem se importarem com o agente dessa atividade. A crueldade das nações e nossos dirigentes máximos não têm limites.

Vamos repetir, pois isso é extremamente grave, a escravidão voltou.

Temos esperanças, contudo. Precisamos estudar com atenção o que propõem nossos filósofos, sociólogos e até os historiadores mais atrevidos. Domenico De Masi, por exemplo, em seu livro (31) “A Economia do Ócio” tece considerações extremamente interessantes, mais ainda por reunir trechos de livros de Bertrand Russell (33), Paul Lafargue (34) e muitas outras citações, além de conter a exposição fantástica do próprio Dr. Domenico De Masi. Ele, contudo, na nossa humilíssima opinião diante da magnífica cultura e inteligência que possui, erra em alguns aspectos ao valorizar atitudes que devemos evitar, pois, acima de tudo, queremos ter orgulho do que somos, queremos ser úteis, mostrar a todos o pouco ou muito valor que tivermos. Não será “ociando”, como o tradutor coloca em muitas frases de seus livros, que conquistaremos o amor próprio que nos deixará orgulhosos do que conquistarmos.

Em “Desenvolvimento sem trabalho” (32) Domenico de Masi parte para hipótese mais do que reais, possíveis. Tudo dependerá de soluções que ainda estão longe diante da cultura e instintos humanos, são possíveis, apesar de tudo, e serão desejáveis?

Sempre lembrando a energia que carregamos em nosso corpo e mente, dela sentimos a necessidade de ser, estar, pertencer, mandar e ser prestigiado. Isso vale para as gangues infantis, adultos, e até para os partidos políticos. Em qualquer lugar, onde quer que seja, encontraremos definições instintivas e conflitivas procurando, dando espaços a personalismos, a fantasias pessoais e vontades reais.

Dentro da realidade humana de afirmação impõem-se o estabelecimento de regras e normas. A falta de leis internacionais gerou um “vale tudo” abominável.

Estranhamente, nos tempos atuais, vemos e ouvimos muito pouco sobre a defesa veemente de uma legislação internacional. O tema perdeu-se nos encantos do neoliberalismo.

Com certeza o mundo poderia ser um paraíso para a espécie humana. A evolução tecnológica, os recursos existentes e a produtividade possível permitem - nos imaginar uma existência agradável em qualquer lugar do planeta. Isso não acontece graças a culturas resistentes à valorização do ser humano sem restrições, aos fanatismos políticos e religiosos que, com certeza, estão condenando grande parte da humanidade a uma existência muito pior do que seria se a inteligência e a boa vontade em relação ao aprimoramento da vida fossem realidades e, simplesmente, à incompetência de inúmeras lideranças.

As religiões deslocaram para outros mundos o prazer de viver e as ideologias são construídas em cima de utopias e estruturas que entronizam reizinhos, criam dinastias, paredões, campos de concentração ou simplesmente a execração daqueles que discordam dos gênios da burocracia.

Temos exemplos em excesso da tragédia humana.





Abolição do trabalho – uma fantasia


O ato de trabalhar merece uma gama razoável de definições sobre as quais teremos disposição para falar ou não, torna-se importante, contudo, discutir o conceito que atribui a esse comportamento uma atividade profissional, remunerada e também o exercitar algo, simplesmente, que é feito para se atingir um determinado fim sob esforço físico e ou mental.

Por alguma razão misteriosa ou evidente, se lembrarmos o cenário da vida dos filósofos, muitos entendem que o ideal é não precisar trabalhar e que no futuro, graças aos conhecimentos aplicados a todas as atividades humanas, o trabalho será desnecessário.

A visão do trabalho é tão pesada que muitas religiões prometem uma vida futura em outro mundo sem trabalho, com tudo aparecendo graciosamente aos espíritos privilegiados e merecedores de compensação por terem vivido de forma dócil a algum ser superior e belicosa contra os infiéis.

Vivemos sob o império de economistas e advogados, filósofos continuam escrevendo sobre as bases construídas por pensadores do século 19, usando lógicas dos tempos gregos em diante. Pseudo-administradores e políticos alienados comandam nossas cidades. Uma coleção de pessoas ignorantes em relação à natureza das coisas decide como, quando, quanto, quem, de que jeito as coisas devem ser feitas. Neste cenário pouco racional é natural que certas teses continuem fortes.

Antes de comentar a engenharia e fragilidade de tudo o que vemos é bom lembrar o que é um ser humano, o cérebro que o comanda, a combinação de recursos que compõem seu corpo.

Nosso cérebro, por exemplo, não tem elementos binários. Seu algoritmo é baseado em neurônios, um elemento de lógica biológica com muitos tentáculos (dimensões) e ainda memória química (outras dimensões). Graças à arquitetura e constituição do cérebro podemos usar nossos sensores de forma fantástica; olhar, cheirar, tatear, ouvir e saborear são coisas que fazemos, isso já é fantástico, em tremenda velocidade.

Nosso cérebro ocupa um volume reduzidíssimo e gastando um mínimo de energia para comandar um corpo com braços e pernas além de um corpo flexível, constituindo um conjunto fantástico.

Quando e como teremos robôs nos substituindo integralmente?

Ou seja, para a rotina de nossas vidas, para a realização e manutenção de nossas atividades básicas, o ser humano é e sempre será fundamental em algum elo dessa corrente que viabiliza a existência em comunidades. O crescimento da população humana cria desafios crescentes que vão aumentando nossas necessidades, sempre demandando mais e mais seres humanos para realizá-las. Obviamente poderemos ter vácuos, falhas nessa corrente para a frente. Por isso a educação é fundamental para além de ensinar comportamentos, prearar tecnicamente nossos futuros profissionais.

Teremos muito mais trabalho, sim, sempre, desde que tenhamos consciência da necessidade de se preparar para o que a Terra está nos preparando. Somos infinitesimais na superfície de um planeta dinâmico. De um momento para outro poderemos estar sob cataclismos monumentais. A nossa sobrevivência dependerá de nossa capacidade de preparação para as mudanças.

Estamos vivendo uma época em que a moda é dizer que o mundo vai acabar em consequência do efeito estufa, buraco de ozônio e outras coisas. E daí? Vamos rezar? Nada mais lógico do que irmos mudando nossas instalações, cidades, comportamentos etc. de modo a suportar essas pequenas diferenças que a Natureza nos preparou. Outras muito piores poderão acontecer.

Infelizmente o padrão é pensar em estabilidade, até na inflação, esquecendo que nossas vidas dependem de um barco que de tempos em tempos enfrenta maremotos, furacões, vórtices, tempestades gigantescas. Vamos ficar discutindo as causas das tempestades ou vamos preparar o barco e a tripulação para o desafio de sobreviver?

Tudo isso significa trabalho, disciplina, vontade de lutar, e muito.





Educação


Educar filhos, ensinar, aprender junto, eis aí um grande desafio.

O melhor comando, a melhor lição é o exemplo. Em nossas atitudes mostramos concretamente em que acreditamos. Mas que exemplos? O que será melhor? Como transmitir as melhores propostas e reprimir nossas piores imagens?

Nas escolas, uma continuidade do lar, temos modelos de educação que não mostram resultados satisfatórios, falando de Brasil. Inventaram técnicas e ciências em torno do comportamento humano, mas devemos pensar com profundidade se tudo isso realmente tem sido eficaz. Com certeza melhoramos muito em relação a tempos passados, quando a criança comum era desprezada ou preparada estritamente para o que os grandes chefes desejavam. Nesse sentido uma leitura atenta do livro “Entre o Passado e o Futuro”, de Hannah Arendt (35), é uma excelente forma de se questionar muita coisa. Nesse início do século 21 há muito a ser feito para a preparação da humanidade para os desafios que criamos e aqueles naturais, tremendamente maiores que no passado, por muito pouco, não exterminaram a vida sobre a Terra (assim como a viabilizaram).

A Educação, a maneira de ensinar ética, moral, civismo, filosofia e de alguma forma injetarmos em nossas crianças e nos jovens e adultos em geral o que consideramos bom é o grande dilema que sempre enfrentamos, afinal, ajudamos ou atrapalhamos?

A sociedade, por sua vez, é ambígua, sugere um caminho e valoriza outro. O poder e a riqueza são os principais elementos de admiração e aceitação. Infelizmente o ser humano por ser um animal com vida, dependendo de uma série de fatores para sobreviver, muitas vezes aproxima-se dos poderosos para ter mais segurança, na chance dos chacais. A riqueza material é um fator de respeito e temor. Tendo-se dinheiro entra-se em qualquer lugar. O resultado é termos uma sociedade materialista, cheia de imagens falsas, cínica e hipócrita. A honestidade, o patriotismo sadio e o respeito pelo ser humano praticamente não existem nesses escalões. O que importa é a marca e o ano do carro, o clube que se freqüenta, o número, duração e destino das viagens internacionais, a grife da roupa, etc. O culto à inutilidade é a marca da alta sociedade moderna. Na sociedade de consumo a indústria e o comércio dependem da supervalorização de objetos e hábitos supérfluos.

Outros trabalham, lutam honestamente para conquistar pequenos espaços, ganhos aparentemente medíocres mas suados, justos. O que fazer para ter riqueza? Segurança? Autoridade? O caminho mais longo é o do trabalho decente e honesto. Muitos preferem atalhos...

O que propor aos filhos?

Ensina-se o que se sabe e pode.

O que deveria nos preocupar? O que seria mais importante? Saudável? O sucesso? A felicidade? A passividade? A agressividade?

Muitas religiões pregam o amor ao próximo, a caridade e até o ascetismo. Uma vida dedicada ao próximo e à própria existência é a melhor mensagem. Procurar egoisticamente preservar purezas inúteis para conquistar um lugar no paraíso é uma forma alienada de viver. Talvez por isso um santo, tendo tido uma vida absolutamente limpa, irá para o inferno se pecar gravemente segundos antes de morrer e um pecador ganhará o paraíso se souber se arrepender na hora certa. Talvez muitos cristãos não tenham percebido aí a determinação divina ao trabalho, ao exercício da vida. Para se ter uma vida santa muitos a tornam inútil. O fundamental é preparar-se para a vida e nela exercitar as melhores lições.

É interessante observar que a educação mereceria um plano estratégico a ser feito pelos pais e educadores. Diretrizes, objetivos e metas bem definidos são importantíssimos. Educadores e educandos planejando, avaliando e ajustando o processo de formação.

Os pais, principalmente, precisam conscientizar-se da imensa responsabilidade que é ter e educar filhos. Um filho é um grande compromisso com a vida, não simplesmente um objeto de prazer ou vaidade.

Muitos casais perdem seus filhos por não estudarem e aplicarem um método correto para educá-los. O problema começa pelo distanciamento, a falta de acompanhamento, a omissão. Com quem andam as crianças? O que ouvem e o que pretendem? Principalmente quando pai e mãe trabalham fora de casa, o processo educacional corre riscos sensíveis.

Em qualquer situação, contudo, é importante observar comportamentos, reações e idéias. É incrível a ignorância e alheamento de muitos casais em relação a seus filhos.

Os pais são os grandes paradigmas. Qualquer criança precisa dos pais e depende deles com uma intensidade mal avaliada. Não interessa à maioria dos adultos refletir sobre suas responsabilidades. Compreender a importância da paternidade seria inibir o divórcio, o futebol e as noitadas com os amigos, o comodismo da liberdade sem responsabilidades.

Em uma sociedade urbana moderna tem-se poucos filhos. Essas crianças precisam dos pais até como parceiros de jogos, brincadeiras.

No convívio familiar o que dizer e mostrar?

Além da religião, transmitimos valores éticos, morais. Cada família, consciente ou inconscientemente, desenvolve um padrão que os filhos apreendem, captam em suas sutilezas.

Em casa a disciplina ajudará na vida profissional e moral. A capacidade de se dedicar com firmeza a um trabalho, respeitando suas restrições, desafios, prêmios e preços é essencial ao sucesso profissional. O excesso de disciplina inibe a criatividade, mas a ausência é uma tragédia. Em qualquer ambiente cobram - se comportamentos. Saber ajustar-se é uma condição de sobrevivência. Esta disciplina pode passar pela divisão de tarefas domésticas, postura às refeições, higiene e tratamentos pessoais. Uma família harmoniosa gera pessoas felizes, ajustadas. É difícil entender a maneira com que muitos pais tratam seus filhos. Alguns mais por comodismo do que quaisquer outras coisas aceitam sem avaliação maior a vontade de seus filhotes. Dão-lhes tudo para não se incomodarem. Outros procuram oferecer aos filhos tudo aquilo que julgaram ter perdido na juventude. Esquecem-se de que educar é estabelecer limites, criar valores e mostrar padrões. A responsabilidade dos pais é intransferível, indelegável. A maior é preparar seus filhos para as lutas da vida.

Outra questão muito séria é a eleição de uma escola. É talvez a mais importante, principalmente havendo alternativas. Lá dentro o jovem formará seus valores sociais, aprenderá a identificar autoridades, valores públicos. Nos pátios escolares formará seu time, sua gangue. Participará de competições, será admirado ou rejeitado.

É comum admirar-se uma escola pela rigidez moral ou disciplina. No passado deve ter sido um bom modelo. Ainda o é para determinadas carreiras. No mundo moderno, contudo, deve-se procurar um ambiente em que a disciplina, aliada à responsabilidade dê espaço à criatividade, à iniciativa, à ousadia. Os filhos devem poder discutir com os pais o ambiente escolar, a qualidade dos professores, o rendimento obtido. Infelizmente muitas escolas têm em seus quadros pessoas sem qualidades psicológicas para o magistério Uma boa escola alia fatores positivos, desenvolve o jovem em todos os aspectos desejáveis em um cidadão livre e responsável.

Escolas mal estruturadas e mal equipadas é o padrão brasileiro.

Nos colégios, em seus portões e caminhos teremos o perigo das drogas. Em casa nunca será demais falar deste assunto com clareza e, no acompanhamento diário, observar o estado físico e mental dos filhos. Nos seus primeiros sintomas merecerão tratamento profissional e vigoroso. Cada droga tem uma relação de efeitos identificáveis com atenção. Conhecê-los e estar atentos é obrigação dos pais. A eterna vigilância é o compromisso de todos em uma sociedade que se agiganta e perde valores de cidadania.

Outro problema grave é a violência. Não é raro os pais terem os filhos como espectadores obrigatórios da teatralização de fanfarronices e brutalidades.

Pais imaturos acabam por transmitir aos filhos padrões de agressividade que mais tarde poderão transformá-los em criminosos. Os adultos muitas vezes apenas encenam personalidades, as crianças poderão assumi-las efetivamente .

No trânsito das cidades é normal vermos carros cheios de crianças sendo dirigidos por verdadeiros assassinos. Que imagens são colocadas nas cabecinhas desses meninos e meninas?

Infelizmente a violência, aliada ao egoísmo, é mais do que freqüente nos meios de comunicação. Super heróis que mais apropriadamente seriam super assassinos são mostrados como modelos idealizados de seres humanos. Sociedades guerreiras, geradoras de exércitos, apresentam paradigmas belicistas, violentos. Essas “espartas” modernas, infelizmente, são detentoras de alta tecnologia. Ciências e equipamentos desenvolvidos para suas guerras agora servem para dar lucros a empresários da brutalidade. A máquina de guerra preocupa-se em produzir soldados.

A violência gera violência. A violência produz ódios. O ódio afasta o amor, a felicidade. Torna as pessoas intolerantes, agressivas, amarguradas.

Educar os filhos para a tolerância, o amor, a humildade é uma forma de fazê-los mais felizes.

Vale a pena insistir na imagem e efeitos do automóvel. Uma forma grave de violência é induzir os filhos a dirigir em grande velocidade, a não respeitar pedestres, a ter no carro uma forma de competição e agressão. No Brasil ainda não despertamos plenamente para os aspectos negativos do transporte individual, motorizado. Todo ano dezenas de milhares de brasileiros morrem ou ficam aleijados pela imprudência de bandidos camuflados de motoristas. Talvez porque parentes de nossos ministros e legisladores estejam nesta categoria de feras ainda não se fez uma legislação severa para os crimes de trânsito.

Ensinar os filhos a se beneficiarem dos equipamentos modernos sem deles serem vítimas é uma obrigação dos pais e educadores.

O processo educacional é complexo e casos especiais exigem posturas, mensagens adequadas, ação especializada. Parece óbvio, mas a atitude de muitos é estabelecer um padrão e penalizar aqueles que não se ajustarem ao modelo.

É comum ouvir-se: “não entendo , todos foram educados da mesma maneira e são tão diferentes”. Esta é uma declaração de ignorância e incompetência. Não existem duas pessoas iguais, logo não tem sentido tratá-las, educá-las exatamente da mesma forma. A personalidade de uma criança já nasce em grande parte definida por seu código genético. Ele dirá a dimensão e ação de suas glândulas, o nível de inteligência, a forma física. Como, portanto, imaginar que um mesmo padrão educacional dará a todos os mesmos efeitos? Como penalizar uma criança que tiver outras exigências? A massificação do ensino reduz custos, mas segrega muitos que se perdem por falta de pequenos ajustes.

A simplificação de imagem é conveniente aos juristas e sacerdotes. As leis são feitas partindo-se do princípio de que existe autodeterminação. Esta fantasia tão a gosto daqueles que apreciam despachar pessoas para o inferno é prejudicial ao processo educacional. Nas escolas vivemos uma sucessão interminável de provas. Testes e mais testes dão orgasmos a muitos professores. Decidir sobre o futuro de pessoas indefesas é talvez o grande poder dado a mestres nem sempre capazes.

Não é difícil perceber as características de uma criança. Em sua espontaneidade ela mostrará sua índole com clareza. Tendo-se consciência disto os pais e educadores devem ajustar-se, pois do sucesso deles poderemos ter menos violência e sofrimentos. A habilidade e determinação darão como resultados a felicidade e o sucesso da família.

Basicamente teremos em torno da preocupação “educar” a manifestação de todos os preconceitos e frustrações dos pais e professores assim como, no aspecto positivo, a realização, a afirmação de projetos e ideais mais nobres.

A visão deste compromisso mostra a dimensão do casamento, da paternidade e da escola. Vivemos uma época de culto à vida lúdica, da competição egoísta, da afirmação de valores negativos. Neste cenário não é fácil administrar um plano, pois os pais têm contra si um mundo de vetores contrários, mais interessados em transformar seus filhos em consumidores ou em objeto de perversões.

O desafio da liberdade é vencer a liberdade dos poderosos. Eles controlam a mídia, o lazer, as religiões...

Educar é capacitar o educando a resistir a tudo isso preservando e desenvolvendo os melhores valores morais, éticos, profissionais, sociais e individuais.

Fazer com que os jovens enfrentem a vida sem ilusões de ganhos fáceis e prazeres sem compromisso. Disciplina, honra, dignidade, bondade e energia são absolutamente necessários a uma vida sadia. O grande sucesso será a tranqüilidade moral e filosófica na idade adulta. A consciência livre dos pesadelos de maldades inúteis, da frustração da inutilidade, a certeza de ter dado o máximo de si é o prêmio daqueles que fizeram de sua existência um circuito honesto, produtivo e sério.




Casamento


O ser humano vive, exige rituais, precisa de cerimônias.

Neste sentido vale a pena estudar a história do comportamento humano, familiar, social, pessoal. Duas coleções de livros, “História da Vida Privada” (36) do Império Romano aos tempos atuais no mundo ocidental e “História da Vida Privada no Brasil” (37) do descobrimento aos tempos atuais contém, para o leigo, de forma deliciosa, a história humana recente, sob esse ponto de vista.

Sabemos, com ou sem maiores estudos, que a insegurança da sociedade, reflexo das dúvidas humanas, força-nos a estabelecer contratos formais. A dúvida em relação ao futuro e a certeza da fragilidade do comportamento do ser humano geram burocracias incríveis, nem sempre razoáveis, mas necessárias em determinadas circunstâncias.

A cerimônia do casamento talvez seja a mais significativa na vida de qualquer pessoa. Assim a celebração ritual do matrimônio normalmente é um espetáculo social, cheio de pompa e circunstância. O casal afirma o desejo de constituir família, diz publicamente que viverá um para o outro, permite aos pais mostrarem que cumpriram seus deveres, tranqüiliza os censores e a guarda pretoriana, transforma a angústia dos parentes em festa da fertilidade no exercício de rituais milenares.

A amplitude do compromisso geralmente não é avaliada corretamente. Principalmente em pares jovens a mútua fascinação, a paixão e a própria ignorância não lhes deixam ver a dimensão de suas decisões. E como haveriam de fazê-lo? Falta-lhes experiência, malícia e paciência.

O namoro que precede ao casamento não mostra muitos aspectos da vida e da personalidade das “vítimas”. Questões fisiológicas, caprichos, disposição para o trabalho, para a luta pela sobrevivência só aparecerão em toda a sua plenitude com o tempo. Muitos casamentos falham porque os casais não se dedicam ao seu sucesso. A vida em comum acaba revelando detalhes eventualmente insuportáveis um do outro.

O casamento tradicional é falho como instrumento de felicidade. Teve sucesso em uma sociedade machista. A esposa era escrava do homem. Em casa a mulher dedicava-se aos filhos enquanto o homem exercitava seu império sexual até onde seus recursos financeiros e dotes físicos o permitissem. A mulher ignorante desconhecia seus direitos de ser humano. Submetia-se a toda sorte de violências. Ainda hoje vemos que grande parte das prostitutas são mulheres expulsas de casa pelos próprios pais. Famílias incapazes de aceitar erros de suas filhas, vítimas de ambientes onde a mulher ainda é vista como a virgem que servirá ao marido quando casar.

Na atualidade, em nosso mundo ocidental, em que a mulher é relativamente livre, tem profissão, luta por seus direitos, o casamento exige outras condições

É comum os velhos falarem mal dos jovens. A inveja salta de seus olhos ao perceberem que as novas gerações têm a coragem e as oportunidades que não ganharam ou conquistaram. Os mais velhos defendem as instituições a que se submeteram. O casamento tradicional é uma delas. À medida que novas formas de relacionamento familiar acontecem, surgem os conflitos. Principalmente em pequenas cidades a dominação cultural é mais sensível e odiosa. Bertrand Russel, no início deste século, falava muito deste padrão de comportamento em sua Inglaterra vitoriana. Livros como “Princípios de Reconstrução Social” (11), “Ensaios Céticos” (38) e “Ensaios Impopulares” (30) deste grande filósofo merecem ser lidos, estudados, discutidos com atenção. Continuam atuais.

Como é lindo observar essa juventude atual mais consciente, dona de si, contrariando todas as gerações anteriores, aquelas que fizeram a bomba atômica, o nazismo e as grandes guerras. A cultura tradicional, ou seja, aquela dominante há meio século, tinha os vícios da má comunicação. As teses fascistas eram vistas com naturalidade por líderes, educadores e sacerdotes. O marxismo, em oposição, pregava a luta de classes, a revolução armada. Por todos os caminhos chegava-se à violência. A nova geração mostra-se melhor que as anteriores, o que também é natural. Vivemos em um mundo de grande volume de informações, de viagens, turismo como nunca se imaginou possível. Graças a tudo isso se adquire cultura sobre bases mais realistas. O efeito sobre a família é violento. As afirmações e posturas dos pais são questionadas, comparadas.

A televisão é uma janela para o Mundo. Por ela vêem-se padrões e comportamentos de toda espécie. O principal foi quebrar tabus. Os aquários em que se criavam os filhos acabaram. O desafio dos pais é serem convincentes. O desafio da família é existir dentro dessa realidade. O maior desafio dos casais é continuarem unidos apesar de todos os apelos à infidelidade, à irresponsabilidade e à aventura.

Não há como negar que o casamento é uma fonte de renda para sacerdotes, cartórios e advogados. Aos pais também é um momento importante, pois acena com promessas de uma descendência e patrimônio administrados e, evidentemente, a realização dos sonhos de felicidade dos filhos. A sociedade tem aí a promessa de mais operários, soldados, intrigas, notícias e tudo o que a multiplicação humana produz.

O amor, felizmente, é o grande impulsor à união permanente. Os jovens, principalmente, têm vitalidade e pureza para se apaixonarem. A atração pelo ser humano desejado surge com sentimentos de admiração, sensações de prazer e paixão que marcarão suas vidas para sempre. Manter esse espírito é o desafio de quem pretende sustentar uma relação saudável, gostosa e dignificante.

Mas nem só o amor gera casamentos. Fugir de casa, a esperança de uma vida melhor financeiramente, uma gravidez precoce, medo da opinião pública, tradição e proteção são talvez fatores mais freqüentes. Assim é muito importante ter-se muita consciência do que se faz para não ser vítima de um processo que trará grandes efeitos sobre a vida futura.

Em princípio o casamento formal em uma sociedade moderna só teria sentido para dar-se aos filhos ambiente e condições legais, morais, sociais e psicológicas para viverem. Para uma criança é extremamente cruel crescer sem pai e mãe. São frágeis, não pediram para nascer, precisam da segurança de uma família. Um lar constituído e feliz ser-lhes-á infinitamente melhor do que nascerem e crescerem sem uma base sólida, bem definida.

O pesadelo de uma família desunida, sem amor, em clima de conflito, é um desastre para as crianças e jovens. É visível o trauma causado pelas desavenças do lar. Se em casa não encontram harmonia, inteligência e amor, onde achá-los?

O ideal seria que os casais passassem por um período de vida em comum antes de confirmarem o desejo de se unirem em cartórios e igrejas.

Qual o risco que se corre? Um e talvez o pior seria o da vulgarização do processo. A mulher, de uma maneira muito especial, ficará sujeita ao perigo da degradação, promiscuidade e rejeição. Ela deverá ter um cuidado maior ao pretender viver com alguém. Até porque o homem tende a procurar outras, deixando para trás aquelas já conquistadas...

O grande erro de muitas moças é renunciar a uma profissão, à sua própria independência financeira em favor de uma união que a destruirá, que poderá torná-la uma simples dependente. Mulheres inteligentes, com grande base cultural, acabam tendo uma vida medíocre, muitas vezes cheia de humilhações, porque se submeteram a um homem. Essa submissão vem da tradição, da tirania dos pais e da própria sociedade. Vale aqui citar um clássico: “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” (39). Neste livro poderemos, talvez, encontrar a melhor explicação para o relacionamento “homem x mulher” na sociedade.

Um fenômeno visível nos países do primeiro mundo é a ascensão das mulheres e a pequeníssima fertilidade dos casais. Uma razão simples é a necessidade de rendimentos maiores, condições habitacionais restritivas e hábitos de consumo maiores e mais sofisticados. O salário da esposa torna-se importante. De qualquer forma, sob o pretexto que for, a dependência deve ser evitada, eliminada.

A liberdade é vital à evolução do ser humano.

A democracia e a civilização exigem lares de pessoas livres e responsáveis.

Entre as causas de casamentos entre jovens a gravidez precoce deve estar entre as principais. É algo que se abate sobre milhares de jovens a cada mês. Nessas ocasiões surge uma questão moral, ética de extrema gravidade. O dilema entre o aborto e o casamento.

Se o casamento é uma temeridade, o aborto é um crime covarde.

É inacreditável ver tanta gente defendê-lo. Pessoas radicalmente contra a pena de morte lutam pela legalização do aborto irrestrito. Sua defesa é uma demonstração da maneira superficial com que muitos de nós raciocinamos.

Quando a vida começa? Vivendo em uma sociedade egoísta, insensível, competitiva, talvez possamos aceitar o aborto como um crime menor. Afinal milhões são condenados à morte por falta de alimentos, assistência médica, habitação, dignidade.

Em um mundo em que o individualismo é valorizado ao extremo, nada mais natural que a lei das selvas. A violência é norma. Saber usá-la é virtude.

Quem chora pelas crianças que não saíram vivas do útero de suas mães? Seus pais têm o direito de condená-las à morte? Não seremos todos responsáveis?

O aborto não é solução para uma gravidez indesejada. A família é a principal responsável, cabe-lhe manter esta criança. A criança é responsabilidade de todos e principalmente daqueles que a geraram. Mas não deve ser pretexto para qualquer casamento. Unir-se a um indivíduo idiota, malandro, desonesto e irresponsável só porque dele teve o espermatozóide fatal é um terrível equívoco. Nestes casos é preferível procurar o apoio da família ou amigos, pois conviver com alguém sem qualidades mínimas para o desafio do casamento é arriscar-se a agravar a situação. Um erro não justifica outro.

Graças à AIDS o uso de preservativos é proposto em rádios e televisões. Os meios de comunicação aderiram ($) à educação sexual. Ótimo! Talvez este seja o grande favor que a AIDS esteja prestando à Humanidade. Saber evitar a concepção é fundamental a uma sociedade que pretenda ser sadia. Programar a gravidez é muito importante à felicidade dos casais e de seus filhos. E o ideal é tê-los na certeza de que encontrarão um lar feliz, saudável, próspero e ansioso pelo novo rebento.

Outro aspecto sensível é a sintonia social. O casamento une famílias. O que isto significa? A necessidade de convivência com pessoas que irão opinar sobre a vida um do outro, o sucesso profissional, religião, educação etc. Principalmente morando perto de parentes, estes terão influência no sucesso ou insucesso do casal. É impossível ser feliz quando se torna objeto da vontade de outros que não aqueles dentro do próprio lar. A menos que o caráter, a personalidade dos parentes seja não intervencionista, o ideal será morar bem longe deles.

Compatibilidade de gênios e de cultura é essencial à vida em comum.

A conversa do dia a dia, o gosto pelos esportes, música, cultura de modo geral será motivo de conflitos e confraternizações na vida familiar. A conversa de um casal enamorado é romântica, em torno de flores e amores. Após algum tempo de vida em comum o diálogo migrará para o mundo real. O sexo, resolvido durante a noite, dará lugar a outros fatores de contato. Assim a afinidade será cobrada com rigor. Um erro de avaliação poderá custar caro.

Por tudo isso o casamento formal e a geração de filhos merecem extremos cuidados. Um casal feliz é uma unidade forte, poderosa. O amor constrói belos edifícios. Saber o que é o amor e tê-lo como base de um relacionamento permanente é ter o paraíso na Terra. Não podemos esquecer, contudo: para que o amor exista e resista muitos pontos de harmonia são necessários.

O casamento deverá ser o resultado de um longo processo de aproximação. Dele virão os filhos. Eles deverão encontrar pais felizes e capazes de sustentá-los. O futuro da humanidade dependerá mais da paternidade consciente e responsável do que de qualquer outro fator social.

A formalização de uma união e a geração de outros seres humanos não é brincadeira, espetáculo pirotécnico ou exercício de cartório.

Toda poesia tem espaço em um relacionamento sem filhos e compromissos. O relacionamento livre e responsável é necessário. Através dele, mais cedo ou tarde o amor consolidar-se-á acusando a conveniência de um casamento do qual virão filhos felizes e saudáveis.




Sexo


Nada se compara ao sexo como fator de estimulação e ordenamento da vida. Sob todos os aspectos a definição sexual influi na formação física e psíquica de todos os seres humanos. Já nas crianças pequenas os hormônios vão marcando posturas, idéias e formas que explodirão na puberdade.

Freud30 sofreu muito por entender o poder da sexualidade, iniciando lógicas e descrevendo situações que lhe valeram muita hostilidade em seu tempo. Sobre suas teorias e descobertas desenvolveu-se uma ciência poderosa e extremamente importante, a Psicanálise31.

O jovem carrega todo o peso e o prazer de sensações e sentimentos que, bem administrados, farão dele um adulto saudável e feliz. Infelizmente muitos preconceitos tornaram o sentimento sexual algo pecaminoso, sujo. O instinto sexual é maravilhoso e essencial à vida. Sua importância transcende a inteligência da grande maioria das pessoas consideradas racionais. Seu caráter animal dá-lhe uma imagem negativa, principalmente diante de pessoas educadas para temê-lo. O desafio da criança, do jovem e adulto é administrar este sentimento com dignidade e responsabilidade sem lhe tirar o imenso potencial de prazer e de estimulação do amor.

Nossa geração dos anos sessenta, século vinte, viveu a implosão do edifício rígido e preconceituoso do comportamento sexual na sociedade dita civilizada, temos muito a lembrar.

Compreender e aceitar sua sexualidade são vitais ao bem estar, à própria saúde.

Infelizmente temos em torno do sexo muitos tabus, uma história repressiva, preconceitos doentios. Não é difícil compreendê-los. A idade das trevas é recente e persiste em muitos lugares do planeta. Indivíduos frustrados tornam-se censores, críticos daqueles que expressam sua felicidade e liberdade. Religiões construídas em passado distante ainda governam pessoas muito próximas. Tabus e preceitos feitos para florestas e desertos estão presentes à nossa volta.

Muito da repressão foi estimulada sutilmente para aumentar a agressividade, a disposição para certos trabalhos e para o controle filosófico que explora os mistérios de corpos e mentes em transformação e cheios de atrações compulsivas.

Soldados lutam melhor se a tensão sexual estiver exacerbada, sacerdotes lucram com o sentimento de culpa do prazer oculto pelas regras puritanas.

Como viver de forma saudável? Quais são os limites? Como tirar o máximo de proveito de impulsos tão naturais quanto misteriosos? E suas conseqüências? O que é justo aceitar?

Basicamente é fundamental que as experiências não sejam forçadas, venham a seu tempo, corpo e mente amadurecendo.

Atrasar o processo é vantajoso quando lembramos a necessidade de independência financeira, do emprego, do famoso dinheiro. Nas selvas o “homo sapiens sapiens”32 podia comportar-se como um coletor e predador. Muito cedo este selvagem aprendia a sustentar-se e a procriar. Na selva de pedra há diferenças, em especial a dificuldade de sobreviver e sustentar sua prole. Assim é importante que atenção seja concentrada na prática de esportes, nos estudos, no desenvolvimento profissional e cultural até poder governar-se e responder por seus atos.

Brasileiros, vivemos em um país mítico em que se arbitrou ser a nação responsável por tudo e por todos, inclusive nossos desmandos sexuais. Para não se ter a infelicidade de se transformar em demonstração dessas utopias, devemos ser cautelosos e compreender que pagaremos caro, nossos filhos muito mais, se não controlarmos nossos impulsos sexuais. A vida sexual exige prudência, pois seus efeitos na própria personalidade e todos os riscos inerentes à sua natureza são muito grandes. A vulgarização, sua transformação em simples “esporte” trará conseqüências danosas a pessoas que deveriam ser motivo de carinho, respeito e amor.

O sexo é dinamite. A estimulação precoce causará uma infinidade de problemas que o jovem não terá como resolver.

A prática sexual leva ao relacionamento íntimo com um parceiro(a). A troca de experiências, prazeres e atenções faz do casal uma dupla em que as portas da intimidade estarão mutuamente escancaradas. Nesse momento o respeito recíproco ganha um significado especial. Compreender a importância dos segredos, das confidências, de intimidades tão guardadas é um ato de humanidade, de grandeza moral. À medida que macho e fêmea se respeitarem o relacionamento mais íntimo virá como um ato de amor e com o compromisso de não magoar, não ofender. Um aspecto terrível do sexo é ser instrumento de agressão e de afirmação pessoal. Ninguém precisa provar a estranhos sua postura sexual. No momento certo as oportunidades virão.

Compreender e amar o próximo são leis divinas. No relacionamento sexual teremos a maior prova de compreensão desta lei.

É óbvio que todos estão sujeitos a erros de avaliação. Nem sempre a boa qualidade de um contato social confirma-se no ato sexual.

É importante haver experiências antes da consolidação de um casamento. A ignorância torna as pessoas frágeis. Para que um jovem desenvolva sua visão e sentimentos em torno do sexo ele precisará conhecer e vivenciar seus segredos. Muitas armadilhas colocam-se no caminho dos jovens pares amantes. Precisam ter uma boa dose de convicção de seus sentimentos antes de resolverem procurar um cartório, arranjar sogra e sogro, ter filhos.

Amar não é sinônimo de “transar”. Lamentavelmente usa-se a expressão “fazer amor” para a consumação do ato sexual. Talvez por isso muitos vivam sem saber o que é amar. Infeliz o que não souber distinguir as duas coisas. Devemos sempre ter a intenção de amar. A aproximação sexual exige atenção, afeto para não brutalizar nem sujar um ato que no mínimo é o preâmbulo da vida.

Outro aspecto importante é a relação entre o sexo e uma coleção de doenças. Saber identificá-las, evitá-las e, principalmente, procurar assistência médica ao primeiro sinal é condição de saúde, higiene. Em tempos de AIDS é questão de sobrevivência. Os preconceitos atrapalham. Vencendo esta barreira deve-se procurar instrução em literatura apropriada, educadores e, evidentemente, os próprios pais.

É importante lembrar que em torno dos hormônios despejados no organismo para construção e operação do padrão sexual do jovem, excessos e deficiências criarão perturbações até graves. Em especial a violência, a agressividade poderá surgir causando conflitos de toda espécie. Por essas e outras a legislação sobre o menor tem a prudência de protegê-lo, de considerá-lo menos responsável. Aos pais cabe o dever da vigilância, da orientação e do acionamento de especialistas. O corpo humano é uma máquina exigente, carente de cuidados permanentes.

Mas com tudo e por tudo a definição sexual traz a maravilha da mútua atração, de imensas possibilidades de prazer e, acima de tudo, o sentimento do amor mais intenso e gratificante.




Amor


Quantas espécies de amor existem? De quantas maneiras pode-se amar? Qual a intensidade máxima? A duração possível? Qual é a melhor forma de amar e ser amado?

Poucas palavras são tão usadas quanto “amor”. Poucos sabem o que é amar.

O amor é o principal caminho rumo à felicidade. Muitas religiões dizem, mostram, afirmam direta ou indiretamente que o paraíso será atingido por aqueles que souberem amar. Os fundadores dessas seitas, em suas conjecturas a respeito da natureza humana, devem ter percebido quanto é importante encher o coração de ternura, afeição e até paixão pelo ser humano, a vida, a natureza, o universo, pela obra do Grande Arquiteto do Universo. Querer a felicidade de todos, desejar o bem até a nossos inimigos é algo que exige muita capacidade de compreensão da vida. Lembrar que tudo o que vemos é uma conseqüência de fatores diversos e alheios à vontade de todos, que somos o produto de circunstâncias aleatórias e determinadas pelo circuito de eventos naturais é necessário para que saibamos perdoar, querer, ser e, acima de tudo, desejar o sucesso de existências as mais diversas.

Somos, contudo, animais eventualmente racionais. A lucidez não é nossa grande virtude. Nossos corpos gritam necessidades que imperam sobre nossas inteligências. Escravos dos instintos, nós agimos sem muito pensar. Há, contudo, uma consciência imersa dentro de nossos cérebros. Percebemos quando erramos. Intuitivamente notaremos mensagens dizendo-nos que no excedemos. Talvez seja oportuno falar no plural. Vale um pouco de filosofia. O desafio de questões como: “Quem nós somos? Realmente puros indivíduos? Não seríamos parte de um todo? De uma grande inteligência?”.

Vivemos sob o império de ordens genéticas responsáveis pela sobrevivência da vida. Todos os animais têm a determinação da sobrevivência. A atração pelo sexo oposto é dominante. O resultado é sermos movidos por forças alheias à inteligência fria. O pensamento, a análise, a lógica dos fatos visíveis é apenas um pequeno sinal do infinito sob a capa de um grande mistério. A vida, com toda a sua complexidade, ainda não encontrou quem a explicasse razoavelmente. Vemos e ouvimos frases de efeito, simplistas, metafísicas. A verdade pura, entretanto, provavelmente nunca será conhecida.

No mundo concreto, visível e compreensível por nossa pequeníssima inteligência, sentimos o império do sexo. As relações humanas, impregnadas por nossos instintos, dizem-nos o que fazer. O sentimento do amor, em suas formas primárias, é onipresente. Nisso tudo qual é a forma de sua manifestação?

Os jovens são as principais vítimas das convenções. Entre muitas o que se diz ser amor é a principal armadilha.

O sentimento de posse, a procura da segurança, a luta pela sobrevivência, os padrões sociais e econômicos fazem do amor instrumento de conquista e afirmação. O verdadeiro ato de amar é ignorado, desprezado até, e por isto mesmo algo literário, poético e pouco freqüente.

Muitos casais se formam acreditando amar-se o suficiente para enfrentarem juntos os desafios da vida. Mais tarde, ao virem a descobrir grandes amantes, sentirão, então, toda a extensão possível do sentimento de amor, apaixonante, envolvente, gratificante.

O amor sexual, tendo junto a admiração cultural, gera uniões poderosas. Casais assim formados poderão vencer barreiras inimagináveis. A suprema felicidade será companheira.

O amor tem sua forma social também. Senti-lo em relação a todos, na satisfação de querer o bem, a felicidade para todo ser humano é algo que torna as pessoas solidárias, positivas. Infelizmente a hipocrisia também existe. Quantos dizem amar o próximo quando realmente só procuram garantir um lugar no Céu ou alguma notoriedade?

O amor é antes de mais nada um sentimento de ternura, simpatia, bondade e altruísmo. O amor não é egoísta. Querer ter deve ser apenas conseqüência de uma admiração pelo objeto de afeição. O amante verdadeiro, antes de mais nada, quer a felicidade do ente querido. O desejo sexual, natural quando o afeto surge entre pessoas que se atraem fisicamente, fará com que o amor se manifeste em sua forma mais intensa. Quando isto acontece teremos duas pessoas apaixonadas, escravas uma da outra. A felicidade é tão grande que compensa até o risco de perdê-la. A vontade de abraçar, beijar e transar é imperiosa. Perder a oportunidade de viver momentos de amor é renunciar à vida. Um grande amor, ainda que temporário, vale uma vida. Quem sentiu o amor sexual em sua plenitude sabe quanto é válido encontrá-lo, senti-lo mesmo que por pouco tempo. É um sentimento que absorve todas as energias, mobiliza todos os sensores, enche de vida cada centímetro de pele, bloqueia outras preocupações. Qualquer lado que se olha, vê-se o ente amado. Os pensamentos convergem para os momentos de ternura, de carinhos que não param...

Falar sobre o amor é descrever um conjunto de sentimentos que se manifesta em muitas escalas. A suprema felicidade, ainda que temporária, é o prêmio a quem sentir e viver um grande amor.

Devemos amar a natureza, a vida, o ser humano. Não seria esse o primeiro mandamento da lei mosaica?

O amor em todas as suas manifestações também gera tristezas. A perda do ente amado, a infelicidade de ver a violência, os conflitos, as guerras entre tribos e nações são motivos de angústia, infelicidades até brutais. Aceitar o desprezo de quem se ama é terrível assim como é difícil compreender os radicalismos, o fanatismo e a mútua destruição por utopias, fantasias, objetos e espaços que poderiam ser tão bem compartilhados.

A incapacidade de amar talvez seja a doença mais grave de muitos de uma população que não encontra solução para suas contradições.

O amor completo, permanente, exige seriedade, responsabilidade e compromisso. Um ser inteligente não pode ignorar as conseqüências dos seus atos. Isto significa compreender os efeitos de uma aproximação, avaliar e responder por suas atitudes. Como exemplo das contradições da vida vale lembrar o comportamento de muitos que lutam pela justiça social, assumem riscos enormes na vida pública e, entretanto, tratam suas namoradas como produtos descartáveis, ignoram filhos ...

O amor e o sentimento de justiça são as grandes marcas de um indivíduo civilizado.

Um aspecto empolgante no sentimento de amor é como ele envolve a pessoa quando despertado pela presença de alguém que a fascine. Compreender e dominar a revolução que acontece no corpo e na mente à aproximação do ser amado, desejado, administrando-se para que suas atitudes não sejam uma agressão e sim a manifestação do mais puro sentimento de carinho é uma demonstração de maturidade e autocontrole. A liberação dos instintos deve ser precedida da consciência de todos os possíveis efeitos. Esta é talvez uma postura impossível, mas desejada. A pior conseqüência do amor sexual é um filho indesejado, inoportuno. Uma criança é uma grande responsabilidade, a afirmação da vida, um compromisso com o futuro. Por isso um casal deve refletir muito sobre o que faz. E neste ponto vemos muito pouco de orientação nas escolas e na mídia. Ao contrário, romantiza-se o amor e não se mostra seus riscos. As novelas são entre famílias ricas, quando não, alguém ganha na loteria e tudo se resolve. Planejamento familiar é assunto praticamente desconhecido.

E os outros padrões de amor? Percebemos na pele, no peito, nos olhos e ouvidos o prazer de sentir belos quadros, músicas, veludos, frases... Gostamos, queremos, desejamos e amamos. Assim a sociedade se movimenta. Estamos sempre procurando objetos e sensações que amamos. Entramos em sintonia. Corpo e alma vibram em muitas freqüências. Temos um padrão complexo de ressonância. Assim sentimos, gostamos. Esta capacidade extremamente sutil de querer sem pensar, de sentir, de ver sem saber, aproxima-nos de Deus. Nossa metade não aritmética do cérebro atua com seus algoritmos misteriosos, não lineares, probabilísticos e geniais. Desenvolver estes sentimentos é gratificante. A vida ganha colorido, alternativas. Saber amar uma bela paisagem, o barulho de um riacho, da chuva, o cheiro da terra molhada pelas primeiras águas, o perfume de uma orquídea, uma rosa é uma qualidade divina, lúdica, prazerosa. Enfim a vida nos concede muitos sabores que se transformam em amores tão refinados quanto formos capazes.

