Meu pai Pedro Cascaes e minha família – Dia do Idoso
Algo intrigante é o pavor que muitos sentem ao morrer.
Pessoalmente tive uma experiência interessante. Acompanhei as últimas horas do
meu pai, ateu, sem religião, maldito como diriam muitos que conheço. Em nenhum
momento ele se lamentou, chorou ou pediu perdão, ao contrário, preocupado com a
possível ausência do filho mais velho de seus compromissos, em três momentos
diferentes abraçou-me, beijou-me e me perguntou o que estava fazendo ali: por
quê não estava estudando? É extremamente difícil, para mim, escrever essas
palavras entre lágrimas...
Cheguei à terceira idade, farei 68 anos em 8 de outubro, meu
pai faleceu de câncer com 51 anos em 1966, fumava demais... fez uma tremenda falta
a seus filhos e esposa. A história da família seria outra se tivesse vivido 5 a
10 anos mais. Os pais nem sempre percebem quanto são importantes para seus
filhos e como o exemplo deles afeta a vida de cada um.
Meu pai era uma pessoa extraordinária, consciente e
inteligente. Cuidava de nós, de sua mãe viúva, das irmãs e de muito mais gente,
como descobrimos recentemente. Discreto, conversava com o filho mais velho,
ainda criança, sobre política internacional diariamente. Minha mãe ficava
intrigada e perguntava se iríamos consertar o mundo. A paciência e o conteúdo
de suas ponderações nortearam minha vida.
Talvez por efeito de seus ensinamentos, tive disposição para
contrariá-lo inúmeras vezes, coisas de pai e filho. Agora o desafio se inverte.
Na impossibilidade de continuar conversando com minhas filhas e filho, escrevo
sem parar, falo e me entrevisto, uso tudo o que a Tecnologia viabiliza e esteja
ao meu alcance para registrar conselhos, opiniões, imagens e sons. Tenho por
mim a experiência de, após 46 anos, pensar em como seria bom poder ver, ler e
ouvir meu pai em meio a seus conselhos, sempre valiosos.
É da natureza humana a renovação. Dentro dessa dinâmica os
filhos contestam seus pais, recomeçam, procuram seus caminhos. A esperança dos
mais velhos é que os jovens não repitam erros dos seus pais e avós.
É gratificante, uma herança maravilhosa ter orgulho do que
nossos ascendentes foram e fizeram. Imaginamos que seremos semelhantes, que em
nosso DNA existam as melhores virtudes. Por mais significativas que sejam,
contudo, a educação que se transmite é mais importante do que qualquer formação
genética e árvore genealógica.
Dizem que os frutos costumam cair perto das árvores que os
produziram. Felizmente sinto essa condição na família que gerei com minha
esposa Tânia Rosa. Temos orgulho de nossos filhos e netos, eles demonstram
caráter e qualidades raras. Vaidade? Pretensão? Pode ser, mas esse é o nosso
maior orgulho.
A família é fundamental a qualquer criança. Dentro dos
hábitos modernos esse paradigma tende a se transformar, para onde? Infelizmente
a televisão domina as paredes das residências com programações convenientes a
donos de concessões e seus patrocinadores. Felizmente as redes sociais furaram
esse bloqueio permitindo um universo de opções de comunicação, informação e até
cultura.
Obviamente a moderna forma de comunicação encontra
detratores, principalmente em países intolerantes a divergências, amantes da
robotização do ser humano.
Assim lembro sempre com saudades meu pai que, acima de tudo,
era tolerante e benigno diante das contradições e arrogâncias do filho.
No dia em que me sinto mais idoso quis reverenciar meu pai,
um herói de verdade.
Cascaes
30.9.2012
Pai, você também é um exemplo para nós. Exemplo de coragem, contestação, força. Nunca se deixou abater diante das dificuldades.
ResponderExcluirTe amo demais!