segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Saudades e exemplo de pai


Meu pai Pedro Cascaes e minha família – Dia do Idoso
Algo intrigante é o pavor que muitos sentem ao morrer. Pessoalmente tive uma experiência interessante. Acompanhei as últimas horas do meu pai, ateu, sem religião, maldito como diriam muitos que conheço. Em nenhum momento ele se lamentou, chorou ou pediu perdão, ao contrário, preocupado com a possível ausência do filho mais velho de seus compromissos, em três momentos diferentes abraçou-me, beijou-me e me perguntou o que estava fazendo ali: por quê não estava estudando? É extremamente difícil, para mim, escrever essas palavras entre lágrimas...
Cheguei à terceira idade, farei 68 anos em 8 de outubro, meu pai faleceu de câncer com 51 anos em 1966, fumava demais... fez uma tremenda falta a seus filhos e esposa. A história da família seria outra se tivesse vivido 5 a 10 anos mais. Os pais nem sempre percebem quanto são importantes para seus filhos e como o exemplo deles afeta a vida de cada um.
Meu pai era uma pessoa extraordinária, consciente e inteligente. Cuidava de nós, de sua mãe viúva, das irmãs e de muito mais gente, como descobrimos recentemente. Discreto, conversava com o filho mais velho, ainda criança, sobre política internacional diariamente. Minha mãe ficava intrigada e perguntava se iríamos consertar o mundo. A paciência e o conteúdo de suas ponderações nortearam minha vida.
Talvez por efeito de seus ensinamentos, tive disposição para contrariá-lo inúmeras vezes, coisas de pai e filho. Agora o desafio se inverte. Na impossibilidade de continuar conversando com minhas filhas e filho, escrevo sem parar, falo e me entrevisto, uso tudo o que a Tecnologia viabiliza e esteja ao meu alcance para registrar conselhos, opiniões, imagens e sons. Tenho por mim a experiência de, após 46 anos, pensar em como seria bom poder ver, ler e ouvir meu pai em meio a seus conselhos, sempre valiosos.
É da natureza humana a renovação. Dentro dessa dinâmica os filhos contestam seus pais, recomeçam, procuram seus caminhos. A esperança dos mais velhos é que os jovens não repitam erros dos seus pais e avós.
É gratificante, uma herança maravilhosa ter orgulho do que nossos ascendentes foram e fizeram. Imaginamos que seremos semelhantes, que em nosso DNA existam as melhores virtudes. Por mais significativas que sejam, contudo, a educação que se transmite é mais importante do que qualquer formação genética e árvore genealógica.
Dizem que os frutos costumam cair perto das árvores que os produziram. Felizmente sinto essa condição na família que gerei com minha esposa Tânia Rosa. Temos orgulho de nossos filhos e netos, eles demonstram caráter e qualidades raras. Vaidade? Pretensão? Pode ser, mas esse é o nosso maior orgulho.
A família é fundamental a qualquer criança. Dentro dos hábitos modernos esse paradigma tende a se transformar, para onde? Infelizmente a televisão domina as paredes das residências com programações convenientes a donos de concessões e seus patrocinadores. Felizmente as redes sociais furaram esse bloqueio permitindo um universo de opções de comunicação, informação e até cultura.
Obviamente a moderna forma de comunicação encontra detratores, principalmente em países intolerantes a divergências, amantes da robotização do ser humano.
Assim lembro sempre com saudades meu pai que, acima de tudo, era tolerante e benigno diante das contradições e arrogâncias do filho.
No dia em que me sinto mais idoso quis reverenciar meu pai, um herói de verdade.
Cascaes
30.9.2012



Um comentário:

  1. Pai, você também é um exemplo para nós. Exemplo de coragem, contestação, força. Nunca se deixou abater diante das dificuldades.
    Te amo demais!

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