Mas um grande amor é aquele que atingimos quando nosso coração se abre. A capacidade de ver e amar a natureza como um todo é privilégio de alguns em sua mais elevada escala de aprimoramento intelectual e moral. É a perfeição.

Dominar o ódio, os ressentimentos, integrar-se à natureza deve ser o projeto de todo aquele que realmente quiser entender a vida.

O amor é nosso objetivo, por ele seremos felizes ao mesmo tempo em que saberemos ser úteis.




Fidelidade sexual


Um desafio de um casal, na atualidade, é manter-se unido apesar de todos os desvios do comportamento arbitrado ao decidirem viver juntos. O ambiente hipócrita de até bem pouco acabou. O clima de arbitrariedade e de intervencionismo escondia questões semelhantes às de hoje. A liberalização de costumes mostra aspectos da vida humana com mais clareza e vemos, atualmente, o que sempre existiu. No passado a censura escondia e, nos traumas dos pecados, as perversões talvez fossem maiores.

No mundo ocidental a abertura política, social e econômica das mulheres assim como a liberação sexual levou-as a participar dos direitos e deveres masculinos, entre eles o de esquecer os padrões morais rígidos de poucas décadas atrás. Esta condição criou conflitos pesados nas propostas de fidelidade entre casais. Os direitos que os maridos julgavam ter agora também atingem suas esposas. Principalmente as mulheres mais lúcidas e cultas se insurgem contra os privilégios masculinos.

As aventuras amorosas são perigosas. Os casamentos duram menos, as separações tornam-se rotina. Isso não é bom, os grandes perdedores são as crianças, que acabam desamparadas e sem pais que lhes farão falta em suas fragilíssimas vidas. A sociedade ainda não desenvolveu uma alternativa para lhes dar carinho, proteção e educação.

Tudo isso contribui para mudanças de planos e vidas. Entre os muitos fatores de dissolução familiar, obedecendo a códigos antigos, está a infidelidade conjugal. Até onde seria aceitável? É motivo para uma separação?

A promiscuidade sexual sempre foi considerada nociva em qualquer sociedade razoavelmente lúcida. Fatores higiênicos, principalmente, condenam a multiplicação de parceiras(os). A intimidade do contato sexual é muito grande. Fazê-lo sem amor é usar as pessoas para um apetite que as destrói. O principal prejuízo é vulgarizar um ato tão maravilhoso e importante, levando seus atores a uma visão primária do contato entre seres humanos. Nessas condições, pessoas unidas pelos votos do casamento tendem a se perder. O matrimônio terá sido um erro. Filhos, existindo, terão o desprazer de não poderem ver seus pais como um par único. Em cenários onde o modelo clássico é mantido, as crianças poderão ser agredidas pelos prazeres dos pais.

Entre o extremo da promiscuidade e o da fidelidade absoluta há muitas situações possíveis. É comum ouvir dizerem que seria normal um caso, uma experiência eventual. Curiosidade, paixões momentâneas, vinganças e tentativas de conquistar outra pessoa são motivos freqüentes de aventuras mais ou menos profundas. Qualquer que seja o rótulo afetará para sempre o comportamento das pessoas envolvidas. As marcas dependerão dos sentimentos que despertarem e do grau de maturidade de cada um dos parceiros nesses jogos sexuais.

É interessante notar como a vida inteira todos exercitam jogos sexuais em todos os ambientes que freqüentam. A conquista, o flerte, o ensaio é até óbvio em festas e encontros de amigos. Nos locais de trabalho, por exemplo, vemos na maneira de se vestir, no tom da voz, nos maneirismos a sexualidade falando. A sensualidade é muitas vezes suficientemente forte para levar casais eventuais às últimas conseqüências.

Alguns padrões clássicos contribuem muito para investidas, entre elas um razoavelmente comum é o machismo, o problema de afirmação pessoal. Curiosamente parece que certos indivíduos duvidam de suas qualidades, precisando testá-las permanentemente. Outros simplesmente mostram-se escravos de instintos naturais, importantes em espécies ameaçadas de extinção, mas perigosos em uma sociedade contaminada pela AIDS33, sífilis34, herpes35 e outras doenças razoavelmente perigosas.

A mídia, o culto à moda, o estrelismo levam muitos a fazerem coisas contrárias a tudo o que lhes seria recomendável. O resultado poderá ser a infelicidade, a perda de paradigmas sadios e a frustração após uma vida vazia.

Os casais estão sujeitos a todo tipo de tentação. Principalmente quando são constituídos por indivíduos atraentes, a probabilidade de se envolverem com outras pessoas é muito grande. Nessas condições é fundamental haver um espírito de tolerância e muito amor. A capacidade de se respeitarem e de compreenderem situações eventuais é essencial ao sucesso de um casamento. Raros são os casais que permanecem unidos por muitos anos sem qualquer acidente. Exceto naqueles realmente sem capacidade de envolvimento, a infidelidade surgirá mais cedo ou tarde. E como reagir quando a(o) companheira(o) souber?

Talvez no altar o padre devesse fazer esta pergunta aos noivos: continuarão unidos mesmo diante de alguma infidelidade eventual?

A sobrevivência de uma família depende da capacidade de superar dificuldades. Ela é formada para que se dê um lar a crianças que deverão ser o produto do amor. Os sentimentos mudam. Dormimos com um estado de espírito e acordamos com outro. Por diversas razões biológicas e culturais mudamos sempre. Fazer afirmações sobre sentimentos futuros é desconhecer a própria natureza humana. Como diria Vinícius: “O amor é eterno enquanto durar”. Nada justificaria juras de fidelidade, convivência e amor que não fosse para criar os filhos gerados nessa união. A ausência deles dá aos casais a liberdade de qualquer separação, da procura de outros caminhos. Tendo-os haverá o compromisso de criá-los, educá-los, prepará-los para viverem felizes e dignamente. Este aspecto do casamento é muito importante. Não há necessidade de leis nem de sacerdotes para se perceber como a união dos pais é necessária.

Isso significa conter orgulhos, vaidades e paixões. Pai e mãe deverão sempre pensar nos efeitos de suas decisões na vida de seus filhos. Se um erra, o outro deverá procurar agir de modo a minimizar os efeitos de falhas que todos possuem. Muitas vezes dá-se à questão sexual uma importância muito acima da real. O parceiro ofendido acreditará ter o direito de agir com violência, tumultuando um lar até então feliz e saudável.

No amor o grande crime é destruí-lo.

A infidelidade não é, obrigatoriamente, sinal de desamor, até porque pode-se amar muitas pessoas ao mesmo tempo. É um modelo falso apresentar o amor como sentimento exclusivo de um casal. É fácil apaixonar-se por pessoas que admiramos, principalmente se essas pessoas reunirem qualidades físicas e intelectuais sintonizadas às nossas.

Os filhos são o fator excludente. Para criá-los há necessidade de concentração de afeto, recursos materiais, atenção. Para termos o direito de gerar descendentes, a fidelidade e a dedicação à família são vitais. Nesse sentido merece uma leitura atenta os livros Freakonomics (40) e Super Freakonomics “ (41)” e que nos surpreendeu com análises surpreendentes sobre os EUA, especialmente sobre a violência, a adoção do aborto etc.

Proíbe-se o histerismo, a imprevidência e a violência.

Com serenidade e inteligência e muito amor deve-se julgar situações que abalem um lar, por mais constrangedoras que possam ser. Cuidado com a opinião de estranhos. Ninguém pode avaliar com precisão o que um poderá representar para o outro. Decisões de casais a eles pertencem.







Deus e Vida


Quando garoto tive a oportunidade de observar uma seqüência que poderia retratar bem o que é a vida. Numa tarde de verão, num daqueles aguaceiros típicos de Blumenau, poças de água se formaram no solo argiloso em frente de casa, na rua. Naquela época o uso de automóveis era um luxo de poucas pessoas. A chuva passou. Brincando na rua notei a formação de um limo no fundo de uma poça d’água. Algumas horas mais tarde aquela camada verde já se apresentava espessa. No dia seguinte ela flutuava sobre a água. À tarde desapareceu com a própria água. Assim em algumas horas toda uma cultura vegetal se desenvolveu, atingiu sua plenitude e desapareceu. O mistério da vida, seu aparecimento, temporalidade e beleza estavam naqueles litros de água e através deles a imagem de Deus.

Um grande espetáculo dão as flores. Surgem bem devagar, abrem suas pétalas sem pressa, atingem o ápice de sua maturidade em alguns dias. Algumas produzirão sementes. Durante um tempo encantarão pela beleza, algumas também com perfumes inebriantes. Murcham e caem. O ciclo da vida completou-se para estas demonstrações de arte e beleza, da complexa dinâmica da natureza.

A vida é a oportunidade que a matéria encontra de apresentar-se com mobilidade própria, capacidade de multiplicação, transformação, agregando-se algo que tem sido motivo de muita polêmica, guerras e religiões, o espírito.

Aprendemos, infelizmente, a respeitar basicamente apenas a vida humana. Esta cultura fez do ser humano um predador gigantesco. A Terra transforma-se sob suas mãos. Todas as formas de vida sofrem sua presença.

Mas a vida por si só é algo fantástico. Em todas as suas formas mereceria nosso respeito. O que a Natureza é capaz de produzir? Não é a vida o que mais fascina? A vida não é, de acordo com as bíblias, o último ato da Criação?

Quando falamos de ecologia e ambientalismo costumamos raciocinar com o que nos afeta, com o que põe em risco direto nossa existência. Mas todo o conjunto é importante, fazemos parte de um mundo que era rico em formas de vida, de imagens fantásticas, ricas. Paulatinamente estamos destruindo, matando. Parece até possível existirmos dentro de grandes ampolas, cercados de máquinas e tubos. Seres humanos viveriam felizes confinados em ambientes pasteurizados, sem outras vidas que não as suas?...

A vida civilizada que pretendemos não é essa, alienante e mecanizada.

A felicidade, requisito básico na motivação pela vida, exige sentimentos de integração, contato com a natureza em sua forma básica, primitiva e luxuriante.

Os povos primitivos acreditavam em deuses pelo medo, o pavor da fome, das doenças, da morte. Cerimônias de todo tipo eram feitas para agradá-los. Na ignorância em que viviam denominavam as forças da natureza como deuses coléricos, bondosos, criativos e caprichosos. Nesse sentido uma leitura extraordinária e divertida é da obra de Domenico De Masi, destacando-se “Criatividade e Grupos Criativos” (15) onde podemos ver a descrição que faziam do céu e do inferno alguns filósofos clássicos. A visão antropomórfica de Deus mais do que justificou livros como o de Bertrand Russel, “Por que não sou cristão” (42) assim como levou alguns a escrever livros belíssimos como, por exemplo, “Sidarta” de Hermann Hesse (29).

A evolução da inteligência permitiu-nos compreender os raios, as colheitas e doenças, mas a vida em si continuou e até aumentou seus mistérios. Não conseguimos ficar sem explicações.

O que entendemos? Qual é o conceito de Deus? Não seria o conjunto das leis naturais que governam o Universo? Nada mais prosaico, simplório e simplista do que dizer que Deus é o criador de todas as coisas, e quem fez Deus? O que Ele estaria fazendo antes?

Como acreditar em Deus? Como perceber sua presença?

Todo o sentimento da existência de Deus vem da observação da natureza e, em especial, da vida. A complexidade de uma simples abelha, o conjunto de detalhes que se completam, sua interação à colméia, faz-nos duvidar da aleatoriedade de combinações que no tempo e na quantidade de exposições de átomos e moléculas possibilitaria a formação deste inseto. Quando ainda, olhando em volta, vemos milhões de espécies de animais, plantas e insetos, compreendemos que as explicações científicas estão longe de convencer. Há muito que estudar, pensar e sentir.

O amor à natureza e à vida significam atenção a uma vontade que não compreendemos mas percebemos. O raciocínio, a inteligência e a cultura aumentam o mistério. Na cadeia evolutiva, entre os animais, alguns quase nada pensam, outros raciocinam mais. A natureza parece um grande mosaico, cada planta, animal cada pedaço de pedra parece ajustar-se, um ao lado do outro, formando uma seqüência de seres e objetos que, em si, demonstram uma lógica surpreendente.

A vida é fascinante, merece todo o nosso respeito e a certeza de que expressa uma demonstração de poder e perfeição...

A valorização da vida não deve ser apenas produto de retórica. Precisamos lutar para que evolua para uma condição de respeito e dignidade. O processo político é extremamente importante. Muitas ideologias pregam o individualismo, a segregação de raças, religiões. Lutando por uma melhor distribuição de renda, para a garantia dos direitos básicos do cidadão estaremos no caminho de uma vida mais feliz, decente.

Se Deus nos criou inteligentes foi, certamente, para que utilizássemos esta qualidade no aprimoramento da vida e da natureza. Não foi para construir armas e venenos que um cérebro foi colocado acima de nossos pescoços.

A grande responsabilidade da inteligência é que ela é a nossa ligação com Deus. Se pode haver alguma semelhança com o Criador, será nesta característica do ser humano. Respeitando esta condição devemos fazer o melhor uso possível dela. O mau uso da inteligência é uma blasfêmia, é uma ofensa a Deus

A vida é o resultado do sopro divino sobre a matéria.

Com inteligência e vontade poderemos transformá-la em uma canção maravilhosa, em uma divina mensagem de paz e amor..




Inteligência


O que é inteligência? Qual a sua importância? Somos racionais? De que forma? Quantos tipos de inteligência existem? Como ela se manifesta?

Antes de qualquer coisa é bom lembrar que não escolhemos os pais que tivemos, a saúde, os acidentes, o lugar em que nascemos. Somos o produto de inúmeros processos, a maioria fora de nosso controle. Ninguém poderá ser ridicularizado, agredido, menosprezado por ser menos inteligente ou hábil para qualquer atividade. Pessoas menos dotadas poderão concentrar sua atenção em detalhes que outros mais capazes não teriam interesse. Há espaço para todos e todos merecem respeito enquanto pessoas honestas e trabalhadoras. Os mais brilhantes não deverão esquecer nunca que muitas doenças e acidentes poderão reduzi-los a níveis de imbecilidade que agora ridicularizam...

Evidentemente nossas limitações criam restrições, frustrações e fracassos.

A inteligência tem formas bem diferentes de manifestação. Diferentemente da cultura que é ter conhecimentos, a inteligência é a capacidade de raciocinar sob os mais diversos estímulos. A origem destes impulsos, caracterizando as formas de existência, indica habilidades, potenciais que devemos explorar. A inteligência é a capacidade de deduzir, induzir, memorizar e, assim, compreender e manipular a natureza em suas formas de manifestação.

A racionalidade é uma característica variável entre os seres humanos. O homem é um animal eventualmente racional, quando o é. Em seu conjunto poderíamos dizer que a humanidade é levemente racional. Muitos estudos tem sido feitos dizendo que a idade mental social gira em torno de alguns anos, praticamente na primeira infância. Não fosse assim como explicar a submersão de nações teoricamente ricas e cultas nos braços do nazifascismo? No fanatismo racial? Xenofobia? É preciso ser muito idiota para acreditar nas besteiras que os líderes dessas ideologias, partidos políticos e campanhas pregavam.

A intensidade da inteligência varia muito entre as pessoas e em cada uma delas com o momento, a hora do dia, o metabolismo. A diferença é brutal. Consciente disto deve-se ter cuidado com o cenário em grandes decisões. Conhecer-se bem é o primeiro sinal de uma inteligência privilegiada. A influência do metabolismo é vital.

O efeito de estimulantes é uma demonstração das características materiais do ser humano. O cérebro é uma máquina com muitos detalhes importantes. Uma vida sadia é necessária à maximização da produção mental. Vícios como o alcoolismo e outras drogas destroem o cérebro. Este computador trabalha sempre, acumulando informações, processando-as. Por isso precisa de carinho e respeito.

Diante disto por que as pessoas bebem? Tomam entorpecentes?

A inteligência por si não traz felicidade, ao contrário, na maioria das vezes torna-a mais difícil. Poderíamos até dizer que a burrice é um dom da natureza à medida que simplifica as exigências intelectuais, que permite a qualquer um embevecer-se diante de uma obra de arte primária, uma conversa idiota, um ambiente grosseiro. O raciocínio cria tensões. O ser mais inteligente não aceitará as explicações comuns. A curiosidade gera ansiedades. A aceitação tranqüila dos dogmas sociais e filosóficos evita conflitos. Acreditar é aceitar o que nos propõem. É identificar-se com a maioria, os mais fortes. Quantos gênios as fogueiras da Inquisição queimaram? Muitos, com certeza, eram menos inteligentes e mais idealistas, corajosos, todos, contudo, ousaram rejeitar as teses dos fanáticos...

É normal a ignorância e a mentira imporem-se pela violência.

Mas a inteligência dá-nos o refinamento de prazeres especiais. Compreender, ver o que ninguém mais vê, saber o que ninguém sabe, ter o poder de decidir sobre bases melhores é um privilégio sensível. Pelo raciocínio chegamos aos segredos do Universo. Compreendemos o que possa ser Deus e a nossa missão.

Ser ou não ser racional, eis o grande dilema, um dilema mais do que real.

Esta é uma questão vital e que precisa ser colocada em algum momento de nossa vida. Quando? Como? Quanto? São perguntas complementares. Dependendo da resposta seguiremos à esquerda ou à direita nas muitas esquinas da vida.

A opção pela irracionalidade é o caminho das paixões. A fascinação dos grandes sentimentos só é acessível a quem não se deixa dominar pela lógica, a quem não se submete ao império da razão.

Por isso a pergunta: quando podemos ser racionalmente irracionais?

Apesar de todos os riscos a inteligência é fascinante. É uma qualidade divina e que por isto deve ser bem administrada para não transformar o céu em inferno.

Religiões e partidos políticos exigem fé absoluta. Duvidar é crime, acreditar virtude. Esquecem-se de que Cristo tratou São Tomé com deferência especial, não o ignorou. Por quê? A convicção é diretamente proporcional à renúncia à inteligência.

Todo ser humano pode pensar. Mas pensar dói sob diversas maneiras. Para que o desconforto? O pensamento leva-nos à visão da morte e poucas coisas são tão aterradoras quanto a morte. Paradoxalmente por não pensarem os jovens vão às guerras. Trocam suas vidas por medalhas, que alguns anos depois estarão sendo vendidas por camelôs. O “não pensamento” é a arma dos irresponsáveis.

Voltamos a lembrar como os ditadores rejeitam a inteligência. Em todas as ditaduras, talvez com alguma exceção, ao longo da história da humanidade vimos os “grandes líderes”, “pais da pátria”, “bondosos e magnânimos senhores”, “generais dos generais”, “senhores dos céus e das terras” perseguindo quem pensava livremente... Vale a pena ver fotografias e filmes desses cenários, a partir dos tempos em que foram possíveis.

O homem medíocre renega a inteligência. Em sua pequenez vive bem com o “não pensar”. Tem raiva de quem pensa. Odeia o intelectual.

O que pretendemos? Submergir na multidão? Viver uma vida que não existiu? É interessante registrar como a inteligência une-se à loucura para quem quiser marcar sua existência. Seria apenas marcar? Quem se lembra de um dia comum? Viver não é gravar com força imagens em nossa memória?

A mediocridade mata muitas inteligências. Quantas pessoas nascem com um potencial gigantesco e morrem na obscuridade porque lhes ensinaram a ter medo de tudo, a supervalorizar estados materiais insignificantes, a não assumirem riscos. Lamentavelmente a freqüência da mediocridade é infinitamente maior do que poderíamos imaginar.

A falta de uma visão mais matemática, com mais sensibilidade probabilística e o sentimento de que qualquer risco é inaceitável são próprios dos covardes, seres humanos que perderam a oportunidade de acrescentar algum degrau rumo à civilização.

Um jovem inteligente no início de sua vida, quando opta por uma carreira estabelece objetivos, metas, desafios. Nesta fase precisa se conhecer, avaliar-se, saber do que é capaz. Quanto se exige de um adolescente...

Toda profissão tem requisitos próprios, exigências específicas. Saber escolher aquela carreira que melhor se ajustar à própria inteligência é um bom começo de vida, um “handicap” a favor do sucesso. E o sucesso profissional é uma boa base para se sentir feliz e ter-se a certeza de uma justa compensação à sociedade e à família. Cada profissão tem uma série de sutilezas. Habilidade manual, memória, raciocínio lógico, harmonia musical, paciência, coragem, e assim por diante são parâmetros que variam de atividade a atividade. Veremos em cada profissão um conjunto de características que separarão o medíocre do notável, o sucesso do fracasso.

E a vida afetiva? Quem procurar para uma vida em comum? O gênio respeitará a idiota? O burro submeter-se-á a uma mulher brilhante? Os preconceitos? Muitos cuidados são necessários até porque os filhos serão o resultado desta mistura genética. Que padrão genético queremos transmitir?

Na profissão, no amor, no esporte, na religião, em todas as atividades a inteligência será cobrada. Para algumas atividades não ter será melhor...

Um cuidado é necessário. Muitas formas existem para inibir a inteligência ou mesmo destruí-la. Maus hábitos poderão estagnar seu desenvolvimento ou regredi-lo. O cérebro, da mesma forma que o físico, exige exercícios constantes e uma boa alimentação, períodos de descanso, higiene. Deve-se ter o cuidado do aprendizado constante, da curiosidade, disciplina mental. Por mais que estudemos, aprendamos, sempre haverá algo a conhecer, analisar, apreender. Cada momento será significativo à medida que se acrescentar algo ao que soubermos. Aprender sempre. O estímulo ao cérebro, o enriquecimento de nosso arquivo e o aprimoramento do “software” instalado em nossa carcaça será recompensado pela ampliação do nosso poder, do maior refinamento e amplitude de nossos prazeres...

Muitos se queixam da falta de sucesso profissional, mas não contam o quanto desperdiçaram. A vida é uma luta constante onde a vitória estará mais próxima dos melhores, mais preparados. A agilidade mental, a capacidade de reação intelectual dependerá do nível atingido, da capacidade exercitada.

A história está repleta de exemplos de grandes líderes, cientistas, artistas que atingiram o ápice de suas carreiras porque, entre outras coisas, aplicaram-se com determinação, estudaram exaustivamente, esforçaram-se muito mais que outros em suas atividades. Naturalmente o preguiçoso, comodista, por tudo medíocre, dirá, amaldiçoará aquele que for bem sucedido...

A inteligência reflete-se no amor, talvez mais do que em qualquer outra atividade. A capacidade de compreender as razões da companheira, a paciência, a tolerância só existem em mentes privilegiadas. Pessoas primárias reagirão de forma selvagem às dificuldades da vida.

O poder de raciocinar mostrará seus efeitos em todas as nossas atividades. Com ele poderemos ganhar notoriedade, riqueza, sucesso. Bem usado será fator de felicidade. Desperdiçá-lo será, pelo menos, um desrespeito à humanidade.

Os desafios são grandes. A miséria é onipresente. Usar a inteligência para diminuí-la é um compromisso com Deus. A inteligência oculta é egoísta. De que valem os diplomas, os milhares de horas de estudos se tudo isso não se transformar em um benefício à sociedade, à natureza?

A população cresce, ocupa espaços, derruba florestas, represa rios, polui ares e mares. Por que não usar a inteligência para as pesquisas de soluções? Para a luta pela vida?

A inteligência aliada à coragem torna-se criativa, empreendedora.

O medo torna o ser humano medíocre, retrógrado, conservador, egoísta.

Saber pensar e agir é próprio dos líderes, dos grandes gerentes, daqueles que conquistam.

A humanidade encontra-se no limiar do século 21. Teremos grandes desafios, questões delicadas que afetarão nossa visão ética da vida. A superpopulação, a poluição, a degradação ambiental exigirão mudanças radicais no processo de desenvolvimento. Por exemplo: qual a nossa visão estratégica da energia, saúde, educação, lavoura, indústria e tudo o mais?

Vemos preocupações pontuais. A visão é normalmente de médio e curto prazo, oportunista.

Precisamos de muita, muita inteligência para garantir aos nossos netos e bisnetos a sobrevivência no século 21 com dignidade, com a felicidade de viverem em mundo melhor.

Das florestas para as cidades o “homo sapiens sapiens” veio com violência e preservando a maioria dos hábitos selvagens. Das cidades para o futuro precisaremos dominar instintos, estabelecer o império da razão.

Pelo menos por simples questão de sobrevivência, a humanidade terá que ampliar sua capacidade de pensar e disciplinar-se, dominar-se.

Preceitos e normas do século passado poderão ser mortais no próximo.

Graças à inteligência poderemos ter a esperança de sobreviver e de criar um mundo melhor, mais saudável e justo.




Ecologia e ambientalismo


Tema mais do que atual. Válvula de escape dos temas sociais. Realidade ou farsa?

O mundo transforma-se perigosamente. O aumento da população humana já dá mostras evidentes de excessos. As praias perdem sua fauna na presença de banhistas, a agricultura e pecuária destroem florestas. Fauna e flora viram assunto de livros de história. Pesticidas e adubos poluem rios e mares. As cidades crescem sem parar. O consumo de combustíveis modifica a atmosfera. Caminhamos para a saturação, a destruição de nosso tão necessário ecossistema.

Infelizmente este tem sido assunto de demagogia, personalismos, exploração maldosa da ignorância popular.

No Brasil oscilamos entre extremos.

Nossa legislação é tão severa que se torna inaplicável além de ser instrumento de picaretagens as mais diversas. Os radicalismos levam a impasses prejudiciais a todos. O pior é que os maiores problemas não são discutidos de forma adequada.

As cidades, centros de consumo, não se submetem a qualquer disciplina. O desperdício cobra a construção de mais barragens, leva à queima excessiva de combustíveis, à utilização de materiais poluentes etc..

O próximo século será o da mobilização ecológica. Compreender e aplicar corretamente as propostas para a reversão do processo de destruição da Natureza sobre a Terra será o grande desafio da nossa gente.

O jovem desde cedo deverá conscientizar-se da importância desta questão pela pura e simples necessidade de sobreviver.

Não temos escolha. Ou disciplinamos nossa vida de acordo com as restrições naturais de nosso planeta ou estaremos condenando nossos descendentes ao inferno.

Nossa moral e ética ocidental, nossa cultura não previam a questão ambiental e os valores da preservação da natureza. Diante do homem feito à imagem e semelhança de Deus os animais, as florestas, a natureza não tinham vez. Os bichos não têm alma, tudo existe para ser explorado pelo homem. Explorado? Usado? Destruído?

Estamos chegando nos limites de sobrevivência.

Continentes inteiros perderam suas florestas, a maioria de seus animais e vegetais originais. O pouco que sobrou mal serve como testemunho de um passado luxuriante. Os países do hemisfério norte deveriam com urgência iniciar um grande programa de reflorestamento e recuperação da fauna e flora de um século atrás, pelo menos.

São povos cínicos. Dificilmente veremos lá o que pregam aqui. Querem que o Hemisfério Sul compense os crimes ecológicos do Norte.

Criminosamente têm feito e sustentado guerras, estimulado economias consumistas, desenvolvido padrões perdulários.

Países que tanto falam em ecologia não aceitam restrições à pesca da baleia, à intocabilidade da Antártica, ao desarmamento, à geração e transporte de lixo atômico, à exploração dos povos.

Apesar, contudo, da forma irresponsável com que agem, não temos desculpas para repetir erros. Cada cidade, estado e a nação deverão desenvolver planos e ações para salvar o país. O Brasil ainda tem espaços preservados e muitos recuperáveis.

Um grande responsável pela degradação ambiental é a miséria. Uma família sem recursos ocupará espaços de preservação para morar e sustentar-se. A degeneração cultural leva à violência, ao desprezo pelas normas mais elementares de vida. Nosso modelo econômico é concentrador de renda, nossas escolas são precárias, não temos um programa de planejamento familiar, vivemos sob o império da demagogia e da irresponsabilidade. Vamos pagar um preço elevado se não mudarmos.

O ser humano precisa da natureza em sua totalidade. Não existe um pássaro desnecessário, uma árvore feia ou um animal desprezível. Se não sabemos porque existem é porque nossa ignorância e sensibilidade precárias não o permitiram.

Como é triste notar, ano a ano, a degradação do meio ambiente.

Quem se lembra das saíras, dos bem te vis, das tatuíras, gaivotas, dunas de areia, matas fechadas e córregos cheios de peixes em águas limpas?

Quem teve a felicidade de conhecer esse Brasil sente dor no fundo do coração quando percebe que está desaparecendo debaixo de avenidas, plantações, edifícios...

É óbvio que não se pretende o extermínio da humanidade, mas toda a nossa capacidade deverá ser utilizada na conciliação da sua sustentação com a recuperação da vida sobre a Terra.

O belicismo, a xenofobia, o racismo e o fanatismo têm sido instrumentos de mobilização guerreira. A violência é o padrão de existência de muitos povos. Filosofias que deveriam pregar a paz usam a promessa de outros paraísos como desculpa para a destruição mútua nesse mundo.

Existe algo mais antiecológico que a guerra?

O desastre ambiental é inevitável quando explodem bombas, queimam depósitos de combustíveis, destroem florestas com desfolhantes...

A natureza tem mecanismos próprios de regulação. Talvez lentos mas aparecem. No mínimo como um grito de vingança. Doenças, falta de água, excesso de calor, radiações são as formas de reação que já observamos. Após a Primeira Guerra Mundial a “gripe espanhola”36 matou mais gente que a própria guerra e no mundo todo.

Por tudo e para o que mais se deseja, uma vida feliz e decente, deve-se procurar aprender a viver preservando e, se possível, recuperando, preservando e convivendo com a natureza.

O que isto significa? Como fazê-lo? É possível?

Antes de tudo combatendo o desperdício. Com o uso criterioso da tecnologia e disciplina na aplicação de planos e projetos inteligentes poderemos economizar energia, diminuir a poluição, consumir menos. Os urbanistas, de uma maneira especial, deverão planejar suas cidades de modo a não se ter desperdícios criando-se parques, cuidando avaramente dos fundos de vale, mananciais, evitando-se adensamentos populacionais excessivos, refreando propaganda que estimule a movimentação de populações para os centros urbanos. As cidades deverão ver seus planos de urbanização como instrumentos sagrados de disciplinamento do desenvolvimento.

No campo a produtividade deverá ser estimulada evitando-se a ampliação das fronteiras agrícolas e pastoris. O uso de agrotóxicos e fertilizantes deverá ser submetido ao máximo de racionalidade e vigilância. Em tempos de satélites, fibra ótica, computadores e radares não será difícil aprimorar padrões. Não fosse a extrema ignorância e miopia de nossos legisladores e governantes poderíamos estar muito melhores. Infelizmente a tecnologia é muito mais instrumento de enriquecimento ilícito do que forma de desenvolvimento harmônico e decente..

Algumas questões de grande efeito econômico e ambiental deverão ser resolvidas, entre elas o uso de motores térmicos. Automóveis, aviões e caminhões deverão ser substituídos por veículos elétricos e a energia elétrica deverá ser produzida sem poluir a atmosfera ou produzir resíduos radiativos. Detergentes, plásticos e outros produtos terão uso controlado. Instalações sanitárias, aparelhos eletrodomésticos e o projeto de prédios, casas e indústrias deverão respeitar normas conservacionistas...

O transporte individual terá que ser limitado a casos especiais. Em grandes cidades a metade de seus espaços é dedicada ao transporte com todos os problemas de impermeabilização do solo, poluição sonora, mecânica (atropelamentos) e química.

A tecnologia em boas mãos é uma grande aliada. Meteorologia, sistemas de comunicação e instrução custam infinitamente menos que os prejuízos causados pela atividade aleatória e pouco inteligente de muitos de nossos empresários e trabalhadores.

A indústria precisa ter um cuidado especial com o uso da energia e o tratamento de poluentes. O crescimento da produção leva ao agigantamento de instalações industriais aumentando exponencialmente os riscos ambientais. Este é um processo não linear. Até certo ponto rios, lagos e mares poderão assimilar venenos e se recuperarem . Além de certos volumes o efeito será irreversível e até, em alguns casos, com possibilidades de se autoalimentar.

Um grande obstáculo à adoção de medidas é a incapacidade de medir ou a falta de vontade em fazê-lo. É claro que tudo o que se cria muda alguma coisa no meio ambiente. Quanto? Esta é uma questão que pretensos cientistas ecológicos não gostam de responder. É, no entanto, vital informar, saber.

A valorização dos ecologistas e das lutas pela preservação e recuperação do meio ambiente passa pela estruturação científica, metodológica, conceitual e moral, principalmente daqueles que pretendem defender essa causa.

Mas a poluição está principalmente no indivíduo, no cidadão. Ele, consumidor, ditará as necessidades, estimulará boas ou más atitudes, empresas, projetos.

Um bom exemplo, é bom repetir, é o uso de automóveis. Um veículo com um peso em torno de uma tonelada para uma carga eventualmente útil de menos de cem quilos virou status, seu uso é indicador de classe social. É usado extensivamente, sem qualquer critério. Queima combustíveis, exige vias pavimentadas, garagens e estacionamentos, mata e aleija, ensurdece as pessoas, gera gases. Um bom ecologista deveria evitar ao máximo o uso de carros e aviões. Dando exemplo mostraria como respeitar o meio ambiente...

Até ao tomar banho podemos mostrar nossa consciência ecológica. A água é cada vez mais rara e cara, sob todos os aspectos. A sua obtenção exige barragens, estações de tratamento e, posteriormente, esgotos etc. Um banho demorado é um crime contra a natureza.

Assim, no dia a dia poderemos aplicar inúmeras regras para evitar desperdícios burros. Além de não degradarmos a natureza estaremos evitando desperdício de dinheiro.

Sobre a Terra ainda há espaço para mais gente. Não muito mais. Quanto a mais dependerá da inteligência e seriedade que tivermos.

Nossos descendentes serão nossas principais vítimas se não soubermos desenvolver um padrão de vida coerente com a natureza.





Sociologia


Talvez a ciência mais importante para a humanidade seja a Sociologia. Conhecer a dinâmica do comportamento de grupos de pessoas, cidades, nações e de todos em seus relacionamentos comuns é fundamental à compreensão de problemas e formulação de soluções.

Certas atividades nos obrigam a pensar muito sobre o comportamento das multidões. Na Engenharia o desafio é encontrar soluções concretas, resolver e não simplesmente discutir questões. Entre muitas atividades possíveis, cuidar do transporte coletivo urbano é uma dessas oportunidades em que somos obrigados a usar tudo o que sabemos e muito mais.

Como Diretor de Planejamento de Engenharia da Urbanizadora de Curitiba dediquei-me ao estudo e desenvolvimento do transporte coletivo urbano de Curitiba, algo que repeti em Blumenau quando consultor do prefeito Décio Lima. Nesses locais, mais do que em qualquer outro, consegui sentir agudamente o significado do conceito “povo”. O layout interno dos ônibus, o estofamento, a proteção dos passageiros, os terminais, calçadas e pontos de parada dos carros e muito mias dependem acima de tudo do comportamento dos passageiros. Gente mal educada, dominada pelo vandalismo, sem preocupação com o direito dos outros, acaba impondo à população serviços ruins, caros e pouco eficazes.

O planejador precisa estar atento às taras e virtudes dos seus clientes. Estará lidando com o animal “homo sapiens sapiens”. A complexidade das sociedades humanas é tal que merece estudos permanentes, nada pior do que simplificar suas lógicas e desprezar seus sentimentos e vontades.

Devemos, contudo, relembrar as transformações da sociedade humana. Na escola aprendemos fatos e dados, aulas de História, que parecem simples eventos em seqüências não muito lógicas. Civilizações, impérios, generais e sábios, profetas e fanáticos pontuam a humanidade identificando períodos maravilhosos e tenebrosos. Mais ainda, em tudo se tem a impressão de os fatos relacionados forma os produtos de indivíduos isolados, gente que se tivesse existido em outra seqüência teria mudado o rumo da História. Com certeza foram importantes, mas os efeitos desses senhores seria completamente diferente se aparecessem em outras épocas, locais, em contextos diferentes. Um grande líder em algum momento poderia ser visto simplesmente como um demente no mesmo local, em outra época.

Temos agora a oportunidade de conhecer estudos mais avançados da História da Humanidade. Graças a recursos modernos de investigação vamos descobrindo o impacto de terremotos, vulcões, maremotos, cometas, meteoritos, mudanças magnéticas, enfim, uma coleção de fenômenos naturais que afetaram tremendamente a Humanidade.

Uma erupção do Santorini detonou a civilização minóica há três e meio milênios passados. Estudos recentes mostram que talvez os efeitos desse cataclismo tenham chegado ao Egito e causado as pragas que Moisés tão bem aproveitou para levar seu povo para a “Terra Prometida”. Paralelamente entender a fantástica cultura grega após esse fenômeno é algo que vale pesquisas até onde a inteligência humana o permitir. Questões que os sociólogos e historiadores poderão desvendar é a motivação, a propagação de conhecimentos, a fixação de comportamentos, a sociabilização de tribos que aos poucos deixaram de ser coletoras e predadoras para se tornarem produtoras, agricultoras, organizadas, desenvolvendo a arte da escrita, matemática, arquitetura etc.

Em nossos tempos modernos, ou melhor, desde o século 19, quando a ciência “Sociologia” apareceu nos ensinamentos de Auguste Comte37 e a Humanidade partiu para a globalização do comércio (vide livros de Eric Hobsbawm) ganhamos explicações ideológicas, principalmente na disputa pelo poder ou simplesmente na luta por uma vida digna de pessoas que se viram presas em armadilhas econômicas dentro de sociedades organizadas por pressão dos mais fortes.

Infelizmente as pessoas se perdem nos rituais e esquecem a essência dos problemas.

Ganhamos uma infinidade de doutores, líderes, partidos, religiões, seitas etc. defendendo propostas e criando partidários e militantes fanáticos. Ao longo desses dois séculos vimos radicalizações incríveis, tão ou mais violentas que aquelas que “justificaram” inúmeros genocídios após o nascimento de Cristo, Confúcio, Buda e muitos outros, estranhamente quase todos defendendo o amor ao próximo, a tolerância dentro de certos limites, via de regra muito mais elásticos que seus prestimosos seguidores.

À semelhança do futebol, onde torcidas organizadas se matam em defesa de times de profissionais, vemos nações e grupos religiosos querendo se exterminar em Noé de bandeiras e símbolos exotéricos.

A globalização econômica, por sua vez, viabilizou a escravidão e a consolidação de estados anacrônicos, desde que possam vender e comprar os que os negociantes desejarem. Não vemos a promoção de leis trabalhistas internacionais, regras de sustentabilidade, condições de convivência sadia.

Pior ainda, nos países consumidores há um esforço colossal para a manutenção de produtos poluidores, como os automóveis, por exemplo.

Resumindo, precisamos de bons sociólogos, historiadores, doutores em leis internacionais, diplomatas, de gente que organize a humanidade de forma sadia, sustentável, digna.

Ao final do século vinte estávamos voltando ao período do super liberalismo, do comércio sem fronteiras físicas ou éticas. A compulsão consumista estava cegando o cidadão comum, que só via preço. Agora, pelo menos, ele pode sentir que o menor custo poderá ser obtido à custa do seu emprego.

Belo momento para os sociólogos. Será que eles percebem isso?






Jardinagem


Talvez pareça estranho falar aqui sobre jardinagem. Creio que esta seja uma grande falha de muitos que procuram educar. Não falar sobre atividades que ensinam, distraem e que enchem a alma de amor e beleza.

Deus se manifesta pela vida e nela através da beleza.

A Natureza espera e procura se comunicar conosco. Fazemos parte dela. Não podemos, não há como substituí-la por paredes, papéis, eletrônica... Precisamos cheirá-la, tocá-la, ouvi-la, vê-la, saboreá-la em todos os sentidos não destrutivos.

No passado recente nossos pais viviam entre árvores, pássaros, pescando e nadando nos riachos, escalando montanhas etc. Suas casas eram cercadas de jardins. As cidades com poucos prédios mostravam horizontes desenhados por montanhas, planícies e mares. As ruas, pouco movimentadas, não eram o império de automóveis, caminhões e seus condutores malucos. Acordavam ao som de passarinhos, dormiam vendo a Lua e suas companheiras, as estrelas.

Senti essa realidade intensamente quando fiz cursinho em São Paulo. Sonhava com as árvores do Vale do Itajaí e nos finais de semana ia para o Parque do Ibirapuera, onde ganhava algumas horas dentro do Planetário38, onde podia ver, de forma simulada, as estrelas que não se consegue enxergar no meio de uma cidade poluída, mas que eram visíveis todas as noites em Blumenau, ainda sem tanta fumaça e luzes urbanas.

Atualmente, prisioneiros do asfalto, fechamo-nos em casas cercadas de muros altos ou em apartamentos, arquivos de gente. Precisamos nesses pequenos espaços criar um contato com a natureza.

A jardinagem é uma forma de trazê-la para perto. A pequena semente colocada à terra produzirá brotos; a planta jovem precisará de cuidados, orientação, carinho [Nesse sentido durante anos um livro, denominado “Viva o Verde” (43), foi e ainda é minha bíblia jardineira]. Ela, já adulta, poderá desenvolver flores ou outras expressões de arte e beleza que, como acontece conosco, tem por principal objetivo a reprodução, a perpetuação da espécie.

Uma planta exige paciência, capacidade de observação. Ela não fala, não grita. Olhando suas cores, seu desenvolvimento e ambiente sabemos quando aguá-la, podá-la, adubá-la. Em retribuição veremos suas flores, folhas e um conjunto harmonioso, partes de uma floresta em que nossos ancestrais viveram. Iremos criando em torno de nós um ambiente que mostrará harmonia, sensibilidade, amor. É fascinante observar o desabrochar de uma flor, sentir seu perfume, seus caprichos. A delicadeza do desenho de uma rosa, o contraste de suas cores com a base que a sustenta é bem uma analogia de uma família, de um pai embrutecido com sua filha adolescente, graciosa, lúdica, querida.

Não devemos esquecer que a vida tem fases. O tempo passa. Saber preenchê-lo com detalhes de beleza, arte, é enriquecer a vida, acrescentar-lhe momentos de poesia.

Um jardim ou uma simples samambaia são altares para reflexão, meditação. Diante de suas formas e essências pensamos, avaliamos nossas atitudes. São refúgios da máquina, do ritmo frenético das cidades, do trabalho.

Aprendemos as leis da vida à medida que convivemos, alimentamos, sentimos aqueles que a têm.

Uma orquídea, um hibisco, uma roseira, hortênsia ou samambaia, cada uma tem seus caprichos. Assim somos pretos, brancos, amarelos, cristão, muçulmanos, judeus, budistas, homens ou mulheres. Todos, como cada planta, cobrando um tipo diferente de atenção e todos, sem exceção, muito amor.

Um jardim mostra tudo isso e muito mais. É um recanto de lazer. O prazer de ver o sucesso de uma semeadura é sutil, refinado. Somos estimulados a ter sensações intensas. Perceber o detalhe, aquele leve traço de um cheiro exótico, as cores em suas combinações refinadas é algo que só os mais atentos poderão saborear

É fácil ver gigantes e ouvir gritos, mas é um bom desafio sentir a leve mensagem de uma flor.







Figura 2 - Monumento a Mozart - Viena

Música


À medida que exploramos nossos sentidos, aprimoramos nossas formas de prazer. Tê-los desenvolvidos é uma maneira de maximizarmos a nossa capacidade de compreensão da vida, da natureza. A música junta suas sete notas em frases que poderão dizer tudo o que o artista quiser.

Nossos instintos, os problemas do dia a dia, a luta pela sobrevivência aquecem corpo e mente. Nada melhor que desligar um pouco e parar para ouvir uma bela composição. Alguma melodia existirá para dizer-nos que há coisas mais importantes ou que o momento vivido foi divino.

A música, por sua vez, cobra refinamentos, exige cada vez mais aplicação. À medida que a ouvimos, evoluímos, aprimoramos nossos sentimentos. Assim, por exemplo, aprenderemos a admirar os clássicos, as melhores vozes, a poesia que o letrista colocou emoldurando notas musicais. Infelizmente isto nos tornará restritivos, seletivos. Não devemos perder o prazer das coisas simples, saber compreender que nos primeiros acordes está a base das grandes sinfonias. Aqui vale o conselho. Cuidado com os modismos, fases, padrões. Na música a beleza é eterna. Principalmente entre os jovens é comum o hábito de rejeitar o que não estiver em sua moda. Assim perdem a oportunidade de estudar, saborear, entender fases de nossa história cultural que são muito importantes. Compreender a multiplicidade de gostos exige tolerância, compreensão para a diversidade com que a natureza se manifesta.

Quem pratica um instrumento musical, canta ou compõe aprende a ser paciente. A qualidade vem de exercícios intermináveis, estudos, atenção. Em compensação exercita uma atividade extremamente gratificante. A música passa a ser tema de conversas, reuniões, festas e estudos de equipe. O aprendizado musical é um recurso de sociabilização importante além de desenvolver a sensibilidade. Talvez a maioria das pessoas não possua dons naturais para o exercício da arte, mas quem o tiver deverá desenvolvê-lo sob pena de perder um tremendo recurso de satisfação pessoal.

Um cuidado a tomar é não apaixonar-se pela música a ponto de abandonar suas atividades básicas. Na juventude é comum querer ignorar tudo o que não se aprecia. E na própria música o risco de se desprezar padrões, que não se ama naquele momento. Um cidadão precisa de cultura universal, não pode ignorar outras ciências. O conhecimento precisa de amplitude, profundidade e qualidade para constituir um indivíduo sadio. A preferência musical mostra como andam nossos hormônios, refletem nossa alma. No ritmo do coração ou na pressão do sangue procuramos ressonância com nossos sentimentos. O domínio das artes é a complementação maravilhosa que um ser humano poderia desejar para a sua vida cultural.

Neste final de século temos a felicidade de dispor de recursos inimagináveis há algumas décadas. O amante da música com algum dinheiro terá acesso a um conjunto de melodias e músicas que todos os imperadores sobre a terra, juntos, jamais tiveram até há pouco tempo. Esta riqueza precisa ser compreendida, estudada, aceita como um privilégio, entre outros, da época em que vivemos. Nesse privilégio o poder de extrair lições importantes. Que essas lições sejam de amor e esperança.

O que extrair desta riqueza? Aqueles de nós que tiverem nascido com potencial para a música tem o compromisso de extrair desta arte belíssimas jóias.

Vangelis39, Kitaro40, Chico Buarque41, Piazzolla42, Tom Jobin43, Vinícius44 são exemplos de compositores modernos que conquistaram o direito à galeria dos grandes artistas.

Um cuidado é necessário. A habilidade musical é um dom natural. Quando muito se aprimora dentro do espaço definido pelos nossos genes. Nascemos com o direito de viver em faixas biológicas. Poderemos chegar ao limite de nosso potencial disponível, ir além só por milagre. Saber qual a nossa capacidade é a chave de um planejamento feliz.

A atividade artística é muito cruel. Não existe tolerância para o mau artista. Não interessa quanto se aplicou. Não importa se gastou todas as suas energias para apresentar o que fez, o que sabe. É impressionante a violência de muitos críticos. Além disso, é impossível convencer alguém a consumir o que não quer, o que não gosta.

Mas a música é motivo de prazer, excitações. Tudo o que se estuda servirá, pelo menos, para a satisfação pessoal.

Outro fator importante é o efeito da música sobre o estado de espírito. Ela pode deprimir, excitar, levar a sonhar com anjos ou demônios. Por isso é preciso atenção para as opções que se fizer. Uma escolha errada poderá causar um grande mal.

A música tem sido instrumento de revoluções, guerras, amores e paixões...

Acima de tudo é um instrumento divino de comunicação e prazer. Saber usá-la é um ato de inteligência e sensibilidade.





Literatura


Os livros são o principal instrumento de aprendizado e a ponte para qualquer lugar de nosso pequeno mundo.

O que pensava Sócrates45, Platão46, Zoroastro47 ou Napoleão48? Em algum livro encontraremos o que procuramos ou, pelo menos, o que for possível aprender. O medo dos ditadores aos livros tem lógica cristalina...

Cada livro é o resultado de centenas de horas de dedicação, é a manifestação escrita de pensadores, artistas, cientistas, poetas... Ser caçador de livros, rato de livraria, leitor assíduo é valorizar sua própria cultura. A programação é feita pelo leitor e tem o espaço de suas limitações pessoais, pois no mundo sempre existirá algo pelo menos próximo do que pretende. Sempre haverá um livro com informações, poemas, descrições que nos farão sonhar, viver muitas outras vidas. Com imaginação e um bom livro poderemos saborear romances e aventuras em terras distantes. Um grande amor? O sentimento guerreiro? a história das nações? Profissões? Vamos à biblioteca e lá encontraremos o que procuramos.

O amor pela literatura é ter inteligência para encontrar janelas seletivas através das quais veremos o mundo, conheceremos estrelas e, acima de tudo, quem somos.

Ler e escrever. Lemos para aprender, para ter prazer e até sofrer. Escrevemos para transmitir, dar, mostrar o que sabemos e queremos.

A comunicação escrita é perene, resiste ao tempo se tiver valor para alguém.

Tesouro de grandes idéias ou depósito de sujeiras, os livros estão aí, peguem, escolham, selecionem.

Escrever é lançar sementes que poderão vingar imediatamente, apodrecer ou esperar o melhor momento para fazer nascer aquela planta que sonhamos ver à nossa volta. Escrever é dar de si, é expor-se, é oferecer o que julgamos ser capazes.

Assim como o cantor sua frio, vence angústias e sobe ao palco para mostrar sua arte, sujeitando-se a aplausos consagradores ou vaias arrasadoras, o candidato a escritor deverá apresentar sua obra na esperança da notoriedade e no risco do fracasso. Até por isto o desafio tem valor. E o principal é o de oferecer a quem quiser um pouco de si, mostrando com histórias ou poesias sua visão da vida. O escritor procura o sucesso da mensagem, a notoriedade, a certeza de ter contribuído com um tijolinho no grande edifício da nossa civilização.

Ler também é das formas mais discretas de aprender, de encontrar o lazer, de rever imagens e romances distantes. O livro é um companheiro silencioso, leal. Estará onde o deixamos.

Ler o quê? Por quê? Cada momento da vida exige um pensamento, uma palavra. A poesia romântica, o texto sensual, a descrição de um grande amor é, e não poderia ser diferente, a forma mais comum e saborosa de literatura. Nós que procuramos paixões, que sonhamos com aquele contato ao mesmo tempo fogoso e afetuoso, nós que vivemos de carinhos, tão importantes quanto a água ou o ar, nós que nos sentimos vazios na ausência daqueles que amamos, teremos nos livros as estórias e histórias que ansiamos.

A escrita é privilégio do ser humano. Podemos imaginar animais pensando e até falando, mas a escrita é a grande conquista exclusiva da humanidade após milhões de anos de evolução. Do humanóide “pitecantropos” ao “homo sapiens sapiens” um longo trajeto foi percorrido até podermos ver o pensamento humano registrado em papéis, pedras e couros. Em épocas já muito distantes, mas tão próximas, quando lembramos os milhões de anos do ser humano sobre a terra, surgiu a escrita. Das paredes de pedra dos monumentos egípcios aos nossos livros foi uma longa caminhada. Gutenberg foi nosso grande inventor moderno. Sua obra foi o ponto de partida do grande processo de transformação cultural do mundo ocidental.

Ler, escrever, aprender, ensinar e fazer, assim caminha a humanidade. Evidentemente poderíamos dizer simplesmente: aprender, fazer, ensinar. Mas falando de literatura, de cultura escrita, devemos destacar sua importância, a necessidade e o significado de um processo de formação.

Como saber se um livro é bom?

Além da fama conquistada pelos grandes autores, temos a nossa própria sensibilidade, nossas necessidades. Começando a ler o texto, as idéias e as propostas deverão ser motivo de prazer. Entra-se em sintonia com um bom livro. Ele nos envolve, emociona e conquista. Este processo também mostra se estamos maduros para lê-lo. Um trabalho que não nos interessa não irá prender-nos.

Na vida profissional existe no livro a oportunidade de se transmitir o que aprendemos. Infelizmente a literatura técnica não tem grande valor comercial. Nossos estudantes e escolas pouco têm para formarem suas bibliotecas. Vale pela contribuição, teste e consolidação de conceitos.

O mais deplorável seria não se comunicar, não procurar multiplicar o que se aprendeu de bom. É difícil entender pessoas que estudam a vida toda e não exercitam suas profissões, não lecionam, não escrevem, não produzem. Muitos fazem da ociosidade e da inutilidade uma razão de ser. Que pena!

O mundo moderno é o mundo da informação. Para ter qualidade deverá ser também e principalmente o da formação. Os escritores têm a responsabilidade de criar paradigmas e consolidar culturas. Nossa esperança está em multiplicar e valorizar os melhores para que a humanidade efetivamente evolua, consolide-se como espécie racional.

De José Ingenieros49, Bertrand Russel50, Hermann Hesse51, Marcuse52, Marx53, Engels54, Gore Vidal55, Joseph Campbell56, Jorge Amado57, Sartre58 e tantos outros filósofos, romancistas, cientistas modernos tenho a mais grata admiração pelo que me deram de tão valioso: seus estudos, experiências e, acima de tudo, sonhos.

Os livros, ferramentas do pensamento livre, são como os amigos. Dentro de uma multidão escolhemos aqueles que gostamos e queremos. Não podemos viver sem os amigos...




Esportes


O jovem é um adulto em formação, cheio de hormônios, conflitos e energia. A agressividade em um corpo que pede ação exige disputas, desafios e exercícios. Um cérebro precisando de distrações, competições e a necessidade de afirmar-se, de mostrar personalidade. A vitalidade de um ser humano em formação e saudável torna-o um animal sedento de ação. Instintivamente procura desafios, exercitar seus músculos e neurônios. O futuro de sua vida mental e física dependerá muito dessa fase.

Neste cenário o esporte, em especial aqueles que mais exigem do corpo, são importantes sob muitos aspectos. O principal nesta sociedade urbana em que vivemos em gavetas denominadas apartamentos é ser uma válvula de escape de energias que, de outra forma, poderiam torná-lo um elemento inconvenientemente agressivo. Canalizar a violência para o esporte onde o jovem de forma disciplinada lutará é o grande desafio dos educadores. A luta sob regras é o padrão natural de qualquer sociedade. Aprender a vencer e perder, eis o que o esporte pode ensinar.

Os esportes coletivos acrescentam o trabalho de equipe como condição de sucesso. Ótimo! A vida é uma luta constante. Precisamos ensinar a nossos filhos e alunos como sobreviver. Saber competir em times é um treino para a maioria das atividades profissionais. Organização, estratégias, táticas e treinos desenvolvem o raciocínio. Em uma sociedade civilizada estas batalhas estarão sujeitas a regras severas. No caso do Brasil uma boa escola seria o jogo de truco, não exercita o físico, mas contém todos os elementos morais de nossa sociedade...

Aprender a perder. Saber lutar, dar tudo de si, empenhar-se e, diante da derrota ter capacidade de superá-la com dignidade. As crianças são cruéis, os adultos não ficam longe. A prática do esporte mostra deficiências. Eu, por exemplo, sempre fui um tremendo “perna de pau”, para jogar tinha que comprar a bola, era a última opção de qualquer escalação. Não é fácil perceber esta situação. Mas a vida é assim.

Alguns nascem com muito, outros pouco tem, muitos nem a bola possuem.

A natureza nunca foi comunista e o esporte é uma demonstração disto.

Na prática esportiva sentimos que a vida apresenta-se em um cenário de lutas. Aos melhores é dado o direito de escolher primeiro e a eles tudo é permitido. A natureza aprimora-se em um processo de seleção natural. A competição esportiva é uma amostra deste processo.

O Universo tem ética? Moral? Qual é a lei das selvas?

Assim, ao nos dedicarmos a algum esporte estaremos implicitamente vivendo em um ambiente em que a vida encontra analogias, desenvolve modelos.

Ganhar a qualquer preço? Quanto pagar? Como tratar o perdedor? Como saborear a vitória? Qual o prêmio?

Vemos nas quadras os instintos humanos em sua plenitude. Nelas percebemos como é recente a saída das florestas. A selvageria aflora com uma facilidade incrível e a troco de símbolos, apenas símbolos.

Mas, viva! O esporte existe e substitui guerras e conflitos caseiros. Desenvolve o físico, a capacidade de raciocínio, prolonga a vida quando coerente com a saúde e o físico disponíveis. É importante que a prática esportiva tenha acompanhamento especializado. O jovem não imagina quanto seus anos de esporte lhe afetarão o resto da vida. Até as amizades feitas nas quadras serão valiosas no relacionamento profissional e social. A prática de algum esporte será um hábito saudável para toda a vida.

Deve-se ter o cuidado de não transformar o esporte em atividade principal a menos, é claro, que esta seja sua proposta profissional. É importante uma autocrítica severa para não se desenvolver ilusões. É muito mais fácil tornar-se um profissional liberal bem sucedido do que um grande atleta. Isto sem contar que a vida de um esportista exige uma disciplina difícil de ser respeitada

E tendo sucesso? Sem uma boa base escolar e emocional o atleta arrisca-se a perder-se em um ambiente em que as relações humanas são perigosamente alienantes. A vida profissional de um esportista é curta. Seu tempo de máximo vigor dura pouco. E depois? Como sobreviver? Como sentir-se respeitado? Estes aspectos da carreira deverão ser considerados, se não pelos jovens, por seus responsáveis, os pais. A autoridade dos pais é necessária quando os filhos perdem-se em prazeres danosos à própria formação.

O fanatismo é uma anomalia freqüente e danosa ao indivíduo e à sociedade. As cores, símbolos, nomes de clubes não valem uma vida, uma inimizade. A paixão violenta por algum clube é no mínimo digna de cuidados médicos ou psiquiátricos pois mostra o nível mental extremamente frágil do torcedor. É fácil imaginar com que facilidade essas pessoas transformar-se-ão em “buchas de canhão” em guerras de qualquer tipo. Bastará um esquema de mídia e lá veremos as filas desses fanáticos marchando para os campos de batalha. Devemos desenvolver um senso crítico, um refinamento que impeça fanatismos. As cores ou nome de qualquer time valem como diversão, passatempo, nunca como motivo de agressões. Infelizmente temos o hábito de transformar em religião tudo aquilo que se cobre de símbolos, hinos e cores. Devemos aprender a ter controle sobre nossos sentimentos. Nesse aspecto o esporte é um bom treino. A paixão por um clube só fará sentido em seu aspecto lúdico, prazeroso. Nenhum time vale um tapa em quem quer que seja. A confraternização, a gozação e a brincadeira são atos normais em torno do esporte. A violência é um afloramento selvagem de instintos animalescos.

Outro aspecto importante é administrar as amizades decorrentes deste ambiente. Em qualquer atividade devemos escolher nossos amigos e companhias. Precisamos saber com quem, quando e como andar com aqueles que nos cercam.

Uma grande virtude da prática esportiva é que ela é incompatível com os vícios. A natação, por exemplo, denuncia rapidamente quem se atrever a fumar, usar drogas. A vaidade estimulada pelo esporte exigirá disciplina. O exercício constante desenvolverá músculos e inibirá as tão famosas gorduras. Educar o ser humano a ter disciplina é algo sensato, vital ao seu sucesso profissional e social. A preguiça é incompatível com o atleta.

Talvez no futuro a humanidade acabe com as guerras deixando para as quadras de esporte as competições promotoras de suas vaidades e negócios.

Finalmente devemos concluir que a prática de um esporte é necessária e saudável. O cuidado a se tomar será com os excessos e o ambiente que se freqüentar. Um corpo saudável terá melhores condições de conter um cérebro capaz. O exercício permanente desenvolverá a inteligência e o físico.




Belas artes


A capacidade e a prática de habilidades que estimulam nossos sentimentos são divinas. Deus manifesta-se acima de tudo no sentimento de beleza, de harmonia, de estímulos transcendentes. O prazer sublime transmitido por um belo quadro, uma sinfonia apaixonante, uma poesia bem elaborada é a mensagem de amor e beleza que precisamos sentir. A capacidade de ser mais que um simples animal procurando alimento e segurança é maravilhosa no ser humano. Deus existe? Somos feitos à sua imagem e semelhança? Se existe, se é verdade, está em nossa capacidade de admirar e fazer “belas artes”.



E não é tão simples assim. Precisamos aprender a ver, ouvir, tocar. Nascemos com a ordem de sobreviver, apenas. O cérebro, à medida que se desenvolve, acorda para o mundo. O prazer, a capacidade de amar, chorar, rir, ter raiva e amor, de vibrar com o que se aproxima é uma característica de alguns seres humanos. Assim como é virtude dos mais capazes dominar esses sentimentos sem, entretanto, inibi-los. Sentir a plenitude das paixões é maravilhoso. Talvez o coração não suporte tanta pressão, mas é vivendo intensamente que realmente poderemos dizer que existimos. Ao contrário de algumas posturas filosóficas que pregam a insensibilização e a visão superior, entendo que a visão humana é nossa e tê-la com vitalidade é bom, saudável. Devemos apenas ter o cuidado de dominar os sentimentos quando tendem a prejudicar alguém. O crescimento cultural e moral levam-nos a valorizar a sensibilidade artística. Dando-lhes o devido espaço, colocando-as em nossa equação existencial, as “belas artes” tornam-se fonte de prazeres sublimes.

O que procurar no universo das artes?

Muitos as cultivam para se sentirem superiores, na preocupação de estarem entre os eleitos a uma casta maior. Outros por compulsão e muitos também pelo simples amor à beleza. De qualquer modo o estudo e admiração das manifestações artísticas da humanidade criam laços, aproximam pessoas e povos assim como mostram suas raízes, suas culturas e personalidades.

Procuramos sempre imagens de beleza, sentimentos e amor.

O amor animal, selvagem, é uma das principais formas de motivação. Nem poderia ser diferente. O sexo está no centro do corpo até para declarar sua importância. A paixão por uma mulher leva o homem a ver estrelas, a sentir no corpo todo o prazer de sua imagem, voz, cheiros... O sexo define valores que percebemos e governam nossas decisões, opiniões. Ignorá-lo é idiotice. Tratar os impulsos sexuais como algo ruim e degradante é sinal de doença mental.

Com a energia da sensualidade podemos ver as melhores obras artísticas. Somos animais e não aceitar esta condição é rejeitar nossa natureza. Assim, compreendendo esta força criadora, muitos artistas encontraram e acham inspiração para belíssimas composições.

Precisamos mostrar, ver, sentir a beleza do Universo. Assim fazendo sentimo-nos fortes. Crescemos em nosso átimo de existência. Tão pequenos, tornamo-nos gigantescos, pelo menos perante nossos olhos.

Que grande felicidade deve sentir um ser humano em poder sentir, ser um grande artista. E como são tristes. Toda a pressão do Universo desaba sobre aqueles que procuram a perfeição. Já não se disse bilhões de vezes que só Deus é perfeito?

O que sugerir?

Assim como a prática de algum esporte é saudável e desejável, o exercício artístico também o é. Enquanto o primeiro tem por objetivo maior o desenvolvimento do corpo, o segundo fortalece o espírito.

Que fazer? Que habilidade? Sentimento?

Isto vem escrito dentro de nós. Tudo depende da capacidade que tivermos. É uma das formas natas de inteligência. Faz parte de nosso “hardware”. A habilidade manifesta-se logo, já na infância. Já a capacidade de escrever pode ser desenvolvida a partir de uma base comum, exigindo, contudo, muito esforço. Cada atividade cobra um conjunto de qualidades e o que o candidato a artista precisa verificar é se tem algo de especial, alguma característica básica mais apurada. Todo este cuidado é necessário para se evitar o sofrimento da rejeição, da frustração diante de pessoas que serão tudo, menos condescendentes com aqueles que não atingirem um mínimo de qualidade. Tudo depende da capacidade que tivermos de nos conhecer. Não existem duas pessoas iguais. Cada uma precisa encontrar-se, saber de si. Essa luta, que começa na corrida do espermatozóide vencedor, prosseguirá por todo o sempre. Vale a pena? Está nos gametas a determinação de vencer, competir, conhecer e explorar. As artes, as “belas artes” são um desafio. Queremos ter prazer? Sobressairmo-nos? Conquistar? Lutemos, estudemos.

O artista procura ambientes, cenários. Aprender com os melhores, desenvolver técnicas. Saber e inovar. Rejeitando padrões consagrados, muitos conseguem criar outros sublimes. Um aspecto magnífico das artes é ter em sua base um clima revolucionário. Contrariando a tranqüilidade da tradição vemo-nos surpreendidos por gênios inquietos, insatisfeitos, que a cada dia acrescentam algo de valor à nossa civilização. Gritar pelas cores de um quadro, protestar nos passos de uma dança, mostrar novas harmonias em uma poesia, eis a revolução sutil. A natureza é dinâmica, com leis imutáveis transforma-se sempre.

O ser humano diviniza-se em suas manifestações artísticas. E como ainda são poucas diante do que é capaz a própria natureza. Procurar a beleza, mostrá-la, socializá-la é fazer da vida uma sucessão de experiências gratificantes. Vamos lutar para criar espaços, oportunidades para nossos talentos. A vida tem momentos difíceis e cruéis. Enriquecê-la com imagens, sons e poesia é ser inteligente, consciente das oportunidades de ser feliz.




Moda


A vida segue padrões, alguns naturais, outros não. Na luta pela sobrevivência procuramos sinais, artifícios que nos dignifiquem, que melhorem nossa imagem. Empresas e religiões impõem a seus súditos o que vestir, falar e até pensar. Uma maneira de explicar é falar em moda, dizer que aquele padrão o chefe deseja ou Deus mandou.

Ter modelos, até uniformes pode ser bom. Em uma escola a vestimenta padrão evita a ostentação dos mais ricos. Nos exércitos identifica batalhões e até serve para fins específicos como a própria proteção ao ambiente hostil. Para o cidadão comum é uma forma de integrar-se, ser aceito por uma comunidade.

Um ato de discrição é não colocar-se como lançador de modas, não ser o primeiro nem o último quando o assunto for o de vestir-se.

Sob a palavra “moda” também teremos as novidades. O progresso, a evolução tecnológica cria produtos que se transformam em roupas, carros, instrumentos do dia a dia. Não sendo propriamente modas, mas aquela última criação tão interessante, aguardada, desperta o nosso interesse. Assim, pela novidade e oportunidade a vemos e ouvimos por toda parte.

Na política a moda recente foi falar em privatização, enxugamento do estado. A crise econômica e a necessidade de intervenção maciça do Estado, de países, dos contribuintes do mundo inteiro para salvar banqueiros irresponsáveis deve ter surpreendido até os mais empedernidos liberais.

No Brasil há um quarto de século a moda era a estatização. No período militar, de 1964 a 1983 centenas de empresas estatais foram criadas. Com certeza a estratégia tinha falhas e o resultado foi a desmoralização dessa forma de organização da economia. Antes disso, contudo, o país carecia de infraestrutura, com centenas de concessionárias diferentes para cada serviço, não se desenvolvia. A solução foi criar as grandes estatais que em pouco tempo colocaram o Brasil dentro do padrão que conhecemos atualmente. Há setenta anos o fascismo e o comunismo eram modas. O nacionalismo exacerbado gerava partidos radicais. O Mundo caminhava para a Segunda Guerra Mundial.

A escravatura já foi moda. Há um milênio era normal, lógico, comum escravizar pessoas. Em Roma discutia-se se os índios americanos teriam alma. Assim os modernismos mudam. Pessoas pobres de espírito aceitam as idéias do momento como panacéias. Não são capazes de enxergar um pouco adiante.

Devemos, portanto, não nos escravizar às modas, aos modelos gerados por pessoas ou grupos muitas vezes distantes de nossa realidade. Sem falar na gravata, invenção de quem não conhece os trópicos, vemos em muitos ambientes a obsessão pelos padrões criados em terras longínquas.

“Liberdade, independência, responsabilidade e respeito”, devemos aprender a usar estas bases de uma convivência civilizada. Até onde somos obrigados a atender um padrão? Seguir uma moda?

A submissão gratuita é degradante. A moda em si, colocada como um padrão obrigatório é renunciar à liberdade, à individualidade, à inteligência. Significa a aceitação do comando de gente que, muitas vezes, têm apenas a preocupação de criar rebanhos, ganhar dinheiro e poder à custa da fragilidade do ser humano.

Sem a intenção de ofender ou agredir devemos vestir, falar, ser o que achamos de melhor. Devemos acreditar em nós. Ao imitar ter o cuidado de não estar simplesmente e compulsivamente copiando um produto inútil, simplesmente comercial. Tendo atenção para não estar sendo conduzido, usado, poderemos aproveitar as boas novidades.

A moda é explicitamente instrumento de grandes indústrias, de formadores de opinião, de dominação ideológica. Não é crime. O erro está em transformá-la em mania, instrumento de agressão, discriminação e exploração.

Assim como a cor, religião, sobrenome e classe social têm sido usados pelos mais medíocres como instrumento de exaltação, segregação e exploração, os padrões mais simples servem de elementos identificadores dessas ligações. Todo ser humano precisa saber, qualquer que seja a sua fé, que tem Deus em si e isto basta para amar-se e ser amado.

Roupas, carros, propriedades e outras exterioridades de poder não diminuem, aumentam a responsabilidade social de quem os tem. À medida que temos sucesso conquistamos poder para ajudar a tornar a Humanidade melhor, mais saudável e feliz. Agredir gratuitamente o próximo, humilhando-o e segregando-o por não ter o que usamos e nem sempre merecemos é imoral e injusto.

A liberdade deve ser estimulada. Proposta dentro de um espírito de responsabilidade devemos preservá-la em todos os seus aspectos, inclusive em tudo aquilo que se vende sob a mensagem prosaica de ser moda. Devemos exercitar a independência, a liberdade e responsabilidade em todas as oportunidades de manifestação.

Não podemos aceitar patrulhamentos e vigilâncias gratuitas. São válidos apenas aqueles padrões a que nos submetemos voluntariamente ou por força dos limites do direito e do dever de cada um. Valorizando-se, o indivíduo afirma-se como líder ou sendo alguém que vive o que acredita por análises próprias.

Viver com independência significa minimizar fatores de tensão. Seremos presos a tantas cadeias quantas quisermos. Infelizes à medida que estabelecermos metas impossíveis.

Cuidado, entretanto, com o excesso de independência, poderá ser instrumento de sofrimento. Enfrentar a sociedade poderá levar à própria destruição. As classes dominantes são conscientes de seus poderes e não apreciam insubordinações. Sacerdotes, gerentes, líderes políticos e generais prometem o inferno aos dissidentes, insubordinados, descrentes e os mais próximos, “amigos”, parentes e patrões poderão torná-lo realidade.

Saber o que queremos e quanto estaremos dispostos a pagar é fundamental a uma vida feliz.




História


Minha paixão por história tem uma barreira sarcástica, a capacidade precária de memorizar. Essa dificuldade que me acompanha desde criança foi um veto a muitas atividades possíveis, caso essa limitação não existisse. Deixei a Engenharia entrar na minha vida porque sentia uma tremenda dificuldade em memorizar com detalhes tudo o que um historiador precisa saber. Meus professores de história me chamavam a atenção, eu sabia tudo menos os nomes e as datas, os detalhes que tanto gostam de citar e cobrar.

Apesar de todas as dificuldades as aulas de história eram as minhas preferidas. Continuam me atraindo os registros da vida humana sobre a Terra e com essa paixão em mente fiz muitos roteiros de viagens e visitas, leituras, filmes, museus etc.

Livros de história me cativam pelas ilustrações, na descrição de cenários passados, com o relato de atos de heroísmo e inteligência de alguns indivíduos excepcionais assim como procurando reunir evidências de crises e sucessos da humanidade. Nesse sentido a bibliografia se enriquece continuamente, agora acrescida de filmes culturais e científicos extremamente interessantes, apontando para temas que certamente merecerão grandes obras literárias.

De alguns livros já não me lembro dos detalhes para registrar. Outros vou relacionando neste para minha satisfação pessoal e na tentativa de sugerir leitura, se puderem encontrá-los em algum lugar.

Para começar duas coleções me empolgaram desde os tempos de Itajubá, História Geral das Civilizações (44) e História Geral da Civilização Brasileira (45). Os anos de edição já se referem a reedições de alguns livros que consegui comprar mais tarde. As minúcias, os detalhes e a técnica de apresentação dessas coleções fizeram-nas referências de grande valor. Outros livros já nem saberia dizer com certeza o título ou autores. Perdi uma coleção que prezava de uma maneira especial emprestando para um conhecido, filho de uma amigo em Itajubá, na minha mudança para Curitiba, que simplesmente declarou ter ganho de mim aquelas obras que eram minha base de pensamento, quando pedi a devolução, paciência!

Por que estudar história, afinal?

Em bons livros poderemos descobrir o que somos, de onde viemos, o que nossos antepassados fizeram. Talvez tenhamos surpresas ruins, para isso vale a pena ler com atenção “Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai, obra clássica de Chiavenatto (46), exemplificando, para termos uma idéia de fatos que precisamos lembrar para podermos evitar repetições. Pior ainda é conhecer detalhes do que foi a história da América Latina (As veias abertas da América Latina (47)) quando descobrimos a violência total que, entretanto, era a lógica natural de todos os povos sobre a Terra. Assustador mesmo é ver que ainda temos atos guerreiros, terrorismo e outras espécies de atos agressivos entre nações, como podemos assistir via televisão todo dia.

Tudo na Natureza segue certa ordem. Cada momento, imagem e objeto presente têm uma ligação com o objeto, a imagem, o momento anterior. Assim vemos nossa história, nossa vida desenvolvendo-se numa seqüência rica de momentos e cenários de grande valor para nós, pelo menos.

Qual a importância disto? Nossa cultura imediatista e consumista valoriza ações que produzam objetos e riquezas materiais. Fugimos da introspecção, da valorização cultural em direção da monetária. Fenômeno compreensível quando vemos que em qualquer clube, sociedade ou reunião a fortuna material é vista como dignificante e condição necessária e suficiente para acesso a qualquer honraria. Nesse sentido uma boa leitura é “O Homem Medíocre” de José Ingenieros (12), positivista, argentino (1877-1925), obra de imenso valor, atualíssima apesar de ter sido publicada pela primeira vez em 1913.

Voltando aos livros de história, conhecê-los faz sentido, pois, para alguns, interessa saber suas origens, qual foi o comportamento dos povos sobre a Terra, o que transformou nações. Outros compreendem que tudo isto poderá ser base para muitas decisões importantes.

A visão histórica varia de pessoa a pessoa. Com certeza, dependendo do grau de narcisismo, ela poderá se resumir a atos familiares, especialmente aqueles em que o Narciso está presente. O relato organizado da história da humanidade, contudo, é algo fantástico que merece fazer parte dos hábitos de leitura de qualquer um. O perigo, nisso tudo, é a idoneidade, a isenção de ânimo, o desprendimento do historiador. Infelizmente na maioria dos casos o profissional de história se prende a compromissos ideológicos ou religiosos, perdendo a oportunidade de ser intelectualmente honesto.

Muito da rejeição ao estudo da história vem da forma medíocre e primária com que é apresentada e cobrada em muitas escolas. Até nos vestibulares vemos a História transformar-se em um teste de memória e conhecimento de coisas insólitas. Por exemplo, num vestibular que minha esposa participou, univesidade federal, uma das perguntas era: o que é “mastabas”? Como se conhecer o nome específico para túmulo de egípcio antigo fosse algo importante...

A verdade é que neste mundo de grandes intercâmbios, conhecer a formação cultural, os vícios e as virtudes de cada tribo são atributos necessários para compreendê-las e sermos bem sucedidos nas transações em que nos metemos.

Na História veremos as origens de nossos mitos, porque somos ricos ou pobres, nossa base racial e cultural. Conhecendo-nos poderemos projetar e construir um futuro com maiores chances de sucesso.

Seria extremamente importante que nossos líderes e formadores de opinião estudassem e analisassem cuidadosamente a vida econômica das grandes potências. Se o fazem, parece terem esquecido muita coisa. O que é dinheiro? Como se forma a riqueza de um país? Por que o Brasil ainda não teve uma reforma agrária? E o capitalismo japonês é liberal? Por que a Europa ocidental teve tanto apoio dos EUA para seu desenvolvimento econômico e a América Latina serviu de suporte para os golpes militares que viveram? Nesse sentido os livros de Elio Gaspari, “A Ditadura Envergonhada” (48), “A Ditadura Escancarada” (49), “A Ditadura Derrotada” (50) e “A Ditadura Encurralada” (51) são uma excelente fonte de informações, algo que todos os brasileiros deveriam estudar com atenção assim como seus artigos publicados regularmente nos jornais brasileiros. É uma das poucas vozes independentes nesse Brasil de penas alugadas.

Um fato relevante nos países mais ricos é a forma extremamente egoísta, nacionalista com que sempre se conduziram. Só abrem fronteiras quando se sentem ricos e fortes o suficiente para resistir a qualquer concorrência.

E a história da dívida externa brasileira? Por que tivemos décadas perdidas? Por que tanta miséria? O que existiu por trás da quebra do monopólio da Petrobrás (quando tinha acento agudo na a final)? A privatização suspeita de nossas estatais em telecomunicações? Felizmente mais cedo ou tarde teremos estudos, pesquisas, análises e relatos mais precisos para podermos, pelo menos, colocar na prateleira dos maus brasileiros a coleção de “personalidades” que conduziu essa fase de nossa vida brasileira.

A História é o antídoto contra os fanatismos, os radicais. Superioridade racial, cultural existiu? É só lembrar a selvageria do nazismo59, a morbidez das Guerras do Ópio60, as sombrias decisões da Inquisição61. Se tudo isto não bastar vale a pena ler o livro “As veias abertas da América Latina”, Galeano (47), para compreender porque sabemos tão pouco das civilizações americanas pré-colombianas. Nos livros de história também encontraremos descrições da evolução do Direito, da Tecnologia, da vida privada, das artes e povos que marcaram nossa civilização.

A História contém as lições que precisamos para a vida política sadia.

É terrível ver o produto da ignorância. O renascimento de posturas radicais em torno de religiões mostra que muitos esqueceram os horrores de estados inquisitoriais. As ditaduras sempre precisaram de censores e torturadores para se manterem, como defendê-las? Só a ignorância dessas épocas poderia levar um cidadão saudável mentalmente (?) a desejá-las de volta, ainda que talvez inevitáveis em nações culturalmente muito atrasadas (será???).

Estudar e compreender os grandes movimentos humanos, suas ideologias, costumes e ideais é, na perspectiva do tempo, obter base para posicionamentos importantes e lúcidos. Neste início de milênio precisamos de muita inteligência para melhorar a vida de toda uma sociedade, de fazê-la mais justa e feliz.

É bom lembrar que a humanidade viveu o pesadelo de ser uma espécie animal em permanente risco de extinção em meio a outros mais fortes e perigosos. Nas florestas ou savanas e mesmo vivendo em montanhas o ser humano precisou superar limitações que exigiram muita inteligência, criatividade. Assim é bom transcrever, para que não esqueçamos, o que diz o livro História da Cidadania (12), pg. 162:

O homem só pôde pensar na felicidade como um projeto de sociedade, isto é, como uma possibilidade para todos os que nela vivem, quando criou os meios de fazer com que a educação, a produção de alimentos, a fabricação das coisas de que precisava – tecidos, roupas, máquinas etc. – aumentassem a tal nível que deixassem de ser um privilégio de poucos para ser uma possibilidade de todos. Isso não significou, nem significa ainda desigualdade e injustiça. Significa apenas que, a partir do século XVIII, com a chamada Revolução Industrial, o homem criou os instrumentos de que necessitava para produzir em abundância os bens de que dependia para viver mais confortavelmente. Com a Revolução Industrial, que basicamente consistiu no fato de o homem produzir utilizando máquinas movidas por energia não animal, ele pôde sonhar com um novo tipo de sociedade, na qual a miséria, a pobreza, o analfabetismo e a doença pudessem ser reduzidos e o projeto de uma sociedade feliz pudesse ser pensado e imaginado não sob a forma de uma utopia, mas como uma realidade a ser construída.


Nesses tempos em que ambientalistas radicais dão a entender que o progresso industrial, tecnológico e cultural foi ruim, é bom lembrar que até o século XVIII a esperança das pessoas em geral era conquistar uma vida melhor no outro mundo, após a morte...

Felizmente o trabalho de nossos historiadores não para. Alguns são excepcionais. Existem historiadores fantásticos. Quase centenário, ainda vivo, Eric J. Hobsbawm62 construiu uma coleção de livros geniais, corajosos e extremamente oportunos. Lemos e aprendemos muito com alguns de seus livros, entre eles uma excelente trilogia do século 19, nesta séria a “Era dos Extremos” (2), Hobsbawm, com texto crítico e minucioso, o autor leva-nos a entender bem a citação transcrita neste livro:

Yehudi Menuhin63: “Se eu tivesse de resumir o século XX, diria que despertou as maiores esperanças já concebidas pela humanidade e destruiu todas as ilusões e ideais”.

E no século 21? O que acontecerá? Será que poderemos evitar as tragédias do século 20?

Nesse sentido podemos ler a história romanceada da trilogia sobre a política norte americana feita por Gore Vidal64, as histórias se convergem dolorosamente.

Aliás, de Gore Vidal dois livros, “A Criação” (52) e “Juliano” (23) merecem ser lidos e estudados com muita atenção se quisermos ter uma idéia do passado remoto, o primeiro em torno do quinto século antes de Cristo e o outro sobre as influências a favor e contra o cristianismo no tempo do imperador Juliano, o apóstata.

Hobsbawm, historiador profissional, merece nossa atenção maior se quisermos estudar história de fato, sem as paixões do romancista. Em “Era das Revoluções, 1789-1848” (53) entramos no relato de conflitos, teorias e sonhos da humanidade ocidental onde podemos descobrir o trajeto de movimentos que abalaram a história da humanidade.

Infelizmente esses são livros clássicos, feitos de papel, que podem desaparecer das prateleiras. Se velhos, é uma crise de alergia toda a vez que pretendemos relê-los... Quantas boas obras somem por não serem reeditadas. Quanto poderemos ter de volta se aceitarem a edição eletrônica, via internet, como já existem alguns e se torna padrão na música... A Wikipédia é um precedente fantástico. Na área técnica, a mídia de grandes indústrias abre algum espaço para histórias na área tecnológica. Os portais das universidades já mostram muita coisa com acesso livre, como, por exemplo, dissertações de seus alunos e professores, pode-se, contudo fazer muito mais.

Precisamos de amplitude de leitura se quisermos nos sentir seguros de estudos que dependem de avaliação subjetiva. Para quem não mora em alguma grande cidade, perto de uma boa livraria ou biblioteca, deve ser difícil estudar, aprender.

A História simplória que aprendemos em bancos escolares é, normalmente, a de generais e batalhas com datas e nomes que os professores cobram ciosamente dos seus alunos. As exceções normalmente chegam carregadas com os preconceitos políticos dos mestres. Precisamos ir muito adiante disto. Devemos conhecer a evolução do pensamento humano, da vida familiar, de suas relações burguesas, as grandes utopias, as cidades e seus efeitos. Uma boa leitura para isto é a coleção “História da vida privada” (36). A coleção espelho relativa ao Brasil existe “História da Vida Privada no Brasil” (37). Estas obras oferecem análises e imagens extremamente interessantes da cultura ocidental. Nela saberemos detalhes das favelas francesas, do ambiente familiar da época dos Césares, da lógica urbanística e relações de poder assim como, na versão brasileira, os efeitos do desprezo das elites pelo povo mais humilde, sempre foco de esmolas, tremendamente carente de ações políticas eficazes no Brasil.

Temos livros e livros, enciclopédias e estudos detalhados de nações. No formato mais agradável e excelentemente ilustrado tivemos, por exemplo, a série de livros (História em Revista, (54)) da Editores de Time-Life Livros e Abril Livros. Sem análises de mérito ou de filosofia, descreve e ilustra com muitos detalhes interessantes as diversas fases da história da humanidade vista pelos estudiosos do Primeiro Mundo.

Infelizmente sentimos nesses e noutros livros de história a ausência quase total da América do Sul nas páginas desses livros. Da mesma forma com que ignoram a obra de Santos Dumont 65(por exemplo), a América do Sul inexiste, aparecendo em partes precárias. Nós não passamos de curiosidade exótica para a grande maioria dos cidadãos estrangeiros, distantes.

Nada impede a nós que, engenheiros, tenhamos nossos livros de história, contudo. Uma boa estante é a da Memória da Eletricidade no Brasil66 onde podemos encontrar, ainda que esgotados, mas com indicação para livros usados ou para consulta local, excelentes obra como, por exemplo, “Panorama do Setor de Energia Elétrica no Brasil” (55), mostrando o calvário que foi a implantação dos serviços de eletricidade em nossa terra.

Falando de engenheiro não poderia deixar de lembrar as manhãs de sábado no bar do Instituto de Engenharia do Paraná quando dava um jeito de me sentar próximo ao professor Tourinho para ouvi-lo contar o que havia estudado, vivido, conhecido, principalmente do seu querido estado do Paraná. Era simplesmente fantástico ouvir o que falava sobre nosso estado e o Brasil, isso sem contar suas lições de geografia. Espírita convicto, deu-nos lições de vida. Escritor, deixou-nos, entre outras obras, “Toiro Passante” (56), cujo primeiro volume, “Tempo de Capitania”, era qualquer coisa de excepcional pela graça de conteúdo do texto.

Com muito orgulho também merece registro a dissertação de mestrado de minha esposa Tânia (O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC - - Na gênese do processo tecnológico paranaense: uma contribuição ao estudo da história da Técnica e da Tecnologia (57)). A história dos processos que levaram algumas nações ao tremendo desenvolvimento tecnológico que fizeram delas grandes potências precisa ser entendido e, se possível, aplicado nos países emergentes.

A história tem muitas formas de ser contada, a transmissão oral é a forma fraternal, amiga, comunitária e familiar, extremamente rica de detalhes que a oficial não mostra.

Não posso esquecer, com destaque nas minhas memórias precárias, meu avô João Baião, lagunense fanático, que não cansava de contar histórias de sua terra natal. Cresci fisicamente e espiritualmente ouvindo, tendo o privilégio, de acompanhar relatos pessoais de cidadãos muito especiais, entre eles João Baião.

Vale, inclusive, ponderar sobre questões mais triviais.

Saber história, nesse mundo de turistas, evita “pagar o mico” em excursões onde guias com aprendizado superficial deitam falação em cima de maravilhas nem sempre louváveis. Nessa linha sairemos ganhando se antes de viajar leiamos obras mais populares. Temos livros e livros e alguns, por mais estranhos que pareçam, dizem muito, como, por exemplo (As Prostitutas na História, (58)) onde aprendemos muito sobre a importância da mulher num mundo hipócrita ou (Fora de Controle, (59)) em que ficamos conhecendo detalhes triviais que decidiram batalhas. Ou seja, os escaninhos da mente daqueles que tanto reverenciamos têm muito a dizer sobre imagens heróicas que construímos, não raramente inibindo e humilhando o jovem que procura seu caminho.

Mas os livros de história são importantes por diversas razões, entre elas as de não nos deixarem esquecer comportamentos que não deveremos repetir. Os europeus, por exemplo, mal lembram que o extermínio dos povos americanos aconteceu com as invasões dos “descobridores” e a exploração das riquezas minerais da América Latina foi a grande alavanca econômica durante séculos da Europa clássica. Os belos monumentos, as cidades bem construídas, catedrais, palácios e teatros europeus tiveram muito do ouro e prata extraídos à exaustão de minas encontradas nas terras de pessoas que até a denominação de “índios” receberam por efeito da ignorância dos colonizadores (exterminadores).

O nosso próprio desconhecimento de nossa história vem também da carência de livros populares e bem feitos sobre o que foi nosso povo. Nosso país merece uma grande análise e exposição. Afinal hoje temos uma sociedade multirracial razoavelmente harmônica, apesar de denúncias ridículas de muitos panfletistas mal intencionados. Precisamos, contudo, aprofundar-nos em nossa cultura para entendê-la. Sua origem foi degradante em muitos aspectos. Aqui praticamos o genocídio e o escravagismo. Felizmente evoluímos. Estamos muito melhores que muitos países europeus onde o racismo e as guerras religiosas ainda se fazem presentes.

É impossível conhecer tudo. No entanto muito deveria ser estudado com profundidade. Fatos como a Guerra Civil Espanhola67 e o genocídio americano deveriam ser matéria obrigatória assim como a história das utopias. Todo cidadão inteligente e com poder deveria ter uma base cultural mínima para, quem sabe, não dizer tanta besteira ou, pelo menos, não ter a desculpa da ignorância quando viesse a ser julgado por suas piores decisões.

Quando nascemos somos simples e maravilhosos bebês. O que faz destes projetos de gente figuras tão díspares? A história de suas vidas poderá mostrar as diferenças, o que levaram alguns ao cadafalso e outros à chave dos carrascos.

Na história das nações veremos o efeito de idéias, filosofias e ambientes. Alguns povos cresceram para depois submergir. O que teria levado o povo de Grécia, ou melhor, na região em torno do Mar Egeu, há dois e meio milênios, ao fantástico nível de um Sócrates, Platão e Pitágoras? Por que o fenômeno não se repetiu tão cedo? Por que uma nação que gerou um Goethe, Engels ou um Hermann Hesse mergulhou no nazismo? Qual o efeito da Primeira Guerra Mundial sobre a nossa vida atual? É bom sabermos para não repetir erros...

Os meios de comunicação tornam-se mais poderosos e numerosos. O cidadão atual tem a seu alcance informações que ninguém há um século imaginaria ser possível. Em qualquer livraria especializada encontraremos mais recursos que qualquer cientista disporia há pouco tempo.

A falta de informações precisas levou nações a abraçarem as teorias mais absurdas. Assim a humanidade passou por inúmeras guerras. Nossa esperança é que a tecnologia diminua esta fragilidade colocando à disposição de todos as imagens e histórias que mostrem o ridículo das posturas radicais.

A História destaca a importância da liberdade. As grandes guerras foram produto das ditaduras, de imperadores e ditadores megalomaníacos, muitos deles líderes de religiões agressivas. É interessante notar atualmente como em países onde existe liberdade de imprensa há uma preocupação de se evitar escaladas militares. As primeiras lágrimas mostradas na televisão derrubam a popularidade dos gerentes da morte.

Observamos como a liberdade responsável, a valorização da cultura e a tolerância são importantes. A própria cidade de Atenas, o que tinha de tão frutífero 400 anos antes de Cristo? Liberdade, tolerância e democracia. A História da humanidade nos mostra isto. Não é importante sabê-lo? Talvez por isso Atenas não se notabilizou como uma potência militar. Essa era a qualidade de Esparta, cidade sem liberdade, com padrões de disciplina e alienação surpreendentes até para a época.

Infelizmente também a História da humanidade mostra que o interesse individual sempre prevaleceu sobre o coletivo. Não há demonstração mais inequívoca da “Pirâmide de Maslow”68 do que a política, a vida dos povos. Com todos os seus ideais, apesar da base humanista e dos traumas das grandes guerras, vemos, por exemplo, a Europa retomando caminhos fascistas. Os ideais socialistas não impediram a China de invadir o Tibete69 em 1950.

A História, íntima da Sociologia, ilustra e serve de demonstração positiva ou negativa de todas as teses políticas. Ela mostra com muita clareza o estágio de desenvolvimento cultural de um povo. A prevalência dos instintos é um fato mais do que evidente em todas as fases das conhecidas até agora. Nenhuma nação atingiu o patamar da racionalidade muitas vezes exibido em momentos fáceis. Basta uma agressão ou risco de sobrevivência e os hinos militares são tocados com violência conclamando todos à guerra.

O jovem do futuro deverá ser muito mais que um adulto atual. De alguma forma deverá amadurecer rapidamente, pois a evolução tecnológica e as multidões poderão gerar conflitos terríveis. Diversas vezes nessas últimas décadas estivemos à beira de uma guerra atômica. Vemos países superarmados comandados por indivíduos sem qualificações morais e até mentais. Ainda não possuímos uma forma de inibir a loucura de líderes carismáticos. A tecnologia, de uma maneira especial, colocou nos dedos de certos indivíduos a capacidade de aniquilar a humanidade. A história mostra-nos quantas vezes nações tidas como extremamente cultas e desenvolvidas caíram nas mãos de lunáticos. Conhecer suas carreiras, métodos e os resultados dessas vidas são muito importantes para se evitar repetições. Precisamos encontrar vacinas contra as guerras, a miséria e a tirania.

Aprender para julgar, saber para comandar, lembrar para não repetir erros. Este é o nosso desafio, nós que nos consideramos racionais.




















História da Tecnologia




Aprendendo um pouco de Antropologia, analisando a história, vendo a evolução da espécie humana, aos poucos vamos percebendo que a nossa existência como espécie dominante (se esquecermos as bactérias e os vírus) deve-se à utilização da inteligência na fabricação de armas, utensílios, máquinas, edifícios e coisas assim. A datação da existência da vida humana aproveita conhecimentos científicos que, por sua vez, criam tabelas cronológicas relacionando o império humano às pedras lascadas, polidas, machadinhas, arcos, tijolos etc. que vão encontrando nos sítios arqueológicos.

O formato do “homo sapiens sapiens” viabilizou sua supremacia sobre outras linhas de hominídeos e a partir de algum momento da história nossos ancestrais começaram a se distanciar rapidamente de suas origens mais rudimentares. Seria interessante refletir como viviam. Muitos filmes e documentários mostram o que éramos. Há uma distância colossal entre nosso século 21 e o que existia a apenas trinta ou quarenta milênios passados, o que é muito pouco tempo se lembrarmos que os primeiros antropóides apareceram sobre a Terra há dois ou três milhões de anos.

O Cro-magnon70 é nosso ancestral divisor de águas, aquele que realmente começou a enfrentar a natureza com maior criatividade e eficácia. Da Wikipédia temos que:

Como seus anteriores, os Cro-Magnon moravam em cavernas. Mas são notáveis seus progressos culturais. Os utensílios, instrumentos e armas já apresentavam um acabamento razoável, e outros materiais, além da pedra, são lascados, como o chifre da rena e o marfim. Fabricavam o arpão, o anzol e acabaram inventando a agulha de osso, que lhes serviu para costurar suas roupas, feitas de peles de animais, pois ainda não conheciam a tecelagem. Deviam comer seus alimentos cozidos, pois foram encontrados nas cavernas inúmeros vestígios de fogões rústicos.

Vemos, portanto, a criação de ferramentas, roupas e armas, sinalizando a partir daí indicadores que fizeram de algumas nações grandes potências enquanto outras perderam força criando ou utilizando com menor intensidade equipamentos e instalações fabris e guerreiras.

A capacidade de enfrentar animais mais fortes foi a principal conquista do ser humano em sua fase préhistórica, coletor e predador, quando convivia, a princípio, em condição de inferioridade com feras mais fortes e dominantes na natureza.

Vícios e cacoetes culturais e políticos além da própria ignorância fizeram de aulas de história o relato cronológico de guerras, religiões e políticas imperialistas. Seria extremamente mais eficaz mostrar aos nossos jovens que a humanidade cresceu e realmente se tornou forte graças a gênios criativos, técnicos, engenheiros, arquitetos, médicos, a pessoas que inventaram ou, pesquisando com os recursos de sua época, descobriram as causas e efeitos do que sentiam ser importante. Pensar em Tecnologia significa começar falando da China e do Egito. A grande diferença é que no Egito a inteligência humana concentrou-se na manutenção da ordem sacerdotal, no poder dos faraós e na aplicação de lógicas religiosas que fizeram de algumas regiões próximas ao Rio Nilo lugares de palácios suntuosos e cemitérios colossais. Os chineses, mais pragmáticos e habitando uma região mais hostil, utilizaram seus conhecimentos para a o controle de seus rios e na defesa do país, com destaque para a Muralha da China. Se a muralha pode ser vista da Lua e teve resultados discutíveis, a construção de diques e canais para regularização do Rio Amarelo em torno de 2.200 anos A.C., descrita na Wikipédia,71 merece admiração e levanta a questão, qual era o nível técnico dos engenheiros chineses?


O Rio Amarelo recebe no verão um grande volume de águas originadas do degelo nas montanhas no oeste da China, e isso causava grandes inundações períódicas em toda a bacia. O loesse trazido pelo rio sedimenta-se, causando seu assoreamento, agravando as enchentes. No início do estabelecimento humano, as enchentes repentinas causavam tantas mortes que os chineses ainda apelidam o Rio Amarelo de "Rio das Lamentações". Por causa destas eventualidades, os chineses demoraram séculos para ocupar de forma permanente a grande e fértil planície central da bacia do Rio Amarelo.

O controle das inundações surgiu em algum momento por volta de 2.200 a.C., quando um extenso sistema de diques, canais de escoamento e reservatórios foi construído, contendo o excesso de água proveniente do degelo e possibilitando o cultivo permanente da planície central.

A construção destes sistemas data de antes dos registros escritos, e por isso sua documentação posterior é cercada de lendas. Uma delas a atribui a um imperador lendário, Yü o Grande, que teria coordenado a construção dos diques e terminado com uma inundação que teria durado 13 anos. Após tal feito, ele teria sido alçado ao status de divindade. A lenda perpetrou-se na cultura chinesa posterior, e há um provérbio local que diz: "Não somos peixes graças a Yü".


Esta obra merece destaque e explica porque os chineses se adiantaram ao mundo ocidental nas grandes invenções, da pólvora72, da bússola73 ao tipo móvel usado na impressão. É bom lembrar que no segundo milênio antes da era cristã a nenhuma das grandes cidades européias, muito menos os países, que hoje se destacam, existiam e os chineses já domavam seus rios e os egípcios enterravam seus faraós com rituais inimitáveis. Se o Egito era dominado por uma classe sacerdotal que entesourava o conhecimento técnico, na China o poder era mais secular e subordinado aos seus imperadores.

Nos países mediterrâneos temos exemplos fantásticos da importância da tecnologia quando utilizada de forma objetiva. A Grécia e suas antigas cidades-estado produziram tremendos pensadores. Deles ganhamos filosofias, crenças e lógicas, mas a falta de visão pragmática inibiu entre eles a criação de armas e equipamentos que lhes teriam dado maior capacidade de resistência aos invasores; por muito pouco os persas não dominaram Atenas, Esparta e outras cidades no quinto século antes de Cristo. Nesse período a inteligência e a capacidade de luta dos gregos, que defendiam suas cidades, venceu um exército mais numeroso e, exatamente por isso, dependente de uma logística e capacidade técnica elevadas, mas, heterogêneo e mal comandados. Os persas perderam, mas poderiam ter vencido se os seus generais fossem mais competentes, com nível equivalente ao dos engenheiros que utilizaram.

A tecnologia foi uma das marcas e fez a diferença dos exércitos macedônios (século IV A.C.) quando, paralelamente os romanos começavam a crescer aprendendo com seus inimigos cartagineses e derrotando-os em três guerras (264 a 146 A.C.), que decidiram o futuro da humanidade. Os romanos começaram copiando dos cartagineses os navios que utilizavam e nas lutas que se seguiram aprimoraram a organização e supriminto de grandes exércitos, que durante séculos dominaram a Europa e parte da Ásia e África. As estradas romanas fazem parte das glórias da tecnologia humana assim como os carros de assédio em longos sítios a fortalezas inimigas. Se alguma coisa foi decisiva a favor dos romanos foi sua criatividade e capacidade de construir, fabricar, produzir armas, estradas e cidades.

A humanidade desenvolve-se em períodos oscilantes. Se na antiguidade podíamos ver aquedutos gigantescos como aqueles construídos para abastecer Roma e depois Constantinopla (Istambul), capital do Império Romano do Oriente (330 a 1453 D.C.), quase totalmente dependente da água trazida de dezenas a centenas de quilômetros em aquedutos construídos por eles, tudo isso foi esquecido mais adiante com o declínio do Império Romano e a submissão a povos menos desenvolvidos e lógicas religiosas castradoras. Obviamente em sintonia com o sistema de abastecimento de água apareceram os circuitos de esgotos, ou seja, há quase dois milênios fizeram obras de saneamento básico sem similares na maioria das grandes cidades até há pouco tempo.

O mundo ocidental regrediu muito na noite medieval, quando todos só pensavam no Armagedon e nas penitências para poderem voar para os céus, após vidas piedosas que levaram muitos a condenarem o banho, a higiene pessoal, as roupas alegres e sensuais, a alegria enfim, tidos como fatores de pecado, principalmente quando estimulando a atração sexual.

Gênios da humanidade souberam pensar de forma positiva. Roger Bacon(1214 – 1294)74, frade franciscano, foi um desses que ressuscitaram a inteligência científica, criando as sementes que revolucionariam a humanidade ainda que com o sacrifício ou a glória de muitos seres humanos que mereceriam a designação mais nobre de “homo sapiens sapiens”.

A Tecnologia como ciência devendo (A Tecnica e a Tecnologia enquanto a categoria distinta (60)) educar, “gerar o conhecimento e promover a sua transmissão, tendo como função alimentar e realimentar o processo produtivo no interior das relações sociais, realizando avanços em diferentes segmentos” certamente ganhou um recurso fenomenal com a invenção de Gutemberg,75 que viabilizou o registro e divulgação dos conhecimentos científicos a custos cada vez menores, permitindo a popularização do conhecimento. Obviamente isso também deve muito aos padrões de escrita que adotamos, contínua, com caracteres funcionais, capazes de representar todos os sons necessários à comunicação assim como suficientes para expressar, por escrito, nossos pensamentos. Essa facilidade de comunicação (imprensa e padrões de escrita) contribuiu muito para romper a atmosférica dogmática dominante no mundo ocidental, apesar de ter levado muita gente para as barras da Inquisição e às fogueiras purificadoras.

A retomada da Tecnologia e a compreensão da necessidade de se transmitir conhecimentos científicos sem restrições pesadas levaram à formação de escolas e universidades, além dos ambientes de pesquisa produzidos em laboratórios militares e industriais, principalmente a partir do século 19. Principalmente o livro “A Era do Capital” (Hobsbawm E. J., (61)) é um relato genial da importância da Tecnologia no crescimento econômico da Humanidade.

Infelizmente o domínio tecnológico na produção de armas também viabilizou guerras gigantescas, propiciando à Humanidade o poder de se destruir totalmente.

O aspecto positivo da Tecnologia é fácil de ser percebido: expectativa de vida cada vez maior, mortalidade infantil podendo ser reduzida a níveis muito pequenos, boa qualidade de vida para todos aqueles que vivem em países desenvolvidos materialmente e socialmente.

Neste século 21, contudo, temos o desafio de utilizar novas técnicas de produção e consumo, o que se firma como uma tremenda oportunidade de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, dando-nos a visão de mais postos de trabalho e aprimoramento da humanidade, pois, fugindo ao simples consumismo, ganhamos a consciência de compromissos com a Natureza e o ser humano, que não podem ser vítimas de simples conveniência particulares em negócios nem sempre publicáveis.

Outro aspecto importantíssimo do desenvolvimento tecnológico é a compensação de limitações físicas, sensoriais e mentais. Graças ao conhecimento poderemos, ainda neste século 21, reduzir drasticamente as limitações das pessoas deficientes.







Psicologia e Sociologia


Na vida profissional, sentimental e social ter bons conhecimentos de psicologia e sociologia ajuda muito. Essas duas ciências do comportamento humano dão-nos elementos para a compreensão da grande maioria dos processos que nos afetam.




Figura 3 - Pirâmide de Maslow - wikipédia

Citei, por exemplo, a pirâmide de Maslow76 ( Abraham H. Maslow ) em alguns capítulos. Por quê? De uma forma simples este cientista mostra que nossas decisões seguem uma seqüência de prioridades da qual dificilmente escapamos. Saber disto é importante ao se avaliar o desempenho de qualquer indivíduo ou comunidade. Ao dizer que um ser humano agirá primeiramente motivado por anseios básicos de sobrevivência poderia parecer óbvio. Mostrar que outras posturas seguem-na em ordem de prioridade, naturalmente, será a explicação para muitas atitudes tomadas por indivíduos e multidões, quando desafiados a agir rapidamente. Na visão de Maslow decidimos dentro de uma seqüência começando pelas necessidades fisiológicas (alimentação, sexo, sobrevivência básica de modo geral), segurança (sobreviver com tranqüilidade), necessidades sociais (pertencer a grupos, clubes, igrejas, partidos etc.), estima (ter a simpatia dos amigos, companheiros, gostar de si próprio) e auto-realização, ter o sentimento de que fez e faz, de que é útil, de que fez o máximo possível dentro de uma visão pública, de que é um campeão. Nessa etapa Maslow diz “o que um homem pode ser, deve sê-lo”. Pessoas e nações agem assim. Nossa esperança é que a Humanidade mostre o lado bom das grandes nações e que suas atitudes apresentem de forma positiva a última escala da pirâmide de Maslow. Nações fortes e ricas venham apoiar o Terceiro Mundo na luta contra a miséria. O que vemos, infelizmente, é muito diferente. O que se gasta em armamentos daria para alimentar e educar cada ser humano sobre a Terra. O que impede a racionalidade? Ou é parte de uma grande estratégia de poder manter grande parte da Humanidade nos limites da sobrevivência?

Outra boa contribuição à análise das relações humanas é a análise transacional. Lembrar a necessidade do toque social positivo e demonstrar sua importância é o mérito dos livros “Você está OK? Os jogos da Vida” (Berne, (62)) e “Eu estou OK, Você está OK” (Harris, (10)). Quem nunca sentiu a dor da indiferença, do desinteresse de pessoas que admiramos e estimamos? A falta de correspondência frustra companheiros, amigos e amantes. Muito do que percebemos também é parte de uma estratégia de comunicação normalmente implícita, eventualmente planejada.

A história da psicologia, de um modo especial, é o relato e a análise da descoberta do ser humano. Muito antes aprendemos a fazer facas e espadas. Custamos a chegar ao conhecimento científico da natureza humana. Os especialistas falarão em psicologia, psiquiatria e psicanálise. As suas três formas têm contribuído para o desenvolvimento de todos nós. Essas ciências aplicam-se perfeitamente à vida profissional. Evidentemente algumas para explicar e corrigir patologias, outras para ajudar-nos a encontrar técnicas de gerência e liderança. Na administração de empresas um bom livro para começar a ver essas questões é “Psicologia para administradores” (Paul Hersey, (63)).

Na moda, apesar de não ter lido nenhum livro a respeito, partindo, contudo, da minha própria maneira de ser e das experiências boas e más da minha vida recomendo que se estude tudo o que se relacione a “Inteligência Emocional”77, com certeza algo fundamental à vida de qualquer cidadão.

Principalmente a partir do início deste século tivemos grandes cientistas do comportamento humano, consolidando as bases destas ciências. Graças a eles chegamos às técnicas de gerência moderna, por exemplo, e também, infelizmente, a refinamentos em propaganda de coisas que gostaríamos de esquecer. A nazista foram mestres nesta arte com seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels.78

Mídia? Sim, foram e são extremamente eficazes a serviço de ditaduras, da exploração do homem pelo homem, da criação de hábitos nocivos a todos.

Ao mostrarem a existência e efeitos de nossos instintos sexuais, da estruturação do raciocínio de uma pessoa e da forma como agimos diante de estímulos os mais diversos, tornaram compreensível traumas e atitudes de nosso dia a dia. A própria Justiça, na sua preocupação de administrar leis que devem ser iguais para todos, ganhou colorido em seus processos. O ser humano não age simplesmente porque é bom ou mal. Uma série de fatores levam-no a atitudes nem sempre desejáveis, mas explicáveis. O sentimento de culpa, os traumas e nossas reações tornaram-se compreensíveis com pesquisadores já bastante conhecidos.

Procurar estudar o trabalho de Freud79, Jung80, Adler81, Fromm82 e outros ajudará na compreensão e tolerância de nosso comportamento. Na vida profissional, de um modo especial, teremos aí excelentes ferramentas de análise de nossos times.

Já a sociologia, aplicando-se aos grupos, tribos e nações leva-nos tanto ao conhecimento de sonhos de nossa espécie até análises de processos recentes como o foram o fim do comunismo na ex URSS e das ditaduras na América Latina.

É importante procurar conhecer o que representou a sociedade industrial sobre os povos europeus no século passado. A escravidão em torno dos teares deu uma boa base às teorias de Marx83. As grandes plantações de algodão na América do Norte e as de cana de açúcar na América do Sul tiveram efeitos consideráveis em nossa história política e social, gerando no norte uma guerra de secessão e no sul toda uma estruturação conservadora, retrógrada. Teorias como as de Auguste Comte84 foram aplicadas no Brasil. O Positivismo85 pesou na educação de nossos exércitos republicanos. A criação de sociedades perfeitas era o objetivo de muitos imigrantes.

Gilberto Freyre86 e Darcy Ribeiro87 são exemplos de profissionais que muito contribuíram para nossa cultura.

A compreensão dos processos de decisão individual e coletivo ajuda-nos a ser bons pais, gerentes e companheiros. A ignorância escraviza-nos a dogmas, religiões e partidos, que nem sempre serão instrumentos de progresso, tolerância e amor.

Um cidadão não terá capacidade de julgar se não tiver uma base mínima sobre as ciências que afetam nosso comportamento. A ausência delas leva-nos a decidir por intuição ou, simplesmente, aceitando uma liderança nem sempre bem intencionada. Vivemos em uma democracia. Isso nos obriga a procurar bases sadias de decisão. Nossos votos valem governos, guerra e paz. Não podemos ser irresponsáveis fugindo à formação básica necessária.

Infelizmente nossos legisladores agem motivados por fantasias e outros interesses menos publicáveis. A ignorância tem sido valorizada. Ela é manipulável. Antes de combatê-la, dão-lhes prestígio.

É interessante notar que até para casar os padres exigem um pequeno curso. Dirigir automóvel leva-nos a testes periódicos. Para votar, no Brasil, basta saber esticar o dedão borrado de tinta sobre um papel. Em nosso país o voto é obrigatório para quem souber desenhar o próprio nome. O que pretendiam nossos constituintes em 1988?

Estudando psicologia e sociologia poderemos encontrar explicações para esses fenômenos. Substituiremos e sentimento de frustração pelo de curiosidade sobre processos políticos e sociais. Teremos como agir de forma mais eficaz.





Egoísmo e altruísmo


Devemos pensar com profundidade o que significa ser egoísta ou altruísta, existindo aí uma gama infinita de combinações possíveis. Talvez por absoluta insegurança, a avareza não é rara e o narcisismo se incorporou à vida moderna. A mídia comercial, supervalorizando a aparência, os hábitos de consumo, luxos e vaidades afasta as pessoas de comportamentos de respeito e amor ao próximo; o cidadão ao lado deve ser superado, dominado e humilhado, essa é a mensagem implícita dos comerciais que vendem automóveis, roupas e até apartamentos.

Com certeza a mídia simplesmente explora nossos instintos mais elementares. Freud explica.

Turbinando o individualismo descobrimos que as famílias diminuem de tamanho. O filho único transforma-se em reizinho, no herói da mamãe. Que tipo de adulto será essa criança?

O garoto, a menina, os poucos filhos de um casal formam com seus pais uma unidade de resistência e competição. Isso é natural, até onde, contudo, isso afetará o comportamento ético, social e individual de seus componentes? Quais seriam os limites?

É interessante observar a maneira de ser da humanidade. A construção da civilização passou pela aceitação tácita do direito imperial dos líderes. Nossos turistas modernos não se cansam de admirar, fotografar e filmar os exemplos absurdos de desperdícios colossais de potencial humano de criação e produção em benefício de tão poucos. Das pirâmides do Egito aos castelos monumentais de reis e ricos, inclusive para o prazer de líderes “comunistas”, notamos a formulação de raciocínios e atitudes que mostram a passividade do povo diante do fausto dos poderosos e a disposição do indivíduo em se apropriar do máximo que puder abraçar no culto à sua própria existência.

Devemos, contudo, começar lembrando que a postura egoísta tem lógica, é a chave da sobrevivência darwinista que a Natureza nos impôs. Se o animal “ser humano” existe é simplesmente porque ele foi mais competente do que outros, essa existência não aconteceu por efeito de poesias ou amores. O instinto de sobrevivência coloca em nós padrões de ação e reação violentíssimos, quando necessários. Atitudes que exercitamos principalmente contra nossos semelhantes. Aliás, somos nisso idênticos a uma coleção infindável de animais que denominaríamos “territorialistas”. Quem é aquarista pode testemunhar a violência de um peixe quando outro invade o seu espaço...

A grande dúvida, sempre, é de que jeito seremos a cada avanço do tempo, das mudanças que criamos e que devemos enfrentar.

Devemos raciocinar e sentir a vida de modo a podermos tomar decisões que façam da humanidade uma espécie mais feliz, afinal, seria outro o objetivo de nossas existências?

Com certeza saímos de uma tradição de bajulação a seres superiores, humanos ou etéreos. Este comportamento afeta o caráter e a maneira das pessoas enfrentarem a vida. Assim é fácil entender a rezas intermináveis, as manifestações de devoção em momentos de crise. Graças a isso milhões de pessoas foram sacrificadas ao longo dos tempos na esperança de agradar aos deuses.

Temos, contudo, um estímulo muito forte em nossos sentimentos de isolamento e agressividade, que é viver em grandes cidades. Se, por um lado, nelas teremos oportunidades ilimitadas de ação social, de auto-realização, dentro das megalópoles sentimo-nos lutando contra multidões que nos dão a impressão de monstros perigosos, fazendo de nós, eventualmente, seres isolacionistas e mais agressivos do que seríamos em condições menos tensas. Temos estudos, pesquisas e teorias que nossos sociólogos e psicólogos fizeram, algo que os políticos sabem explorar muito bem.

Na ausência de amor próprio e de auto-respeito também existem patologias perigosas, situações que destroem qualquer um. Jung88, um dos primeiros psicólogos a tentar explicar motivações do ser humano dentro de sociedades maiores, chegou a praticamente mitificar padrões de comportamentos com os seus arquétipos89. Um mérito de seu trabalho foi enxergar o cidadão perante as multidões, o homem e a humanidade.

Vale a pena transcrever o seguinte (Carl G. Jung, (7)):

Hoje em dia o aumento considerável da população, sobretudo nas grandes cidades, exerce inevitavelmente sobre nós um efeito depressivo. Pensamos: “Bem, sou uma pessoa qualquer, que vive no endereço tal, como milhares de outras pessoas. Se alguns de nós formos mortos, que diferença faz? De qualquer maneira, há gente sobrando no mundo”. E quando lemos nos jornais a respeito da morte de inúmeros desconhecidos que pessoalmente nada significam aumenta a sensação de que nossa vida nada vale...”


Ou seja, o isolamento e a insignificância que desabam sobre a visão do ser humano em relação à sociedade o fazem sentir-se pequeno, desprezível, levam-no freqüentemente a atitudes agressivas, destrutivas. A partir daí torna-se fácil compreender a hostilidade brutal das torcidas organizadas, as reações políticas a qualquer ofensa, o racismo e a xenofobia.

Há alguns anos, durante um jantar entre pessoas de elevadíssimo nível profissional, em Paris durante um congresso, ao falarem da personalidade do povo sérvio, vimos, surpresos, os instintos assassinos latentes naquele grupo “seleto” de engenheiros. Todos queriam pegar em armas e sair atirando no primeiro sérvio que encontrassem. A generalização de sentimentos poderia levá-los a comportamentos que simplesmente não faziam sentido, pressupondo-se o alto nível cultural do povo europeu, mais ainda naquele ambiente de pessoas aparentemente esclarecidas.

Vivendo muito ganhamos uma certeza: o egoísmo excessivo mata, machuca a própria pessoa. À medida que o indivíduo se supervaloriza e se considera acima de tudo e de todos tende a desabar, a cair em alguma armadilha que a mais cedo ou tarde a Natureza lhe colocará no caminho. Se nada for suficiente quando, no auge de sua vitalidade, considerar-se forte, belo, seguro, a famosa “terceira idade”, a velhice lhe trará o peso das deficiências que o humilharão. Nessa fase da vida sentirá a necessidade da caridade de outros, perceberá que poderia ter mais se ao longo da vida soubesse doar de si.

Como é triste ver pessoas com pena de si próprias. É típico dos egoístas olhar para o espelho e chorar as derrotas, as perdas, a falta de compreensão dos outros, os azares da vida.

Quem não sabe amar não será amado.







Ideologias


A vida política, as relações econômicas, as religiões e seus mitos e o poder sempre seguiram modelos que caracterizaram ideologias. Esses conjuntos de idéias geraram propostas, partidos e muitos conflitos. Neste século vivemos a luta entre capitalistas, socialistas e comunistas. Os monarquistas perderam-se no início, afundando de vez na Primeira Guerra Mundial. Hobsbawm relata bem o périplo das monarquias de 1875 a 1914 (Hobsbawm E. J., A Era dos Impérios, 1875-1914, 2006). Basicamente tivemos, temos e teremos sempre a guerra entre os conservadores, detentores do poder, e os progressistas, ou seja, os futuros conservadores.

As lutas ideológicas são naturais, mas penosas, destrutivas, muitas promovendo retrocessos consideráveis. Os conservadores resistem e com o poder de exércitos convencionais dificultam mudanças que poderiam ser válidas. Por outro lado esta resistência é necessária. Um povo não pode mudar suas relações institucionais com freqüência. As idéias precisam amadurecer, ser testadas e, acima de tudo, devem corresponder a uma vontade popular firme e consciente.

A radicalização tem sido a rotina da humanidade. Líderes iluminados defendem ardorosamente propostas que mal entendem, militantes deslumbrados dão a vida por soluções muitas vezes contrárias a seus interesses.

Um manual para quem procura entender de uma forma mais precisa o que seriam as ideologias tivemos no livro “Princípios Fundamentais de Filosofia” (Georges Politzer, (64)). Este livro foi, durante muito tempo, uma bíblia política para nós. Este velho e bom livro dá uma boa base sobre o que é capitalismo, socialismo e comunismo. Seus autores colocam suas simpatias pessoais com paixão, mas a conceituação expressa nesse livro é boa. Percebe-se nele a necessidade de aprofundamento de teses importantes ao futuro de nossos descendentes. Infelizmente a radicalização selvagem não ajudou em nada a compreensão e aproveitamento de todas estas propostas. Vimos as ideologias mitificando-se e a seus líderes. As liberdades transformando-se em prisões, a democracia perdendo para ditaduras, comunistas se transformando em monarquistas, grandes lideranças sociais querendo simplesmente proteger a própria família ao final da vida e os povos regredindo às formas mais selvagens de individualismos.

Agora, ou melhor, há pouco tempo (governo FHC) foi politicamente correto falar em redução de verbas para fins sociais, o povo não devia mais governar-se. O estado existiria para garantir o direito dos poderosos e cobrar os deveres dos mais fracos.

Entre nações o imperialismo voltava com toda a força, mais sutil e muito mais eficaz até quebrar nesta crise econômica mundial que não sabemos como terminará, colocado que estava nas mãos de janízaros extremamente ágeis na degradação do estado e na promoção do entreguismo.

Vale lembrar o que eram os janízaros90:

Os janízaros (do turco Yeni Tcheri, ou "Nova Força") constituíram a elite do exército dos Sultões otomanos. A força, criada pelo Sultão Murad I (embora algumas versões apontem o pai de Murad, Orkhan, como seu criador), era constituída de crianças cristãs capturadas em batalha, levadas como escravas e convertidas ao Islã.

Os jovens eram educados na Lei islâmica e na língua turca, ao mesmo tempo que aprendiam a manejar armas e instruídos em artes militares. Os jovens cresciam tendo o próprio Sultão como uma figura paterna, por quem estariam dispostos a defender até a morte mesmo contra seu próprio povo de origem. A justificativa para a adoção de um corpo de soldados conversos ao invés de turcos nativos era que os turcos deviam lealdade ao seu povo e às suas famílias, e poderiam se tornar rebeldes em caso de uma ação do Sultão contra outros turcos. Já os jovens cristãos só deviam lealdade ao Sultão, e lutariam contra qualquer inimigo por ele.


Em algumas de nossas escolas, brasileiros se deixam educar para servir multinacionais, a se comportarem como soldados de corporações sem pátria, sem cor, talvez com bandeiras diferentes, línguas estrangeiras...

Nós, brasileiros, somos subdesenvolvidos politicamente. Nossos líderes perdem-se em questiúnculas. As grandes teses mal são discutidas. No Congresso a maior parte do tempo é gasta em discursos inúteis. As decisões são tomadas no cabresto da ignorância e da preguiça. Para que estudar se fulano ou sicrano entende? Ele decide...

No paradoxo da democracia os mais pobres apóiam teses conservadoras. Abaixam a cabeça sob o peso esmagador da mídia para que em seus pescoços se coloquem as cangas desta imensa carroça que é a estrutura social terceiro mundista, alienante, escravizante na tirania das elites endinheiradas .

Devemos estudar teorias políticas, direito dos povos, idéias e formas de aprimorar a vida. Com a mesma preocupação com que nos empenhamos em compreender uma religião deveríamos estudar ciências sociais. Queremos votar, participar. Quando depositamos nosso voto em uma urna estamos decidindo sobre o futuro, contribuindo de alguma forma para o aprimoramento ou degradação da sociedade. É comum ouvir as pessoas reclamarem dos políticos, mas a qualidade é decisão dos eleitores.

Mas, e as ideologias? O que existe é o melhor? O que corrigir ou pensar?

De uma forma ou de outra o grande desafio da Humanidade é encontrar uma forma que viabilize a vida para todos, uma vida decente e justa. A marginalização de grande parte da população é inaceitável em um mundo pretensamente racional.

É óbvio que muitas questões terão que ser revistas, encaradas com seriedade. O planejamento familiar mais cedo ou mais tarde será questão de estado. A menos que alguma doença, guerra ou catástrofe natural reduza drasticamente a população sobre a Terra, chegaremos ao próximo século perto de limites perigosos. Talvez ainda possamos ir muito longe sem controles, mas um dia o sinal vermelho acenderá.

Uma análise que podemos promover de nossa sociedade é a que fazemos dos médicos. Não entendemos de medicina, dizemos que um médico é bom se curar, será ruim se não tiver sucesso. Assim podemos julgar nossas instituições, resolvem? Criaram uma sociedade sadia? Não! Alguma coisa está errada. As diferenças são brutais. A personalidade das pessoas criadas neste ambiente é deplorável. Será que a humanidade tem capacidade de exercitar uma sociedade altruísta, produtiva e justa?

Observando-se com atenção o ser humano veremos, do mais pobre ao mais rico, a imagem do animal selvagem. A semelhança cresce assustadoramente quando atingimos seus interesses.

O grande desafio de Cristo não foi vencido: amar ao próximo como a si mesmo. Como? Quanto? Quando? Por quê? Mesmo na forma mais branda de Zoroastro91 “não fazer ao próximo o mal que não quiser para si” não é moda, não é padrão em nossa sociedade.

A humanidade teve muitas utopias. Apesar do final fascista, compensa ler o livro “Os grandes sonhos da humanidade” (Miller, (4)). Utopias ou não as ideologias confirmam-se ou frustram-se diante dos instintos. A euforia de qualquer povo diante de suas vitórias militares deixa qualquer humanista perplexo, não interessa o mérito da luta, a vitória fascina, empolga.

Diante de tudo isto tem sentido propor sistemas que contrariem nossa índole? Como reagirão as futuras gerações? São questões permanentes que nos obrigam a pensar. E temendo por elas obrigamo-nos a teorizar. Precisamos discutir à exaustão o cenário “século 21”.

Nesse sentido registramos com orgulho o trabalho da Federação das Indústrias do Paraná que abraçou com entusiasmo este desafio. Seu atual presidente e sua equipe, Dr. Rodrigo Costa da Rocha Loures, desenvolvem um trabalho excelente que, entre outras coisas, nos oferece agora no portal desta entidade uma Biblioteca Digital92 com o seu livro, download gratuito: (Educar e Inovar na Sustentabilidade, (65)).

A visão sistêmica da sociedade é necessária, através dela fazemos análises. Estamos longe, contudo, de dominar todos os seus parâmetros.

Um grande cuidado que o jovem precisa ter é contra líderes guerreiros. A juventude é uma fase ingênua da vida. Com facilidade deixa-se levar pelos pregadores. Em cima de discursos patrióticos, moralistas e redentores centenas de milhões de moços já caminharam para a morte nos campos de batalha, nas lutas fratricidas de revoluções que normalmente terminaram em ditaduras ou, no mínimo, a vidas despedaçadas pelos rancores gerados por perseguições, torturas e prisões degradantes.

As ideologias servem para o processo político, devem ser a base de partidos em processos democráticos, livres e pacíficos. Para um esforço mais elaborado podemos estudar a obra da Dra. Hannah Arendt. Dois de seus livros “Entre o passado e o futuro” (35) e “Origens do Totalitarismo” (1) continuam extremamente atuais, mais ainda quando vemos o reaparecimento de lideranças carismáticas e ditatoriais na América do Sul.

A democracia deve sempre ser a base de decisão e a liberdade inegociável, ainda que eventualmente contrariando vontades democráticas, facilmente conquistadas se a liberdade de comunicação for reduzida. Essa é uma contradição carente de soluções satisfatórias. Podemos, com convicção, dizer que a censura, a tirania dos donos da verdade é o pior caminho que qualquer nação poderá trilhar. A transformação pacífica em ambiente de liberdade é o caminho aceitável, justo, digno. A violência é o recurso do desespero absoluto.

É preferível esperar a provocar guerras que destruirão o principal alvo das mudanças: o povo.

Finalmente é bom lembrar que o capitalismo, o socialismo e a democracia são compatíveis. A Europa tem países em que se administram sistemas que são uma mistura das três propostas. Rússia e China sempre tiveram regimes autocráticos, sem liberdade, sem democracia. Era natural apresentarem versões totalitárias e ditatoriais do socialismo. O povo perdeu.

A Humanidade, recém saída das selvas, tem um longo caminho a percorrer antes de atingir o que poderíamos chamar de estrutura racional, fraterna, justa e decente. Qualquer radicalismo é, no mínimo, insensato e irracional.

Ter uma opção ideológica é importante, pois será base de decisões políticas, sem esquecer, entretanto, que estamos longe da certeza, de termos base para posições severas.

Apesar das platéias quererem convicções, devemos ter a ousadia de mostrar-lhes a dúvida e propor-lhes passos inteligentes, sensatos, cautelosos. Um país é como um grande transatlântico: para mudar de rumo precisa de uma longa distância, uma mudança brusca partiria o casco.

Nós do Terceiro Mundo devemos primeiro vencer a batalha do analfabetismo em todos os seus aspectos. Isto é possível com o que temos. O próximo passo será ditado por este mesmo povo, pacificamente, interagindo com suas melhores lideranças. A violência só interessa aos candidatos a ditador.

Estudar e trabalhar honestamente, sempre e sob todos os aspectos é o melhor antídoto contra o fanatismo. Procurar estruturar nossas idéias filosóficas sobre a organização do estado é válido para podermos decidir em quem votar, que propostas priorizar. Qualquer solução, contudo, só terá efeitos positivos se coerente com a natureza humana e o estágio cultural em que se encontrar.

Não existe solução única para todos os povos. O que é bom em um país poderá ser um desastre noutro. Talvez exista um caminho lógico e evolutivo, mas o desenvolvimento exige tempo e condições favoráveis.

Os países mais ricos têm histórias diferentes. Alguns se beneficiaram dos privilégios da natureza, da fartura de seus territórios, outros cresceram principalmente sobre a operosidade e inteligência de seus cidadãos. Todos eles, contudo, dirigiram suas estratégias de forma nacionalista, cautelosa, racional. Não se permitiram excessos de qualquer espécie neste último meio século. Enquanto os de riqueza explosiva desperdiçaram muito dinheiro, isto aconteceu com a valorização temporária do petróleo, os países mais experientes administraram suas oportunidades para se desenvolverem de forma sólida, durável. A grande ideologia tem sido a da prudência e do respeito e competência administrativa. A distribuição de renda e reformas institucionais conduzidas de forma progressiva, sem milagres ou poesias como as da nossa constituição de 1988. Direitos e deveres bem definidos, benefícios com compromissos claros devem ser as bases de propostas estruturais para qualquer nação.

A Humanidade vem de estruturas empíricas, belicistas e de filosofias metafísicas. Procurando melhorar deverá encontrar leis e padrões de vida decente para todos e, ao mesmo tempo, desenvolver lógicas de julgamento e valorização pragmáticas, eficazes.

Acima de tudo há necessidade de estabelecer condições de sobrevivência. O desafio do Mundo em futuro próximo será enorme. Metrópoles com dezenas de milhões de pessoas existirão em muitos países. A principal garantia de resistência será o estabelecimento de padrões de convivência saudáveis a todos os cidadãos. A vida e a educação deverão ser as grandes prioridades. A liberdade virá como conseqüência. O senso de responsabilidade deverá estar impregnando cada decisão, atitude, espaço.

A ideologia do futuro ainda não foi escrita.




O Poder



O ser humano, como qualquer animal, vive lutando para garantir sua sobrevivência e a de seus descendentes. Esse comportamento é instintivo, natural e onipresente em nossas atitudes. Estamos sempre procurando afirmar nossa superioridade, maior beleza, força e inteligência. O processo de existência é altamente competitivo, não perdoando fraquezas. Só sobrevivem com dignidade e riqueza os mais fortes. Desde crianças vivemos uma luta constante e violenta pela existência. Nosso universo começa em nós mesmos. Quem se preocupa com a fome dos seres vivos de outro planeta? Alguém já rezou pela felicidade de todos os seres do Universo? Assim procuramos o poder como instrumento de afirmação, sobrevivência, conquistas sexuais e outras.

Disciplinando a luta temos, eventualmente, conceitos éticos, filosóficos, religiosos. O processo civilizatório é justamente a imposição de regras mais do que necessárias num planeta cuja espécie de vida que se considera superior esteve à beira da extinção inúmeras vezes, muito mais por suas desavenças do que pelas oportunidades de satisfação a todos que dela dependiam.

O que podemos afirmar, contudo, é que a imensa maioria admira os vitoriosos, sem questionar muito os métodos utilizados.

O que fascina no Poder? Por que tantos lutam ardorosamente para conquistá-lo?

O Poder é afrodisíaco. Homens comuns passam a atrair paixões a partir do instante em que assumem cargos importantes, que desfilam com o carro do ano, mostram possuir grandes riquezas ou, de alguma forma, mostram-se mais fortes que os demais. Esta característica, por motivos que o time do Freud explica bem, é basicamente, mas não exclusivamente masculina. Assim como os homens admiram as mulheres frágeis, carentes e bonitas, as mulheres querem ver seus amores fortes, conquistadores, vencedores.

Para o ser humano, independentemente do sexo, o poder é autogratificante, pois o simples exercício da autoridade o fará sentir-se poderoso, seguro. As pessoas modificam-se, apresentam comportamentos inesperados. Indivíduos humildes tornam-se arrogantes, mestres queridos acreditam-se deuses quando conquistam poderes maiores. O efeito é louco, perturba, transtorna, modifica.

O Poder também decepciona. À medida que crescemos começamos a ver as pessoas em todas as suas fraquezas. E como se mostram frágeis, corruptas e sensíveis a qualquer benefício. Principalmente os mais incompetentes e malandros procuram favores daqueles que estão nos postos mais elevados, pois esta é a maneira mais confortável de sobreviverem. A bajulação é constante. O uso em benefício pessoal do Poder é natural para esses indivíduos que não sabem respeitar aqueles que têm a força do comando. Para os parasitas o Mundo é um espaço de exploração predatória em benefício pessoal, até porque não têm capacidade de produzir, de serem úteis. O isolamento dos líderes responsáveis é uma realidade. Arriscam-se a tornarem-se indivíduos solitários, eremitas. Perdendo amigos, rejeitando a hipocrisia, a bajulação e percebendo com muita clareza as fraquezas daqueles que o cercam, deles se afasta por repugnância ou incapacidade de uma convivência gratificante. Nietzsche93 mostra bem isso em seu livro “Assim falou Zaratustra” (Nietzsche, (66)).

Um grande exemplo do efeito do Poder sobre as pessoas foi a Revolução Francesa. Sob os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade tivemos líderes que lutaram pelo povo, defenderam os ideais revolucionários ardorosamente, com o risco da própria vida e enormes sacrifícios. No topo de suas carreiras fizeram do terror o nível de igualdade e o padrão de amizade era, no gume da guilhotina, a delação. Exercitaram a fraternidade dos cemitérios. Enlouqueceram no prazer sádico de suas palavras. O povo, nas galerias de suas assembléias, sedento de vinganças inúteis e dono de verdades que mudavam voluvelmente, induzia seus deputados aos excessos que enterraram a frágil democracia e muitos franceses.

O Poder conquistado e sustentado democraticamente é recente. O ser humano ainda não aprendeu a exercê-lo com eficácia e respeitando as regras do jogo que vence ao ser eleito. A transformação de personalidade da maioria dos eleitos é impressionante. Muito pelo efeito dos bajuladores, o chefe assume a postura de novo rei. Cobra vassalagem. Exige honrarias e tratamentos muito acima de seu real valor. Sob o pretexto de exercer autoridade coloca suas vaidades acima da lógica administrativa. Suas decisões têm por finalidade sua segurança pessoal e não o benefício do povo.

Ter força, liderança sobre pessoas, põe o homem comum em níveis de autoridade que o fazem sentir-se Deus, realizador, árbitro, coletor e predador da natureza. O seu exercício enlouquece os mais fracos, corrompe os de caráter mais frágil, revela instintos e permite aos melhores mostrar sua capacidade de aprimorar a vida, a empresa, a nação. Essas pessoas sentirão o isolamento a que se submetem por terem a responsabilidade de decisões muitas vezes agressivas, desagradáveis. Administrando empresas, nações ou famílias tomam-se decisões que freqüentemente contrastam com os interesses imediatos de pessoas nem sempre preparadas para ouvir um não.

Na natureza os poucos bons líderes demonstram que alguns exemplares da raça humana são civilizados, sadios, responsáveis, cientes de suas responsabilidades, feitos à imagem e semelhança de Deus...O resto, infelizmente, é prova de nossa imaturidade para o exercício da autoridade conquistada nas urnas, na vida profissional e na família. Tornam-se demonstrações das teorias darwinianas, tão preocupadas em achar elos perdidos...

Em campanha as promessas são de respeito ao cidadão, à liberdade, à justiça. Nos palácios o discurso muda. Sentados nas poltronas dos chefes, indivíduos, não mais que seres humanos, travestem-se de seres supremos, donos da verdade, exemplos divinos da perfeição. Perfeitos e trágicos carrascos ou palhaços!

A realidade impõe ver e considerar o que a História mostra. Conquista-se o Poder por hereditariedade, corrupção, política, dinheiro, trabalho, tráfico de influências. Um fato visível na história da humanidade é que mais importante que a forma com que se atinge o Poder é a sua utilização. Grandes reis, presidentes e generais chegaram ao cume do Poder de forma impublicável. Com autoridade foram brilhantes, eficazes. Conquistaram a simpatia e o respeito do povo.

No Poder a responsabilidade pesa, o ambiente muda, novas relações se estabelecem. Aí teremos um teste de maturidade, da capacidade de filtrar, decidir, selecionar. Com o tempo percebe-se quanto é solitário o Poder e como é difícil que antigos amigos e companheiros compreendam a finalidade do cargo, o que dele se espera, e como poderiam colaborar.

Infelizmente até nossa educação religiosa leva-nos à bajulação, à hipocrisia.

Amar a Deus sobre todas as coisas. Como? Realmente O amamos? Poucos cristãos teriam a coragem de dizer o contrário, mas nas blasfêmias e na própria vida mostram que assim não sentem.

Esta educação cínica e hipócrita acaba mostrando resultados negativos nas relações de Poder. Na vida política vemos uma luta constante pelo Poder e, paradoxalmente, a inconsciência do seu uso, o desperdício de oportunidades que poderiam estar sendo usadas para o bem da Humanidade.

O povo, os miseráveis, as nações anseiam por competência, resultados sob poderes e situações em que “os homens tem medo do Poder, que os vexa; o Poder tem medo dos homens que podem revoltar-se” (67).

Nossa sobrevivência sempre dependeu e sempre dependerá da capacidade positiva de nossos líderes. Acima de pequenas questões estão as necessidades de termos bons governos, gerentes e líderes que garantam nossa sobrevivência. Com todos os defeitos que nossos grandes chefes forem capazes de possuir, desejamos, sonhamos, rogamos, pedimos, encarecemos ter deles competência positiva. Principalmente nós do Mundo subdesenvolvido perdoamos falhas de caráter, ignoramos erros e desonestidades, mas ansiamos por eficácia.

A miséria é muito mais uma conseqüência da incapacidade de se gerar riquezas do que, dentro do discurso esquerdista, efeito da má distribuição de renda. Os países mais miseráveis são aqueles que caíram escravos de filosofias messiânicas, contemplativas, passivas.

Observando-se nações com religiões mais desafiadoras, materialistas, mais terrenas veremos que tiveram mais sucesso.

A população cresce, e muito. Se antigamente havia espaço para a irresponsabilidade, agora precisamos de mais seriedade e objetividade. Precisamos encontrar soluções para alimentar bilhões de pessoas. A poluição, a destruição da natureza é mais evidente nos países pobres. Lá não têm outra forma de sobreviver que a utilização predatória dos recursos naturais. A tecnologia social, industrial e a agrícola precisam ser mobilizadas para o resgate de populações imensas. A humanidade não tem tempo a perder. A consciência coletiva, a percepção da importância de cada ser humano, esteja ele no interior da África ou no centro de Paris é algo moderno, atual, no mundo das infovias, das comunicações. E em todos existe o medo do futuro.

No passado a humanidade teve riscos elevados. As pestes e a fome eram rotina. A diferença do mundo atual é a capacidade de mobilização, as massas alertas e informadas e a capacidade de destruição total.

Assim já não se despreza a imagem, a visão que outros povos terão. Neste processo ficamos sabendo se um asteróide irá chocar-se contra a Terra, se alguma epidemia está se desenvolvendo na Índia, se os alemães estão respeitando os imigrantes que eles atraíram para seu país no passado. Se na Ásia, lá no Japão surge um grande líder, aqui o saberemos. Será visto em milhões de lares em todos os continentes. Suas idéias divulgadas. Suas propostas analisadas e cobradas por milhões de pessoas.

A Civilização foi, é e será marcada pela capacidade de cobrança de resultados, pela eleição de líderes, pela conquista de novos espaços e de uma vida melhor. O Poder diante de pessoas esclarecidas, informadas, será testado em sua capacidade de transformá-las em multidões de cidadãos em condições de ter uma vida decente, digna e saudável.

Nós brasileiros temos exemplos de uso do Poder que o povo amou e detestou. Quem contesta a liderança exercida por personalidades, que infelizmente já morreram, tais como Don Helder Câmara94? Juscelino Kubitschek95? Jorge Amado96? Betinho97? Para falar apenas dos bons líderes, pessoas de que nos orgulhamos e que enriqueceram nosso país.

Seus defeitos particulares e até políticos ficaram pequenos diante da contribuição que deram para a felicidade e dignidade de nosso povo.

Diante de tudo isso o jovem deverá refletir muito sobre sua possível pretensão política ou gerencial.

Nas empresas, longe da visão crítica da mídia, este problema é pior, mais medíocre, mais fácil de apresentar perversões de toda ordem. Muitos gerentes e empresários tratam seus subordinados de forma humilhante, agressiva, descarregando neles todas as suas frustrações. Longe da vigilância pública e com poderes enormes muitos criam ambientes com padrões os mais indecentes, doentios.

Livros, especialistas e escolas alertam constantemente para a necessidade de disciplinar gerentes. O sucesso das empresas depende muito da capacidade delas se organizarem de modo a ter um ambiente sadio e produtivo.

A luta pelo Poder só tem significado justo quando em benefício daqueles em nome de quem o exercitaremos e para quem ele foi estabelecido.

O exercício decente e produtivo do Poder é uma demonstração de cultura, educação e caráter.

Disputar cargos é uma pretensão legítima quando se tem a convicção de poder exercê-los com eficácia. O excesso de humildade atrapalha. Avaliar-se no time, no ambiente em que se procura o gerente, o chefe, é importante para a luta. Sentindo-se em condições de assumir o comando é justo pretendê-lo. Seria um erro ético contra a empresa ceder, sem disputa, para um menos capaz.

As empresas, a sociedade como um todo, só evoluirão se os mais capazes tiverem interesse e disposição para comandá-las.

No processo democrático o Poder conquista-se pelo voto, pela ação política, pela disputa. É um caminho penoso, cheio de armadilhas. O candidato pretende cargos, espaços em que exercitará sua capacidade de legislador ou de executivo. Para isso lutará, enfrentará adversários, negociará, apresentar-se-á em palcos, palanques e auditórios. Mas tudo isso deverá ter por objetivo o povo. Ele é a nação que procura líderes, que pede governo.

A Democracia precisa desta disposição para a liderança. É um sistema que se baseia na competição. Lamentavelmente tem sido estruturada de modo a depender do poder econômico, o que restringe em muito o acesso ao Poder. Principalmente nos estados menores o império dos grupos econômicos é perfeitamente visível. Jornais, televisões, clubes e ruas lhes pertencem. Apesar das dificuldades, aqueles que tiverem a oportunidade e qualidades para a peleja democrática deverão fazê-lo. É um pedido a que se transformem em mártires da República.

Lutar pelos cargos de comando e exercitá-los com competência e dignidade é um compromisso com a vida.

A riqueza material, o dinheiro, é o instrumento de poder mais comum e eficaz. Existimos em uma sociedade em que o dinheiro compra tudo. Tê-lo significa penetrar em todos os lugares, ocupá-los com deferências, respeito. Não importa muito como a riqueza foi conquistada. Se de forma impublicável, dirão que foi produto da ousadia, da esperteza. Ter riqueza material diante de um povo empobrecido, faminto, é ter a oportunidade de “dar esmolas”, fazer “caridade”. O estranho é ver muitos agradecendo receber como esmola o que lhe foi tirado de forma inescrupulosa. A ignorância, o medo e a passividade de muitos contribuem para a eternização de estruturas sociais injustas.

O poder do dinheiro é sentido com grande intensidade em um ambiente em que ele compra a mídia, administra a comunicação. A democracia torna-se uma ficção em uma sociedade em que a censura via patrocinadores existe a ponto de bloquear completamente a manifestação ideológica de grupos contrários aos detentores do poder. Exceto em alguns países de alto nível cultural e grande tradição de liberdade, a democracia é uma ficção. Grandes potências militares e econômicas vivem sob o império das elites mais ricas. A monarquia deu lugar aos grandes proprietários. Eles mandam na opinião pública, ditam as regras políticas e administrativas em seus mínimos detalhes. Se antes as nações eram propriedade de imperadores, agora o são de magnatas.

O aspecto positivo dessa aristocracia é que ela se estabelece pela competência. Muitos fizeram riqueza pelo trabalho, inteligência e competência. A democracia capitalista é um grande espelho da natureza. Só sobrevivem os mais capazes. Ela é dura e tem dentro de si um processo impiedoso de seleção natural. Até onde isso é válido é uma questão delicada, importante. O futuro da humanidade depende muito de encontrar-se uma alternativa a esse processo “natural” de sobrevivência.






Direito e Justiça


O que temos como Justiça? O que se pretende nos tribunais? Existe Justiça?

O Direito e a Justiça são a grande marca da civilização, indicando com clareza o grau de desenvolvimento de um povo e da própria humanidade. As diversas formas de aplicação da Justiça mostram a racionalidade, a honestidade e, enfim, a dignidade do ser humano em seu ambiente. O grau de desenvolvimento de um povo poderá ser medido pela qualidade de seu sistema judiciário, no aprimoramento ético de suas leis e no respeito que seu povo tiver por seus tribunais.

Produto cultural de cada povo mostra as características filosóficas e materiais em que vivem. Assim também em muitos países formalizam violências de toda espécie. Nos países mais atrasados a Justiça é a principal arma dos poderosos. É também uma grande indústria de papéis, emprego para cartorários, bedéis e outros...

Em países formados por bandidos a Justiça é estruturada para defender criminosos, assassinos. Nestes cenários os direitos do homem só existem a favor dos delinqüentes e poderosos. A Justiça é lenta, confusa, cara, dependente de armações de toda espécie. Nesses ambientes as penas mais severas são relativamente temidas, pois nada mais são que instrumentos de chantagem, racismo, agressões primárias. A pena de morte, tão necessária nesses países sem recursos para manter penitenciárias, acaba rejeitada pela certeza de se transformar em mais uma arma contra os pobres e rivais políticos, religiosos e econômicos.

Nações imaturas têm na Justiça um grande problema de solução remota. Os poderosos aproveitam-se do império da impunidade (dos ricos) para se perpetuarem no poder e o fazem até no comando da própria Justiça.

Um detalhe interessante nestes países é a figura dos juízes. Cultivam um espírito corporativo exacerbado, pois dele dependem para manter a pompa e mordomias que tanto apreciam. Sabem que não têm outra defesa a não ser os seus órgãos de classe e a elite dominante para protegê-los. Do povo nunca teriam a simpatia, a defesa de seus privilégios.

Deve ser terrível para um cidadão esclarecido viver num país sem Justiça, corrupto, venal.

A Justiça, enfim, mostra a qualidade de um povo, de seu nível cultural...

Roma preserva ruínas que desaparecem aos poucos, mas sua contribuição para o Direito98 é um marco eterno na história da humanidade.

No mundo moderno, super povoado e intensamente competitivo, a Justiça é base para a construção de todas as transações, relações. Os Estados Unidos da América do Norte são um bom exemplo disto. País de tantos advogados tem no exercício do Direito uma de suas atividades profissionais mais valorizadas. A estabilidade e a forma com que o cidadão norte americano faz valer seus direitos tornam sua pátria um lugar invejado e desejado por milhões de estrangeiros.

No Brasil já possuímos uma grande tradição jurídica. Ainda recentemente vimos como se aplicam os conceitos do Direito em uma ditadura. Esta cultura extremamente rica espera por legisladores e juristas para ajustes e modernização.

Para o jovem que inicia sua carreira profissional a serviço da Justiça é bom que reflita sobre a responsabilidade que terá pelo resto de sua vida. Em condição idêntica à do médico, o advogado, promotor ou juiz terá uma vida de sacrifícios e compromissos penosos. É uma atividade apaixonante pelos desafios que contém, mas que absorve inteiramente quem a ela se dedicar.

A responsabilidade de defender, acusar ou julgar alguém deve pesar duramente sobre a consciência do profissional.

Há muitas maneiras de sobreviver. Antes de se iniciar em uma profissão devemos analisar todos os seus aspectos, positivos e negativos. Optar pelo Direito deve vir de uma paixão sincera e honesta pela Justiça. Nunca como simplesmente uma forma de ganhar dinheiro.

E o futuro? Como será um tribunal? Um julgamento? Temos uma grande esperança nos computadores e na inteligência humana. Como utilizá-los? Evidentemente haverá necessidade de tornar a Justiça mais objetiva, pragmática e menos prolixa. Com facilidade poderemos automatizar muitas análises, economizar muito papel. A simplificação da forma de análise não é fácil, mas a genialidade de nosso povo poderá aplicar-se nesse sentido em benefício da Humanidade. Precisamos de leis inteligentes e cobranças eficazes.

O que esperar da Justiça?

Primeiro, por pior que seja, é necessária. A justiça faz parte de nossas vidas sob diversas formas, independente da cultura e da condição social. É interessante notar que as pessoas mais humildes costumam ser muito severas. Elas que têm tão pouco, que trabalham muito para sobreviver e sustentar seus filhos, sentem-se agredidas, ofendidas diante de bandidos. Estes, com muita facilidade, destroem aqueles.

O segundo é o da esperança. A Justiça deverá aprimorar-se, tornar-se mais eficaz e coerente até nos países hoje atrasados. É um processo universal. O interesse das grandes potências passará pela imposição de suas estruturas e conceitos nesta área. Vivemos fases poéticas, mas a luta pela sobrevivência trará nossos líderes para a compreensão de que até para eles será bom ter a Justiça funcionando bem. Com o aprimoramento dos meios de comunicação conscientizamo-nos de nossas deficiências e virtudes. Com certeza evoluiremos.

O terceiro argumento a favor da Justiça é o de que a verdade prevalece. Ela que pretende e deve ser a expressão da verdade, da aplicação correta do Direito, encontrará formas de melhorar. A organização falha satura, denuncia-se. De dentro e de fora surgem pressões. As contradições acabam exigindo soluções. Assim a Justiça enriquece-se de elementos que contribuirão para a sua evolução. Nada é perfeito. A Justiça, pelo que se propõe, estará sempre muito longe da perfeição. É uma tarefa complexa, julgar.

Finalmente o que se deve esperar da Justiça e de seus profissionais é o empenho no aprimoramento de suas atividades.

A vida, o ser humano sem Justiça não será, não poderá ser considerado civilizado, racional. Nosso desafio permanente é lutar para que a Justiça evolua, seja uma realidade gratificante.

Nunca é demais lembrar que a Justiça plena, pura, é incompatível com as ditaduras. Seus famosos tribunais revolucionários constituíram-se em caricaturas terríveis e, infelizmente, continuam existindo em muitos lugares deste planeta.

Felizmente o Brasil retomou o caminho da democracia e da liberdade. Temos seqüelas deste período, mas passo a passo recuperaremos o tempo perdido. Graças à liberdade, à comunicação global, ao próprio turismo nosso povo começa a perceber o que está errado, o que precisa ser corrigido.

A reforma de nosso judiciário, entretanto, é uma necessidade urgente. A delinqüência, a criminalidade cresce assustadoramente. A impunidade é um estímulo à sua propagação.

Os problemas sociais são a principal razão deste fenômeno agravado pela cômoda visão de que a nação é responsável pelos desatinos de cada um. Se alguém tem dez filhos logo se coloca a questão de que o estado deve-lhe oferecer escola, saúde e recursos para sustentar sua prole. As crianças não têm culpa, mas seus pais não são orientados em direção a atitudes mais responsáveis. O resultado é a miséria, as favelas, a criminalidade crescente e a incapacidade de nosso sistema judiciário atender a todos os desvios dessa multidão.

Em paralelo à reforma de nosso sistema penal e judiciário devemos desenvolver um trabalho de conscientização em torno de um comportamento mais responsável. Até no esporte vemos nossos comentaristas elogiando a indisciplina, a irresponsabilidade, a molecagem...

De qualquer modo, independentemente das razões que levam nosso país à crise em que se encontra, o aprimoramento da Justiça é necessário. A modernização de nossa sociedade e a necessidade de vivermos em um estado em que as leis sejam efetivamente respeitadas exigem o aprimoramento de lógicas, processos e instituições, em especial a nossa Justiça.




Crime e castigo


As incompetências políticas e administrativas dos nossos líderes mostram seus resultados em nossa sociedade. A criminalidade cresce, os marginalizados somam milhões de pessoas, os mais ricos vivem prisioneiros entre seus muros e cercados de guarda costas. As diferenças são tão grandes que os mais pobres para sobreviverem partem para a delinqüência, a marginalidade. Neste nível os piores crimes acabam acontecendo. Empresários da notícia encontram aí uma boa fonte de renda e prestígio. Indústrias de armas faturam como nunca. Demagogos elegem-se em cima de discursos radicais e inúteis.

O Brasil é um país que produz meia tonelada de cereais por habitante e por ano. É um dos maiores produtores de carne e um dos lugares de mais baixa densidade demográfica sobre a Terra (áreas férteis). Exportamos para importar carros de luxo. Quinquilharias as mais diversas são adquiridas e pagas com as exportações de alimentos. Nossas instituições não estimulam maior racionalidade. A mídia apresenta a todos os quadrantes deste país a indolência, a frivolidade e a malandragem como modelo de Brasil. A figura do Zé Carioca é apresentada como do cidadão tipicamente brasileiro. O Carnaval é estimulado. Induz-se populações a aceitar padrões de comportamento distantes daqueles trazidos por seus avós. A padronização cultural por baixo, em paradigmas degradados, é a glória de muitos donos dos sistemas de comunicação brasileiros. E eles mesmos depois se apresentam surpresos com os resultados. Quanto cinismo!

Neste cenário é natural a altíssima criminalidade, a falta de espaços nas penitenciárias, a insuficiência das forças policiais. Não há polícia no Mundo capaz de enfrentar um povo desesperado num país rico. O pior é que esta nação tem oportunidades incríveis a quem estiver disposto a trabalhar, a enfrentar a vida com um pouco de criatividade e seriedade e for educado para fazê-lo.

As altíssimas taxas de natalidade estimuladas por líderes irresponsáveis geram o problema da falta de escolas, saúde e assistência para milhões de famílias, que não encontram solução para seus apertos, frutos da ignorância que não vemos acabar, só crescer.

Nesse cenário ouvimos discussões como a da pena de morte e do aborto.

Em torno da pena de morte podemos desenvolver um raciocínio importante na avaliação da própria Justiça. O que é lícito, justo, correto? Como tratar os bandidos?

A Justiça erra quando coloca a questão “é inocente ou culpado”. Basicamente ninguém é culpado e a conseqüência é que um bom advogado consegue provar a inocência ou encontrar atenuantes para qualquer criminoso. Ninguém escolheu os pais que teve, a sociedade em que nasceu ou a saúde que possui. Mas a penalização é necessária para intimidar, inibir futuros criminosos e a reincidência. É a vingança arbitrada, uma compensação às vítimas.

No Brasil, com a preocupação de evitar injustiças, os processos são lentos. O formalismo e as normas processuais exigem recursos que a maioria dos brasileiros não possui. O resultado é o aumento da criminalidade e fragilização da vida social. Um dos aspectos tenebrosos da falta da “vingança formal” é o surgimento dos “justiceiros” e dos linchamentos. A falta de fé na Justiça e a desconfiança no policiamento levam muitos a agirem por conta própria, aumentando os riscos de violências absurdas, à margem da Lei.

Um dos problemas diante do crime crescente é a falta de recursos para combatê-lo. Por que não implantarmos a pena de morte? A penalização financeira? A redução das penas com reclusão?

Ouvindo debates vemos que muitos defendem a prisão perpétua. Por que a nação deveria gastar tanto dinheiro com um criminoso irrecuperável? Para que ele fuja e mate ou estupre mais pessoas inocentes? Qual é a prioridade? Gastar dinheiro com aqueles que ainda não partiram para a criminalidade ou investir em penitenciárias caríssimas para garantir os direitos de pessoas irrecuperáveis, com altíssima chance de novos crimes?

Os legisladores brasileiros partem do princípio de que os recursos financeiros são ilimitados. Criam interminavelmente mais e mais obrigações para o governo. Quem paga? É o próprio povo. O brasileiro precisa ter consci6encia de que o governo não faz milagres. Na aplicação da Justiça esta é uma realidade concreta. Qualquer processo tem custos. Todo criminoso custa uma fortuna à nação.

Precisamos com o máximo de urgência ter o bom senso de encontrar soluções e parar com poesias. Nossa juventude, de uma maneira especial, pode vir a desenvolver propostas melhores do que aquelas que aplicamos, partindo de nossa experiência. As soluções aplicadas no Brasil não têm dado resultado. Não é por falta de recursos para as questões sociais. Para evitarmos a miséria há produção e capacidade de trabalho suficientes. O Brasil é um país suficientemente rico para sustentar seu povo e com gente capacitada a encontrar suas soluções. Não podemos, entretanto, passar a vida com utopias inúteis. A punição de criminosos é uma delas. Os grandes bandidos têm tratamento privilegiado. Com toda a violência de que são capazes, dominam os ambientes em que vivem, inclusive penitenciárias. Nossas cadeias são escolas do crime. Locais em que se organizam e de onde partem para escaladas criminosas cada vez maiores. Menos pela eventual culpa que carreguem do que por suas atitudes e mais pela necessidade urgente de reverter as estatísticas do crime, devemos com urgência implantar a pena de morte e formas mais ágeis de julgar e punir, de modo geral. Eliminando as piores cabeças elas não serão mais instrumento do crime organizado. Atitudes exemplares contra os piores delinqüentes inibirão outros. A redução das penas sobre pessoas e crimes menores é também muito importante. Abriremos espaços para um maior número de punições. A cadeia não é o lugar para “pagar” crimes, mas para inibir sua reincidência. Sempre que possível deverá ser substituída. É que nem hospital. Quase tão perigoso quanto ficar sem internamento é o próprio hospital onde as infecções matam uma boa porcentagem dos pacientes. Assim são as cadeias, destroem as pessoas, as que escapam com saúde física (mental é impossível) terão grande dificuldade em arranjar emprego. Normalmente voltarão ao crime para sobreviverem, pois foi isto que aprenderam nas celas e é o espaço que a sociedade lhes terá reservado.

Evidentemente a solução para o crime não é simplesmente aumentar ou diminuir os castigos formais, mas evitar que crianças cresçam em direção à marginalidade. A grande solução é a educação e a criação em ambientes em que o amor, a disciplina e o trabalho sejam a regra.

Cada família precisa ter dimensões e base para se sustentar. O planejamento familiar, entre outras coisas, é muito importante. Não podemos acreditar que a nação seja a responsável pelas fantasias sexuais de qualquer casal. Os meios de comunicação concessionários deverão pagar o direito adquirido educando positivamente a população. A programação de televisões e rádios não pode ser livre, mas objeto de um plano de desenvolvimento material e moral da nação. Falar em liberdade nessas áreas é ignorar a violência com que entram em qualquer lar. São serviços para os quais se pede concessão, por que não exigir em contrapartida que tenham qualidade? A liberdade de imprensa está ligada à vontade de usá-la, tê-la. A imprensa escrita tem o filtro da decisão de adquiri-la. Há um esforço considerável e necessário para atingi-la. Assim chega-se a uma condição de discernimento e seleção. A imprensa eletrônica, ao contrário, está dentro de casa a partir do momento em que se instala o aparelho. Na ausência dos pais os filhos têm acesso a tudo o que é transmitido. E muito do que se faz nas telinhas e se diz via microfones é oportuno, saudável. Os cultos à moda associado à mídia de posturas idéias e propostas indecentes criam padrões de comportamento deploráveis.

A liberdade existe e é sagrada nas praças, na literatura, nos ambientes de acesso voluntário e seletivo. Os meios de comunicação deveriam, sob lei marcial, serem mobilizados para a reversão dessa cultura estúpida e imoral, que tomou conta do país. Brasil que venera chantagistas porque foram mestres na arte de explorar a pena ou a imagem para conseguir suas porcarias. Nação que assim o faz porque tem sido educada a “levar vantagem sempre”99.

O grande desafio das próximas gerações será encontrar novas formas de inibir a criminalidade. Será aprender a eliminar os criminosos irrecuperáveis. O Mundo superpovoado deverá encontrar padrões de educação mais eficazes sem agredir as liberdades básicas do cidadão decente, trabalhador. Nunca esquecendo os riscos, o câncer do racismo, da xenofobia, do fanatismo religioso, esportivo e outros, estruturando-se para a estruturação de uma sociedade sadia, teremos em futuro próximo problemas monumentais em torno do Direito, da Justiça.

Nesses cenários provavelmente a “pena de morte” será reconsiderada. Nos EUA isso tem acontecido. Infelizmente constata-se a inutilidade dos tratamentos amenos, tolerantes com os superbandidos. Toda a dinâmica de nossos processos na Justiça deverá ser agilizada e racionalizada. Temos que acabar com a valorização da palavra bela e inútil, inibir o corporativismo de profissionais do crime que, de um lado e de outro, se organizam para tirar o máximo de proveito da fragilidade de nosso povo. O planejamento familiar, o desenvolvimento do espírito de paternidade responsável deverá ser estimulado. A educação será o grande caminho para fugirmos à essa catástrofe social que já vemos em metrópoles como o Rio de Janeiro e São Paulo.

Sem maniqueísmos deveremos encontrar no culto à responsabilidade, ao trabalho e à seriedade a solução para nosso povo. Direcionando a mídia e os demais processos educacionais no sentido do progresso material e moral encontraremos formas de garantir uma vida decente a todos e a redução do crime ao mínimo suportável.




Felicidade


O que todo ser humano realmente deseja é ser feliz. Quem se esquece disto acabará concluindo que errou, que terá desperdiçado sua vida. Note-se que a felicidade é algo distinto do sucesso profissional. Os caminhos são diferentes ainda que, eventualmente, próximos.

A fortuna de ser feliz é algo infinitamente mais sutil do que parece. Por estarmos em uma sociedade consumista estabelecemos metas diárias em que a felicidade coloca-se em conquistar, ter, usar. Esquecemos que a felicidade é produto principalmente de uma disciplina, da capacidade de aliviar tensões, de sentir-se bem e satisfeito consigo próprio.

A felicidade existe para aqueles que aprendem a ver, sentir, tocar com amor. Existe graça e mistério num simples pedregulho, na folha de um arbusto qualquer, nas asas de um pássaro. O paraíso está neste horizonte. O sentimento de equilíbrio e sintonia com a natureza dá a integração divina com o Grande Arquiteto. Infelizmente embotamos nossos sentidos e sentimentos nas cidades. A violência é tão freqüente que vira estatística. Os compromissos profissionais e sociais governam nossas vidas que passam, consomem-se.

E quando não atingimos essa capacidade de sentir e de amar viramos máquinas seguindo por trilhas estéreis.

Nossos sentidos emitem mensagens que precisamos interpretar. Nosso cérebro é programado primariamente para nossas necessidades básicas. Junto ao ambiente que vivemos acrescentamos outros parâmetros, novas equações

O que somos biologicamente? Somos descendentes dos povos mais violentos, do produto de um processo seletivo muito severo. Nossos ancestrais conquistaram a Terra, lutando entre si e contra a natureza. Não é de estranhar, pois, a dificuldade que sentimos para a simples contemplação, para com paciência admirarmos nosso ambiente. Nossos impulsos são violentos, nossos instintos exigem conquistas permanentes. Temos muitos fantasmas em nossas mentes. Isso tudo cria dificuldades na busca da felicidade.

Mas queremos e devemos ser felizes.

Devemos conciliar o desejo de progresso, a necessidade de sobrevivência com padrões de comportamento que nos libertem de ansiedades e angústias inúteis.

Muitos caem nas drogas. A solução química torna-se um pesadelo.

Nossos instintos nos governam gerando prazeres que poderão ser base de muita felicidade. Um casal que se ama tem no sexo uma forma divina de satisfação. E deste amor a formação de uma família com grandes chances de ser feliz. O amor pela companheira(o) é extremamente gratificante e natural. Um jovem que inicia sua vida adulta deve refletir muito sobre esta questão. O amor sexual trará felicidade à medida que o jovem for capaz de cativar e manter a seu lado alguém que ame e lhe dê a oportunidade de desenvolver-se como ser humano.

A vida poderá submeter-nos a muitas provações. Nesses períodos precisaremos dominar sentimentos negativos e ter paciência. Com o tempo as cicatrizes fecharão. Até a morte traz a esperança de compensações. Nesses momentos a fé em outra vida, acreditar em Deus, ter uma religião ajuda muito. O conforto da crença em uma vida futura melhor ajuda o ser humano a enfrentar a morte sua e de seus entes queridos.

De qualquer forma os últimos momentos de vida serão eternos. Sem referências de tempo, o coração parado e o sangue esfriando nas veias, o cérebro mergulhará na inconsciência através do céu ou do inferno. Estas duas alternativas estarão ligadas aos últimos sentimentos. Chegar lá com tranqüilidade, com a certeza do dever cumprido, com amor em volta e na mente será uma forma de estar no paraíso...

A conquista da felicidade talvez um dia surja como uma preocupação generalizada. Estranhamente fala-se pouco sobre esta questão com objetividade. Insinua-se ser este ou aquele o caminho, mas, possivelmente por efeito de crenças mórbidas, a felicidade parece ser pecaminosa, lesiva ao espírito humano. A mídia também se encarrega de criar falsos valores. Instrumento do dinheiro atende os interesses dos patrocinadores, a vítima é o espectador.

Com ou sem religião o ser humano precisa de uma estrutura filosófica. Ao formá-la devemos ter o cuidado de valorizar o amor, a tolerância, a paciência. Com inteligência e bondade construiremos um edifício lógico em que viveremos com prazer, felizes por termos nascido e estarmos tendo a oportunidade de ter uma vida de alguma forma gratificante.

Ser feliz é ter capacidade de suportar agressões sem a neurose da vingança, renunciar a luxos fora do alcance pessoal sem angústias ou invejas, saborear com prazer o prato que nos oferecerem, ver com admiração o céu e a terra que nos envolvem.

A felicidade é o produto da bondade e da sensibilidade positiva que tivermos. Tendo-a seremos saudáveis, amigos, gente.

A vida é curta, não seria inteligente desperdiçá-la com rancores, frivolidades, preocupações inúteis.

Amar e ser amado é privilégio da bondade, caridade, delicadeza, sexo e imagens que se cria ao longo da vida. Vamos colhendo o que plantamos. Envolvendo pessoas podemos conquistá-las, apaixoná-las e a nós mesmos. A vida ganha cores, flores e odores. A felicidade cresce à medida que ativamos nossos sentimentos e de forma positiva vemos os aspectos bons de cada situação, pessoa e momento. Ser feliz é uma demonstração de uso adequado de nossa inteligência, tornando-a instrumento de disciplina a nosso favor.

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Responsabilidade


Sentir-se responsável é uma obrigação de qualquer pessoa consciente do que faz e na medida em que percebe sua capacidade de agir.

O sentimento de responsabilidade além dos limites das necessidades básicas de sobrevivência é uma característica humana superior. Serve como indicador de civilização. Talvez mais importante que qualquer outro parâmetro, este sentimento é a base da grande sociedade humana. Cristo deu-nos o grande exemplo. Fez-se homem e nesta condição transmitiu sua mensagem de paz e amor. Torturado e crucificado deixou-se morrer na cruz para o perdão dos pecados da Humanidade. Filho do Criador sentiu-se responsável pela obra de seu Pai. Mito ou verdade o exemplo vale como demonstração do que deve ser nossa grande diretriz. Estranho, entretanto, é ver tantos pregadores propondo o ódio, a segregação, o inferno para os adversários...

Muitos grandes líderes, políticos e profissionais cresceram exatamente porque se sentiram comprometidos com um processo, com a conquista de resultados além daqueles suficientes à própria sobrevivência. O perceber-se responsável é uma demonstração de compromisso e maturidade. Quando acertarmos e errarmos, estaremos fazendo algo com boas ou más intenções. Conscientes, acrescentaremos à nossa vida imagens, realizações e sentimentos que caracterizarão nossa personalidade. A tentação para negar a culpa de erros existe sempre, o prazer de assumir a autoria de coisas boas é grande.

Podemos enganar muita gente, mas não conseguiremos esconder de nós o que somos.

Desenvolver-se fortalecendo-se para assumir responsabilidades e desfrutar da liberdade com o sentimento dos limites naturais e éticos é o desafio de todo jovem.

Vivemos uma época em que o culto à liberdade colocou esta questão em segundo plano. Um exemplo eloqüente é a defesa do aborto. É mais fácil e comercialmente interessante promover a matança de crianças a estimular o controle da concepção, o planejamento familiar sadio. A televisão, o cinema, a música e a literatura de modo geral promovem e exaltam relacionamentos irresponsáveis. Em nome da liberdade tudo é permitido. A televisão, de uma maneira especial, é um péssimo veículo de comunicação. Os interesses comerciais de seus concessionários são soberanos. As estatísticas governam a programação. Não interessa o efeito. O que importa é o que vende mais. Aparelho eletrodoméstico, em nossas casas mostra programas de espécie, em qualquer horário, com pouca ou nenhuma preocupação pelo conteúdo que seus responsáveis defendem como direito de expressão. Esse é um pesadelo e com certeza uma das causas das mazelas de nosso povo. Os donos das concessionárias de telecomunicações, são concessionárias, apropriaram-se das lógicas de “liberdade de expressão” para venderem comerciais e submeterem seus programas às conveniências dos patrocinadores. De qualquer forma os sistemas de telecomunicações são instrumentos de educação, informação e desenvolvimento poderosos que podem ser mal usados, mas tem efeitos positivos revolucionários sem violência física, inibindo agressividades que antes eram encontradas nas ruas. No Brasil temos bons e maus exemplos, talvez prevalecendo a utilização positiva, principalmente a partir da criação dos sistemas de difusão cultural.

Hobsbawm, por exemplo, cita exaustivamente os meios de telecomunicações em seus relatos e análises, merecendo uma leitura o livro (Era dos Extremos, O breve século XX, 1914-1991, (2)).

É lamentável notar o sucesso de propostas criminosas. É também compreensível o número de pessoas que defendem o aborto. É a lei do menor esforço. É mais agradável ceder aos instintos do que administrá-los. Outro exemplo é a velocidade dos carros nas cidades e estradas deste país. Apesar das dezenas de milhares de vítimas a cada ano, pouco se fez para efetivamente reduzir os riscos desta loucura institucionalizada.

Precisamos trabalhar para que isto mude. De novo podemos dizer que a sobrevivência da humanidade depende de comportamentos com mais amor, justiça e responsabilidade. Precisamos encarar com mais objetividade, voluntariedade e coragem o papel que nos couber. Ele será tão grande quanto for a nossa capacidade.

O senso de responsabilidade é a voz da consciência que nos cobra atitudes. Muitos escapam dela rezando, procurando confessionários. As Igrejas fariam um grande favor à humanidade se colocassem a compensação social como única forma de remissão dos pecados. Para que confissões? Para rezar pedindo perdão de coisas que serão repetidas? Basta o travesseiro, a noite mal dormida para mostrar o quanto erramos. Perdão? Vamos a uma “pena de Talião100” positiva e vinga a vítima? Ou fazer um bem que compensa o mal cometido?

Ter responsabilidade é, antes de tudo, não errar deliberadamente, procurar contribuir positivamente, construtivamente. A vida passa e por onde andamos deixamos marcas. Que sejam sinais de um benfeitor, um lutador pelas boas causas, um bom pai, um grande profissional.

Vivemos um grande período em que a luta ideológica foi pretexto para muitas violências.

A década de 60 foi muito rica em lideranças, propostas e utopias. Quem teve a oportunidade de senti-la politicamente tem hoje a satisfação de lembrar movimentos fantásticos. Havia por trás questões ideológicas pesadas. A Guerra do Vietnã mexia com a juventude. No Brasil terminamos a década no início do período militar e seus censores. A década de 70 mostrou o peso das experiências políticas de nossos companheiros, amigos de todos os lados. Alguns mortos, outros neuróticos, viciados e desempregados, outros felizes, empregados, ricos.

Neste início de século deveremos perceber que a fraternidade será essencial à análise e correção da sociedade humana.

Nossa esperança é o aumento da capacidade de raciocínio. O desenvolvimento da inteligência fará com que as pessoas tenham mais chances de compreender a importância do respeito mútuo e da necessidade de agir, de contribuir para o sucesso de todos.

Desenvolver um espírito de compromisso com o aprimoramento da vida é um ato de inteligência, competência e amor ao próximo.














Vencer ou perder


De William Shakespeare temos a expressão “Ser ou não ser, eis a questão”101, essa é a dúvida que nos afeta ainda crianças, quando jovens, adultos e até na fase em que nos consideramos idosos, ao longo da vida em todas as nossas atividades somos compelidos a tomar agir, a assumir posições. As decisões que tomamos, decisões, não desejos (atitude infantil), afetam substancialmente o que seremos na seqüência e acima de tudo o amor próprio, a auto-estima.

As batalhas dignificam ou destroem os soldados. Muitos morrem, outros voltam com a glória da vitória ou a vergonha da derrota. Maior vergonha, contudo, fica para aqueles que fogem da luta, escondem-se, não se expõem deixando para outros a carga da sua própria defesa e sobrevivência.

Algo típico de nosso Brasil é a existência de uma categoria, classe, ou outra coisa que vive de criar dificuldades para quem produz. Talvez por efeito de ideologias superadas tenhamos até em cartilhas escolares textos que induzem o estudante a ver a atividade produtiva como indesejável quando muito um mal necessário. A última onda é a sustentabilidade. Sob o pretexto de defender o meio ambiente criam-se carimbos, regras, normas impossíveis e tudo o mais que nossos fazedores de leis geram para agredir quem trabalha produtivamente.

Obviamente precisamos disciplinar a vida em nosso ambiente tropical, não podemos esquecer, contudo, que a prioridade absoluta é o ser humano, o brasileiro que precisa trabalhar, produzir, até para sustentar aqueles que seus escritórios enormes, ar condicionado, apoiados por motoristas e automóveis para uso pessoal, ficam inventado regras para o nosso povo.

Domenico De Masi, apesar de muito escrever a favor do ócio (68), sabe valorizar a determinação a favor da criação útil à humanidade, dando inúmeros exemplos de organização, dedicação e trabalho eficaz em seu livro “A Emoção e a Regra” (69). Neste livro De Masi mostra, exemplifica com diversos casos de sucesso o que foi a criatividade e a vontade de trabalhar, disciplina e determinação de alguns gênios e suas equipes em diversos lugares do mundo moderno.

O sucesso em qualquer circunstância é o prêmio dos que lutam. Vencer não é para os preguiçosos, medrosos, derrotistas. A luta deixa feridas, machuca, dói. Vencer significa ter um objetivo, perseverar e lutar. A vitória não cai do céu. A vida é uma grande marcha. Poderemos caminhar em círculos, rodeando o berço em que nascemos. Poderemos também marchar para novos horizontes, abrir novos espaços. À medida que avançarmos entraremos em terrenos desconhecidos. Mergulharemos em grossas neblinas na curiosidade de saber o que existe além, mas também arriscando-nos a cair em despenhadeiros. A coragem será a grande ferramenta desta luta. A inteligência o instrumento da vitória. Perder lutando não é demérito, não envergonha. Vencer a luta quase impossível, essa sim, é aquela que guardaremos em nossa lembrança com orgulho, com a satisfação de poder dizer para filhos e netos, vencemos.

Todos querem ser respeitados. É bom merecer a atenção, ser amado e visto com admiração por multidões. Tudo isto significa esforço, sacrifícios. O grande político, o atleta famoso, o médico respeitado, o advogado temido são exemplos decorrentes de vidas de dedicação. Muitos dissimulam esse esforço. Até por vaidade poderão dizer que as coisas vieram naturalmente. Não é verdade. Talvez com prazer pelo amor à carreira, mas com muita dedicação venceram.

Ao topo da montanha há muitos caminhos, mas o sabor da subida depende das dificuldades encontradas. O bom alpinista procura as paredes mais difíceis, o malandro vai pela estrada construída até onde outros a fizeram. O alpinista audacioso pode dizer, eu venci, os malandros dirão, fui até onde me deixaram ir.

O prazer da visão de um horizonte crescente é o pagamento ao alpinista. Quem não o acompanha só conhecerá o fundo dos vales, quando muito alguma coisa mais se existirem facilidades para a escalada.

Vencer significa derrotar. Faz parte de nossos instintos competir. É uma lei natural. Dela veio a evolução, o aprimoramento das espécies. O ajustamento progressivo à natureza em transformação é conseqüência desta compulsão à luta, à conquista. Assim a natureza seleciona os melhores. Por aí também vemos com preocupação a flacidez de milhões de jovens, super protegidos, mimados. Resistirão a alguma catástrofe, seja ela qual for?

A luta faz parte de nossa vida, vencer ou perder é a rotina de quem vive valorosamente.

A luta nem sempre é contra outros seres humanos. O alpinista luta contra a montanha, supera barreiras naturais. O aleijado que se exercita para recuperar sua antiga capacidade mostra sua garra de lutador. O deficiente auditivo, ainda que tropeçando na compreensão do que lhe dizem, não pode desistir e lutando estará brigando por seu lugar na sociedade. O deficiente visual, com todas as suas barreiras, sabe que não deve se entregar. Aliás conhecemos um cidadão simplesmente extraordinário, José Leite. Paraplégico e cego é um líder, uma pessoa fantástica, capaz de servir de exemplo para qualquer um de nós. Gente assim faz a diferença a favor da vida mais digna, justa e coerente com os ensinamentos das grandes religiões, que não cansam de exaltar modelos de disciplina e de resistência em qualquer condição imposta pelo Criador.

Procurar superar-se é o maior desafio de qualquer ser vivente. Quem não leu “Fernão Capelo Gaivota” (Bach, (70))? A ficção exemplificando uma luta esplêndida... Na vida real, em tempos recentes, talvez o maior exemplo seja o de Gandhi102. Com toda a sua fragilidade física e material liderou e venceu o poderoso império inglês à época em um grande processo de libertação de um povo.

Lembrando deste livro não posso esquecer-me de registrar minha paixão pela revista Seleções do Reader’s Digest103, meus amigos esquerdistas que me perdoem, mas era excelente. Gostava tanto que cheguei a pedir, como presente de aniversário aos 15 ou 16 anos, uma assinatura dela. Com ela também adquiri livros (4 em 1 volume) que, entre outras obras, trouxe o (Fernão Capelo Gaivota). Nesta revista também encontrei uma reportagem sensacional, entre inúmeras equivalentes, (Fábrica de Reabilitação, A história edificante dum grupo de pessoas inquebrantáveis, (71)). Nessa condensação do livro (Give us the tools) conhecemos uma história que se tronou emblemática nos Estados Unidos da América do Norte. Convém aqui registrar que a maior potência mundial que a história recente nos traz é a pátria da Universidade Gallaudet de que nos damos o direito de transcrever sem retoques um resumo de sua história104, apresentada com mais detalhes105 no endereço indicado no rodapé desta página, em exemplo para nações que se dizem cristãs, com veleidades socialistas como a brasileira:

Gallaudet History
The first 50 years
In 1856, Amos Kendall, a wealthy business man who also had served as postmaster general during two presidential administrations, donated two acres of his estate in northeast Washington, D.C. to establish housing and a school for 12 deaf and six blind students. The following year Kendall persuaded Congress to incorporate the new school, which was called the Columbia Institution for the Instruction of the Deaf and Dumb and Blind. From such modest beginnings evolved Gallaudet, a prestigious University of international importance.
Edward Miner Gallaudet-son of Thomas Hopkins Gallaudet, founder of the first school for deaf students in the United States-became the new school's first superintendent. Gallaudet's deaf mother, Sophia Fowler Gallaudet, who was the widow of the Thomas Hopkins Gallaudet, became the school's matron.
By 1864, Congress authorized the Institution to confer college degrees, and President Abraham Lincoln signed the bill into law. Gallaudet was made president of the entire corporation, including the college, which that year had eight students enrolled.
President Gallaudet presided over the first commencement in June, 1869 when three young men received diplomas for having completed the entire four-year course of studies. Their diplomas were signed by President Ulysses S. Grant and to this day the diplomas of all Gallaudet graduates are signed by the current U.S. President.

The 20th Century
Throughout the first half of the 20th century, the college flourished. One survey of former students from the years 1931-1941 showed them engaged in 82 different occupations, including teaching, educational administration, and scientific research.
Through an act of Congress in 1954, the name of the institution was changed to Gallaudet College in honor of Thomas Hopkins Gallaudet. By that time the college was thriving as student enrollment soared and the institution experienced significant growth both physically and institutionally.

A Time of Expansion
In 1969, the U.S. Department of Health, Education, and Welfare agreed with the college's administration to establish the Model Secondary School for the Deaf on the Gallaudet campus. A year later, President Richard Nixon signed the bill that authorized the establishment of Kendall Demonstration Elementary School. Today, the two schools and several other programs devoted to the creation and the nation-wide dissemination of outstanding educational opportunities for deaf students are part of Gallaudet's Laurent Clerc National Deaf Education Center.
The college's "growth spurt" continued throughout the 1970s and 1980s, peaking in October 1986 with the announcement that, by an act of the U.S. Congress, the 122 year-old college had been granted university status. That fall, the student body totaled almost 2,000 undergraduate, graduate and preparatory students. Gallaudet counted among its alumni successful lawyers, investment bankers, scholars, entrepreneurs and many other professionals.

A Watershed Moment: Deaf President Now
When President Jerry C. Lee announced his resignation as president of the University in 1987, leaders in the national deaf community joined with Gallaudet alumni, students, faculty, staff and friends in urging the Board of Trustees to select a deaf person as the University's next president. By February 1988, the Board had narrowed the field of candidates to six-three deaf, three hearing; then down to three candidates, on of whom was a hearing woman, Dr. Elisabeth Zinser. The two deaf candidates were Dr. Harvey Corson and Dr. I. King Jordan.
On March 6, 1988, the Board announced the appointment of Zinser as Gallaudet's next president. Students and their supporters reacted swiftly. They refused to accept the board's decision and instead, launched the historic Deaf President Now [DPN] protest.
DPN united faculty, students, staff, alumni and members of deaf communities across the country and abroad in support of the notion that it was time that Gallaudet was led by a deaf person. The week-long protest captured worldwide attention and created great awareness of deaf people, and their language and culture. Two days after being appointed the new president, and under pressure from DPN, Zinser resigned. Gallaudet's eighth-and first deaf-president, I. King Jordan, '70, was selected. Philip Bravin, '66 became the first deaf chair of the Board of Trustees, and the board began the process that would fulfill a demand of the student protesters that 51 percent of the members of the Board of Trustees be deaf.

Growth Continues
In 1990, a generous contribution from the W. K. Kellogg Foundation enabled the University to construct the Kellogg Hotel and Conference Center, which has become a popular venue for meetings, seminars, wedding reception, and other events for both on-and off-campus groups. Since then, three additional buildings have been constructed, including the technology-rich Student Academic Center. The newest addition to campus is the James Lee Sorenson Language and Communication Center, a unique facility that provides an inclusive learning environment totally compatible with the "Deaf Way of Being."

The International Community
Gallaudet organized and hosted two major week-long international gatherings, Deaf Way I in 1989 and Deaf Way II in 2002, to celebrate the history, language, art, culture, and empowerment of deaf people in the United States and throughout the world. The first Deaf Way showcased the eloquence of sign language, how promises of emerging technologies would improved deaf peoples' quality of life, and the power and joy of the shared experiences of deaf people the world over. Deaf Way II occurred on an even grander scale than its predecessor, with over 10,000 people from 120 countries participating.

Positioned for the Future
Today, Gallaudet is not only one of the Washington area's largest businesses in terms of salaries and benefits paid to employees and money spent on goods and services, it also is viewed by deaf and hearing people alike as a primary resource for all things related to deaf people, including educational and career opportunities, communication access, Deaf History, Language and Culture, and the impact of technology on the deaf community.
The University's undergraduate students can choose from more than 40 majors leading to Bachelor of Arts or Bachelor of Science degrees. A small number of hearing undergraduate students-up to five percent of an entering class-are also admitted to the University each year.
Graduate programs at Gallaudet are open to deaf, hard of hearing and hearing students and offer a master of arts or a Master of Science degree, specialist degree, certificates, and doctoral degrees in a variety of fields involving professional service provision to deaf and hard of hearing people.
Through the University Career center, students receive internships that provide a wealth of experiential learning opportunities. Recent internships were offered at Merrill Lynch, National Aeronautics and Space Administration [NASA], National Institutes of Health, and the World Bank. Students also benefit from an array of services provided by such campus units as the Hearing and Speech Center, Career Center, Cochlear Implant Education Center, Gallaudet Leadership Institute, Center for ASL Literacy, and Office of International Programs and Services.


Voltando ao tema deste capítulo devemos lembrar que nossa maior guerra é contra nós mesmos.

Valorizando nossas limitações perdemos na partida, antes da luta.

Há pessoas que ao chegar à idade adulta adquiriram a personalidade do perdedor. Ouvi-los é escutar uma sucessão de expressões tais como: “não tenho sorte”, “sou doente, não posso”, “ninguém me ajuda”, “não tenho tempo”... Serão indivíduos que viverão abaixo de suas capacidades. Desperdiçarão oportunidades. Chegarão ao final da vida infelizes, lamentando a falta de sorte e de oportunidades, que não quiseram explorar, conquistar.

Superar-se é o grande desafio. Fazê-lo depende apenas de nós mesmos.

Se quisermos ser úteis, positivos, devemos agir, pensar, lutar.

Um ser humano poderá produzir mais do que consome, menos ou tanto quanto.

Óbvio? Sim, mas importantíssimo.

Todos sentem o que custam e ninguém será realmente feliz na inutilidade.

Está em nosso coração esta preocupação.

A inutilidade reflete-se em doenças comportamentais e psicossomáticas. Vencer na vida é uma expressão de muito significado onde o principal é lutar para ser feliz, para sentir-se realizando. Quantos exemplos nós poderemos ter de grandes empresários. Do nada construíram grandes empresas gerando milhares de empregos. Estes merecem estátuas, nomes em ruas e praças, enfim, o registro de uma história que não se escreve.

Minha terra natal, a cidade de Blumenau, assim como muitas cidades catarinenses tiveram a honra de ser o berço de grandes empreendedores. Gente que partiu de meia dúzia de ferramentas toscas, eventualmente poucas máquinas, extrema determinação e operosidade, terminando por realizar empresas que criaram e distribuíram riquezas.

Comparando Blumenau com algumas cidades brasileiras até mais ricas sentimos a falta dessa gente. Nesse modelo brasileiro que formou sua base econômica em grandes fazendas com trabalho escravo, ou servil, as elites geradas nesse cenário, em suas origens, eram dedicadas à agricultura e pecuária. Retinham seus trabalhadores no campo antes dos radicalismos irresponsáveis da Legislação Trabalhista, mais ainda com o café, aqui no Paraná, cacau, madeira, cana de açúcar etc. em outros estados, motivo de tantas riquezas e da expansão para o oeste brasileiro. Com a erradicação do café no Paraná e a aplicação dura de leis que aparentemente defendem os trabalhadores, os operários do campo se transformaram em bóias frias, as cidades aos cresceram, Curitiba, entre outras, corou-se de favelas e catadores de lixo. Os empresários urbanos, insuficientes para criar e absorver esse excedente de mão de obra, cenário agravado com a abertura de fronteiras, penalizando tremendamente a indústria menos tecnológica, mais dependente de mão de obra, não tiveram cadência e condições de evitar ao catástrofe social que sentimos em nosso país. Afinal, nossos concorrentes não têm tantos escrúpulos nem leis tão irreais quanto as nossas.

Nosso modelo francês esquece que na Europa o índice de fertilidade é baixíssimo há muitos anos, o nível de preparo profissional para a indústria é altíssimo e o turismo cobre todas as dificuldades de caixa que possam ter...

Qual a diferença de Santa Catarina? Mão de obra preparada e educada para a indústria e um povo que ama o empreendedorismo.

No Brasil, valendo o que lemos no livro “Mauá, Empresário do Império” (Caldeira, (3)), tivemos pessoas fantásticas que poderiam ter antecipado e consolidado firmemente nosso país entre as maiores nações do planeta. Se continuamos subdesenvolvidos muito se deveu ao espírito de Corte, de indolência e inveja e critérios absurdos de gerenciamento da nossa economia.

Os promotores do trabalho viabilizam a vida, a dignidade. Vencer é conquistar o respeito de todos por um trabalho produtivo, antes de mais nada. No passado, entre selvas e tribos hostis, os grandes guerreiros eram paradigmas de valor.

À medida que a Humanidade cresce em sua capacidade de pensar e as guerras perdem significado, percebemos o valor daqueles que usam toda a sua criatividade para produzir alimentos, casas e cidades, aparelhos e empregos para o bem estar e sobrevivência da Humanidade.

Assim poderíamos dizer que há diversas lutas possíveis. Como utilizaremos o tempo dependerá de nosso caráter, capacidade e visão. Não podemos viver sem desafios, mas devemos escolhê-los para não desperdiçarmos tempo valioso, principalmente quando há tanto a fazer.

Mas, como vive o lutador? Muitas vezes enfrentando a hostilidade de perdedores, a inveja e vinganças. Devemos aprender a andar sobre as nuvens. As tempestades deverão ser superadas com dignidade, coragem, paciência.

Nada deverá afastar-nos de uma boa luta exceto sua inutilidade.





Mediocridade


Na natureza admiramos as planícies e as montanhas, mas chamam-nos a atenção aquelas que de alguma forma conseguem ser diferentes. No verde das florestas uma orquídea fascina por sua beleza e por ser uma planta rara. Na multidão algumas pessoas são percebidas por qualidades físicas ou sociais diferentes. Procuramos aquela bebida, aquele programa que trás algo especial. A mesmice incomoda, irrita ou, simplesmente, não é percebida. Cair na rotina significa morrer antecipadamente. Quem se lembra de um dia comum? É como se não o tivéssemos vivido.

Nossa existência é a somatória de dias e anos especiais, o resto desaparece tão rapidamente quanto custou a passar.

Tornar a vida rica em imagens, sons e amores é um ato de inteligência e determinação. O casamento é um bom exemplo desta disposição. A falta de inspiração e vontade em torná-lo uma sociedade empreendedora a dois afasta, esfria, apaga, leva o casal à separação.

Na vida profissional a mediocridade é um câncer muito freqüente. É difícil entender como pessoas que estudaram tantos anos acabam mergulhando em uma atividade sem expressão, porque não assumem riscos, porque se escondem atrás de grupos de trabalho e comissões para não se exporem, não acrescentarem nada. Um problema sério é que esses mesmos indivíduos fazem questão de ganhar e receber benefícios que não conquistaram. Não lhes peçam ousadias, responsabilidades. Conseguem gastar dezenas de horas em reuniões intermináveis para delas saírem como entraram ou até piores porque nelas um convence o outro da importância de suas inutilidades. Dão charme à burrice e pompa às besteiras que escrevem.

A mediocridade é irmã gêmea da estupidez e da covardia. O profissional medíocre estuda para confundir, para esconder-se em seu medo de assumir posições. É impressionante a capacidade cínica desses indivíduos. Com uma desfaçatez incrível apresentam “trabalhos” que envergonham suas profissões. Projetos absurdos passam por essas comissões sem qualquer dificuldade. A única preocupação é agradarem seus chefes, não se comprometerem.

Muitas empresas desaparecem, perdem competitividade, deixam de conquistar mercados por não perceberem a necessidade de evoluir, de se ajustarem a novas exigências, por se submeterem aos pobres de espírito. Uma das razões é a cultura conservadora, inibidora de talentos. Um argumento muito usado em uma empresa desta espécie é: “mudar por quê? sempre funcionou assim...” Outro recurso dos dirigentes dessas empresas são os famosos planos estratégicos, “democráticos”. Qualquer erro poderá ser atribuído à equipe, ou seja, a ninguém. À medida que dependerem de consenso, e o consenso só existirá quando os menos inteligentes do time compreenderem as propostas a serem feitas, a companhia estará se amarrando, perdendo tempo e oportunidades. O fundamental para muitos executivos é o salário, status, não os resultados. Por que preocupar-se com o sucesso das empresas? Ao final terão seus currículos. Boas companhias resistem a maus períodos. Os acionistas podem ser ludibriados, bons relatórios enganam bem...

Neste final de século a tecnologia impera. Quem não corre fica para trás. Quem não se atualiza, perde espaços. A ciência, de uma forma prodigiosa, enriquece-se em todos os setores. Não há uma área do conhecimento humano que não possa evoluir, aumentar resultados. A informática, de uma forma incrível, oferece recursos espetaculares. No Brasil, graças à “Lei da Informática”, perdemos oportunidades, tempo. A legislação àquela época favorecia a indústria de serviços e equipamentos nacional, esquecia o principal, a importância de se utilizar melhores computadores e softwares no trabalho em geral. Agora, no processo de abertura que vivemos, temos ao nosso alcance um mundo gigantesco, apenas esperando que o alcancemos.

O povo brasileiro tem sido vítima de critérios administrativos pueris. Talvez em reação a épocas perdulárias, fomos para o outro extremo. Não gaste, não viaje, não compre ferramentas, computadores, corte despesas. Esqueceram que para ganhar é preciso gastar, investir. Cortaram justamente os recursos para desenvolvimento de culturas, inteligências. Muitos de nossos administradores e seus gerentes vivem um mundo medíocre e tentam fazê-lo nosso.

Lutar contra a mediocridade é lutar para existir com brilho. A vida ganha colorido, sabor e sons quando a desenvolvemos dentro de processos não convencionais. Evidentemente os riscos são maiores, mas, caso contrário, teremos a certeza de uma vida perdida. Estudar sempre, procurar aprender em todas as oportunidades e tudo o que for possível é uma forma de adquirirmos elementos para criar algo. As oportunidades surgem quando menos esperamos, devemos estar preparados para acrescentar qualidade ao que estivermos fazendo.

Acima de tudo devemos lutar para melhorar a vida nossa e de nossos companheiros. Quantos pararam para pensar em como é importante tornar a vida mais bonita? Enfeitá-la? Colori-la? Enchê-la de sons?

Vemos catedrais, monumentos e grandes jardins sabendo que significaram o sacrifício de grandes populações. Valeria a pena viver sem essas demonstrações de arte? O povo, o maior sacrificado, não se orgulha do que suas cidades possuem? O que se esconde por trás disso tudo? Não é a vontade de ser diferente? De ser, estar, possuir, participar de algo especial? No íntimo de todos nós existe uma declaração de guerra à mediocridade.

A vontade de ser diferente é uma demonstração de criatividade. Ser diferente é ser corajoso, ser desigual porque lutamos para ser melhores. É ter a centelha divina do avanço, do crescimento em direção à luz.

Aproximando-nos do fogo arriscamo-nos a queimaduras, mas, quanto mais perto chegarmos, mais de perto veremos a luz e seremos iluminados...












Originalidade, garra, coragem


Podemos perguntar, ser original por quê?

Talvez a melhor resposta possa ser: se a maioria das pessoas estivessem agindo de forma justa, sadia, elegante, o mundo não seria tão ruim. É simplesmente espantoso ver como tudo se complica em conseqüência da manutenção de padrões antigos, da sustentação de comportamentos inadequados. As mudanças são aceleradas pela ciência, pelo crescimento das cidades, pelos fenômenos atmosféricos e cosmológicos. Os cientistas têm descoberto acidentes impressionantes. Meteoritos, cometas, vulcões, terremotos, grandes enchentes, períodos enormes de instabilidade atmosférica, envenenamentos colossais em conseqüência de alterações naturais, uma série de fenômenos tem mexido com a natureza terrestre, afetando drasticamente a vida em “nosso” planeta. Agora sabem, por exemplo, que há dez milênios um meteorito ou cometa exterminou a maior parte da vida animal na América do Norte, a explosão do vulcão Santorini pode explicar as pragas que liberaram o povo judeu do Egito, erupções vulcânicas estimularam as migrações de povos asiáticos em direção à Europa etc. ou seja, a qualquer momento poderemos ser vítimas de outros episódios dessa espécie, modificando a vida em nosso planeta. Se os grandes acidentes naturais podem tanto, as bactérias, os vírus não podem menos. A Gripe Espanhola106 é o exemplo mais forte do século vinte e nele escapamos por pouco de outras pandemias.

Precisamos pensar, imaginar situações e aprender a superá-las sempre que necessário. O que simplesmente é inútil é o fatalismo acomodatício, medíocre.

Nossa família formou-se em Blumenau, Santa Catarina. Lá aprendemos a conviver com catástrofes, com o mau humor da natureza. Nas enchentes de 2008 minha irmã, Sônia Maria, telefonou-nos dizendo de seu orgulho de ser blumenauense, de ver que a cidade renascia dos escombros.

Nós, casados em situação de penúria, eu e a Tânia, enfrentamos tudo e todos para podermos viver com nossos filhos. Orgulhamo-nos do que conquistamos, não ganhamos, arrancamos aqui e ali o que precisávamos, e teríamos feito muito mais, se necessário.

Felizmente podemos dizer que abominamos a mediocridade e graças a isso lutamos muito, mesmo quando tudo indicava que seríamos derrotados. Perdemos algumas vezes, mas reunimos vitórias que serão sempre motivo de orgulho para nós e nossos descendentes.

Na vida só existe uma certeza, a de que teremos momentos terríveis, ruins, bons, ótimos. Terríveis serão os últimos minutos de vida se antes desse momento não tivermos feito por merecer um final tranqüilo, a serenidade do descanso merecido. Aliás, o medo da morte é típico de quem não se sente seguro com a própria vida. Quem cumpre suas obrigações, quem sente estar dando o máximo de si, não teme o final da vida que vê como um descanso.

Melhor do que simplesmente cumprir obrigações, fazer o máximo, é ser coerente consigo próprio, é procurar agir de maneira própria, sem aceitação de dogmas e lógicas de terceiros. Em lugar nenhum do universo encontraremos livros eu sons que nos digam merecidamente o que fazer, exceto em nossas consciências. De alguma forma nossos cérebros captam as melhores mensagens e as colocam num espaço privilegiado de onde não se cansam de criar alertas e apontar caminhos. Talvez para muitos, por obra de programas medíocres, quem sabe ajustados ao que podem realizar, o conteúdo dessas mensagens seja pobre, fraco. Alguns, entretanto, sabem que podem e devem fazer mais, e se o fizerem serão felizes, terão o justo orgulho do dever cumprido.

Realizar, fazer, ser, poder dependem de inteligência, coragem, criatividade, liderança, saúde, uma série de atributos dos grandes homens que não são, obrigatoriamente excepcionais. Os grandes líderes podem carecer de qualidades que muitos na “academia” se considerem melhores, carregam dentro de si, contudo, garra, força e vigor para realizar.

O fundamental é saber de si, aceitar os sacrifícios, os perigos da vida. Infelizmente, ou felizmente, dependendo do ponto de vista, a maioria das pessoas é medrosa, limitada. Graças a isso aceitam vidas medíocres, deixam para uns poucos espaços que irão dignificar esses personagens, esses que fazem a história acontecer.

Durante o período militar a cena mais chocante, degradante, era ver os “arrependidos” falarem em programas de televisão, declarando-se errados, elogiando seus torturadores. Obviamente é extremamente difícil resistir à tortura. Em casos extremos confessa-se até o que não se fez. Não parecia ser o caso daqueles indivíduos, saudáveis, firmes ao renunciar a ideais que até pouco tempo diziam ser suficientes para aceitarem a luta armada. Esse tipo de comportamento vale para tudo. Deve-se pensar muito antes de entrar em uma luta, mas, aceitando-a, é importante que vá até o fim, a menos que motivos muito fortes justifiquem mudanças, exceto o famoso arrependimento dos covardes.

Ninguém é perfeito, os grandes homens possuem grandes virtudes e grandes defeitos, os homens (e mulheres) pequenos normalmente têm pequenos defeitos e pequenas virtudes...

A luta endurece o caráter, não o aprimora, exatamente. Aprende-se a desprezar os fracos, a menos que a luta pretenda um lugar no céu. Quem enfrenta gigantes sabe que é frágil, que não tem tudo o que precisaria para as guerras em que se coloca. Esses heróis se dignificam à medida que demonstram coragem e determinação.

Aliás, um conceito extremamente errado de coragem é muito comum. Pessoas fortes, bem armadas, super homens de ficção ou quase reais imaginam-se corajosos quando enfrentam adversários mais fracos, isso é simplesmente covardia, a menos que devam fazê-lo por força de suas profissões ou ideais.

Enfrentar a vida significa aceitar suas limitações momentâneas e batalhar para melhorar, para conquistar.

Algo que devemos lembrar sempre é a história de Ulisses retornando de Tróia, enfrentando os deuses, lutando contra tudo e todos para transformar sua viagem em algo mais, algo além do simples retorno. O filme Ulysses107 marcou minha juventude como um exemplo magnífico de herói, valendo registrar essa impressão maravilhosa, como, aliás, de muitos outros filmes, instrumento adicional e poderoso de informação e educação como a televisão e a internet agora também são.

Pessoalmente temos a dizer que sempre procuramos os caminhos mais difíceis na certeza de que em torno dos fáceis haveria muita gente. Talvez dentro de uma visão oportunista tenhamos evitado competições difíceis, aceitamos, contudo, os riscos da existência em ambientes de risco de vida, de situações em que o fracasso levaria à desmoralização total ou à perda da própria vida. Foi vivendo assim que agora, terceira idade, ficamos antipáticos, refratários àqueles que sabemos que fugiram, que se esconderam em momentos importantes.

Não podemos esquecer, por exemplo, a luta contra a privatização da Copel. Fizemos manifestações públicas, passeatas, encontros. De modo geral, exceto em reuniões sigilosas, discretas, encontramos mais gente externa à empresa, muito mais, do que da própria Copel. Alguns anos mais tarde vimos pelos jornais centenas de copelianos abraçando o edifício sede da empresa numa demonstração de repúdio à privatização. Onde é que eles estavam quando precisamos deles?

Durante aqueles dois anos conhecemos um sindicalista que andava paramentado de petista, estrelinha no peito e freqüentando a Rua 24 Horas, tomando chopp. Era absolutamente contra a venda da Copel até a diretoria da empresa, o governo do estado, mais precisamente, decidirem dar um bônus em ações para os funcionários. Foi o suficiente para que aquele indivíduo passasse a defender a venda da Copel. Que preço baixo para as suas convicções...

Envelhecendo vamos acumulando bons e maus exemplos, inclusive nossos. Com certeza erramos, e muito. O mais importante, contudo, é chegarmos ao final da vida na convicção de que procuramos sempre acertar e quando erramos, o fizemos na esperança de acertar, de errar menos, de procurar algo melhor.






Humildade, simplicidade


Na história da humanidade, desde as tribos mais primitivas até hoje entre povos mais atrasados, o comando baseia-se na força física, poder das armas e na exploração de crenças míticas. Caciques, generais, reis e sacerdotes cobrem-se e cercam-se de pompa, símbolos, recursos os mais diversos para mostrar a todos que seus poderes também derivam de uma vontade divina, transcendente. Súditos e crentes querem ver em seus líderes os favores dos deuses. Acima de tudo temem desagradá-los e seus reis e sacerdotes lhes aparecem como testemunhos e interlocutores desta ligação.

O resultado disto é um grande afastamento destes líderes de seus liderados. A linguagem afetada, as guardas armadas, tudo contribui para uma definição rígida de classes estabelecidas, na visão deles, transcendentemente.

Felizmente o processo civilizatório, a liberdade e a própria Democracia pouco a pouco transformam estes modelos.

Estamos chegando ao momento de mostrar que o valor de uma pessoa não está em suas roupas, cargos ou sobrenomes. Valeremos pelo que fizermos, pela nossa capacidade e produção. Pela força de nossas palavras e não pela pomposidade e sofisticação realizaremos algo, mostraremos nosso valor.

Precisamos resistir à tentação do poder fictício.

A humildade valoriza o poder. A espontaneidade com que se revela mostra a segurança da autoridade, do domínio de qualquer atividade. O grande líder impõe-se pelo respeito que manifesta na imagem conquistada em batalhas vencidas, obras realizadas. A falta de humildade mostra insegurança, ignorância, medo do contato direto. A competência no exercício de uma profissão faz do profissional uma pessoa respeitada e admirada pelo que realizou e sabe fazer. O poder de determinar ações é inerente ao cargo e ao respeito adquirido. Quem o tem, usando apenas duas pequenas palavras (sim, não) transformará seu ambiente, sua empresa e, quem sabe, o Mundo. Do chefe cobrar-se-á apenas competência, seriedade e honestidade.

A humildade não é ser pusilânime, fraco, transigente.

O grande líder sabe quando precisa ser duro sem perder a ternura (Che Guevara108). O bom gerente comanda sem ofender desnecessariamente. O grande comandante sabe integrar-se à sua tropa, falar, brincar, sentir suas dores e alegrias sem perder o controle da situação.

A história de Jesus Cristo não nos mostra nenhum momento de soberba, empáfia. Não usava paramentos nem incensos para dizer suas palavras divinas. Sua força estava na verdade, na lógica, na coerência. Infelizmente esta talvez tenha sido a lição mais difícil e tão poucos a aprenderam.

As inutilidades do poder desviam a atenção para o que é importante. Valorizá-las significa desperdiçar tempo e energia com detalhes sem valor. O Poder é precioso. Cada minuto poderá ser gasto em algo produtivo. Não é preciso ser muito inteligente para descobrir o que fazer. As deficiências de qualquer empresa ou governo são tão grandes que qualquer pessoa medianamente racional poderá contribuir muito. Basta ser honesto, corajoso e prático.

Quanto ganhamos trabalhando com simplicidade e objetividade...

Evidentemente existe o ritual do poder, mínimo necessário. Dependendo do momento devemos respeitar formalidades e cerimônias em torno dos líderes. Ainda temos necessidade dessas fantasias. Suas dimensões, contudo, dependem da inteligência e cultura dos liderados.

A humildade é saudável. A arrogância cobra seu preço. Gera inimigos que mais cedo ou tarde cobrarão as ofensas recebidas. A ostentação custa caro também em trabalho. Gasta-se para mostrar o que outros não precisam ver.

Agredir gratuitamente é procurar inimigos sem necessidade. Qual a felicidade em tê-los? Podemos nos avaliar pelo tamanho dos inimigos que conquistamos. Não os queremos, mas aparecerão à medida que existirmos. Estes são inevitáveis, por que ter mais? A humildade pacifica. Exercida com inteligência, aproxima pessoas, permite-nos desarmá-las, mostrar-lhes que não lhes queremos mal, que não é nosso propósito destruí-las e sim, quando muito, corrigi-las ou até segui-las. Afinal, quem é dono da verdade?

Ninguém é tão ruim quanto nos parece ou tão bom quanto queríamos que fosse. Este é um dito popular com toda a sabedoria da vida. A tolerância vem da compreensão de nossa fragilidade.

A Bíblia tem um bom exemplo no episódio do apedrejamento de uma mulher pecadora. Quando Cristo desafia os presentes a que a primeira pedra109 só fosse atirada por quem não tivesse pecado, ninguém estava naquela condição de pureza e ela saiu viva daquele episódio....

A humildade vem principalmente da compreensão da natureza humana e de nossa própria vida. Nossos méritos são muito menos nossos e muito mais o produto de uma série enorme de fatores alheios à nossa vontade.

Ter a humildade em nosso coração é fazê-lo saudável, bom e feliz.

Ser humilde é mostrar pelas nossas atitudes o respeito e o amor que temos pelo próximo.






Filosofia e as nossas dúvidas


Se existe uma palavra que merece cuidado é “filosofia”. Ouvimo-la com diversas conotações, significados muito diferentes do que poderemos estar pensando como tal. Diplomaticamente deveremos aceitar, honestamente contestar, intimamente pensar na necessidade de sabermos a verdade, de a procurarmos, ainda que saibamos ser impossível conhecer todas as leis, decretos, normas, regulamentos etc. do Grande Arquiteto do Universo, seja ele o que for.

Filósofo, o homem pensador em busca da verdade, nem sempre é exatamente isso. Ao longo da História e principalmente agora (tempos tão fáceis de criarem e divulgarem qualquer coisa) duas qualificações merecem cuidados especiais: cientista e filósofo.

Na História da Humanidade aprendemos a distinguir sacerdotes de filósofos. Os profissionais da religião, especialistas em rituais, intermediários entre os seus rebanhos e o Ser Superior, são onipresentes, de criação fácil em meio a uma Humanidade que não quer dúvidas, tem medo, não sabe como enfrentar a vida, ou, no mínimo, sente necessidade dessa muleta chamada religião.

O filósofo surgiu materializado nas palavras de pessoas que ousaram desafiar o conhecimento metafísico tácito de seu povo, na luta contra o fanatismo, na aceitação parva de qualquer padrão criado em torno de objetos e idéias formatadas em algum tempo no passado, tudo de modo a justificar o mistério.

Leigos, nós procuramos aprender o que pudemos sobre o que imaginamos ser Filosofia. Obviamente partimos para a leitura aleatória, seguindo autores e livros que de alguma forma chamaram nossa atenção.

Literatura em torno do tema existe e muito, o problema é identificar aquela mais em sintonia com o que pensamos (ou seja, partimos de crenças, de posições préformatadas). Para mim, João Carlos Cascaes, nada me apaixonou tanto quanto a obra de Bertrand Russell. Muitos livros, uma coleção impressionante, fazem dele, com certeza, um dos maiores filósofos do século vinte. De todos, nesse sentido, o que me agradou mais foi História do Pensamento Ocidental, (6), um livro sintético, objetivo e fantástico. Nele encontramos que o filósofo é o cidadão que procura conhecer o Universo, a verdade, seja ela qual for. Ótimo, nessa conceituação todos poderemos ser mais ou menos filósofos, à medida que, tendo honestidade intelectual, estudarmos permanentemente em busca de explicações sobre a estrutura básica da vida e de tudo o mais. Não é de graça que citamos como “filósofos de bar”, “da noite”, “da vida” aqueles que gostam de divagar sobre a existência dos seres vivos e inanimados. Ou seja, ninguém precisa de diploma para ser um filósofo autêntico, basta ser suficientemente inteligente e procurar estudar, aprender, pesquisar a origem e causas de tudo que o cerca. Obviamente os filósofos profissionais podem e criam suas lógicas melhor estruturadas. Isso é importante à medida que nos oferecem condições de mergulhar no pensamento humano de forma organizada e sintética. O que assusta, não raramente, é o linguajar difícil, o estilo, a forma que utilizam para descrever suas propostas. Assim, apesar de muito citados, a maioria dos livros desses pensadores chegam a ser rejeitados pelo leitor comum, o que é lamentável, pois o esforço compensa. Aliás, essa é uma regra para estudar, a leitura não pode ser governada pelo prazer e sim pelo objetivo que se pretende atingir durante a vida.

Não podemos esquecer, contudo, que, se o pensamento pode ser inescrutável, a manifestação pública não é algo saudável, principalmente quando pessoas fanatizadas ou oportunistas têm poder para criar leis e exercer policiamento “moral”. No primeiro dos três volumes da “História da Filosofia Ocidental” (25), de Bertrand Russell que, talvez para atacar Péricles110, os atenienses “criaram uma lei permitindo a denúncia dos que não praticavam a religião e ensinavam teorias sobre “coisas do alto”. Baseados nessa lei moveram um processo contra Anaxágoras111, que foi acusado de ensinar que o Sol era uma pedra incandescente e que a Lua era terra.” Ou seja, formalmente há dois mil e quinhentos anos criava-se a censura na capital máxima do pensamento humano à época.

O que se convenciona chamar de “filosofia” tem história, períodos e seus heróis e vilões. Felizmente vivemos no século 21 numa terra livre, democrática. Podemos estudar, expor, discutir opiniões, isso é de imenso valor. Nossa geração dos anos 60 viveu durante longas duas décadas sob ditadura, aprendeu na carne o que significa viver com medo de falar, de ser contrário a essa ou aquela autoridade. A filosofia é o resultado da liberdade e a liberdade se sustenta na visão de que podemos, todos, sem exceção, estarmos errados, desconhecermos a verdade disso ou daquilo. A intolerância é uma característica forte entre ignorantes, por isso é extremamente importante educar, transmitir cultura filosófica ao povo. Uma nação culta dificilmente aceitará ser subjugada por um ditador, apesar dos exemplos históricos assustadores. O que levou três nações tão desenvolvidas como eram Japão, Alemanha e Itália a se deixarem dominar pelo nazi/facismo precisa ser analisado nos mínimos detalhes, o que poderá desvendar sutilezas de nossos cérebros nem sempre eficazes.















Ética


A constatação de que o poder político no Brasil está contaminado profundamente pela corrupção (coisa antiga...) criou uma onda de questionamentos em nome da ética. Vimos a quebradeira mundial, tudo indicando que foi em conseqüência de banqueiros sempre muito falantes em ética. Entre amigos qualquer divergência maior pode sugerir comportamentos antiéticos, inadequados. Afinal, o que é “ética”?

Quem não é especialista em conceitos precisa procurar o apoio de dicionários e no Houaiss (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa (13)) descobrimos que, olhando direito, talvez nossos bandidos tenham comportamento ético. Afinal, não existiria a ética do crime, do criminoso? Vendo debates políticos eventualmente sentimos mágoas, entre eles, por não participarem de um ou outro esquema...

Felizmente a imagem poderá não corresponder à realidade. A arte da política era considerada pelos gregos como a de muito valor e inerente a todo cidadão respeitável, levando Aristóteles a definir a política como arte ou ciência prática suprema, destinada a comandar todas as outras Citado por (Comparato, (72)) de “Ética a Nicômaco”. Temos líderes que nos encheram de orgulho ao longo de nossa história brasileira, só lamentamos, atualmente, o fato de terem morrido ou se afastado de suas lutas...

Houaiss diz que a ética é a:

“parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social; em doutrinas racionalistas e metafísicas, estudo das finalidades últimas, ideais e, em alguns casos, transcendentes, que orientam a ação humana para o máximo de harmonia, universalidade, excelência ou perfectibilidade, o que implica a superação de paixões e desejos irrefletidos; no empirismo, materialismo ou positivismo, o estudo dos fatores concretos (afetivos, sociais etc.) que determinam a conduta humana em geral, estando tal investigação voltada para a consecução de objetivos pragmáticos e utilitários, no interesse do indivíduo e da sociedade; conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.”


Começando pelo final, se a ética é o conjunto de regras de ordem valorativa e moral de um indivíduo, podemos entender que na política o que menos importa é a honestidade, mais ainda quando falamos de honestidade intelectual. A partir do momento em que Maquiavel112 disse que os “fins justificam os meios” (O Príncipe, (73)), apenas registrando o que sempre vimos na história da humanidade, outros teóricos políticos colocaram em seus manuais que suas “revoluções” seriam tão importantes que valeriam qualquer resultado, inclusive o rompimento ético de uma sociedade que precisaria de regras para não se destruir. Vendo os acordos para conquista de espaços no horário gratuito de mídia, concluímos que a honestidade simplesmente não pesou nas decisões de diversos postulantes a cargos majoritários. Talvez, nesse enfoque, inexista ética na política ou, nela, mereceria uma definição diferente ou, na análise dos leigos, existir o cuidado de se alegar ignorância e incapacidade de julgar qualquer profissional da política.

Para quem não é autoridade em filosofia a principal fonte de consulta é, repetindo, o dicionário. Temos outros além do Houaiss. Na Wikipédia113 encontramos “... o objetivo de uma teoria da ética é determinar o que é bom, tanto para o indivíduo como para a sociedade como um todo... O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto, cabe-lhe pensar e responder à seguinte pergunta: “Como devo agir perante os outros?”. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão central da Moral e da Ética”.

Conversando com um amigo ele me disse que existiria a ética daquele que pretende conquistar o poder e outra no poder. De alguma maneira ele parecia querer justificar a omissão das autoridades em relação a crimes de governos anteriores, levando-as à tolerância (no caso específico de nossa conversa). Para me assustar citou Weber114 como autoridade em filosofia que mereceria ser estudada. Preferi apelar para os dicionários, até porquê o dicionarista tem a obrigação de ser conciso, objetivo, e nesse sentido a Wikipedia está sendo uma fonte de consulta extraordinária, pelo menos adequada à análise que nosso povo deveria fazer dos seus políticos. Assim me atrevo a escrever sobre um tema tão complexo, que mereceu livro específico até, e como não, de Bertrand Russell (A Sociedade Humana na Ética e na Política, (74)).

O maior pesadelo brasileiro tem sido, há muitas décadas, a corrupção, a desonestidade que crescem sem parar. Procura-se dourar a pílula através de ensaios históricos, românticos, documentários mais do que tendenciosos e romances melosos, apontando, via de regra, o mais enérgico como alguém detestável, valorizando-se os espertos de nossa história. O que não se pode desprezar é que a desonestidade explodiu orçamentos, criou obras super-dimensionadas ou propositadamente reduzidas em qualidade, fora de projeto, gerou serviços fictícios etc.

A falta de vergonha não é atributo exclusivo dos políticos brasileiros. Corporações fortes, sindicatos, organizações religiosas, etc. não relutam em colocar suas conveniências acima do que seria bom, justo e saudável para a nação. Greves absurdas, criminosas, são os melhores exemplos dessa alienação e exercício de conveniências pessoais. O povo que se dane.

Assim talvez possamos imaginar, para consolo precário, que essa é a visão de nosso povo, onde muitos, talvez tão preocupados com as esmolas oficiais e sem outra esperança, precisem aproveitar a caridade oficial e terminem por optar a favor de pessoas que aplicaram lógicas que fariam os mafiosos de Chicago corarem de vergonha. Recorrendo a filósofos, contudo, é importante transcrever o seguinte (Russell, Autobiografia de Bertrand Russell (período 1944 -1867, último volume), (24)): “A conclusão a que cheguei foi que a ética nunca é um componente independente, sendo, em última análise, reduzível à política. O que diremos nós, por exemplo, de uma guerra...?”.

Pois bem, e lamentavelmente descobrimos que a política tem sido uma arte estranha nas sociedades humanas. O que diremos da ética? Pelo menos podemos vê-la de outras formas e assim assimilar conteúdos mais realizáveis em nossas vidas pessoais e sociais.

De qualquer forma a ética é um figurino comportamental que pode ser visto circunstancialmente. A humanidade vive a fase dos acordos via Declarações de Direitos, como também sustenta e retoma lógicas fundamentalistas. A ética é funçaõ da cultura de um povo, de suas necessidades, pesadelos e desejos. Encontraremos até em tribos primitivas códigos de honra, de relacionamento bem elaborados. Os mais antigos colocando preceitos, esoterismos e determinações que poderão nos ofender, agredir, mas que refletem o que sabem da Natureza, ou pensam conhecer. Esses catecismos transmitidos oralmente ou escritos sobre pedras, madeiras, papéis rudimentares, couro de animais ou outras formas de registro são parte importante de união, de disciplina, de organização social. Obviamente, à medida que esses povos evoluem (ou regridem) o que se entende por “bom comportamtneo” muda, ajusta-se ao cenário criado. Basicamente podemos ver a ética como um conjunto estruturado de regras para ser ou fazer, eventualmente as duas condições.

Na introdução ao livro “Ética” de Fábio Konder Comparato (Ética, Direito, Morale Religião no Mundo Moderno, (72)) ele começa citando Sócrates e acrescenta:

“Esta investigação diz respeito ao que há de mais importante: viver para o bem, ou viver para o mal”... o que pode existir de mais valioso na vida, quer de indivíduos, quer dos povos, senão alcançar a plena felicidade? Pois é disto exatamente que se trata quando falamos em ética. Podemos errar de caminho na nossa vida e nos embrenharmos perdidamente, como Dante, na selva da escuridão. Jamais nos enganaremos, porém, quanto à escolha do nosso destino: nunca se ouviu falar de alguém que tivesse a infelicidade por propósito ou programa de vida.


Ótimo! Assim definida fica mais fácil procurá-la e estruturá-la em nossas consciências e ambientes de vida.

Independentemente do que nossos patrícios pensam sobre a ética ela é uma imposição em qualquer sociedade aberta ou fechada. Assim temos códigos de ética por empresa, profissões, corporações especiais, religiões etc.

Na justificativa do comportamento necessário codificado em manuais de ética podemos encontrar princípios e dogmas religiosos assim como, e principalmente, conveniências daqueles que têm o poder de decidir sobre os interesses da empresa, seja ela qual for.

Nos mistérios insondáveis da Natureza, do Universo, podemos talvez sentir a existência de um padrão ético de comportamento que percebemos sempre que nos desviamos de caminhos que nos parecem expontâneos. Talvez por isso e dentro de raciocínios às vezes extremamente lógicos, outras vezes simplesmente intuitivos, tantos filósofos tenham escrito tanto sobre o tema “Ética”. Baruch Spinoza, por exemplo, constrói um edifício lógico interessante em seu livro “Ética” (75), partindo da visão de Deus e procurando respeitar alguns dogmas cristãos, sob pena de ir parar na fogueira da Inquisição

Aliás a Inquisição governou as consciências do mundo ocidental durante séculos a partir do décimo terceiro, chegando tão perto de nós quanto o século dezenove (Michael Baigeni, (17)). Nessas e em outras épocas, como teria sido o comportamento ético da humanidade?

O livro Elogio da Serenidade (76) traz considerações interessantes entre o que seria uma ética metafísica e outra laica, discorrendo sobre esses dois extremos que, em si, dizem muito. Algo muito definido a partir de algum código de leis obtido por comunicação “inspiração divina” é ter comportamentos que agradem um Ser Superior, outro seria simplesmente um acordo com a própria consciência sobre o que julgamos justo, válido, aceitável. Com certeza é necessário um sentimento muito forte de amor e respeito ao próximo para sentirmos limitações a nossos desejos. Essa, aliás, é a grande questão no mundo moderno em famílias que assumiram um comportamento não religioso. Como dizer aos filhos que precisam viver com responsabilidade, amor à Justiça e comprometimento com padrões saudáveis de comportamento sem colocar na cabeça deles o medo do Inferno?

A opção egoísta é nociva a comportamentos desejáveis a qualquer povo que deva conviver em paz. É normal ouvir “tenho o direito a ser feliz” como desculpa para qualquer insanidade. Quantas vezes ouvimos de pessoas que admirávamos essa explicação para atitudes violentas contra a própria família. Para quê?

Nossos instintos e ingenuidade fazem-nos acreditar em super homens e mulheres maravilhosas. Acreditamos em perfeições, principalmente quando atendem nossas próprias taras. Isso será um bom caminho?

Ao longo da vida chegamos a poder avaliar o resultado de decisões que nós, nossos amigos, desconhecidos e inimigos tomaram. Vamos percebendo que as irresponsabilidades custaram caro, que se perde muito quando desrespeitamos outros, que simplesmente “pagamos na Terra o mal que fazemos”...



Paciência


Virtude dos sábios, a paciência torna-se uma qualidade de grande valor nos momentos difíceis, durante uma vida em que estamos sujeitos a períodos de glória e de derrota. A consciência de que o tempo passa e que ele traz soluções para a maioria dos problemas ajuda a superar questões delicadas. Lembrar que sempre haveria uma hipótese pior ajuda a suportar fases ruins da vida.

A paciência leva à tolerância diante de atitudes desagradáveis, pouco inteligentes. A consciência de que todo animal emite sons característicos de sua espécie leva-nos a não nos revoltarmos contra os latidos dos cachorros, os miados dos gatos e os grunhidos dos porcos. Afinal esses são os sons que podem fazer...

Saber esperar é ter capacidade de pensar e aguardar o melhor momento para agir. Pensando mais encontraremos soluções melhores. O momento adequado para cada decisão vem com o tempo; é preciso esperá-lo e agir com firmeza quando surgir a oportunidade.

O jovem, principalmente, precisa educar-se a ter paciência. Naturalmente agressivo, ousado e impaciente expõe-se a muitos acidentes que poderiam ser evitados. Os pais e educadores devem treinar seus dependentes a ter calma, a refletir mais antes de cada aventura. A prudência é conseqüência da capacidade que tiver de esperar a melhor oportunidade, melhores condições.

Há um momento certo para cada processo. A vida sucede-se em fases que exigem amadurecimento, preparo. Querer antecipar experiências, atitudes e compromissos é perder a chance de um melhor desempenho, uma vida mais feliz e saudável.

Na vida profissional ter calma e capacidade de agir apenas quando necessário ou desejado é uma qualidade importante, muito útil ao profissional e à empresa. Desafios e agressões são freqüentes, enfrentá-los com domínio da situação é um grande “handicap”. Perder a calma, o autocontrole, é uma falha imperdoável em muitos cargos de comando. O “sangue frio” é necessário para suportar pressões que muitas vezes têm como único objetivo desestabilizar-nos.

Um empresário ao iniciar sua empresa deverá ter disposição para esperar sua consolidação. O início de qualquer indústria, atividade comercial ou de serviços exige tempo para se firmar. Se a semente for boa ela germinará, mas precisará de tempo, ambiente e cuidados adequados. Tendo-se competência e disposição para o trabalho as oportunidades virão e o pequeno empreendedor poderá mostrar a que veio. O empresário impaciente não saberá agüentar os períodos difíceis, apertar o cinto, garimpar serviços.

É fácil imaginar quanta paciência é necessária ao alpinista que deseja escalar altas montanhas. Um grande cirurgião depende dela para dominar-se e concluir com êxito as operações mais demoradas. Um arquiteto não poderá concluir com sucesso sua obra se não tiver disposição para, a cada dia, discutir com engenheiros e operários o projeto que desenvolveu. O estudante não será bem sucedido nas provas se não tiver paciência para estudar horas e horas, dias e dias até as provas. Provas que se repetirão monotonamente até concluir seu curso. E terminados os estudos o jovem profissional ainda precisará de muitos anos até gozar do prestígio dos bons.

A paciência é uma qualidade extremamente afetada pelo estado emocional de uma pessoa. Suas glândulas também contribuem muito para as reações que tiver. Sabendo disto um indivíduo inteligente administra seus riscos, exposições, evitando colocar-se em situações perigosas quando não estiver em condições de fazê-lo. É o caso de andar armado ou não. Uma pessoa agressiva arrisca-se muito e também aos outros se usar armas regularmente. Por motivos fúteis poderá desencadear uma tragédia que lhe destruirá e às pessoas que o provocarem.

Métodos existem para suportar pressões sem violências. Um deles é a prática de esportes físicos. Ao enrijecer os músculos tornamos o cérebro mais elástico, ao exercitá-los atenuamos tensões. Os povos orientais têm técnicas milenares para o desenvolvimento mental e pacificação do espírito. Conscientes da necessidade de suportar grandes pressões e tristezas aplicaram-se no desenvolvimento de exercícios e processos de meditação, que preparam a pessoa para as dificuldades da vida. Outro recurso é a minimização da agressão. Simplesmente não valorizando uma ofensa, ignorando uma atitude descortês, além de inibir uma reincidência, ela passará sem os efeitos que pretendia seu autor.

A paciência aproxima-se do estoicismo na capacidade de resistir a sofrimentos pesados, quando a praticamos diante de doenças graves, nossas ou em alguma pessoa querida. Mantendo a serenidade podemos facilitar e até encontrar soluções. Há momentos que todos passarão e que poderão ser extremamente agravados se as pessoas não tiverem preparo psicológico para enfrentá-los. Nessas ocasiões a fé em Deus e uma religião também ajudam muito.

A história da Humanidade tem inúmeros casos de pessoas que só sobreviveram porque tiveram paciência e autocontrole. Diante de desafios aparentemente intransponíveis conseguiram superá-los por terem tido capacidade de resistir a todas as dores, ameaças e mensagens negativas.

O otimismo é uma grande virtude. Uma pessoa paciente normalmente conscientiza-se que o final será melhor do que o momento que estiver passando. Pensamento Positivo e confiança no futuro são armas poderosas, tornando aqueles que as possuem fortes o suficiente para resistir a muita pressão... Muitos livros têm sido escritos a respeito, merecendo uma leitura atenta, principalmente por aqueles que estiverem passando dificuldades. A literatura em torno do Pensamento Positivo115 tem orientações diversas. Com certeza existirá alguma obra que não ofenderá a convicção filosófica de quem dela estiver carente.

Finalmente é bom repetir, insistir: a paciência é uma sábia qualidade. Desenvolvê-la é um ato inteligente, útil àquele que pretender ser bem sucedido e feliz.





Determinação, disciplina


A disciplina e a determinação de espírito são condições essenciais a quem pretende atingir um objetivo difícil.

A falta de respeito a padrões de comportamento sadios termina por destruir muitos jovens que teriam, não fosse a falta de atenção com seu próprio corpo e espírito, condições de desenvolver-se de forma brilhante.

Em casa, no trabalho, nas escolas e no amor há necessidade de respeito e obediência a uma série de normas, regras importantes ao sucesso, à obtenção de bons resultados.

Na década de 60 e início dos anos 70 era até moda a indisciplina total. A juventude, em protesto contra a geração de seus pais, a educação recebida, a guerra do Vietnã e, muitas vezes, sob o efeito de drogas das quais o LSD era a mais famosa, entregava-se apaixonadamente a posturas anárquicas. Valeu como protesto, mas destruiu muita gente boa. O pior efeito foi o início de uma cultura de uso de drogas que fugiu ao controle. Hoje o comércio da cocaína, maconha, heroína e outras porcarias é uma grande indústria a nível mundial. Na clandestinidade a corrupção e a depravação das drogas causam um desastre social.

A competição é a base de sobrevivência. Todos precisam conquistar um lugar ao Sol. Não há tolerância a quem não for bom. Para os fracos resta a piedade, a caridade e os lugares indesejáveis.

Assim o jovem precisa conscientizar-se da necessidade de preparar-se para a luta pela sobrevivência. E esta luta é dura, exigente.

Neste quadro o ideal é começar cedo o treinamento, o disciplinamento do corpo e da mente. O autocontrole não é fácil, não é tarefa para os fracos.

Não entregar-se ao sono, à dor, à preguiça, a doenças para fugir a compromissos. É comum ouvir certas pessoas dizerem com freqüência não poderem fazer algo por estarem com dor de cabeça, cansados, indispostos. Normalmente são indivíduos frágeis, medíocres, incapazes de liderar, vencer. Usam suas deficiências como argumento para fugir a qualquer responsabilidade. Devemos resistir a esses impulsos negativos, não nos ajudarão em nada. Lair Ribeiro tem um livro genial a respeito: “O Sucesso (Ribeiro, (77))”. Nele o autor destaca que a diferença entre um potencial perdedor e um vencedor é pequena em suas condições físicas e mentais, a diferença está na cultura, na vontade de vencer, de lutar e de superar as dificuldades do caminho.

Existe alguém que não sinta nada? Os vencedores, os campeões são pessoas perfeitas? Uma imagem esplendorosa foi a daquela corredora (Gabriele Andersen-Scheiss116) de maratona chegando ao final da corrida tropegamente. Pela determinação transformou-se, ainda que não chegasse à frente, na grande vitoriosa, a imagem símbolo daquela olimpíada117. No Brasil temos, entre nossos grandes personagens, o exemplo de Amyr Klink118. Com determinação, disciplina, inteligência e coragem ele se tornou um modelo a ser seguido por todos nós.

A disciplina sadia educa o corpo e o espírito.

A disciplina, pelo que exige nas manhãs frias, no estudo prolongado, no trabalho interminável, é a têmpera do caráter quando nos coloca desafios prosaicos, mas decisivos como esses. Vencer o sono, as dores musculares, a fadiga mental é um bom exercício. Em muitos momentos isto será apenas um aperitivo do que teremos de suportar.

Precisamos de disciplina até para podermos nos rebelar objetivamente contra algo que discordemos. Obter resultados implica na necessidade de planejamento inteligente, execução organizada, paciência e determinação.

Na história da Humanidade não encontraremos um grande líder que não tivesse entre suas características a disciplina e a determinação de atingir seus propósitos. E muitos sofreram estupidamente antes de conquistar seus objetivos.

Se a disciplina é necessária ao desenvolvimento, a determinação em atingir resultados é essencial ao espírito empreendedor.

O “descobrimento” da América é um bom exemplo de determinação de um líder, Cristóvão Colombo119. Sua teimosia, insistência e arrojo levaram-no a vencer todas as barreiras na Espanha e rumo ao mar aberto, superando um oceano cheio de lendas e terrores, atingiu em frágeis embarcações a futura e ingrata e maldosamente denominada América.

Cientistas houve que passaram a vida pesquisando, procurando provas de suas teorias, resultados nem sempre atingidos, mas que deram a alguns deles um lugar eterno na história da Ciência. Os alquimistas da Idade Média não conseguiram chegar à pedra filosofal, mas, perseguindo-a, encontraram muitas substâncias de interesse para a humanidade.

A disciplina deve ser parte de um processo de educação para a vida. A determinação, a qualidade de quem tiver um projeto, um objetivo para atingir

Ter um espaço, ser um vencedor, um campeão é para os que conseguirem dominar seus instintos, suas falhas. Ocuparão um lugar de destaque aqueles que tiverem capacidade para se desenvolver e com firmeza lutar para realizarem seus sonhos, torná-los realidade, vencerem...





Coragem


Caldas Aulete define (Aulete, (78)): “coragem, força ou energia moral que leva a afrontar os perigos; valor; ânimo, intrepidez, bravura, denodo”.

Coragem não é ausência de medo, é vencê-lo, dominá-lo.

A vida exige coragem, sobre aqueles que não a tem vinga-se lhes impondo uma existência medíocre. É essencial a quem pretende viver dignamente. Nos momentos de derrota, de uma maneira especial, sua ausência conduz o miserável às atitudes vergonhosas, a desesperos e choros indecentes.

Coragem não é sinônimo de loucura, pois esta é inconseqüente. A vida é a oportunidade que um pouco da matéria deste Universo tem de acrescentar-lhe algo. Este conjunto material não deve desperdiçar sua fração de existência... Nós, parte material que tem poder de se transformar temos durante nossa vida a chance de sermos úteis, mas para isso o caminho é longo e penoso. Tendo-se metas e grandes objetivos precisaremos vestir-nos de coragem para atingi-los. Na vida profissional, política e sentimental ela é a qualidade que fará a diferença entre o sucesso e a mediocridade.

A bravura de Napoleão no cerco de Toulon120, no início de sua carreira, permitiu-lhe mostrar sua competência. O ânimo, a determinação de um operário deu ao Brasil um Lula, um humilde retirante nordestino ontem, hoje um grande líder político e presidente da República. A ousadia, a intrepidez de Tiradentes transformou-o em mártir de nossa pátria, símbolo de um Brasil que nascia. Vencer o medo teve efeitos diferentes sobre essas três personalidades, mas foi, com certeza, essencial ao espaço conquistado em nossa história.

A biografia de Abrahan Lincoln é um bom exemplo de coragem e lutas. Faliu no comércio duas vezes, aos 31 e 34 anos. Aos 35 anos perdeu sua primeira esposa. Perdeu 8 eleições sucessivas a partir dos 32 anos e foi ganhar aos 60 anos a presidência dos EUA. Entrou para a história da humanidade por suas decisões corajosas e progressistas. Teve em sua pátria oposição feroz que culminou com seu assassinato...

A coragem é também necessária para enfrentar a inveja daqueles que não a possuem. Talvez o maior obstáculo a quem ousa lutar seja a animosidade e o veneno daqueles que não se dispuseram a fazê-lo. A intriga e a calúnia costumam ser as armas deles. É interessante notar como informações negativas prevalecem sobre as positivas. O indivíduo mesquinho, incompetente, medíocre, não sabendo fazer envenena, atrapalha, destrói.

Em família, a preocupação que os pais têm com a saúde dos filhos produz um padrão de cuidados muitas vezes excessivo. Por diversos motivos poderemos transformá-los, nossos filhos, em pessoas medrosas, covardes. Vivemos em cidades selvagens, sem segurança, expostas a todo tipo de violência. É natural que os pais queiram superproteger sua prole. O reverso da medalha é inibi-los, amedrontá-los e desarmá-los. Precisamos criar um ambiente em que a coragem inteligente seja valorizada, desejada e transformada em qualidade natural.

Uma das razões de constrangimento são as fobias. Pavores ridículos criam restrições infantis a atividades muitas vezes essenciais. Um adulto tem por obrigação dominar-se sob pena de agravar problemas e até criá-los desnecessariamente.

O medo dominando um indivíduo transforma-o em um ser frustrado, medíocre, chato.

Dominar-se e administrar-se dentro de um grande plano de vida exige determinação, inteligência e coragem. Enfrentar inimigos, barreiras, superar obstáculos eventualmente perigosos exige capacidade para dominar entre outras fobias o medo da morte. Esta é uma preocupação natural, própria de quem vive, existe. Arriscar a própria vida é uma demonstração inequívoca de coragem mas, pela sua dimensão, exige inteligência para que não o façamos gratuitamente.

A coragem, acima de tudo, é uma qualidade importante para que se fuja a uma vida medíocre. Tendo-a estaremos dispostos a viver com intensidade.

O apego excessivo à vida, o medo exagerado a doenças e acidentes impede que um indivíduo se desenvolva, participando de atividades as mais comuns. Não há como viver sem se expor. O perigo, o risco de acidentes é onipresente e a probabilidade de se acidentar aumenta à medida que perdermos sensibilidade, agilidade. A exposição contínua estimula nossos sentidos a ficarem mais alertas. Vale notar o que acontece quando nos afastamos muito tempo das cidades. Ao voltar cometeremos erros pela falta de atenção. Atravessando uma rua, dirigindo um carro com mais facilidade esqueceremos algum padrão de segurança após um período longo de afastamento da confusão das áreas urbanas. Nem por isto deixaremos de retornar, de recomeçar a vida urbana. Assim devemos ter noção de risco relativo. Recusamo-nos a fazer algo pelo receio de algum problema e nos colocamos às vezes, inconscientemente, em outros muito piores. Desenvolvendo lógica a respeito evitaremos o ridículo de recusar serviços ou prazeres que nos seriam convenientes.







Verdade , realidade


Verdade ou mentira, realidade ou fantasia. Na vida estaremos sempre diante destes dilemas. O que queremos? Viver sonhando ou procurando utopias? São questões básicas que nem percebemos. Traumas, acidentes, grandes problemas levam-nos a sublimar, a criar alternativas fictícias.

Em nossa vida sentimental, de uma maneira especial, geramos paradigmas muitas vezes impossíveis de serem atingidos. Sonhamos ter como parceiros grandes personagens televisivas, esculturais. De repente apaixonamo-nos por alguém próximo, uma pessoa muito mais simples... Precisamos ter visão realista, sincera e honesta a nosso respeito. A capacidade de uma autocrítica honesta permite-nos fazer uma análise importante ao sucesso de nossos projetos pessoais. Conscientes de nossas limitações e potenciais poderemos elaborar planos, metas e objetivos realizáveis.

Durante a vida seremos sempre colocados diante de desafios que deveremos avaliar com razoável precisão. Qual o custo de um erro de cálculo? Frustrações, desamor. Quantas separações, quantos casais desfeitos porque se casaram sob o manto das ilusões. Quantos profissionais fracassados porque calcularam mal seus recursos.

Um grande desafio é ser realista sem se deixar dominar pelo perfeccionismo, pessimismo e mediocridade. É querer a verdade sem se abater pela possibilidade de más conseqüências. Dominar a vida com todos os seus percalços e desafios. Decidir tendo ciência dos custos e benefícios. Avaliando riscos.

Uma prova de maturidade e coragem é enfrentar as situações mais difíceis com serenidade, determinação e inteligência.

A vida tende a colocar-nos grandes desafios. Há casos extremos de resistência e heroísmo. Como devem os vietnamitas ter suportado o Napalm121, os exércitos inimigos destruindo sistematicamente suas casas? Os poloneses sendo bombardeados pelos nazistas? Os judeus assistindo indefesos seus irmãos, pais e filhos caminhando para as câmaras de gás?

Mesmo diante de todas as tragédias do mundo teremos sempre o compromisso da sobrevivência.

É comum notar o desespero na iminência da morte de um ente querido, de um pai ou mãe. Pudéssemos ler os pensamentos deles, agonizantes, nesta hora de sofrimento veríamos o pedido de aceitação, de força. Acima de tudo os pais anseiam pela sobrevivência dos filhos. Para eles a vida teve sentido criando e educando suas eternas crianças. O que menos desejariam seria a infelicidade ou, pior ainda, a destruição dos filhos.

Quem sobrevive a uma tragédia tem que rapidamente esquecê-la, trabalhando para recuperar as perdas materiais e a reconstrução do que for possível. A realidade que interessa é a necessidade de sobreviver, de recomeçar. Sempre haverá alguém que precisará do nosso trabalho, carinho, atenção. O passado é caso resolvido. O futuro depende da gente, poderá ser modificado, melhorado. A capacidade de se reprogramar é vital. Não podemos, em hipótese alguma, entregar-nos a tragédias passadas. A realidade está no rosto de uma criança esperando que lhe ajudemos a crescer, a alimentar-se, a ser feliz.

Não temos o direito de fugir à grande missão: sustentar, manter a vida.

Todos os psicólogos, psiquiatras e psicanalistas mostrarão mil formas que o ser humano adota freqüentemente para fugir à realidade. Todo este arsenal de artifícios comportamentais explica porque as soluções eventualmente não são encontradas. É lamentável ver tanta gente boa entregar-se à autocomiseração. Resistir, lutar para enfrentar a vida com dignidade é imperativo. A vida digna será o resultado de aprendermos a encarar a realidade com resignação e disposição de luta.

Atitudes depressivas poderão ser patológicas e curáveis. Procurar solução é a atitude correta. Entregar-se passivamente é mergulhar de cabeça em um precipício difícil de sair. Enfrentar a vida e em especial nossas próprias deficiências é essencial ao seu sucesso. As derrotas também são algo a ser assimilado com dignidade. Só perde quem luta.

Na política e na gerência é facilmente perceptível entre muitos perdedores as maneiras com que as pessoas fogem à responsabilidade, às decisões mais difíceis. A mediocridade é o principal resultado deste cenário. Gerentes criam fantasias, inimigos fictícios, preconceitos para explicar porque não produzem. Políticos começam a ver adversários por toda parte. Só não são capazes de aceitar a própria incompetência. A verdade dói, incomoda.

A verdade e a realidade são as armas dos fortes. Dominando-as poderemos enfrentar exércitos. O conhecimento do que nos cerca e de nós mesmos será um recurso valioso, que precisaremos para conquistar a vida.

Devemos desde cedo preservar algo que as crianças têm com naturalidade: a sinceridade, a capacidade de ver as coisas como elas lhes aparecem. Os adultos costumam racionalizar, criar imagens já programadas para cada cenário. Tornam-se, muitas vezes, preconceituosos, sectários.

Precisamos criar um mundo honesto, inteligente, em condições de ver de frente nossas oportunidades e limitações e nelas trabalhar para melhorar a vida de todos.

Evidentemente não deveremos partir para posturas de máxima segurança, exigir informações plenas como condição para tomada de atitudes. A certeza absoluta é impossível. Só os ingênuos a têm. A mediocridade é o custo de quem quer se preservar, não quer se expor.

A realidade e a verdade devem ser instrumentos da ação consciente, honesta e corajosa.

Enfrentando a vida com toda a clareza que nossa cultura e nossos mais modernos sistemas de informação possibilitam, conquistaremos a oportunidade de sobreviver com dignidade, eficácia e felicidade no futuro.

A Terra, saturada de tantos “homo sapiens sapiens”, precisará de toda a nossa competência para não mergulhar em guerras ou catástrofes ciclópicas.














Liberdade


O grande sonho de muitos povos que viveram sem possuí-la, a liberdade é um grande desafio da Humanidade.

Revoluções e guerras foram feitas em nome da liberdade. Que liberdade? De morrer de fome? De mendigar trabalho? Saúde? Ou a liberdade de viver em um ambiente saudável? Questões desta espécie têm consumido muita cerveja em mesas de bares, em reuniões de estudantes e militantes políticos.

Grande sonho da Humanidade, a liberdade de expressão, locomoção, religião e outras são base de muitos movimentos e ideologias.

E o frágil ser humano, simples, bípede, pensante? Como este ser entende a liberdade? O que espera conquistar com ela?

Imerso na multidão qualquer indivíduo tem o direito de escolher seu caminho, decidir sobre muitos detalhes que o farão uma pessoa respeitada, bem sucedida ou mais um indigente, um desconhecido. O uso da liberdade identifica-nos como seres desenvolvidos, civilizados ou não.

No processo político temos a Democracia como a única forma institucional de dar a qualquer indivíduo a capacidade de participar do processo decisório em sua administração pública. Isto faz dela algo extremamente valioso, imperdível. O cidadão atual, graças às inúmeras formas de comunicação existentes, tem acesso a imagens, sons e notícias que lhe permitem desenvolver espírito crítico do governo e leis. A liberdade se consolida à medida que sentimos sua importância. O nazismo e o comunismo soviético são dois exemplos de renúncia à liberdade que custaram caro à Humanidade.

A liberdade indissocia-se à responsabilidade quando a exercitamos no meio de uma sociedade, na administração de empresas e na condução de uma família. Em cargos de comando colocamo-nos a serviço de um ideal, um discurso, uma política. Infelizmente a origem histórica do Poder deu-lhe o sentimento do uso imperial, da propriedade do posto e seu uso em benefício próprio. Os estados e nações pertenciam a famílias, reis e generais. O povo, vassalo, era instrumento da glória do soberano que dele dispunha como bem entendia. As religiões, no aconchego dos palácios, davam-lhes autoridade transcendente, mística. Essa imagem ainda perdura. No Brasil o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi em nossa história recente quem mais a materializou. Em muitas empresas vemos a mesma postura, o Poder a serviço do chefe e não dos acionistas, dos seus proprietários. Vale a pena observar o comportamento de alguns grandes empresários que se metem na política. Respaldados no sucesso de suas atividades profissionais e acostumados a dar ordens, agem como se fossem donos da verdade, não toleram divergências, agridem gratuitamente quem deles discordar. Se pudessem revogariam todas as leis que soltam a imprensa, o povo. Exemplos não faltam no cenário brasileiro atual. Tudo isto faz com que a liberdade e o Poder tenham diferentes efeitos e compreensões. Para quem está no comando o direito de usá-lo em benefício pessoal, para o povo a esperança do protesto, da luta pela sua evolução. A liberdade é instrumento diferente para muitas pessoas.

Dentro das novas regras econômicas e da fobia consumista criou-se um cenário em que o trabalhador assalariado vive sob o risco de uma escravidão sutil. A abertura de fronteiras permitiu que bolsões de trabalho escravo produzam e venham competir em sociedades mais desenvolvidas. Países que contavam com estruturas sociais sólidas estão sob o risco de se degradarem sob o peso dessa nova ordem. O aviltamento de salários e o desemprego é o resultado diante de uma competição que não conseguem vencer. É surpreendente ver pessoas dormindo nas estações de metrô de Tóquio, capital de um dos países mais ricos do Mundo. Em Londres aumenta o número dos que dormem em praças por não poderem pagar um aluguel. Nos EUA a miséria domina bairros até famosos por suas histórias. Que riqueza é esta que obriga operários a trabalharem sem parar, sem tempo para o lazer, estudos? Que não considera as diferenças natas de capacidade, penalizando aqueles infelizes que não tiveram saúde e o amparo de famílias bem constituídas? Que não garante a sobrevivência primária dos menos favorecidos? Que prende seus trabalhadores a padrões comportamentais severos impedindo-os de serem eles próprios? Talvez esta seja a grande arma dos poderosos, não dar ao povo a oportunidade de estudarem e refletirem sobre suas realidades. Sobrecarregando os mais humildes eles não poderão contestar as instituições que os condenaram à marginalidade. Possuem uma liberdade relativa, a de serem escravos, de trabalharem incessantemente para o deleite de alguns.

Há alguns anos os países mais desenvolvidos discutiam a redução das horas de trabalho. O Mundo ocidental, pelo menos, caminhava para a consolidação de conceitos de convivência saudáveis, de maior dignidade. O impacto das crises econômicas, do petróleo e, principalmente, a abertura de fronteiras enfraqueceu sindicatos, partidos progressistas, idéias de maior respeito pelo ser humano. Hoje vemos a pobreza crescendo, o desemprego e a criminalidade como realidades crescentes nestes antigos e belos países. Nações inteiras renunciaram à liberdade de se administrarem, entregaram-se a poderes supranacionais que não percebem ou não querem ver suas anomalias. O resultado é a volta do racismo, da xenofobia, das lutas religiosas. Tudo vira explicação para os menos inteligentes. As dificuldades por que passam torna-se culpa de outros e não de suas decisões políticas.

A liberdade é valiosa. Precisamos dela para poder pensar, viver. Tendo-a com tempo para o lazer, a vida em família, para o exercício de nossas filosofias e religiões, estaremos evoluindo, acrescentando informações que serão necessárias à evolução política, cultural e afetiva. É essencial tê-la de forma real. Isto significa possuí-la administrando nossas atividades de modo a podermos pensar em coisas além daquelas exigidas por nossas necessidades básicas. A responsabilidade do exercício democrático é muito grande. Nossas obrigações familiares, como educadores, exigem que aprimoremos nossa formação de modo a podermos transmitir a nossos filhos idéias, instruções e culturas decentes.

Ter liberdade é algo que poucos percebem. Na juventude ela parece natural, mas, sem perceber, gradativamente arriscamo-nos a perdê-la. Escola, casamento, emprego, filhos e vícios transformam muitos seres humanos em autômatos e em cidadãos alienados. Precisamos conciliar a vida a nossas obrigações básicas de modo a poder desenvolvê-la com dignidade. Quando novos lutamos pelos direitos dos adultos, lá chegando deixamo-nos prender por diversos compromissos que poderão levar-nos à mediocridade, a prisões insidiosas.

O exercício da liberdade de lutar por sua subsistência, do direito de formar sua família e de trabalhar, própria do adulto, é o espaço que o jovem conquista gradativamente. Se os pais têm uma missão na vida é educar seus filhos para explorar seus espaços com eficácia e responsabilidade. Os pais são os pássaros que olham ansiosos seus filhotes baterem asas, treinarem saltos, planarem e finalmente voarem para suas vidas e seus amores. A cada movimento o receio de um tombo. O medo de alguma armadilha que destrua seus filhotes... Voando vêem a vastidão do Mundo, os grandes espaços e também seus predadores. Os mais experientes sabem quanto de sorte e luta foi necessário para sobreviverem.

A mente humana rejeita limites. Seu desenvolvimento é produto de um instinto aventureiro, pesquisador, questionador. A curiosidade do ser humano levou-o a cruzar oceanos, a voar pelo espaço e procurar em desertos tesouros que ficaram depositados nos cofres de nossa cultura. Graças à vontade de sermos independentes as tiranias caíram, os ditadores tremeram.

Lutar pela liberdade é não aceitar o império do dinheiro. Todo indivíduo tem direito a uma vida digna desde que honestamente dê sua contribuição à sociedade. Lutar pela liberdade é não aceitar patrulhamentos, censuras ideológicas, restrições religiosas e raciais.

Ser livre é querer pensar e colocar como diretriz suas próprias convicções, não renunciar ao direito de raciocinar. Ser livre é ter disposição para a luta. Estar disposto a pagar o preço da independência, resistindo às pressões econômicas e sociais em contrário.

Ser livre é ser solidário com a Humanidade.

Ser livre é enfrentar a tirania.

Ser livre é ser gente.

Ser livre é ser.





Sucesso


O que sentimos quando vencemos, a glória de chegar à frente em uma competição, ver um filho recebendo seu diploma, o resultado de um trabalho de feito, é o sucesso, o prazer de sentir-se um vitorioso.

Procurando o sucesso fazemos exercícios para sermos campeões assim como trabalhamos, estudamos e procuramos a melhor namorada.

Para algumas religiões o sucesso é o sinal da simpatia divina, acrescentando à luta para obtê-lo o fervor religioso, as justificativas para muitas maldades. Povos que aceitam essa visão têm sido bem sucedidos. O culto à pobreza teria sentido diante do Apocalipse, do fim do Mundo. Pregar a renúncia é pretender a miséria. O sucesso, fruto de muito trabalho, é válido, justo, desejável. De qualquer forma é reconfortante e saudável sentir-se vitorioso.

O vencedor passa a ser paradigma para muitas pessoas, ganha a responsabilidade de ser modelo para muitos que começam suas vidas, principalmente os jovens sempre ansiosos para firmar suas posições. A responsabilidade de um campeão é algo que talvez passe despercebido a muitos publicitários e jornalistas. Vemos com apreensão a divulgação de aspectos negativos de grandes ídolos do esporte, por exemplo. O que estará passando na cabeça de milhões de crianças? Que será preciso imitá-los para conquistar a mesma glória? Com certeza muitos, não poucos, tomarão aqueles detalhes como parte de um conjunto de atributos para serem vencedores.

Ser um vencedor é uma meta de qualquer indivíduo.

Como administrar esta vontade sadia de pessoas que iniciam sua vida adulta? Ter o que como referência de sucesso?

Antes de tudo não devemos nos esquecer que a vida passa. Aqueles que tiverem saúde chegarão a quase um século de vida. Em algum momento desta trajetória deixarão de serem os primeiros, os campeões. Como planejar esta carreira?

O sucesso é uma condição passageira. Conquistamos em determinada atividade, ela termina, consagra-se o campeão. E depois? Devemos sempre estar preparados para compreender as oscilações da vida. Precisamos aprender a aceitá-las para não sermos destruídos nos momentos piores. As oportunidades se sucedem. Podem mudar de campo mas sempre estarão aí para quem tiver competência, capacidade de trabalho e vontade de lutar. Empresas passam mas o espetáculo continua. No circo da vida há muitos papéis disponíveis. O público das arquibancadas aprecia variedades.

O importante é entender que outras situações acontecerão. Não tem sentido incomodar-se além do mínimo necessário com qualquer coisa da vida. Nem futebol, nem profissão nem a própria vida deverão perturbar-nos além da nossa capacidade de ação. Problemas sem solução resolvidos estarão.

É terrível observar companheiros lamentando a falta de sorte, o leite derramado. O resultado de qualquer luta é a vitória ou a derrota. Nas disputas crescemos ou desaparecemos, mas nelas poderemos mostrar nosso valor. É a têmpera que dá a dureza do aço, do ser humano. Enfrentar a própria sorte é atributo dos fortes. Resistir, crescer nos momentos difíceis, aprimorar-se é o desafio que nos propomos vencer para merecermos, mais adiante, ter sucesso pelo qual batalhamos.

Há muitas maneiras de sentir o sucesso. Tudo depende de nossa cultura, índole e oportunidades. O maior será sentir-se feliz. A felicidade é um estado de espírito fantástico. Genial é ver como as pessoas mais simples conseguem conquistá-la em meio a tantas adversidades. Ela marca a ingenuidade dos menos inteligentes e a extrema inteligência dos mais sábios. Nesses dois limites veremos como se conquista a felicidade em coisas simples, naturais, tão próximas.

A inteligência mediana é suficientemente grande para perceber os grandes desafios da natureza e assim pretender enfrentá-los. Infelizmente, ainda pequena para vencê-los, com freqüência é derrotada. O resultado é a frustração, a infelicidade.

O sucesso é um momento de grande prazer. Saboreá-lo embriaga, inebria.

A preocupação com o sucesso tem base em nossos instintos mais elementares. A conquista da parceira(o), do espaço vital, do alimento é uma disposição natural em todos os animais. O espírito competitivo é uma conseqüência disso tudo. O sucesso será também a conclusão com êxito de todos esses processos, desafios. Simples mas naturais, são importantes e até necessários por serem instintivos.

À medida que mostramos resultados crescemos na admiração de muitos e na inveja de outros. O pior aspecto da frustração dos derrotados é o poder de calúnia e difamação. Em nosso país, onde a liberdade de imprensa confunde-se com o direito que jornais e jornalistas têm de dizer o que bem entenderem de qualquer pessoa ou empresa, os riscos são enormes. A nossa Justiça é cara, lenta e pouco eficaz. Pessoas que se destacam devem acostumar-se à idéia de serem objeto de atenções pouco lisonjeiras de pessoas frustradas.

O importante para um cidadão civilizado, decente, é fazer bom uso do sucesso. O crédito conquistado deverá ser usado para melhorar a sociedade, o povo. Sabemos quanto falta fazer para que mereçamos o crédito de nação responsável, evoluída humanisticamente. Um simples passeio por qualquer cidade brasileira mostrará quanto falta corrigir. Desde a questão habitacional, a criança de rua até o simples problema da inexistência de calçadas (quando existem são impraticáveis), mostra o quanto estamos atrasados. No exercício da cidadania agradeceremos ao Criador ter-nos permitido ser vencedores, campeões. Devolvendo em ações positivas mostraremos ter merecido as glórias recebidas.

O sucesso é, pois, uma grande responsabilidade. Tendo-o teremos o compromisso de maximizarmos os benefícios da autoridade conquistada.

Sem respeito pela Humanidade, sem a extensão do sucesso a outros, ele terá sido estéril, limitado ao que o motivou.





Sonhos


Dizem os especialistas que sonhar é necessário e saudável. Acordamos sabendo que dormíamos, que aquelas imagens e sons eram imaginação nossa. Logo as esquecemos. Na maioria das vezes não as lembraremos ao acordar. Foram, contudo, importantes para o equilíbrio emocional da pessoa. De tão importantes fazem parte de nosso “software operacional”...

Livros e livros já foram escritos querendo decifrar essas estórias noturnas. Muitos povos lhes deram grande significado. Os sonhos de reis e sacerdotes governaram guerras, casamentos, disputas.

E acordados continuamos tendo nossa imaginação funcionando. Nossos pensamentos ficam vendo paisagens, debates e amores fictícios. Rostos queridos ficam perto de nossos beijos, seus corpos juntos aos nossos, suas palavras em nossos ouvidos, seus perfumes nos envolvendo em doces ilusões...

Em matemática denominamos a isso simulações. Experimentamos idéias mentalmente. Verificamos se teriam chances de darem certo, de funcionarem.

Não podemos perder esta capacidade, precisamos estimulá-la. A criatividade é conseqüência da capacidade de sonhar. Sonhando construímos catedrais, fomos à Lua, atravessamos oceanos. As primeiras idéias e propostas mais pareciam obra de loucos. A persistência de muitos aventureiros, cientistas e engenheiros fez acontecer tantas aventuras maravilhosas.

Podemos perder pontos quando os sonhos fogem ao nosso controle. Perdemos capacidade de concentração. As aulas ganham imagens distantes do programa, da fala do professor. Vemos e ouvimos o que sonhamos, não o que o mestre apresenta. Transportamo-nos para mundos distantes perdendo contato com o presente. Arriscamo-nos a perder aqui, sonhando lá. Mas sonhar, imaginar é parte essencial do empreendedor, do cientista, do filósofo, do artista e do amante...

A vida é dura por si só. Atenuá-la com pensamentos agradáveis em torno de uma música romântica, passeando por um jardim, observando uma flor é saber entorpecer sem vícios, é “viajar” sem drogas.

Desde pequenos deveremos estimular nossa capacidade de sonhar. A leitura de livros é um excelente exercício neste sentido. A falta de imagens concretas, a comunicação restrita a palavras permite-nos imaginar cenários, personagens. Desenvolvendo-os ativamos nossa capacidade geradora, inventiva. A música instrumental, de uma forma ainda mais profunda, exige concentração e capacidade de sonhar, produzir estórias.

Sonhar, pensar, pesquisar e criar são atributos que devemos estimular sempre. O bom profissional sabe encontrar as respostas para os problemas que lhe aparecem.

Temos problemas clássicos que prejudicam o desenvolvimento da criatividade e capacidade de pesquisa. Um dos erros de muitas escolas é a famosa apostilha. “Mastigam“ as questões para os alunos. O estudante deixa de pesquisar, de ler livros e neles encontrar as respostas que procura. Não usa sua imaginação para encontrar soluções. Afinal o vestibular é um teste de memória, pouco de raciocínio. Compensa orientar o aluno ao processo pavloviano de ação e reação programadas. A introjeção deste processo e sua consolidação poderá custar caro ao futuro profissional. A mediocridade será o preço pelo vestibular fácil.

As escolas, de uma maneira especial, deveriam ensinar seus alunos a sonhar. Eles deveriam ser desafiados a sonhar acordados em quadros, danças, músicas e poesias.

O grande sonho da humanidade é viver em mundo rico, feliz, saudável.

Não podemos perder estes objetivos, esta vontade que John Lennon imortalizou em sua canção “Imagine”.

Sonhar com a vida significa estimular nosso cérebro à luta. Sentimos nossos impulsos rumo ao desconhecido, à aventura. Procuramos soluções para problemas que nos afligem, vencemos tabus, superamos barreiras.

Muitos povos talvez não tenham progredido por sonharem pouco, por não terem forças para dominar demônios, pajés e ambientes hostis.

Sonhando poderemos encontrar caminhos desconhecidos que nos levarão a uma vida melhor.

Sonhar não é iludir-se. Não é fugir à verdade. É procurá-la de uma forma otimista, positiva.

A verdade é o fermento dos sonhos à medida que a procuramos corrigir. Revoltando-nos contra situações que entendemos serem negativas, começamos a imaginar alternativas, soluções. Nossos revolucionários devem ter sido grandes sonhadores. Em seus pensamentos viam a possibilidade de conquistarem um Mundo melhor. Puseram em prática as teorias desenvolvidas em horas de devaneios, simulações. Transformaram suas nações a partir de imagens criadas em seus cérebros.

A Humanidade deve muito a sonhadores que tiveram a coragem de por em prática seus melhores pensamentos.

O grande desafio da vida é conciliar o sucesso com a felicidade. Ser bem sucedido na vida profissional ou política exige grande dedicação, disciplina e competência. O trabalho duro é a melhor receita para quem quiser a vitória. A menos que tenha nascido em berço de ouro ou privilegiado por qualidades excepcionais, o sucesso só virá como efeito de uma vida dedicada e de grandes lutas. Já a felicidade está no caminho de uma vida mais lúdica, sensual, instintiva. Atendendo a ordens do coração poderemos ter grandes paixões, amores inesquecíveis. Fugindo a responsabilidades teremos a liberdade de rejeitar famílias, amigos e companheiros para seguir caminhos de muitos prazeres. O risco será chegar a um momento de frustração. A felicidade assim conquistada consome-se rapidamente. A alegria de viver é como ver a diferença das cores fortes e a harmonia das imagens suaves. A harmonia gera prazeres sutis, menos cansativos e mais duradouros.

Viver pouco tempo no máximo do prazer ou em um ritmo frenético de trabalho é possível, o preço é o resto da existência comprometida com seqüelas nem sempre suportáveis.

Se existe algo difícil a um jovem é estabelecer limites a si próprio. Aprender a fazê-lo é amadurecer. Saber aceitar desafios inteligentes é privilégio dos melhores. Lutar pela vida produtiva é obrigação de todo aquele consciente de sua cidadania e missão. O Grande Arquiteto do Universo colocou em cada um a missão de aprimorar a vida e mantê-la com dignidade. A inconsciência deste propósito leva inexoravelmente ao esvaziamento de propósitos, à ausência de objetivos decentes. Viver para o prazer é perder a capacidade de tê-lo nos momentos oportunos.

Na vida política e social é fundamental não se deixar dominar pelas banalidades do processo. A coerência ideológica e filosófica é importante para os ajustes de trajeto quando necessários. Quem não têm rumo não terá correções pois estará perdido por princípio.

Em tudo é fundamental não ignorar a natureza humana, sedenta de direitos e omissa em seus deveres. Em especial nós brasileiros vivemos uma cultura em que se tornou hábito jogar no governo a culpa de todos os males que vivemos. É confortável fugir à responsabilidade. Coitadinho do miserável, do bandido, do desempregado. Poucos têm coragem de falar nas causas reais de tanta pobreza. Talvez por efeito de séculos de escravatura e de elites selvagens, temos hoje a visão negativa dos mais ricos e empreendedores, olhando com misericórdia os menos favorecidos. Está na hora de falarmos em maior responsabilidade familiar, planejamento, educação em casa, iniciativa, voluntariedade, disciplina e seriedade acima de tudo. Precisamos mudar a visão que fazemos de todos nós. Cobrando-nos resultados veremos um Brasil melhor.

Sem piedade precisamos ser duros em nossa própria visão. Estabelecendo-nos desafios e trabalhando com firmeza só ganharemos. Na juventude, os primeiros anos de vida adulta são plenos de saúde, de vitalidade que precisa ser bem usada. O desperdício pesará duramente no futuro. É fantástico chegar à meia idade com a sensação do dever cumprido, sabendo que se fez o possível.

Na vida religiosa e política ter cuidado com o fanatismo, as convicções, as certezas odiosas. Qualquer idéia que leve à violência deve ser tratada com muito cuidado. Devemos pensar dez vezes mais antes de qualquer agressão. Cuidado com o pensamento rápido, a expressão fácil. Ficar calado é uma virtude se o silêncio for gasto para pensar, ponderar e, adiante, agir com firmeza, objetividade e justiça.

A família, os filhos são nossa principal responsabilidade. Quem não souber educar e sustentar seus dependentes pouco direito terá a qualquer manifestação. A grande demonstração da felicidade e do sucesso inteligente está em casa. Deve-se duvidar dos projetos daqueles que não criam uma família feliz e harmônica. No mínimo poderão ter falhas muito graves de estruturação filosófica. É sintomático que muitas religiões têm sido causa de enormes sofrimentos. Conduzidas por pessoas que se impediram a ter famílias, têm em seus líderes indivíduos distantes da realidade.

O amor é a principal base da felicidade. O sentimento egoísta, obsessivo e alienante não é amor. Precisamos aprender a amar em todas as suas formas. A vida sexual, a caridade, a responsabilidade social e política geram formas de amor importantes. Tê-los é enriquecer a vida em todos os seus aspectos.

A liberdade com responsabilidade é essencial a uma vida digna. Saber respeitar o direito do próximo é imperativo em uma sociedade civilizada. O Brasil, infelizmente, está longe desse ideal. Em qualquer lugar podemos notar selvagens exibindo sua ignorância. Mudar esses padrões é um compromisso de cidadania que devemos ter em nossas mentes e atitudes.

Preservar a liberdade é um compromisso do ser humano racional. Só quem viveu sob censura, patrulhamentos ideológicos e morais sabe como é odioso suportá-los. A arrogância e estupidez dos censores não têm limites. O poder na mão de pessoas medíocres é estúpido, inaceitável. Preservar o direito de falar, pensar e de decidir sobre sua própria vida é um direito sagrado. Respeitar esse direito em todos que nos cercam é sinal de senso de justiça.

Viver produtivamente é um compromisso com a vida. A ociosidade é criminosa em um Mundo que precisa de tanto para oferecer a todos um padrão minimamente suportável, digno. A cultura, a formação profissional e a saúde só têm sentido se forem base para a ação positiva, produtiva.





Honra, dignidade


Em nome da honra a humanidade viu cenas de violência absurdas, guerras, cenas dramáticas, teatrais etc. A Guerra de Tróia, nos versos de Homero, aconteceu a mais de mil anos antes de Cristo para vingar uma ofensa sexual, o “rapto” de Helena, rainha de Esparta, pelo príncipe Páris, da cidade de Tróia. Matar em nome da honra era rotina. Em paixão pelo egoísta muita infelicidade ainda acontece, principalmente na intolerância entre pessoas casadas, namorados e relacionamentos afetivos outros.

Precisamos de tolerância, de amor recíproco, capacidade de perdoar, mas, até onde? Como devemos agir diante de qualquer situação amorosa, profissional, social, política? Querer fazer afirmações nessa área é muita audácia, pretensão. Tentar colocar essa questão, contudo, é mais do que necessário.

Precisamos de padrões, etiquetas, regras e crenças que nos levem a um modo de agir que nos gratifique e nos dê uma relativa certeza de orgulho e satisfação com o que podemos ser. Obviamente isso significa criar uma coleção de concessões ao ambiente, às pessoas que nos cercam.

Queremos ser dignos, merecer respeito pelo nosso comportamento mais nobre. É fácil ser respeitado pelos mais fracos quando se ocupa altos cargos. Grandes chefes sabem como os áulicos, a corte e todos os que se curvam a seus poderes prestam mesuras e honrarias. Com ou sem poder gostamos de ser vistos como pessoas dignas, tendo aquilo que denominamos dignidade, respeito.

Falamos muito em dignidade.

De acordo com (13) temos, muito objetivamente, que o verbete “dignidade” pode significar (no que nos interessa neste capítulo): (1)qualidade moral que infunde respeito; consciência do próprio valor; honra, autoridade, nobreza; (2) qualidade do que é grande, nobre, elevado, (3) modo de alguém proceder ou de se apresentar que inspira respeito; solenidade, gravidade, brio, distinção, (4) respeito aos próprios sentimentos, valores; amor-próprio ...

Quanto à honra temos: (1) princípio ético que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade; (2) sentimento da própria dignidade; (3) consideração devida a uma pessoa que se distingue por seus dotes intelectuais, artísticos, morais; privilégio; (4) dignidade conferida pela observância de certos princípios socialmente estipulados...

Tudo isso pode ser bom ou ruim. Numa sociedade racista, xenófoba, atrasada ou com qualquer outro vício, e não existem sociedades perfeitas, a sintonia com os padrões da comunidade poderá ser algo extremamente doentio, perverso. Se algum exemplo tivemos, talvez nada supere o nazifacismo que dominou nações consideradas cultas, inteligentes. Com certeza nesses países, durante o império dessa ideologia, ser honrado e digno não daria ao indivíduo qualidades aceitas atualmente, ao contrário, seria motivo de repulsa.

Dignidade e honradez, portanto, são características com muitas hipóteses de interpretação e dimensão.

Devemos, por cautela, sempre lembrar que a imagem de “honra e dignidade” está implicitamente vinculada à disciplina, à submissão de preceitos éticos. Conhecer as fronteiras entre a disciplina inútil e até reprovável é algo que depende muito da inteligência e da personalidade de qualquer pessoa, pois a rebeldia inerente e possível, dependendo de fatores genéticos e educacionais, é extremamente útil à contestação de padrões que qualquer sociedade queira impor ao indivíduo.

A honra sadia e a dignidade em torno de bons princípios (quais seriam?) é necessária. Aqui vale lembrar uma citação de Platão que encontrei em (35) que diz de Platão, o referindo-se a Sócrates que teria como preceito central de sua vida: “Como sou um, para mim é melhor discordar de todos que estar em discórdia comigo mesmo”. Realmente, podemos fazer de conta, mentir, enganar, não poderemos, contudo, fugir de nossa própria consciência. Devemos, contudo, ter a humildade de imaginar que podemos estar errados, existindo aí a quilo que possamos entender por inteligência maior se reunida e expressa como sendo de senso comum. O século 20, entretanto, mostrou, em inúmeras situações, tragédias colossais como consequência da submissão a propostas aceitas por multidões.

Brasil século 21. O que poderia ser dito das pessoas que nos cercam, dos políticos, religiosos, professores, dos colegas em todos os lugares? A opinião deles merece respeito? A que preço?

Um fenômeno do mundo moderno foi a entrada em nossos lares dos sistemas de telecomunicações. Os pais perderam completamente a capacidade de conduzir as informações a seus filhos e, graças à televisão e internet agora competem com janelas sem censura para um mundo dirigido para nossos piores instintos. Com certeza as telecomunicações também trouxeram recursos sensacionais de apoio ao estudo, à sociabilização de todos. O lado ruim disso tudo é a submissão das emissoras a interesses comerciais, de onde tiram programas raramente sadios. O desafio do século 21 será transformar as telinhas em instrumentos positivos de educação, o que não será fácil.

Nesse contexto século 21 devemos e podemos perguntar, que tipo de honra estria sendo construída na mente das crianças?

Felizmente a Natureza é sábia e mais competente que os responsáveis pela edição de programas de massa. O ser humano contém em si elementos de afetividade e inteligência que podem compensar as piores lições. Nunca foi tão importante, talvez, quanto agora é amar e ser amado familiarmente. Um relacionamento sadio em casa pode neutralizar muita coisa. O desafio é construir esse consórcio afetivo sem que se sufoque as crianças, sem inibir a evolução de padrões de liberdade. Acima de tudo os pais precisam preparar seus filhos para a vida real, para a selva de pedra, para a arena profissional.

Existem os caminhos fáceis. A submissão da família a alguma religião é uma forma de se transferir responsabilidades. Temos bíblias e pregadores que assumem os papéis dos pais. Nesse caminho, contudo, nossos filhos podem cair nas mãos de fanáticos e outros tipos de sacerdotes do mal. Nada mais triste para os pais do que perceber que algum filho se aliena, afasta-se da realidade.

Honra e dignidade, sonhamos ver nossos familiares respeitados, queridos. Para isso deverão entender a importância da sociedade, da negociação de padrões éticos, esperando-se que escolham os melhores.







Conclusões


O que reafirmar? O que dizer? Basicamente que a vida exige responsabilidade, seriedade e amor.

Em tudo que realizarmos deveremos fazê-lo com estas preocupações.

O desafio de existir, produzir e ser feliz exige uma avaliação objetiva de riscos e benefícios, da qualidade de vida necessária e suficiente. Sonhamos com o sucesso e testamos idéias. O perfeccionismo não é prático, inibe a ação. Lutamos contra o medo e a insegurança. Assumimos riscos. Administramos paixões.

A mediocridade e o medo são os grandes inimigos do ser humano. Aliás, se dois livros dizem de maneira primorosa a essência do que desejo sugerir, eles são “O homem Medíocre” (12) e “As Forças Morais” (79) de José Ingenieros. O primeiro foi publicado em 1913, logo fará o primeiro centenário de existência, e o segundo em 1917. Esses dois livros podem, devem e merecem ser lidos e relidos por jovens, adultos, idosos, por qualquer pessoa medianamente inteligente e madura para refletir sobre a própria existência.

Devemos ter consciência das sutilezas da sociedade em que vivemos, sonhamos e trabalhamos. Saber respeitá-la sem submissão é uma arte que precisamos desenvolver. Não esquecendo a força dos mitos, a inteligência exige uma disciplina crítica e consciente.

As imperfeições são grandes em nossas estruturas de poder, religião e família. É natural que assim seja, pois nossa Civilização é recente, trazemos ainda muito forte os instintos das selvas de que nossos ancestrais saíram. Sendo pessoas imperfeitas naturalmente agiremos de maneira a contrariar os grandes paradigmas, apresentados de forma a não mostrarem suas falhas. Conscientes de nossas limitações teremos nos modelos perfeitos horizontes talvez distantes, mas, onde nasce o Sol, o caminho a seguir. Procurando a luz teremos a oportunidade de conhecer a verdade, a lógica da vida. Lembrando sempre que a felicidade e a saúde contribuem para as melhores decisões, não deveremos desperdiçá-las gratuitamente.

A profissão, o lazer e nossas crenças formam um conjunto que será decisivo em nossa capacidade de sermos felizes. Montar esta base é o desafio dos jovens. Decisões erradas pesarão sobre toda a expectativa de uma vida decente, produtiva e feliz.

Liberdade sempre com responsabilidade é a principal condição para uma cidadania saudável e essencial ao processo democrático. A educação é responsabilidade sagrada que adquirimos sobre nossos dependentes. Administrá-la de forma consciente e com propósitos de preparação para uma vida séria e produtiva é a principal obrigação de um pai de família, além, é claro, de sustentá-la e protegê-la. Educar para a liberdade, para o exercício da criatividade e independência é algo de grande valor em uma sociedade tão cheia de dogmas. O ensaio de ideologias sem fanatismos é obrigação de indivíduo que deseja participar do processo político. Não podemos esquecer que ninguém é dono da verdade. Por mais evidentes que sejam as imagens, poderão estar iludindo, criando falsos paradigmas, modelos errados. Precisamos de religiões sem inquisições. O patrulhamento ideológico e filosófico de modo geral é intolerável. A liberdade é um direito sagrado só limitado pelo mesmo direito dos outros seres humanos. A consciência e o exercício sadio de nossos deveres e direitos, este é o desafio do jovem, dos pais, da sociedade e humanidade.

A família é nossa base. Constituí-la de forma sadia e mantê-la com dignidade e amor é o compromisso sagrado de todo ser humano.

O planejamento familiar, o controle da natalidade, o dimensionamento do time de acordo com suas possibilidades financeiras é um compromisso que se deve cobrar dos jovens. O futuro deles dependerá muito de como administrarem seus hormônios. Se os pais erraram, os filhos não precisarão repeti-los.

A felicidade conquista-se e mantém-se à medida que se é coerente com a Natureza e suas leis. Grande parte delas ligadas ao espírito e ao comportamento que só os seres inteligentes e sensíveis percebem. A vida nesse universo de tantas maravilhas é um privilégio que recebemos por decisão do Grande Arquiteto do Universo. O pouco de matéria que nos constitui fisicamente tem a capacidade de ver, ouvir, sentir a imensidão de estrelas e areias, do verde das florestas ao azul do céu, de partilhar espaços com animais, plantas e imagens divinas. Somos parte de um todo maior. Nesse conjunto deveremos acrescentar valores, enriquecer essa obra gigantesca e fantástica que é a vida.



Somos racionais? Responsáveis? Corajosos?

Sonhando com um Mundo melhor, mais justo, feliz e amoroso enfrentemos a vida com determinação e disciplina. Assim venceremos, nós, nossos filhos e netos, nosso povo e a Humanidade.



Novas tecnologias e a liberdade












Esse livro tem uma virtude que faltou ao primeiro, mais por ignorância pessoal do que por impossibilidade de fazê-lo. Está sendo apresentado como um livro eletrônico, digital ou algo parecido a isso. O que isso significa?

A tecnologia digital agora permite divulgar um livro, que não pode assim se qualificado graças à moderna Lei do Livro brasileira122. De acordo com essa estranha lei temos, estabelecido no seu segundo artigo:

Art. 2° Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado, encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato e acabamento.

Parágrafo único. São equiparados a livro:

I - fascículos, publicações de qualquer natureza que representem parte de livro;
II - materiais avulsos relacionados com livro, impressos em papel ou em material similar;
III - roteiros de leitura para controle e estudo de literatura ou de obras didáticas;
IV - álbuns para colorir, pintar, recortar ou armar;
V - Atlas geográficos, históricos, anatômicos, mapas e cartogramas;
VI - textos derivados de livro ou originais, produzidos por editores, mediante contrato de edição celebrado com o autor, com a utilização de qualquer suporte;
VII - livros em meio digital, magnético e ótico, para uso exclusivo de pessoas com deficiência visual;
VIII - livros impressos no Sistema Braille.

As bibliotecas de Éfeso123 e de Alexandria124 não existiram, pois seus “livros” eram rolos de pele de animais ou papiros... Independentemente de qualquer ironia minha preocupação é também divulgar a tecnologia digital, levando-me, assim, a procurar viabilizar essa obra em outros padrões de comunicação, na certeza de que assim o fazendo estarei contribuindo para o estímulo a novas formas de divulgação cultural com maior potencial de acessibilidade e interatividade.

Estamos no mundo dos blogs, “youtube”, álbuns eletrônicos de fotografias, slideshows via internet, tudo isso dispondo de pendrives, DVDs, computadores portáteis extremamente poderosos etc. A pretensão desta obra foi divulgar a visão que adquiri da vida, que não foi simples, na esperança de ajudar alguém, acima de todos, obviamente, os meus descendentes.

O que posso dizer mais?

Vejo, fascinado, os programas culturais via canais culturais de TV. Isso era inimaginável há meio século. Nossa juventude e os adultos atuais já não podem alegar não poder saber. Até mesmo em bairros muito pobres descobrimos aparelhos de televisão cujos donos podem optar entre usar para o lazer ou para aprender algo.

Temos a necessidade do lazer, do ócio. Domenico De Masi (O Ócio Criativo (80)) é genial quando relata histórias e as analisa para demonstrar suas teses. O que imaginamos é transformar o lazer em algo produtivo, pois todos nós dependemos demais de quem é capaz de realizar algo.







Epílogo


Meus filhos e netos, a minha grande esperança é ter-lhes dado uma imagem do que julguei melhor dizer-lhes. Este livro não é um espelho de minha personalidade ou de minhas atitudes passadas, até porque ninguém é bom juiz em causa própria. É, entretanto, o que considerei mais honesto, justo e humano aconselhar-lhes. Não quero que repitam os meus erros. É difícil aceitar orientações, todos querem fazer suas próprias experiências. O ideal, contudo, seria que os filhos e netos ouvissem com atenção seus pais e avós para terem a partir deles uma base melhor, amadurecida, sem reincidências negativas...

Minha geração vivenciou muitas experiências, muitas questões que a confundiram. Assim também errei muito. Aprendi muito e as lições, que tão duramente assimilei, eu quis transmitir-lhes.

Vejo nas netas Isabela e Juliana, no João Pedro e na Luiza a vida recomeçando.

Os filhos, que eu e minha esposa tivemos, terão o desafio de transmitir-lhes o que aprenderam, eu lhes coloco nas mãos o que pude saber.

O importante é tentar desenvolver suas vidas de forma consciente, honesta, inteligente, produtiva e com muito amor. Não apenas o amor sexual, mas principalmente aquele mais amplo, decorrente da admiração pela obra do Criador.

Para todos aqueles amigos, alunos e outros que durante minha vida profissional acreditaram em minhas palavras, que trabalharam, estudaram e lutaram a meu lado espero estar contribuindo com mais alguns conselhos, sugestões de quem já viveu um bocado. Quando me lembro que batalhei na política estudantil na década de sessenta e nessa época tive minhas primeiras salas de aula, vivi os anos setenta com todas as suas pressões políticas, na década de oitenta como professor universitário, militante político e profissional de engenharia levando-me finalmente, nesses últimos anos aos maiores cargos da empresa que me acolheu no Paraná, sinto que tive a oportunidade de ter experiências valiosas. Essa vivência gerou mais este livro como contribuição, espero, para uma vida melhor.

Concluindo, a meus filhos, netos, amigos, ex-alunos, companheiros de lutas e trabalhos, o meu pedido para que tenham garra, disciplina, lutem por seus ideais e que procurem conciliar tudo com muito amor. Assim com certeza terão sucesso e serão felizes.

Introdução ao futuro com palavras de velho


Tudo o que foi escrito nesse “livro” que aos poucos se transforma em diário, graças às maravilhas da edição eletrônica, de alguma forma foi no espírito de registrar pausadamente, com muito cuidado o que penso.

Graças à Google tenho blogs e endereço Youtube onde poderão ver melhor quem sou.

Por enquanto meus endereços mais genéricos são

http://www.jocaocarloscascaes.com e

http://www.youtube.com/JCCascaes


Ou seja, até morrer, sempre que puder estarei colocando material nesses endereços e em blogs linkados.

Opiniões Pertinentes
Disciplina e sucesso


Quem não deseja ter sucesso na vida? Essa é uma questão que sentimos colocada de diversas maneiras e com muitos efeitos sobre as pessoas. Principalmente entre invejosos percebemos as “ondas negativas” quando algum feito nosso, maior, aparece com honras em qualquer ambiente.

Felizmente a maioria pretende aprender, saber de que forma se conquista sucesso. Talvez entre muitos exemplos possíveis o melhor seja o do alpinista, daquele indivíduo que conquista montanhas consideradas inacessíveis. Vamos ponderar que no Brasil carecemos de montanhas, temos, contudo, muitas praias e rios, clima tropical, não faltam piscinas. Assim os nadadores aparecem, alguns já se destacando em campeonatos internacionais. Fazemos campeões, e eles? Vencem por quê?

Vale a pena observar o comportamento dos campeões. Há alguns anos pudemos ver, por exemplo, um hexacampeão à época, Michael Schumacher, milionário, famoso, treinando sem parar entradas e saídas do “pit stop”. Enquanto outros talvez aproveitassem as delícias da fama, ele treinava sem parar.

No Brasil, talvez radicalizando a lógica dos donos de fazendas e escravos, criamos uma cultura de facilidades que tem deixado nosso país comendo poeira desde que se entendeu como nação de origem européia. Por sorte temos lugares que destoam dessa maneira de ser, constituindo-se assim em locomotivas desse trem que não para de crescer.

Muitos têm facilidades, outros nascem com dificuldades. A ninguém, contudo, é impossível fazer algo de valor. A história está cheia de exemplos incríveis. Deveríamos, entretanto, conhecer melhor a vida desses vencedores. Descobriremos neles determinação, disciplina, coragem, vontade firme, perseverança. Nada é mais típico do fracassado do que a preguiça, a indolência, a falta de disposição para enfrentar as dificuldades que aparecem no caminho que escolheram.

As paraolimpíadas de Pequim deram ao Brasil 4 ou 5 vezes mais medalhas do que conquistamos na Olimpíada regular, com certeza gastando muito menos... Com certeza descobrimos aí o resultado de pessoas que aprenderam a não desistir, a enfrentar toda espécie de dificuldade, principalmente num país tão mal estruturado quanto é o “nosso”. Vale a pena ver e ouvir o que diz Moisés Batista no endereço eletrônico http://www.youtube.com/view_play_list?p=D7D37F96E865D8B8 , um dos nossos atletas e medalhista em Pequim Paraolímpica. É uma tremenda lição de vida que precisamos assimilar.

A ênfase é importante. Em todos os casos de sucesso sentimos que a vontade férrea e o senso de disciplina foram decisivos. Fisicamente, mentalmente, as diferenças não são muito grandes entre os vencedores e os derrotados. Educação sim. Aí entramos num universo que muda rapidamente e que merece reflexões.

Como estão as famílias? Existem? São preparadas para educar?

Nada é mais complexo e desafiador do que transmitir aos filhos uma boa educação. Para isso, contudo, é preciso coerência, união, organização dentro de casa. Infelizmente as diferenças entre os pais frequentemente excedem a compreensão dos filhos, criando neles inconsistências que irão se refletir na juventude, na idade adulta. Complicando tudo vem a exposição a lideranças externas, eventualmente cativantes e pessimamente intencionadas. Não é sem razão que temos tantos jovens delinqüentes, drogados, perdidos na vida...

Precisamos sempre estar atentos, “ligados” nos filhos. Afinal optamos por famílias pequenas, poucos que ganham muito valor para nós, pais e avós. Se queremos o sucesso deles, devemos, desde que nascem, pensar em como educar, como criar dentro de casa um ambiente de respeito, disciplina e amor, formando espaços que certamente produzirão pessoas saudáveis e bem sucedidas.



Cascaes

Curitiba, 25 de março de 2009


A cultura do surdo


Alguém já tentou passar um dia com os ouvidos totalmente fechados? Qual terá sido a sensação daqueles que viveram essa sensação? Gostaríamos de saber.

Com certeza a perda da visão, audição, agilidade mental ou da mobilidade física não é nada agradável, comparar situações, contudo, é difícil, possível desde que se adote algum critério.

Quem teve filhos deficientes auditivos, sem aqui pretender qualquer privilégio emocional, conhece o drama de ensinar, educar, construir um adulto a partir de uma criança que é segregada, desprezada, agredida por efeito de sua incapacidade de se comunicar. Vemos com desespero, freqüentemente, que somos mal entendidos, que não atingimos nossas metas. Aliás, as crianças mostram bem a nossa base, pois são extremamente darwinistas, competitivas, basicamente egoístas. Educar consiste, entre outras diretrizes importantes, ensinar o infante, o jovem e mais ainda o adulto a ser altruísta.

Os deficientes criam seus planetas.

Se por nascimento ou problema adquirido, nem que seja na velhice (se viverem tanto) todos perdem capacidades que a maioria considera atributos naturais. Tão logo sinta alguma restrição perceberá a violência social, inacreditavelmente, até entre aqueles que teoricamente lhe amam, demonstram-lhe tradicionalmente afeto.

A história da Humanidade é o relato do desenvolvimento de uma espécie animal que partiu de comportamentos extremamente violentos; sem grandes garras, músculos ou dimensões, o ser humano compensou tudo isso na lógica da maldade que se embutiu em seu cérebro. É interessante notar que, graças à inteligência, as pessoas também construíram raciocínios para se defenderem de qualquer acusação. Quando nada é suficiente, os rituais, mantras, jejuns, penitências, rezas e conversas com o Divino são a solução para descarga dos dejetos mentais...

O desafio do século 21 é enorme. Temos as diretrizes dos assustados: meio ambiente, poluição e fim do mundo. Antes isso era ocupado pelo medo das bombas atômicas e de hidrogênio, agora a moda é falar em Mata Atlântica, Amazônica, CO2, ozônio e coisas de outras zonas.

Infelizmente temos problemas gravíssimos, agora, sem a necessidade de se esperar qualquer fenômeno ou nuvem preta.

A miséria existe, ainda que nossos economistas e políticos só vejam marolas e ondas para surfarem com suas pranchas monetaristas, extremamente convenientes a todos que se beneficiam das injustiças milenares, mais ainda, da natureza das culturas ancestrais que nossos antropólogos e saudosistas tanto admiram.

Nisso tudo existe o mundo do surdo. Temos os surdos sociais, econômicos, políticos, urbanísticos, engenheirais etc., existem também aqueles que simplesmente não ouvem. Será que nossas escolas, professores, companheiros e amigos entendem o que é ouvir mal ou não ouvir?

Compreendemos as dificuldades dos mestres, elas acontecem entre nós todos enquanto não passamos por algo semelhante.

Felizmente a idade ensina. Envelhecendo vamos aprendendo o que significa perder agilidade, atributos sexuais, beleza, dentes, visão, cabelos, elegância, raciocínio e, entre mais, a audição. Aí começamos a perceber quanto é doloroso não escutar direito. Nada disso deveria ser novidade, afinal vivemos em sociedades que valorizam a estética, o tradicionalismo, a preservação de tempos fascistas, escravocratas, tempo dos penicos e das bacias... acontece que uma série de processos históricos deram à sociedade humana um crescimento moral saudável, promissor. Assim ganhamos estatutos, leis, decretos e agora começamos a ver no Brasil normas técnicas e ordens operacionais a favor das pessoas deficientes.

Como seria de esperar a colocação na prática de leis bem intencionadas nem sempre é eficaz. No caso do estudante deficiente auditivo o MEC partiu para uma estratégia de longo prazo, como é de seu feitio. Duvidamos solenemente da praticidade de se colocar mestres e PHDs como tradutores LIBRAS. Paralelamente estão desprezando o potencial da tecnologia, onde, por exemplo, poderíamos aproveitar melhor as facilidades da literatura digital, do EAD, da internet, enfim, uma coleção de recursos, agora, por exemplo, com a possibilidade de se criar até centrais de distribuição de programas de TV pré-catalogados (WEBTV). Nessas condições qualquer pessoa deficiente poderá ser beneficiada pelo ensino a distância e a poluição ser reduzida drasticamente à medida que diminuirmos a necessidade de deslocamentos por cidades mais e mais congestionadas. Já viram a frota de automóveis e camionetes dos alunos das universidades mais abonadas?

Os deficientes auditivos poderão ser, talvez, os maiores beneficiados pelo EAD. Note-se que com a internet e PCs mais e mais potentes é possível até a oferta de laboratórios virtuais, exercícios dinâmicos e com grau de dificuldade crescente, links com outros centros educativos e, finalmente, graças ao “closed caption”, um sistema de comunicação audiovisual online. O tradutor LIBRAS continua sendo importantíssimo em aulas presenciais para compensar as falhas normais em sistemas em desenvolvimento, não precisa ser, contudo, mestre ou PHD em coisa alguma, basta ter conhecimentos da Linguagem Brasileira de Sinais e ser habilidoso, paciente e disciplinado.

Devemos, entretanto, lembrar sempre que os deficientes criam seus espaços sociais, intelectuais, códigos comportamentais próprios etc.; assim uma boa escola não pode prescindir de assessoria profissional em Psicologia específica, sempre pronta a fazer a ponte emocional e técnica entre o aluno e a escola.

Se é difícil educar alguém com todas as suas potencialidades naturais, mais complicado é ensinar boas maneiras a quem não nos consegue ouvir, ver, entender. Maravilhosamente em muitas escolas descobrimos professores dedicados aos deficientes, determinações de integração real, de mútuo respeito e solidariedade.

A abertura das escolas e dos espaços públicos ao deficiente agora é lei. A realidade, contudo, é mais desagradável do que o estabelecido pelos legisladores. Felizmente temos leis, aos poucos nossa sociedade vai aprendendo a importância do respeito ao deficiente. Já agora, ano de 2009, cumprem as leis? Não, basta uma simples caminhada, se conseguirmos andar em passeios tão ruins, para sentirmos a violência do trânsito, dos transeuntes e dos proprietários de imóveis, lamentavelmente colocados como responsáveis pelas calçadas. Compreendemos que tudo demanda tempo, principalmente quando é necessário mudar comportamentos arraigados.

Não podemos desistir, contudo, e sentimos mudanças positivas espetaculares.

É bom lembrar sempre: se Deus existe, se temos alguma função teleológica de boa qualidade, essa será, com certeza, respeitar os mais frágeis, principalmente os deficientes, talvez colocados entre nós para que aprendamos as artes da boa cidadania, da moral que se diz cristã, da esperança de se construir um mundo melhor.


Cascaes

25.3.2009


Ócio remunerado


Domenico de Masi, professor de Sociologia do Trabalho na Itália, escreveu muito sobre a importância do ócio, da possibilidade de se viver trabalhando menos. Ele e outros devem ter feito doutorado no Brasil, talvez entendendo mal o que existe em nossa terra. Nação que manteve a escravidão formal tanto quanto foi capaz de resistir à pressão internacional, criou uma lógica de existência estranha.

Somando-se à disposição para gastar tempos infinitos em carnavais e férias sobre férias, sofremos a influência da cultura do carimbo, dos sindicatos profissionais, conselhos profissionais, cartórios, carimbos, taxas, impostos e, para coroar tudo, uma lógica de administração financeira do Brasil simplesmente hedionda. Graças a isso somos campeões mundiais em juros e devemos disputar acirradamente a taça dos impostos diretos e indiretos.

Felizmente o Brasil é um país fantástico, capaz de produzir muito onde os índios, antropólogos, ONGs estrangeiras e nacionais de defensores de nossas florestas (não vale para aquelas que rodeiam nossas grandes cidades, como, por exemplo, a Floresta da Tijuca), IBAMA, FUNAI, movimentos de toda espécie, onde, enfim, não existem fiscais de plantão defendendo leis, decretos, normas, portarias e caprichos dos nossos legisladores e chefes de plantão.

Querem e parece que um dia viabilização o desmembramento do Brasil em uma miríade de nações. Temos regiões que gostam de trabalhar, amam a Justiça, desejam paz e segurança para trabalhar, viver, um dia deixarão de aceitar o império de gente que entende ser natural sobreviver sem fazer nada além de filhos, rezas e festas.

Estamos em tempo de Imposto de Renda. As feras da Receita aprimoram sistemas de vigilância e cobrança. O Governo quer mais dinheiro, precisa, por exemplo, pagar suas viagens ao exterior onde não se cansa de dizer bobagens, que protocolarmente são aplaudidas. As despesas da cozinha e bares do Palácio da Alvorada mostram a seriedade administrativa. Acima de tudo, os juros exorbitantes que impõe sob desculpa de conter uma inflação importada demandam muito dinheiro, especialmente essa que esse tal de COPOM dá um jeito de explicar, mal e porcamente. Afinal, sinceramente, como e por quê não baixam? Podemos dizer?

O macete é conquistar um lugar nos serviços públicos. Bons salários, garantias e até lei impedindo-nos de dizer “olho no olho” o que pensamos quando visitamos uma repartição pública. Não deveria existir mais uma lei defendendo o povo para equilibrar o império dos burocratas nesses balcões da vergonha?

Infelizmente o governo anunciou que protelará os concursos, precisa de dinheiro para os agiotas.

Temos greve de petroleiros, ganham pouco, índio chantageando empresa de energia, expulsão de arrozeiros (com certeza existe sobra de alimentos no mundo), quadrilhas festejando as facilidades de acesso aos hermanos cocaleiros e demagogos do norte e noroeste da América do Sul, um Congresso preparando mais leis (seria infinitamente melhor que as simplificassem, que as tornassem mais objetivas, que reduzissem impostos, que estabelecessem maior vigilância sobre o que fazem etc.).

Santa Catarina explodiu com as chuvas de novembro. Ganhamos explosões de gasoduto (feitos de que maneira?), desmanche de porto que não resistiu as águas que deveria dar passagem, fechamento de estradas mal feitas etc.. Em debate em Blumenau, imaginando que talvez tudo se deva à Lei 8666 que impõe editais e contratações e compras pelo menor preço, fomos ridicularizados por pessoas que conhecem os políticos locais. Assim, a exemplo de SC, sabendo-se protegidos, aqueles que decidem, acintosamente, fazem o que bem entendem, ainda que tudo signifique a morte de centenas de pessoas e a perda de bilhões de reais à primeira tormenta.

A incoerência do mundo não é apenas brasileira. A atual crise, que agora enfrentamos, começou pela desonestidade de banqueiros e bancários (afinal são eles que operacionalizam as contas), operadores de Bolsa de Valores, funcionários venais de organizações de vigilância etc. Estávamos, Brasil, saindo de duas décadas perdidas por efeito de tempos anteriores de desgoverno, saindo com soluções mirabolantes tais como a correção monetária, proteção sem limites para “empresas brasileiras” (vide montadoras que nos impunham carros anacrônicos), congelamento de preços, privatizações mal cheirosas, moeda supervalorizada, racionamento de energia porque o Presidente não sabia que iria faltar energia elétrica etc..

Congelamos, paramos o Brasil diversas vezes.

Isso é Brasil onde devemos viver e trabalhar, “ops”, trabalhar? Aqui ser empreendedor é crime e trabalhar é sinônimo de burrice. Aqueles que fazem algo são necessários, contudo, alguém precisa sustentar a malandragem que nada tem de criativa, exceto para descobrir mais e mais formas de atrapalhar quem se preocupa realmente com esse país.


Cascaes

24.3.2009

Minha rua, minha cidade e as bicicletas


Nasci em Blumenau, 8 de outubro de 1944. Ano de guerra, cresci lutando.

Blumenau era uma pequena cidade, daquelas eras em que algum carro motorizado de tempos em tempos passava em frente de nossa casa, bem no centro, ao lado do Hotel Durma Bem, perto do Colégio da Sagrada Família.

Dos carros tínhamos o cheiro de óleo queimado de uma grande oficina, da qual víamos uma parede imensa e um muro mais adiante, que minha mãe compensava com um belo canteiro, quase sem flores, pois não pegava Sol.

A rua em frente à nossa casa (na época Rua 4 de Fevereiro) só ganhou asfalto em 1950; afinal o prefeito queria festejar o centenário da cidade mostrando-a moderna.

Minha primeira bicicleta, um triciclo, ganhei muito antes. Pernas tortas, algum médico, o Dr. Câmara, talvez, disse para meus pais que a bicicleta ajudaria a corrigir o arco que levava entre os pés e a barriga. E as bicicletas vieram, inclusive um carrinho de lata, a pedais, que eu usava orgulhoso enquanto emprestava meu primeiro triciclo para minha irmã, mais nova do que eu.

Bom mesmo era andar, sair de casa para fazer tobogã num barranco de cepilho de uma marcenaria perto de casa, ir pescar no ribeirão Garcia (piaba, cará, cascudo etc.), andar pelo mato nas épocas das amoras, carambolas e pitangas e explorar os muitos morros que cercam Blumenau. Terrenos baldios ou mal protegidos e quintais vizinhos garantiam as goiabas, as laranjas, os pêssegos e figos. Em tempo, o Ribeirão Garcia era a fonte dos meus peixinhos, que colocava em aquários improvisados... Em casa éramos visitados pelos sabiás, canários da terra, azulões, coleirinhas, tico ticos, saíras... e os pardais. O desafio de nós dois, eu e minha irmã Sônia Maria, era espantar os caçadores.

A cidade quase não tinha carros, era movida a bicicletas, que maravilha para as crianças!

Assim ia e vinha da escola (às vezes batendo queixo, outras vezes chegando molhado pelas chuvas) com a minha Erlan, freio no pedal e pneus que raramente furavam. Tinha para lamas, farolete, sinetinha e bagageiro, realmente eficazes. Agüentava qualquer parada e assim pude exercitar desafios como subir e descer de bicicleta (sem marchas) o morro do Colégio D. Pedro II, o morro da Maternidade, todos os dois com excelentes pistas para descer com o máximo de velocidade, arriscando algumas proezas e sofrendo alguns tombos, dos quais, o pior, foi no tempo em que usava um triciclo reforçado. Não conseguindo fazer a curva ao final da descida, bati no meio fio dando uma pirueta antes de cair no chão. A bicicleta não entortou, maravilhas daquela época.

Chato eram as denúncias de amigas, que contavam para a mãe o que fazíamos.

E conhecer Blumenau era uma festa para a visão e todos os outros sentidos. Casas com jardins impecáveis, cheias de cortinas e cheiro de chucrute eram normais na Velha enquanto no Bom Retiro os castelos impressionavam, talvez tanto quanto a fábrica da Hering. E lá, no clube de tiro, íamos catar cartuchos sem saber exatamente para quê. Dois caminhos levavam ao Bom Retiro, um pelo Morro do Hospital Santa Isabel, o outro passando perto do Colégio D. Pedro II. O legal, ao caminhar pelo morro, era ver o Ribeirão e as flores silvestres. Perigo mesmo quando, e isso aconteceu dando um tremendo susto em nossa mãe Chiquinha, de noite ela pisou numa cobra. Iluminação pública era coisa das ruas melhores.

Andávamos muito, para qualquer visita a família inteira saía andando pela rua mesmo, quando faltava calçada, afinal medo do quê? Longas caminhadas para que meus pais travassem um papo amigo e nós, sob severo controle, não aprontássemos nada.

Meus pais não usavam bicicletas, o negócio do meu pai era andar mesmo. Para ele comprar um carro, um fusca lá pelos anos sessenta, foi preciso minha mãe colocá-lo contra a parede, negando-se a assinar um documento de compra e venda de um imóvel. Talvez a causa real tenha sido o roubo de um canário, que ele gostava demais, e não descansou enquanto não o descobriu num beco de algum bairro.

E minha bicicleta de duas rodas, quando a ganhei num Natal, a primeira, fiquei olhando para o céu esperando ver o Papai Noel...

Os tempos passaram. Agora as cidades estão asfaltadas e usar bicicletas é uma aventura. Caminhar é perigoso, pode-se ser assaltado, atropelado, escorregar em calçadas mal feitas ou até cair em buracos inesperados, apesar do “progresso”.

Morando em Curitiba depois de velho vejo as manchetes e deploro o desvirtuamento das cidades, que deixaram de ser lugares de crianças e homens para pertencerem a motoristas, nem sempre atentos àqueles que caminham ou usam bicicletas.

Os índices de acidentes, assaltos, assassinatos atropelamentos etc. mostram que o mundo mudou muito.

Não estamos em guerra declarada, mas numa luta fratricida, inconsciente e tremendamente perigosa, que se não mata aleija, educa mal, constrói cidadãos motorizados, egoístas, alheios à Natureza e a eles próprios.


Cascaes

12.4.2010


Bibliografia


Sim, vale a pena falar desta bibliografia que apresento a seguir. Mais do que todas as palavras deste livro procurei registrar obras que influenciaram minha existência, que me ajudaram a entender a vida. Com certeza os livros citados são apenas uma pequena parte de muitos que já li, gostei e perdi por diversas razões, inclusive pelo avanço da vida, quando ganhamos em cada etapa novas prioridades e desafios.

Minha esperança é que um dia nossos editores aproveitem o acervo conquistado durante dezenas de anos e reeditem eletronicamente suas coleções.

Nesse sentido os países mais desenvolvidos saem à frente. A Amazon, por exemplo, já disponibiliza centenas de milhares de títulos e o “e-book” torna-se funcional.

Precisamos, contudo, explorar melhor o potencial do texto digitalizado, acrescentando filmes, fotografias melhores, links e tudo o que vier a ser possível.

Por que mais o livro digital? A viabilização da republicação de muitas obras só se tornará possível se acontecer com custo muito baixo. À medida que novos livros aparecem, o leitor preferencialmente comprará a novidade, o texto novo. Os livros mais antigos, que não forem tão importantes a ponto de merecerem reedições caras, poderão ser parte de bibliotecas eletrônicas, talvez com merchandising, vendidas via internet, DVDs, pendrives etc.

Recursos computacionais facilitam pesquisa, reorganização de informações, o essencial, contudo, é a existência do material produzido e vendido desde os tempos de Gutenberg na forma de livros, revistas, fascículos etc.

Precisamos recuperar a base cultural da humanidade e não simplesmente encontrá-la em raras e caras bibliotecas.

Espero que meus amigos e todos aqueles que de alguma forma se interessam pelo que tenho feito saibam ver com atenção a relação de livros mostrada a seguir, espero ajudá-los sem negar a importância das bíblias, do catecismo que aprendi quando criança, sem deixar aqui e agora de lembrar as revistas e filmes que marcaram época. Somos o resultado de tudo o que nos cerca, assim estariam mentindo se não enfatizasse essa característica de nossa personalidade, da minha em especial, pois tive grandes e excelentes amigos e inimigos.



1. Arendt, Hannah. Origens do Totalitarismo. [trad.] Roberto Raposo. São Paulo : Editora Schwarcz Ltda., 2007.

2. Hobsbawm, Eric. Era dos Extremos, O breve século XX, 1914-1991. [trad.] Marcos Santarrita. Companhia das Letras. São Paulo : Editora Schwarcz Ltda., 1998.

3. Caldeira, Jorge. Mauá, Empresário do Império. São Paulo : Companhia das Letras, 1997.

4. Miller, René Fülöp -. Os Grandes Sonhos da Humanidade, condutores de povos, sonhadores e rebeldes. [trad.] René Ledoux e Mario Quintana. Porto Alegre : Livraria do Globo, 1937.

5. Golding, William. O Senhor das Moscas. [trad.] Geraldo Galvão Ferraz. Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira S.A.

6. Russell, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. s.l. : Ediouro, 2001.

7. Jung, Carl Gustav. Memórias, Sonhos, Reflexões. [ed.] Aniela Jaffé. [trad.] Dora Ferreira da Silva. Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira S.A., 1975 - tradução.

8. Hesse, Hermann. Demian. s.l. : Record.

9. Barbosa, Rui. Obras Completas. [ed.] Senado Federal. 1914. Vol. 41.

10. Harris, Thomas A. Eu Estou Ok, Você Está Ok. [trad.] Edith Arthens. s.l. : Artenova, 1977.

11. Russel, Bertrand. Princípios de Reconstrução Social. São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1958.

12. Jaime Pinsky, Carla Bassanezi Pinsky. História da Cidadania. São Paulo : Editora Contexto, 2008. ISBN 85-7244-217-0.

13. Ingenieros, José. O Homem Medíocre. [trad.] Terumi Bonet Villalba. Curitiba : Editora do Chain.

14. Houaiss, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. s.l. : Editora Objetiva Ltda.

15. Tofler, Alvin. A Terceira Onda. [trad.] João Távora. São Paulo : Record, 1995.

16. Masi, Domenico De. Criatividade e Grupos Criativos. [trad.] Yadyr Figueiredo Léa Manzi. Rio de Janeiro : Sextante, 2005.

17. Alighieri, Dante. O Inferno (A Divina Comédia). [trad.] João Pinto de Campos. Rio de Janeiro : João do Rio, 1930.

18. Michael Baigeni, Richard Leigh. A Inquisição. [trad.] Marcos Santarrita. Rio de Janeiro : Imago Editora, 2001.

19. Eco, Umberto. O Nome da Rosa. [trad.] Homero Freitas de Andrade Aurora Fornoni Bernardini. Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 1983.

20. Campbell, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo : Editora Palas Athena, 1990.

21. —. As Máscaras de Deus, Mitologia Primitiva. [trad.] Carmen Fischer. São Paulo : Editora Palas Athena, 1994.

22. Zoroaster, Zorotushtra, Zaratustra. São Paulo : Ordem do Graal na Terra.

23. Breuil, Paul du. Zoroastro, Religião e Filosofia. [trad.] Noé Gertel. São Paulo : Ibrasa - Instituição Brasileira de Difusão Cultural Ltda., 1988.

24. Vidal, Gore. Juliano. [trad.] Aulyde Soares Rodrigues. s.l. : Rocco, 1987.

25. Russell, Bertrand. Autobiografia de Bertrand Russell (período 1944 -1867, último volume). [trad.] Álvaro Cabral. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1972. Vol. 2.

26. —. História da Filosofia Ocidental. [trad.] Breno Silveira. São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1967.

27. Hesse, Hermann. Minha Vida. [trad.] Affonso Blacheyre. Rio de Janeiro : Editora Artenova S.A.

28. —. Lobo da Estepe. s.l. : Record, 2000.

29. —. Knulp. s.l. : Record.

30. —. Sidarta. s.l. : Record, 2000.

31. Russell, Bertrand. Ensaios Impopulares. São Paulo : Companhia Editora Nacional, 1954.

32. Masi, Domenico De. A Economia do Ócio. Rio de Janeiro : Editora Sextante (GMT Editores Ltda.).

33. Masi, Domenico de. Desenvolvimento sem trabalho. [trad.] Eugênia Deheinzelin. s.l. : Editora Esfera.

34. Russell, Bertrand. O Elogio ao Ócio. [trad.] Pedro Jorgensen Junior. s.l. : Donnelley Cochrane Gráfica e Editora do Brasil Ltda.

35. Lafargue, Paul. O Direito ao Ócio. s.l. : Donnelley Cochrane Gráfica e Editora do Brasil Ltda.

36. Arendt, Hannah. Entre o passado e o futuro. [trad.] Mauro W. Barbosa. São Paulo : Editora Perspectiva S.A., 2007.

37. Philippe Ariès, Georges Duby, Paul Veyne, Roger Chartier, Michelle Perrot, Antoine Prost, Gérard Vincent. História da Vida Privada. s.l. : Companhia das Letras, 1991.

38. Novais, Fernando A. História da Vida Privada no Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, 1997.

39. Russell, Bertrand. Ensaios Céticos. s.l. : Nacional, 1957.

40. Engels, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. [trad.] Ruth M. Klaus. s.l. : Centauro.

41. Steven D. Levitt, Stephen J. Dubner. Freakonomics, O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta. [trad.] Regina Lyra. 4. Rio de Janeiro : Campus, 2007.

42. —. Super Freakonomics, O lado Oculto do Dia a Dia. [trad.] Afonso Celso da Cunha Serra. Rio de Janeiro : Elsevier, 2009. ISBN 978-85-352-3728-3.

43. Russell, Bertrand. Por que não sou Cristão: e outros ensaios a respeito da religião e assuntos afins. [trad.] Ana Ban. s.l. : L&PM Editores, 1996.

44. Herwig, Rob. Viva o Verde. [trad.] Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo : Círculo do Livro S.A.

45. André Aymard, Jeannine Auboyer, Édouard Perroy, Roland Mousnier, Ernest Labrousse, Robert Schnerb, Maurice Crouzet. História Geral das Civilizações. São Paulo : Difusão Européia do Livro, 1973.

46. Sérgio Buarque de Holanda, Pedro Moacyr Campos, Boris Fausto. História Geral da Civilização Brasileira. Rio de Janeiro : DIFEL, 1978.

47. Chiavenatto, Júlio José. Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai. São Paulo : Editora Brasiliense, 1979.

48. Galeano, Eduardo. As veias abertas da América Latina. [trad.] Galeno de Freitas. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1978.

49. Gaspari, Elio. A Ditadura Envergonhada. s.l. : Companhia das Letras, 2002.

50. —. A Ditadura Escancarada. s.l. : Companhia ds letras.

51. —. A Ditadura Derrotada. s.l. : Companhia das Letras, 2003.

52. —. A Ditadura Encurralada. s.l. : Companhia das Letras, 2004.

53. Vidal, Gore. Criação. s.l. : Nova Fronteira, 2006.

54. Hobsbawm, Eric J. A Era das Revoluções, 1789-1848. [trad.] Marcos Penchel Maria Tereza Lopes Teixeira. São Paulo : Editora Paz e Terra S/A, 2004.

55. autores, diversos. História em Revista. [ed.] Charles Boyle. São Paulo : Abril Livros Ltda.

56. Dias, Renato Feliciano. Panorama do Setor de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro : Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, 1988.

57. Tourinho, Luiz Carlos Pereira. Toiro Passante. Curitiba : Estante Paranista, 1986.

58. Cascaes, Tânia Rosa Ferreira. O Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC - - Na gênese do processo tecnológico paranaense: uma contribuição ao estudo da história da Técnica e da Tecnologia. Curitiba : s.n. Dissertação de Mestrado na UTFPR.

59. Roberts, Nickie. As Prostitutas na História. [trad.] Magda Lopes. Rio de Janeiro : Editora Rosa dos Tempos, 1992.

60. Durschmied, Eric. Fora de Controle. [trad.] Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro : Ediouro, 2003.

61. A Tecnica e a Tecnologia enquanto a categoria distinta. Tânia Rosa Ferreira Cascaes, Marina Ribas Lupion. Rio de Janeiro : SBHC, 2008.

62. Hobsbawm, Eric J. A Era do Capital, 1848-1975. [trad.] Luciano Costa Neto. São Paulo : Editora Paz e Terra, 2007.

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65. Georges Politzer, Guy Besse, Maurice Caveing. Princípios Fundamentais de Filosofia. [trad.] João Cunha Andrade. São Paulo : Editôra Fulgor Ltda., 1963.

66. Loures, Rodrigo Costa da Rocha. Educar e Inovar na Sustentabilidade. Curitiba : UNINDUS, 2008.

67. Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Assim falou Zaratustra. s.l. : Martin Claret, 2002.

68. Ferrero, Guglielmo. O Poder, Os gênios invisíveis da cidade. [trad.] Carlos Domingues. Rio de Janeiro : Irmãos Pongetti - Editores, 1945.

69. Masi, Domenico De. O Futuro do Trabalho, fadiga e ócio na sociedade pós-industrial. [trad.] Yadyr A. Figueiredo. s.l. : UNB e José Olympio, 1999.

70. —. A Emoção e a Regra, Os grupoos criativos na Europa de 1850 a 1950. [trad.] Elia Ferreira Edel. Livraria José Olympio Editora S.A. s.l. : Editora Universidade de Brasília.

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90. Hobsbawm, Eric J. A Era dos Impérios, 1875-1914. [trad.] Yolanda Steidel de Toledo Sieni Maria Campos. São Paulo : Paz e Terra, 2006.

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92. Jr., Henry Viscardi. Give us the tools. [ed.] TaplingerCo. Inc. Ericksson. New York : s.n., 1959.

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